"BORUTO"

Capítulo Um

Escrito por G. de Oliveira

Quando Hiashi entrou no hospital na noite anterior, o que encontrou foi um loiro arrancando os cabelos e andando de um lado a outro, murmurando rezas e vivendo um conflito interno que ele não era capaz de entender. Sendo o homem calmo e pacífico que era, apenas ficou sentado, aguardando, mas ele sabia o que inferno que se passava em sua mente com todas as preocupações que decidiram surgir do nada.

Ele observava Naruto nervoso, suado e trêmulo sem saber o que fazer. Foi necessário que Kiba, Shino, Shikamaru e Ko o segurassem a cada vez que um médico aparecia no corredor. O homem estava tão desesperado que ameaçava entrar na sala de cirurgia a qualquer momento. Tanto ele quanto Hiashi queriam acompanhar o parto, mas Sakura recomendou que fosse melhor que eles ficassem do lado de fora, especialmente porque ela sabia que Naruto não ficaria acordado nem por dois minutos.

Kurenai estava lá também, dando o máximo que podia para acalmar os homens que não conseguiam manter a sanidade em nenhum momento. Até mesmo Shikamaru estava nervoso e Hiashi conseguia apostar que ele estava começando a ficar com medo do momento em que Temari entrasse em trabalho de parto — o que não demoraria a acontecer.

Mesmo que a sala de cirurgia fosse mais ao fundo do corredor, com uma porta separando os ambientes, eles conseguiam ouvir os gritos de Hinata. A cada um deles, Naruto tremia e dava impulso para entrar e saber o que diabo estava causando tanto sofrimento a sua esposa, ainda que ele soubesse bem. A preocupação era devida a um pequeno problema de pressão baixa que surgiu no último mês de gestação. Sakura disse que era estranho, apesar de normal. Todos surtaram com isso, especialmente Naruto. A médica garantiu que tudo ficaria bem e que ambos passariam por aquele processo sem qualquer imprevisto, e estava sendo como ela havia dito.

No entanto, toda aquela demora não estava ajudando. Os nervos aumentavam a cada minuto e grito que se ouvia de Hinata devido ao esforço. Hiashi começou a pensar em Neji e tinha certeza que ele seria o único permitido a entrar na sala de cirurgia para acompanhar o parto. Seu sobrinho era a pessoa mais serena que conhecia e mais empenhada em trazer a calma a todos ao seu redor. Sua expectativa de ver o neto se misturou com a saudade de ver Neji, não porque ele era um prodígio. Não, isso não era importante, e sim porque ele havia se tornado um filho para ele e um irmão para Hinata e Hanabi. Agora, seria um tio adorado por seu neto, ainda que nunca chegasse a conhecê-lo.

O tempo foi passando arrastadamente e parecia que uma eternidade havia se imposto a eles quando Sakura finalmente saiu da sala de cirurgia com um sorriso enorme no rosto, dizendo que Boruto já estava no mundo e esperando para conhecer a família. Naruto deu um grito de felicidade e começou a chorar enquanto abraçava Sakura, agradecendo por ter trazido seu filho ao mundo e cuidado de sua esposa. A moça apenas riu retribuindo o gesto e dizendo para que aguardassem apenas um pouco mais para que Hinata fosse transferido ao quarto.

Hiashi ficou ali, parado, sentindo a adrenalina deixando-o surdo e fraco, sem conseguir dizer nada nem se mover. Quando descobriu sobre a gravidez, ficou do mesmo modo, sem conseguir agir nem dizer nada a ela ou ao genro. E naquele momento, sabendo que Boruto estava bem e no mundo, Hiashi queria chorar, gritar, agradecer e dizer a sua falecida esposa que agora a família havia crescido mais um pouco. Não fez nada disso, só acordando quando viu o loiro a sua frente, vermelho e com o rosto cheio de lágrimas que ele sabia serem de felicidade.

Para sua surpresa, foi abraçado com força pelo genro que insistia em rir e chorar.

— Nosso Boruto chegou, Hiashi-san. Nosso menino está bem. — ele sussurrava.

O Hyuuga apenas assentia enquanto abraçava o genro de volta, ainda dormente, sentindo as primeiras lágrimas descerem. Eles, finalmente, teriam Boruto e o menino seria amado e cuidado por todos eles. Logo, Shizune veio dizendo que poderiam ir até o quarto para ver Hinata e Boruto. Naruto saiu correndo sendo acompanhado por um Hiashi ainda trôpego.

Quando Hiashi entrou no quarto, encontrou um Naruto choroso e sorridente com um embrulho minúsculo entre aqueles braços enormes fazendo um grande esforço para não machuca-lo ou incomoda-lo. Hinata estava meio sentada na cama, abatida e cansada, porém não tirava um sorriso doce dos lábios, observando a cena do marido. Após alguns minutos, ela percebeu a presença do pai e chamou-o para perto, que se aproximou beijando a testa da filha com um carinho que ela nunca imaginou receber dele e também um abraço apertado, uma forma de agradecê-la por deixa-lo viver aquele momento como avô.

Virou-se para Naruto, mas não conseguiu ver Boruto. Aguardou que ele voltasse à realidade para só então se aproximar. Foi instantâneo: o amor o abateu com tanta força que ele sentiu que cairia. Era um sentimento completamente diferente, um amor diferente do que sentia por suas filhas. Era novo, forte e puro, algo que o fazia se sentir em paz, preparado para qualquer desafio que a vida o impusesse e mais: disposto a proteger aquele pequeno ser, custasse o que custasse.

Naruto sorriu para o sogro, entregando, com todo cuidado, o pequeno embrulho nos braços do Hyuuga. Voltou-se para a esposa que assistia a tudo muito emocionada, as lágrimas caindo mediante a felicidade do momento. Hiashi segurava Boruto, olhando-o com fascinação e amor, puro amor. O menino estava acordado, observando tudo ao seu redor atento e curioso, deixando o avô orgulhoso mediante a perspicácia do menino. No entanto, o mais importante para Hiashi não era isso e sim aquele rostinho redondo e fofo, os olhos azuis como os do pai e os cabelos ralos, porém loiros; era uma cópia de Naruto sem via de dúvidas, mas ainda assim ele encontrou traços de Hinata em Boruto: o formato dos olhos, o tom corado em suas bochechas e o nariz.

Como ele poderia descrever a felicidade em ver Boruto em seus braços, fruto do amor entre sua filha e aquele loiro aguado que ele aprendeu a gostar? O que dizer daquele sentimento tão profundo e imensurável que se agitava em seu coração fazendo-o chorar? Como ele poderia colocar em palavras o que sentiu quando o menino segurou seu dedo com força, mostrando que estava ali e reconhecia o avô babão que ele era? Hiashi se perguntava se era possível descrever todas aquelas sensações, a sua vontade de manter Boruto em seus braços para sempre, protegido e amado.

Voltou-se para Hinata, dando um sorriso que ela nunca havia visto vindo de seu pai. Aproximou-se deles ainda com Boruto em seus braços.

— Obrigado por isso. — disse ao casal. — Esse é o melhor presente que vocês poderiam ter me dado. Muito obrigado.

Hinata e Naruto apenas sorriram observando o Hyuuga sorridente cheirando a cabeça do neto, pensando em como estava infinitamente feliz de ter Boruto em seus braços. Imaginou se Neji estaria tão feliz quanto ele naquele momento.

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