Capítulo Dois

Titia Kurama

Escrito por G. de Oliveira

Sempre foi muito estranho e impactante sentir tudo que Naruto sentia. Nunca gostou da ideia de serem apenas um na relação bijuu e jinchuuriki, menos ainda de saber tudo que Naruto sentia e pensava. Era horrível, mesmo depois de estarem tão bem. Eram amigos como ela nunca imaginou que seria capaz. Aquela ideia era apenas uma idiotice para a raposa, sempre devolvendo com muita ironia e desprezo.

No entanto, quando soube que Hinata estava grávida, parecia que haviam jogado uma rajada de chakra diretamente em seu focinho. Ela sentiu o impacto, viu o filme da vida de Naruto passando diante de seus olhos. Sentiu como o coração reviveu todas as emoções de abandono, dor, humilhação até as de amor, paz e conforto. Kurama sabia o que ele estava sentindo e entendia perfeitamente, mais do que gostaria. Naruto estava feliz, completo e, por um fato incrível e estranho, ela também estava.

Kurama, a raposa bijuu, temida e respeitada, estava feliz com a chegada de uma criança. Ela não sabia como seria, mas estava tão contente que Naruto estava feliz e teria seu primeiro herdeiro. Sim, estava mais do que contente, porque ela poderia vivenciar o momento em que Naruto teria o que sempre desejou.

Ela assistiu todas as ânsias, medos e felicidades de Naruto e Hinata durante a gestação. Não conseguia evitar um sorriso cada vez que Boruto chutava dentro da barriga da Uzumaki menos ainda quando Naruto ficava conversando com a barriga dela, falando sobre planos e mais planos para os dois. Queria tanto poder negar, mas adorava cada momento, como se realmente fosse parte daquela família que eles estavam construindo aos poucos. Aguardou os meses até o nascimento de Boruto e quase entrou em colapso quando soube do problema de pressão de Hinata. Estava preocupada e temendo que algo de ruim pudesse ocorrer. Para a felicidade de todos, tudo deu certo.

No dia do parto, ela ficou atenta. Não conseguia se acalmar nem mesmo manter uma linha de raciocínio; só queria que Boruto nascesse logo e acabasse toda aquela aflição. E quando acabou, ela sentiu uma paz tão grande. Estava tudo tão sereno e lindo lá dentro. Por que ela estava chorando quando Naruto colocou Boruto nos braços? Isso era realmente estranho, porque não se lembrava de seus sentimentos, mas os tinha e era tudo culpa daquele maldito Uzumaki. O pai, no caso, porque o filho... Ah, aquela criança era tão especial. Kurama não conseguia entender por que estava tão fraternal, no entanto gostava do garoto e da forma com que era igual ao pai e ao avô.

Ela acompanhou toda a ansiedade para voltar para casa. Viu toda a correria de Naruto para deixar tudo perfeito naquela mansão deles — se não fosse Shizune, ela não sabia o que teria acontecido. Assistiu à recuperação de Hinata, os cuidados do loiro com ela, os momentos em que ele ficava com o filho enquanto a Uzumaki tomava banho.

E quando menos esperou ela estava diante de Naruto e um Boruto acordado e curioso em seus braços. Aquela atitude a deixou confusa; a jaula não era bem um lugar muito bom para se levar um bebê. Ficou apenas admirando o brilho nos olhos do Uzumaki, o sorriso fácil em seus lábios e a delicadeza de suas mãos enquanto brincava com as mãos do filho e dizia algo a ele.

— Kurama, vem cá. — ele chamou.

A raposa aproximou-se lentamente, com um estranho receio de assustar o menino. Ficou numa distância boa de Naruto e aguardou. O Uzumaki apenas aproximou-se e mostrou o menino para Kurama. Ela não entendia como nem por que, mas viu aqueles olhos azuis brilharem diante da sua imagem e os lábios se repuxarem em um sorriso banguela e desajeitado. O menino estava feliz? Diante dela? Aquilo era inusitado e, por algum motivo, ela ficou feliz. Ficou emocionada e contente, uma paz preenchendo seu coração, deixando-a confiante e relaxada. Era por isso que tinha vivido, era por isso que estava dentro de Naruto.

— Ei, garoto. — disse calmamente.

— Sim?

— Seus pais estão orgulhosos. Esse legado não morrerá. — disse com um entusiasmo na voz.

Diante do comentário, Naruto sorriu envergonhado. Kurama sabia que aquele moleque não mudaria nunca e estava feliz por isso e por ele. Especialmente por ele.

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