Camp Paradise - Interativa escrita por Aninha


Capítulo 7
Capítulo III - Mistérios, teorias e reconciliações


Notas iniciais do capítulo

Olá! Eu por aqui de novo ahsuahs
Espero q tenham gostado da surpresa... Decidi postar dois caps juntos devido a minha demora - sorry.
Enfim, vou dar minhas explicações depois. Agora vou parar de me enrolar e deixar vcs lerem em paz.

Algumas explicações para entender melhor o capítulo:
1. A descrição dos Chalés e da Vila está escassa e pouco detalhada porque só irei mostrar como as coisas realmente são quando tds estiverem dentro de uma Irmandade;

2. As cores das cortinas e toalhas de mesa são as cores de cada Irmandade;

3. A Vila é redonda, mas a ordem dos portões é mais ou menos assim: Portão Norte - Portão dos Lobos,
Portão Leste - Portão das Corujas,
Portão Sul - Portão das Raposas,
Portão Oeste - Portão dos Búfalos,
Portão entre o da Coruja e Raposa, ou seja, Portão Sudoeste - Portão dos Ursos;

4. Os turnos - que serão explicados no capítulo - são importantes para que os personagens interajam com pessoas diferentes e façam novas amizades, por isso preciso que vcs me dêm duas opções de turno para seu personagem (pode ser pelos comentários mesmo);

5. Lucian é daltônico, por isso sua descrição é um pouco escassa e diferente das demais.

A música do capítulo é I Miss You - Blink-182.

Acho que é isso. Boa leitura ^.^



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/709422/chapter/7

Dominique Lee Underwood

“Paz, foi por isso que vim aqui. Não sei se acontece com todo mundo, mas há momentos em que só o que peço é um tempo para descansar e fugir dos problemas, das pessoas.”

— Autor Desconhecido.

 

(Julho – domingo, manhã próximo ao horário do almoço).

Aquele amanhecer foi diferente. Se perguntassem, eu não saberia dizer o porquê, mas eu tinha uma sensação que me dizia que algo havia mudado durante as horas da madrugada.

Sentada na minha cama e olhando mais uma vez para a outra cama vazia do quarto, depois de ir e voltar do banheiro, enquanto me vestia e arrumava o cômodo, eu não fazia ideia do que estava acontecendo no resto do Acampamento. Ou do lado de fora daqueles muros. Pensando agora, acho que esse foi o meu erro.

Depois de sair do meu quarto, descer as escadas e encontrar Maggie junto com os outros, me sentei com eles na sala enquanto esperávamos o horário do café da manhã. Apesar de o desjejum só ser servido às oito horas da manhã, os campistas do Chalé da Coruja acordam uma hora antes aos domingos para podermos conversar e discutir alguns assuntos, aproveitando que todos estão no Chalé. Esse é o único dia da semana que Elizabeth Manson não reclama tanto assim se chegarmos atrasados para a refeição.

— Como você está Domi? – Maggie perguntou.

Margot Pike ou Maggie é uma garota de 18 anos vinda da Dakota do Norte, local onde sua família ganha à vida extraindo petróleo e fazendo passeios turísticos no local. Possui cabelos compridos e enrolados cor de ouro, pele clara e olhos castanho mel. Foi a primeira pessoa que conheci quando entrei no Chalé. Completamente extrovertida, minha colega de corredor veio falar comigo assim que entrei no aposento e logo seus amigos fizeram o mesmo.

— Estou bem e você? – respondi.

Antes que ela pudesse me responder, Ronald Billius chamou nossa atenção para a conversa que se desenrolava. Ronald tem 18 anos e também vêm da Dakota do Norte. Seu cabelo preto é comprido e quase sempre esta preso num coque pequeno, seus olhos são de um azul elétrico e sua pele é clara. É alto e forte, graças aos treinos de futebol e é o namorado da Maggie.

 Todos do grupo estavam sentados ou no sofá em forma de U da sala de estar ou no tapete macio que ocupa quase todo o chão do cômodo. Meus colegas de Chalé debatiam sobre os novatos que ainda estavam no Chalé das Larvas, fazendo apostas sobre qual deles entrariam no nosso Chalé e nos demais.

— Acho que aquele Oliver não faz nosso tipo – Ronald falou. – É muito mal humorado, já arranjou briga e não parece muito inteligente.

— Concordo – Francis falou ajeitando seus óculos de armação fina. – Pelo o que soube, ele está pegando no pé da Elizabeth, o que todos sabemos, não é algo sensato.

— Vocês também disseram isso do Carl, que ele era muito mal humorado para ser nosso – Maggie falou revirando os olhos e rindo. – E olha só onde ele está.

Todas as cabeças do grupo se viraram na direção do garoto sentado no peitoral de uma das janelas lendo um livro. Carl Gonzalez é um garoto de 14 anos com cara de 12 e tamanho de 16 ou mais. Seu cabelo é castanho e esta sempre penteado. Sua pele é um pouco mais clara do que a do irmão mais velho, Lucian. Seus olhos são castanhos claros e os livros parecem ser seus únicos amigos. Até aquele momento eu não havia falado com ele e só o vira conversando com o irmão e os amigos do mesmo. Perguntei-me mais uma vez se ninguém do Chalé era seu amigo.

— Ele parece legal – falei ainda o olhando.

— O que? – Ronald falou arregalando os olhos para mim.

— Ele está lendo Os Garotos Corvos, não pode ser tão ruim assim – falei dando de ombros.

Mais uma vez todas as cabeças se voltaram para o garoto.

— Acho que preciso do seu óculos emprestado – Jena que até aquele momento tinha permanecido calada comentou com os olhos ainda sobre Carl. – Porque não estou conseguindo ver à capa daqui.

Estendi meu óculos de armação redonda em sua direção o que a fez rir e estreitar os olhos quando os colocou. Negando com a cabeça e reclamando que meu grau é muito alto para ela, Jena me devolveu o objeto dando de ombros.

— Bom o que acha Domi? – Francis perguntou. – Sobre os novatos.

Pensei um pouco sobre o assunto, passando mentalmente os rostos dos campistas do Chalé das Larvas e relembrando tudo o que eu sabia sobre eles graças as minhas observações.

— Telma gosta de desenhar e ler, então talvez se de bem aqui. Calíope é muito animada, não gosta muito de ler e acho que prefere lugares abertos, então não acho que seja uma boa. Ártemis gosta de desenhar e ler também, mas não conversei muito com ela para saber ao certo. Sobre o Oliver, acho que ele seria um bom amigo pro Carl...

— Você quis dizer que o Carl seria um bom saco de pancadas para ele – Ronald falou me interrompendo.

— A Telma é muito... Animada para o meu gosto – Maggie falou. – Não que isso seja ruim, acho que ela não sabe demonstrar isso direito, sabe? Enfim, acho que a Mavis está de olho nela.

— E Jason está de olho na Calíope, só não sei com que intenção – Jena falou fazendo uma careta safada e se chacoalhando depois. – Eu agradeço há Deus todos os dias por não ter ido parar no Lobo, sério.

— Você não faz o tipo dele Jena – Ronald falou.

Olhei para ela. Jena Lee é uma nova-iorquina de 15 anos com cabelo castanho escuro tão curto que quase não alcança o lóbulo da orelha. Seus olhos são de um castanho esverdeado e sua pele é bronzeada graças ao tempo que passou no sul da Itália com a vó. Ela é meio corpulenta e sua estatura é mediana. Ela é uma garota bonita, mas talvez não para Jason que tem o estilo mais supermodelos pelo o que ouvi falar.

— Graças a Deus – Jena falou.

— Voltando ao assunto – Francis falou – seria genial se o Kenai fosse para o Urso. E sobre a Ártemis não sei o que pensar já que não a conheço muito bem.

— E quem você conhece muito bem? – Maggie perguntou querendo claramente dar uma alfinetada no fato de Francis não falar com ninguém que não seja do grupo, ou seja, das seis pessoas sentadas ao redor dele.

— A Jena, claro – Ronald falou sorrindo marotamente.

Jena e Francis coraram até as raízes dos cabelos e a garota deu um soco no braço de Ronald. Todos nós rimos enquanto observávamos os dois trocarem olhares.

— Vocês sabem que não pode fornicar no Acampamento, não é mesmo? – Maggie falou dando uma piscadela para Ronald e entrando na brincadeira.

— E vocês dois sabem? – Jena falou apontando o dedo de Ron para Maggie.

— É claro que sim – ele falou passando um dos braços sobre os ombros da namorada. – Por isso só fornicamos fora dos muros, não é mesmo Mags?

Sem nem mesmo corar, a garota deu uma piscadela para todos nós e beijou Ronald nas bochechas.

— Vocês são impossíveis – Elle que estava dormindo com a cabeça no colo do irmão, John, falou sem abrir os olhos.

— Muito bem – Elijah falou no meio da sala, atraindo a atenção de todos para si. – Vamos acabar logo com isso.

Todos os campistas se ajeitaram se sentando no sofá ou no tapete e aos poucos o som de conversas e risadas foi morrendo. Eu estava sentada do lado direito de Maggie. Elle e o irmão estavam sentados do outro lado dela. Ronald sentou aos pés da namorada, apoiando a cabeça nas pernas dela. Francis estava perto das minhas pernas e Jena fez John trocar de lugar com ela e se sentar no tapete para que ela pudesse se sentar ao lado de Elle e cochichar algo no seu ouvido.

 - A partir dessa semana a faxina do Chalé irá começar, assim como os turnos de vocês. Todo o sábado depois do café da manhã todos devem estar de volta ao Chalé da Coruja para a limpeza geral do mesmo e peço que mantenham suas coisas dentro do quarto de vocês, ouviu Palmer? – ele falou chamando a atenção de um garoto de 12 anos que possui a fama de bagunceiro, fazendo esse corar e gaguejar um sim. – Ótimo. Bom, a maioria de vocês sabe como os turnos funcionam e eu não vou explicar para apenas uma pessoa. Desculpe Dominique – ele falou me olhando. Arquei as sobrancelhas surpresa. – Eu explicarei melhor quando todos os novatos da Coruja já tiverem entrado nessa Irmandade. Até lá você pode optar por ou não participar ou participar com algum colega até se sentir apta para ficar sozinha.

Sem saber ao certo do que estávamos falando e sem saber qual seria a melhor opção, dei de ombros o que fez meus amigos rirem.

— Muito bem. Todos mantenham seus quartos arrumados porque a qualquer momento Effy pode decidir fazer uma vistoria e eu realmente espero que não seja tão catastrófica quanto à do verão passado – alguns meninos soltaram uns risinhos, o que fez Elijah rir também. – Aqueles que não comparecerem para a limpeza nos sábados serão punidos. Um papel está dentro de cada Chalé com os turnos de cada um. Vamos comer logo.

Com o som de concordância os campistas se levantaram e começaram a caminhar em direção a saída. Antes que eu pudesse chamar a atenção de Maggie, senti alguém pegar o meu pulso.

— Dominique – Elijah me chamou. – Podemos conversar?

Elijah Campbell é um rapaz de 16 anos. Alto e magro, de pele clara, cabelos castanho claro e olhos mel. Olhei para sua mão que ainda segurava meu pulso e reparei na pulseira que ele estava usando. Depois de seguir meu olhar ele me soltou e passou a mão atrás do pescoço me fazendo notar o colar que pareceu fazer par com a pulseira.

— Claro – falei sorrindo rapidamente.

— Eu reparei meio tarde demais que não havia comentado com você sobre os turnos. Bom, como você deve ter percebido o Acampamento possui alguns funcionários, mas são os campistas que fazem a limpeza das Irmandades e que trabalham em alguns locais como a Biblioteca, o Estábulo, o Chalé das Quadras e o Chalé Cais. Você pode escolher o local em que quer trabalhar e com base nisso vemos a disponibilidade e o horário.

— Por que os campistas trabalham? – perguntei caminhando em direção à saída com Elijah ao meu lado.

— Antes da Effy chegar os campistas não faziam isso. Na verdade, não faziam nada. Apenas bagunçavam esperando que alguém limpasse o que fez alguns ratos, texugos e outros animais aparecerem já que estamos perto da floresta e os funcionários são poucos para uma propriedade desse tamanho. Eles quebravam coisas, sujavam bastante... Pelo menos foi isso que eu soube, já que cheguei junto com ela. De qualquer forma, assim que ela virou Líder das Raposas começou a fazer sua Irmandade limpar o próprio Chalé o que fez com que os campistas da Raposa se tornassem mais disciplinados e responsáveis. Depois que ela se tornou Líder do Acampamento, fez isso com todas as Irmandades e colocou os campistas para trabalhar porque de acordo com ela não é justo que só os Líderes trabalhem.

— Mas vocês escolheram serem Líderes. Nós não escolhemos limpar – falei.

— Mas é justo que passemos as férias inteiras dando um jeito na bagunça que vocês fazem? – ele perguntou me dando um sorriso de lado e descendo os degraus da varanda da frente. – Eu sei que pode parecer nem um pouco legal, mas foi assim que ela conquistou a confiança da sua Irmandade.

— Obrigando todos a limpar? – perguntei descendo os degraus.

Elijah riu. Reparei que a maioria dos campistas caminhava em direção ao Refeitório e que poucos eram os carrinhos circulando. Vi Lucian Gonzalez falar rapidamente com Carl e andar ainda mais rapidamente em direção ao Chalé do Búfalo, onde as cortinas rosa escuro ainda estavam fechadas. Carl olhou o irmão por alguns segundos até caminhar em direção a Irmandade do Urso, onde as cortinas verdes musgo estavam sendo abertas no segundo andar.

— Não, mostrando que mesmo tão nova ela sabia o que estava fazendo – Elijah falou chamando minha atenção para si novamente. – Muitos reclamaram diante do que ela estava ordenando, afinal de contas vocês vêm aqui para passar as férias e não para limpar, mas ela os convenceu...

— Como? – perguntei arqueando as sobrancelhas.

— Ela falou que aqueles que não quisessem obedecê-la não seriam punidos contanto que não atrapalhassem e mostrassem o mínimo de respeito, mas que não iriam desfrutar dos benefícios quando as Raposas vencessem naquela temporada. É claro que a maioria não se importou com isso, afinal de contas quem iria imaginar que uma menina de 13 anos ia levar uma Irmandade à vitória? Mas ela fez isso, contando apenas com os campistas mais novos e alguns mais velhos. Aqueles campistas que a obedeciam e respeitavam. Então enquanto apenas quarenta por cento das Raposas desfrutavam da vitória o restante ficou de lado.

— O que ela fez?

— Effy? – ele respondeu caminhando em direção ao Portão Leste e fazendo sinal para que eu o acompanhasse. – Ela não fez nada. Não foi preciso, a maioria dos campistas pediu desculpas e começou a obedece-la assim que ela levantou a Taça do Acampamento. O restante, que mesmo depois dessa prova da capacidade dela continuou sem obedecê-la foi punido.

— Eles tiveram que sair do Acampamento?

Elijah deu um sorriso de canto e acenou para alguém que caminhava mais adiante.

— Não. Eles foram caçados.

Arregalei os olhos, chocada e o encarei, parando inconscientemente de andar. Caçados? Como assim caçados? Elijah se virou para trás quando percebeu que eu não o acompanhava, mas antes que ele pudesse falar algo Mavis se aproximou dele e o segurou pelo braço, chamando sua atenção.

Ver a expressão de Mavis fez com que eu esquecesse rapidamente dos meus pensamentos anteriores. Ela estava vermelha de raiva, falava rapidamente e meio alto de modo que eu conseguia ouvir perfeitamente a conversa dos dois.

— Você viu a Effy? – Mavis perguntou com a mão ainda no braço do Elijah.

— Não. Por quê? – ele respondeu sem conseguir conter um pequeno sorriso.

Mavis bufou e o soltou, flexionando rapidamente os dedos das mãos.

— Porque ninguém a viu. Quer dizer, Lucian foi ao meu Chalé e começou a falar que ela falou pro Matt que estava indo...

— Isso parece muito àquelas histórias do tipo minha tia falou que um amigo do meu primo... – Elijah falou assumindo um ar vago e colocando uma mão no queixo.

— Elijah, isso é sério! – Mavis gritou atraindo o olhar de alguns campistas que passavam.

Ela olhou ao redor parecendo perceber o que tinha feito e me notou parada a alguns passos deles. Ela me encarou, pegou um dos braços do Líder das Corujas e começou a arrasta-lo em direção ao Chalé do mesmo, onde as cortinas roxas estavam completamente abertas.

Quando eles entraram no Chalé da minha Irmandade e fecharam a porta principal me virei em direção ao Chalé das Raposas, que de fato parecia mais movimentado e barulhento comparado aos dias anteriores, mas nada muito fora do normal. Lembrei-me da história que estava sendo contada ontem, que Elizabeth tinha sido vista sangrando na Biblioteca e que correra em direção a floresta. Será que ela tinha morrido?

— Domi! – ouvi alguém exclamar meu nome, mas não me virei na direção da voz. Enquanto meu rosto demonstrava calma como sempre, por dentro eu estava animada demais com as teorias. – Dominique – Francis falou parando na minha frente.

— Desculpe – falei balançando a cabeça e focando meus pensamentos no garoto que estava parado na minha frente.

Francis Kooks é um garoto de 17 anos que nasceu na França, mas que atualmente mora em New Orleans. Seu cabelo é de um loiro naturalmente platinado, sua pele é branca e seus olhos são de um marrom esverdeado. Ele é magro e um pouco alto, faz mais o estilo nerd do que atleta.

— Aconteceu alguma coisa? – ele perguntou olhando sobre o ombro o Chalé das Raposas. – Não? Bom, então vamos logo para o Refeitório, Ron já esta reclamando de sua demora.

Caminhei com ele por um tempo em silêncio até encontrar o restante do grupo parado perto do Portão Leste que tem vista para o Pomar e consequentemente para o Refeitório. Caminhamos rapidamente, sendo cumprimentados por alguns campistas de nossa Irmandade ou das outras. Ronald segurava a mão de Maggie, Elle e eu estávamos entre Francis e Jena enquanto John caminhava mais a frente. Reparei que as Raposas pareciam normais apesar da possibilidade da sua Líder estar morta na floresta. Vi Telma e suas amigas saindo de um carrinho e acenei para elas antes de entrar no Refeitório.

Sentamo-nos em nossa mesa assim como os demais campistas e alguns minutos depois os Líderes chegaram. Mavis ainda parecia raivosa, mas um pouco mais calma. Matthew estava meio nervoso, estralando os dedos sem parar e olhando para todos os lados como se esperasse algo. Jason parecia normal e meio entediado. Elijah estava com um olhar vago, mas eu sabia que muito provavelmente seu cérebro estava trabalhando rapidamente. Sam estava com toda a certeza muito nervoso e prestes a desmaiar. Elizabeth não estava em nenhum lugar.

— Muito bem – Matthew falou dando alguns passos para frente, enquanto os outros Líderes ficavam parados diante da mesa deles. – Como vocês devem ter reparado Elizabeth não esta aqui. Não precisam se preocupar, ela esta bem – ele estralou mais alguns dedos e passou a mão na nuca. – Não tem uma forma certa para dizer isso, quer dizer, provavelmente tem, mas...

— Pare de enrolar Matt, você está os deixando preocupados – Jason falou com um sorriso cafajeste, dando alguns passos para frente e colocando uma mão sobre o ombro do amigo. – O que o Líder dos Ursos esta tentando dizer, e é que Effy saiu do Acampamento sem data para voltar.

A mesa das Raposas explodiu em barulho de conversas, assim como as demais.

— Como assim? – uma garota do Lobo exclamou.

— Vocês dizem que ela esta bem, mas ela saiu do Acampamento e ela nunca tinha feito isso antes – uma garota da Raposa exclamou.

— Ela com certeza não esta bem! – um menino falou batendo na mesa.

— Confiem nela, é a Effy — um garoto exclamou se levantando e encarando seus companheiros de Irmandade. – Nossa Líder galera!

— Isso explica o mau humor da Mavis – um garoto do Búfalo falou para os colegas que concordaram.

— Silêncio! – Dylan gritou se levantando da mesa das Raposas, seu sorriso habitual dando lugar a uma carranca séria. – Era esperado que vocês confiassem mais nos Líderes de vocês – ele afalou se encaminhando para a mesa principal sendo seguido pelo olhar de todos. – Se eles dizem que Effy está bem, então ela está bem. Tudo bem, ela nunca tinha nos deixado antes, mas como ela diz sempre há uma primeira vez para tudo. Apenas confiem no que os Líderes estão dizendo e na capacidade da Effy.

Um silêncio ainda maior caiu sobre o Refeitório após suas palavras. Estranhei como os campistas aceitaram facilmente as palavras do Dylan. Olhei mais atentamente para o rapaz. Seu cabelo loiro estava charmosamente bagunçado, como de costume. Seus olhos azuis estavam brilhantes e seu sorriso habitual tinha voltado a dar as caras. Ele parecia muito bem para um cara que não sabia quando a namorada ia voltar. Desviei meu olhar para Jason que gesticulava e encarava alguém na mesa da sua Irmandade. Após seguir seu olhar percebi que Lucian mexia a boca sem emitir som algum. Seu cabelo castanho cacheado estava mais bagunçado do que o de costume e seus olhos castanhos escuros estavam com olheiras fracas ao redor. Seu rosto com linhas brutas estava meio mal humorado, mas feliz ao mesmo tempo, como de costume pela manhã.

Olhei para o meu lado direito onde Carl Gonzalez havia se sentado.

— Como seu irmão está? – sussurrei em sua direção.

— O que quer dizer com isso? – ele perguntou num tom indiferente.

— Bom, ele e Effy são próximos então...

— Se o namorado dela está bem então porque meu irmão não estaria? – ele retrucou irônico.

Os outros campistas tinham voltado a falar e os Líderes tinham se sentado. Antes que eu pudesse responder Carl, John chamou minha atenção para a conversa.

Repassei minha manhã mentalmente enquanto ouvia ao fundo Telma, Evelyn, Maxine, Ártemis e Calíope conversarem. Estávamos todas sentadas no gramado ao redor do campo de futebol observando os campistas do Búfalo correrem pela pista de atletismo enquanto Mavis berrava ordens à eles. O sol das dez da manhã nos atingia diretamente e uma brisa ocasionalmente nos tocava. Conseguíamos ver a floresta a nossa frente, logo depois do campo, onde alguns campistas da Raposa tinham se enfiado há alguns minutos.

— Acho que ela está pegando pesado porque Effy não esta aqui – Evelyn comentou enquanto seus olhos seguiam os campistas.

— Para os Búfalos ficarem melhores que as Raposas? – Tel perguntou sem prestar muita atenção. Ela estava deitada de bruços na grama, desenhando algo que ainda não podíamos ver no seu caderno.

— Não, ela esta descontando a raiva neles, acho – Lyn falou voltando a olhar o livro que carregava. – Pelo o que ouvi, nem os Líderes sabem direito onde, como e por que Effy saiu. Ela só saiu. E como Mavis é a melhor amiga, deve estar se sentindo traída ou algo assim.

— Faz sentido – Lua falou.

— Uma campista do Urso me disse que a última pessoa com quem ela falou foi o Matthew – comentei enquanto via Mavis brigar com um garoto que tinha tropeçado nos próprios pés. – Elizabeth falou a ele que estava indo para a Califórnia por causa do aniversário de alguém. Acho que algum parente.

— Se fosse mesmo isso Sophie teria ido junto, não? – Lua perguntou olhando para Calíope que estava deitada na grama de olhos fechados, apenas sentindo o sol.

— Não sei... – a ruiva respondeu vagamente. – Sophie disse que é a bastarda da família, então não sei se ela seria convidada para algo assim.

— Quem é Sophie? – perguntei confusa.

Calíope, Ártemis e Maxine me olharam rapidamente antes de trocarem olhares. Reparei que Telma estava distraída demais para perceber o que estávamos falando e que Evelyn parecia meio insegura.

— Olha Domi – Maxine começou num tom cauteloso. – Nós não deveríamos sair espalhando isso por aí, mas como já começamos a falar na sua frente vamos terminar, mas você não pode falar para ninguém, ok? Sophie é a prima da Elizabeth que também frequenta o Acampamento. Ontem a encontramos no Chalé Cais e ela nos contou que Effy conseguiu coloca-la aqui e que a mãe dela, da Sophie, fez alguma coisa que não sabemos.

— Vocês não a chamaram de bastarda? – perguntei batucando na minha coxa. – A mãe dela deve ter se envolvido com alguém fora do casamento.

— Foi o que eu falei, mas elas não acreditam nisso – Ártemis falou revirando os olhos e mexendo no cabelo.

— Porque Sophie falou que não é isso! – Calíope exclamou erguendo as mãos.

— Bom então vamos atrás dela e tiramos isso a limpo, além de perguntar sobre a Effy – falei me erguendo, animada diante de um mistério.

— Apoio – Max falou me imitando e sorrindo para mim.

— Não temos nada a perder – Lua falou nos imitando.

Evelyn ficou revezando o olhar sobre nós três que estávamos de pé e Calíope, que havia se sentado. Telma não sabia do que estávamos falando, mas disse que iria para a Biblioteca para terminar seu desenho e saiu caminhando sem olhar para trás, levando o livro de Lyn consigo. Mesmo se vendo em minoria, Calíope recusou a se levantar, alegando que não iria encher a menina com assuntos do passado. Depois de ter observado muito o modo de agir dela, eu sabia exatamente o que fazer.

— Vamos, admita. Você está com medo – falei sorrindo de forma compreensiva ao receber seu olhar irritado. – Está com medo de que Sophie se irrite e reclame para algum Líder e você se de mal. Ou está com medo de que ela fique chateada com você – coloquei a mão no queixo fingindo pensar.

— Aposto que é isso – Maxine falou entrando na brincadeira. – Então vamos deixa-la aqui porque eu aposto que Cal esta com muito medo para nos acompanhar.

— Aposta é? – Calíope falou enquanto se levantava. – Então pode me pagar algo porque você acaba de perder Maxine. Eu vou.

Fingindo desapontamento, Max prometeu dar algo para a amiga depois. Quando Cal e as outras começaram a caminhar em direção a um carrinho, Max e eu batemos as mãos no ar.

— Formamos um bom time – Max falou sorrindo.

Maxine Vause é uma garota de 17 anos. Nasceu em Alexandria, Luisiana, onde sua família cria gado e exporta couro bovino. É um pouco mais alta que o restante do grupo, seus cabelos são loiros e lisos, seus olhos castanhos são grandes e agitados. Os lábios são rosados e finos. Ela esta usando um short jeans escuro, uma regata verde escuro que deixa sua tatuagem colorida de beija flor na asa esquerda amostra e um all star preto.

— Acho que sim – comentei caminhando para o carrinho.

— Onde estão seus amigos? Da sua Irmandade, quero dizer – ela perguntou quando nos sentamos no banco de trás junto com Calíope.

— A maioria ou tinha turno hoje ou foi treinar.

— Turno? – Evelyn perguntou se virando para trás no banco do carona.

— É. Eu não sei direito o que é porque meu Líder não explicou cem por cento – falei sentada no meio do banco traseiro. – Mas pelo o que eu entendi os campistas trabalham em um local e horário especifico.

— Deve ser por isso que a Sophie estava trabalhando no café ontem – Ártemis comentou enquanto dirigia em linha reta em direção ao Lago. – Mas se existe um turno certo será que vamos encontrar ela lá?

— Excelente pergunta – Max falou do meu lado direito. – Eu não reparei de que Irmandade ela é.

— Bom, se ela não estiver lá basta perguntar para um dos campistas – falei. – Alguém deve saber.

Estacionamos o carrinho nos fundos do Chalé Cais e subimos pela escada externa que da diretamente no café. O aroma de café, chocolate e algo assando enchia o ar, assim como o barulho de conversas dos campistas que ocupavam algumas mesas ou a varanda externa.

— Isso aqui está bem mais cheio que ontem – Evelyn comentou atrás de mim, me assustando.

Virei-me para trás rapidamente e ela sorriu para mim. Evelyn Brooke é uma californiana de 17 anos com o cabelo bem curto e tingido de vermelho. Tem o rosto fino, pele clara com um piercing no nariz e olhos mel. Ela está com uma blusa de flanela amarrada na cintura, um short jeans, uma camiseta coral e coturnos marrons escuro nos pés.

— E Sophie não está aqui – Cal falou depois de passar os olhos verdes amendoados pelo local algumas vezes. – Eu vou até o balcão perguntar por ela – informou enquanto se afastava com Ártemis em seu encalço.

Evelyn comentou que tinha visto alguém e caminhou rapidamente em direção a uma das estantes de livro, onde cutucou Carl algumas vezes até o garoto a olhar irritado.

— É impressão minha ou a Lyn foi falar com o Carl? – perguntei meio surpresa.

Maxine que tinha sido a única a ficar comigo seguiu meu olhar e encarou os dois por alguns segundos antes de me responder.

— É isso mesmo. Será que está na hora de trocar seus óculos?

Ri pelo nariz.

— Não, eles estão muito bem, obrigada pela preocupação. É que Carl não fala com quase ninguém da nossa Irmandade, então achei que Lucian e os amigos dele eram os únicos a falar com ele.

— Ele é alguém meio difícil de conversar mesmo, não que eu tenha tentado – admitiu quando eu a olhei curiosa. – Eles estão conversando desde a festa de sexta à noite. Lyn aparentemente gosta de conhecer pessoas novas e talvez Carl seja legal, só meio tímido.

— Muito tímido eu diria – falei rindo.

Max riu também e então reclamou que as meninas estavam demorando e que estava ficando entediada. Pegando-me pela mão, ela me arrastou em direção ao balcão e pediu uma água para um dos campistas. Alguns minutos depois Cal e Ártemis nos encontraram dizendo que Sophie não trabalhava naquele horário.

— O veterano que falou com a gente acha que ela é do Búfalo – Calíope falou.

— Parece que ela é muito boa em passar despercebida – Max falou enquanto tomava um gole da água.

— Completamente o oposto da prima – Ártemis confirmou pegando a garrafa da mão da amiga e tomando um gole.

— Talvez não – falei pensativa, mas para mim do que para elas. – Quer dizer, Elizabeth é uma Líder então ela tem que aparecer, tem que demonstrar confiança, mas talvez seja tão tímida e insegura como qualquer outro. E pelo que eu entendi Sophie tem como objetivo passar despercebida, então...

— Acho difícil acreditar que Elizabeth é insegura, mas entendi o que quis dizer – Cal falou sorrindo para mim e jogando seu cabelo sobre o ombro.

Calíope Amelia Tormund-Styx é uma garota decidida de 16 anos. Seus cabelos de tamanho médio são de um laranja vivo. Seu rosto é redondo e com algumas sardas claras, seus olhos verdes amendoados são enquadrados por cílios espessos e sua boca cheia é naturalmente avermelhada. Sua saia leve e um pouco rodada azul marinho é conjunto com sua blusa solta e bem curta, que deixa a mostra sua barriga lisa.

— Onde Lyn foi? – Ártemis perguntou devolvendo a garrafa a Max.

— Ela esta conversando com o Carl – falei apontando por cima do ombro.

Lua assentiu e caminhou até eles. Lyn a apresentou a Carl que apenas assentiu com a cabeça, falou algo e caminhou até a escada interna que leva aos equipamentos de pesca e canoagem do andar térreo. As garotas vieram na nossa direção e Evelyn disse:

— Carl falou que o irmão e os amigos estão esperando por ele.

— Uma desculpa esfarrapada, claro – Calíope comentou rindo um pouco.

Lyn deu de ombros. Decidimos procurar Sophie ao redor do Lago e depois irmos até a Vila das Irmandades. Descemos pela escada interna, passamos pelos campistas que estavam trabalhando no térreo e saímos direto no cais, onde Carl estava de fato com seu irmão.

— Pelo visto o garoto não mente – Calíope falou com descaso sob o olhar de Lyn.

Caminhamos rapidamente até o Lago que estava imóvel e refletia o céu azul com nuvens, a floresta se movendo ocasionalmente com a brisa e o sol das onze horas como um espelho. Fiquei encantada com o fato de conseguir ver o fundo do Lago mesmo daquela distância. Depois de confirmarmos que Sophie não estava por ali, voltamos ao carrinho e rumamos para a Vila das Irmandades.

Logo deixamos o Lago para trás e avistamos o pomar à direita, onde alguns campistas estavam colhendo frutas ou sentados nas mesas embaixo das árvores. Em frente era possível avistar uma construção levemente parecida com o Coliseu que nenhuma de nós conhecia.

— Eles não nos mostraram isso quando fizemos o tour pelo Acampamento – Ártemis falou do meio do banco traseiro.

— Ninguém me falou dele também – comentei. – Pelo menos ninguém da minha Irmandade mencionou.

Antes que chegássemos à construção misteriosa, Max fez uma curva para a direita em direção ao leste do Acampamento e passamos perto da Enfermaria onde poucos campistas circulavam. Pensei se Elizabeth estaria ali dentro o tempo todo e que os Líderes apenas falaram que ela saiu do Acampamento para os campistas não irem visita-la ou algo assim. Mas depois pensei que ela provavelmente não receberia tantas visitas para que isso fosse necessário.

Como estava acontecendo até aquele momento, não deixei de me impressionar com o enorme muro de pedras cinzentas, os portões de ferro negro – cada um com o símbolo de um animal –, os campistas com os lobos na entrada e as corujas que sobrevoavam a Vila.

— Vamos pelo Portão Oeste, é o portão do Búfalo – falei para Maxine que dirigia.

— Como sempre, o caminho mais longo é o certo – ela falou pisando no acelerador.

— De onde essa frase? – Evelyn perguntou sentada logo atrás de mim.

— Eu sei lá – Max respondeu rindo.

Passamos pelos portões do Urso e da Raposa antes de chegarmos ao nosso destino. O portão estava fechado deixando a mostra à figura de um Búfalo americano de perfil, símbolo da Irmandade. Uma campista do Búfalo estava perto dos portões com uma prancheta em mãos e dois lobos cinzentos razoavelmente perto. Os lobos olharam para o carrinho, mas não se moveram enquanto eu descia e me aproximava do portão.

— Suas amigas tem que se afastar um pouco – a garota falou quando eu estava a dez passos de distância dela.

Fiz um sinal para que elas se afastassem e deixei meu colar com um pingente de coruja a mostra. Cada campista assim que entra em uma Irmandade recebe um colar de prata com um pingente do animal que a representa – no meu caso, uma coruja suindara encarando com as asas completamente abertas, como se estivesse planando sobre sua presa. A menina do portão estava com um colar com o mesmo desenho do portão, ou seja, um búfalo americano de perfil, sobre a camiseta branca com estampa de rosas.

— Seu nome – ela falou olhando para a prancheta e parando na folha em que estava escrito Coruja: meninas.

Apesar do colar comprovar que eu pertenço a uma Irmandade ele poderia ser roubado por um novato curioso que quer entrar na Vila sem permissão, por isso, apesar do colar o campista que cuida do portão tem uma prancheta com o nome dos membros de todas as Irmandades. São duas folhas para cada Irmandade que são organizadas por sexo, posto e tempo no Acampamento.

— Dominique Lee Underwood – falei.

No fim do papel pardo ela encontrou o meu nome. Em seguida, tirou a chave do pescoço do lobo que estava sentado ao seu lado, destrancou o pesado cadeado e abriu o portão para que eu pudesse passar. Agradeci e praticamente corri pelo caminho até chegar à varanda do Chalé do Búfalo, onde bati na pesada porta de madeira e aguardei. Um garoto negro de 11 anos abriu a porta de supetão, me assustando.

— Oi. A Sophie está? – perguntei.

— Que Sophie?

Hesitei já que não sabia o sobrenome da garota e nem tinha certeza de que ela pertencia a aquela Irmandade. Ouvi uma voz do lado de dentro falar com o menino que respondeu sobre o ombro e logo Mavis Bittencourt estava parada na soleira da porta me encarando.

Mavis é uma garota de 17 anos geralmente alegre e simpática. Com cabelos na altura dos ombros ruivos tom de cobre, olhos verdes e pele clara, ela estava usando uma calça jeans clara, uma camiseta preta de uma banda e um tênis vermelho. Eu havia falado com ela no meu primeiro dia, mas ao contrário daquele encontro ela não sorriu para mim e perguntou como era ser escolhida pelo teste. Um pouco tarde demais me lembrei de que a melhor amiga dela tinha ido embora e que seu humor provavelmente não estava muito bom.

— Posso ajudar? – ela perguntou séria depois de eu ficar a encarando por algum tempo sem me mexer.

— Ah, sim. Claro – falei passando a mão sobre a bandana que eu estava usando. – A Sophie está?

— Que Sophie?

— Bom, eu fui ao café e disseram que ela não estava trabalhando e que achavam que ela era daqui.

— Achavam? Isso não ajuda muito – ela falou e um pequeno sorriso se abriu. – Você tem mais alguma informação?

Enquanto eu pensava, ela me empurrou delicadamente para o lado e fechou a porta atrás de si, olhando sobre o meu ombro. Ela desceu os degraus da varanda e fez um sinal para que eu fizesse o mesmo. Reparei que ela estava com um olhar levemente vago e não soube disser se era por que ela estava pensando no meu problema ou por que estava longe dali.

— Bom – hesitei – ela falou que é prima da Elizabeth.

Mavis virou sua cabeça rapidamente na minha direção, fazendo com que alguns fios ricocheteassem no seu rosto. Depois de afasta-los rapidamente ela me encarou assustada.

— Ela falou isso? – então desviou os olhos dos meus e olhou para o Chalé das Raposas ao longe. – Talvez seja por isso que Effy foi embora. Mas não faz sentido... Lucian deve saber de algo... Ou Dylan, ele parece estar muito normal para alguém que...

Apesar da minha curiosidade para saber suas teorias eu sabia que minhas amigas estavam me esperando talvez não muito pacientemente num carrinho estacionado embaixo do sol do meio dia.

— Então? – falei fazendo a atenção da Líder se voltar para mim. – Ela é daqui?

— Ah, não, na verdade não – ela falou parecendo voltar de um transe. – Ela é da Raposa, Effy a escolheu pra ficar de olho nela ou algo assim.

Agradeci e caminhei rapidamente em direção ao Chalé das Raposas que estava com as cortinas azuis abertas assim como as janelas. Como sempre acontecia, assim que me aproximei do Chalé um nervosismo sem explicação tomou conta de mim, assim como medo e curiosidade. Eu tinha a impressão que todas as respostas para as minhas perguntas estariam naquele Chalé misterioso.

Encontrei um campista da Raposa lendo em cima da árvore que fica quase na entrada do Chalé e perguntei se a Sophie estava ali. Ao contrário do que aconteceu anteriormente ele não me perguntou de quem eu estava falando, mas me olhou de cima a baixo, desceu da árvore e entrou no Chalé sem nem me responder. Sem saber se ele tinha ido chama-la ou não, aguardei alguns minutos a alguns passos de distância da escada que da acesso a varanda.

Uma garota com o cabelo comprido castanho claro ou loiro escuro, eu não soube definir, preso numa trança de lado saiu do Chalé. Sua pele branca estava vermelha nas maçãs do rosto e seus olhos azuis varreram a entrada do Chalé até me encontrar parada ali. Apesar de ser incrivelmente parecida com a prima eu não me senti intimidada quando seus olhos claros pousaram em mim e ela abriu um pequeno sorriso com seus lábios rosados grossos.

— Você esta me procurando? – ela perguntou enquanto descia as escadas.

— Você é a Sophie? Lembra-se da Calíope e suas amigas?

— É claro, aconteceu alguma coisa a elas? – ela perguntou arregalando os olhos. Reparei que enquanto a prima raramente deixa uma emoção passar pelo seu rosto, Sophie parecia uma pessoa extremamente fácil de ler.

— Não, elas estão bem – falei a acalmando. – Na verdade, elas estão te procurando. Venha, vou leva-la até elas.

Assentindo com a cabeça e extremamente curiosa, a garota começou a me acompanhar pela Vila em direção ao Portão Oeste. Reparei que ela possuía o mesmo andar silencioso que todos os campistas da Raposa parecem possuir e que apesar de sua personalidade não ser muito parecida com a da Effy, ela também não fala muito. Alcançamos o portão e a mesma campista o abriu. Assim que nos avistaram, as meninas saíram do carrinho e deram alguns passos na nossa direção. Sophie sorriu quando as avistou.

— Tudo bem? – perguntou animada.

— Foi difícil acha-la? – Max perguntou para mim enquanto as outras a cumprimentavam.

— Para começar ela não é do Búfalo, é da Raposa – falei enquanto observava Ártemis começar a questionar a garota.

— Sério? – Maxine me olhou surpresa. – Achei que Elizabeth queria distância dela.

— Mavis falou alguma coisa sobre Effy querer ficar de olho nela, sei lá.

Maxine deu de ombros e me puxou quando Evelyn fez um sinal para que nos aproximássemos. Calíope, Ártemis e Evelyn formavam um semicírculo ao redor de Sophie, que falava e gesticulava bastante. Max e eu nos aproximamos para ouvir.

—... Então Effy não confia em mim o bastante para falar algo desse tipo. Se realmente quiserem descobrir algo, talvez devessem falar com um amigo dela ou com o Dylan. Sinto muito meninas – ela falou colocando as mãos no bolso do short que usava.

Ficamos em silêncio, nos entre olhando. Sophie realmente parecia estar sendo sincera, o que fez Calíope nos olhar com ar superior ao passo que Lua e eu trocávamos olhares insatisfeitos.

— Tudo bem Sophie – Calíope falou. – Obrigada por vir até aqui.

Sophie sorriu parecendo mais animada.

— De nada meninas. Mas na próxima vez, guardem melhor os segredos das pessoas. Vocês tem sorte de eu não me importar muito com isso, mas se Effy desconfiar da quantidade de pessoas que sabem ou pior, se fosse um segredo dela que vocês estivessem espalhando... – ela deu de ombros. – Esse segredo a envolve, mas como não é dela efetivamente, acho que ela não ligaria tanto. Enfim, só se cuidem.

Então acenou e voltou a caminhar de volta para a Vila. Ártemis seguiu a garota com o olhar e eu a imitei, reparando que os lobos rosnavam baixinho para ela. Maxine e Calíope começaram a discutir o que seria o prêmio da ruiva por ter ganhado a aposta enquanto Evelyn apenas ouvia, rindo ocasionalmente.

— Acha que ela está falando a verdade? – Ártemis sussurrou.

Dei de ombros.

— O problema é que eu não sei quem está mentindo.

Lua concordou com a cabeça. Evelyn comentou que estávamos quase atrasadas para o almoço, então começamos a caminhar em direção ao carrinho, quando uma voz atrás de nós gritou chamando Ártemis.

Me virei e encontrei a mesma garota do Urso que mais cedo havia me contado que Matthew foi a ultima pessoa com quem Effy falou. Dawn Austen Margott é uma californiana de 17 anos magra e alta, com cabelos castanhos ondulados e compridos, olhos verdes com pontos em azul e castanho, lábios finos e nariz arrebitado. Suas unhas compridas estavam pintadas de azul escuro quase do mesmo tom que seu short jeans. Uma camiseta com estampa da bandeira de Londres e um all star vermelho completavam seu figurino.

A garota parou a alguns passos de distância. Ártemis a encarava séria, mas não tão séria quanto Calíope que parecia querer matar a garota apenas com o olhar. Maxine olhava a cena com um pouco de preocupação e Evelyn parecia estar tão perdida quanto eu. Dawn passou os olhos sobre todas nós e então voltou a focar em Ártemis que fazia o mesmo.

— Podemos conversar? – perguntou.

Cal bufou e revirou os olhos. Lua pisou no próprio pé e mexeu no cabelo, desviando o olhar para o estabulo que fica na frente do Portão Oeste.

— Estamos quase atrasadas para o almoço, vamos indo meninas? – Max falou numa tentativa de deixar as duas a sós.

— Você tem razão Max – Evelyn falou começando a caminhar em direção ao carrinho.

Calíope e eu não nos movemos. Eu estava curiosa para saber o motivo de toda aquela tensão e o que poderia ter acontecido entre as duas garotas, já Cal parecia estar se segurando para não pular no pescoço da Dawn. Ao perceberem que nenhuma de nós as seguia, Max e Lyn voltaram suas cabeças em nossa direção.

Vamos meninas – Maxine falou enquanto me puxava na direção do carrinho.

— Você as ouviu – Ártemis falou para Dawn. – Estamos quase atrasadas para o almoço.

— Bom, então podemos conversar enquanto vamos para o Refeitório ou depois? – Dawn perguntou dando um passo para frente. – Se bem que os Líderes não estão dando tanta bola para a gente assim, se não repararam.

— O que quer dizer com isso? – perguntei o que fez Maxine bater de leve no meu braço.

— Manson não está aqui – Dawn falou me olhando. – Os outros Líderes estão agindo diferente, então acho que eles não vão se incomodar tanto, afinal de contas, ela é a carrasca daqui.

Enquanto eu pensava no que a garota tinha acabado de dizer, Ártemis e Calíope pareciam estar tendo uma conversa apenas pelo olhar e eu as invejei por serem tão amigas, apesar do pouco tempo. No final, Lua e Dawn foram caminhando em direção ao Refeitório enquanto o restante entrou no carrinho. Max deu ré e então rumou para o leste do Acampamento enquanto Calíope sentou no banco do carona estranhamente calada. Passei meus olhos pela floresta, pelos Chalés e pelos campistas que encontramos e percebi que Dawn está certa. Ao mesmo tempo em que o Acampamento parecia o mesmo, algo estava diferente, estranho. Como quando você passa por uma experiência, seja ela boa ou ruim. Por fora você é o mesmo, mas algo mudou por dentro.

O Acampamento continua no mesmo lugar, o clima de verão do Canadá ainda é o mesmo, os campistas ainda riem e brigam entre si, alguns deles trabalham enquanto outros matam as horas com vários nada. Os Chalés continuam encantadores como sempre. Os Lobos continuam praticando esportes e brigando. Os Ursos continuam sendo sensatos e acabando com as brigas. As Corujas continuam lendo e tentando participar. Os Búfalos continuam sendo amigáveis com todos. As Raposas continuam misteriosas e distantes. Mas a Líder não está. A Líder das Raposas e do Acampamento não está. É como se você estivesse jogando xadrez e de repente uma peça importante some e você não consegue jogar com uma peça faltando, mas mesmo que procure em todo lugar, não encontra a peça.

Ao mesmo tempo em que os campistas pareciam mais relaxados porque as chances de serem punidos diminuíram eles olhavam sobre os ombros várias vezes, como se esperassem serem atacados. Porque ao mesmo tempo em que Elizabeth Manson é uma figura misteriosa e imponente ela é reconfortadora e faz todos se sentirem seguros. É claro que alguns estavam claramente muito felizes com sua partida, mas outros pareciam preocupados. Principalmente as Raposas e como elas são as pessoas que passam a maior parte do tempo com a Effy, julguei que deveriam conhecê-la melhor que a maioria e se eles estão preocupados então todos nós deveríamos estar. Pelo menos um pouco.

— O que acha Domi? – Evelyn perguntou arrancando-me dos meus pensamentos.

— O que acho sobre que?

— Estamos fazendo teorias sobre o porquê Effy saiu do Acampamento – Lyn explicou pacientemente, com um sorriso nos lábios. – Então, o que você acha?

Pensei por alguns minutos.

— Bom, eu acho que ela foi para o aniversário do parente da Califórnia.

— Sério? – Calíope perguntou descrente se virando para trás.  – Vai mesmo acreditar nos boatos?

— Todos acreditaram no boato que ela estava sangrando na Biblioteca, então por que não acreditar nesse? – rebati batucando com os dedos no banco traseiro.

— Faz sentido – Maxine falou fazendo uma curva para a esquerda.

— Vocês realmente esqueceram-se do tempo que antecedeu a nossa chegada aqui? – Evelyn perguntou. – De todo o mistério ao redor desse Acampamento, a falta de informação o fato de não podermos entrar na floresta e na Vila? Não acham tudo isso muito suspeito?

— Não podemos entrar na floresta por causa dos animais, acho – falei. – E a Vila é legal, mas não encontrei nada misterioso. Talvez eles não divulguem muito porque não tem muitas vagas.

— Ou talvez não queiram chamar atenção para o Acampamento porque estão escondendo algo – Evelyn falou. – Porque ele é bem protegido, com esses muros altos, lobos e tudo mais? Já pararam pra pensar que pode ser algum problema na Família dela? Sophie diz não saber de nada, mas me pareceu meio nervosa. Tudo bem que eu não a conheço, mas achei ela ansiosa demais para nos deixar. Talvez Effy saiu porque algo esta acontecendo e ela tem que resolver rapidamente antes que espalhe.

— Isso não faz muito sentido. O que problemas familiares têm haver com a segurança do Acampamento? – Maxine falou.

— Quantas teorias conspiratórias – falei rindo. – Mas não vamos descarta-las. Queria tanto que vocês já estivessem em uma Irmandade, poderíamos explorar bem mais dentro da Vila.

— Seria útil mesmo se uma de nós fosse da Raposa – Calíope falou enquanto descia do carro que Max havia acabado de estacionar. – Estamos cinco minutos atrasadas. Vamos testar a teoria da Austen de que os outros Líderes são mais paz e amor.

— Ótimo, mais um atraso para o meu currículo – Max falou sem parecer estar preocupada de verdade.

E sorrindo animadamente ela andou de forma confiante para as escadas com nós três logo atrás. Cal abriu a porta e ao contrário do que aconteceu quando Maxine se atrasou não interrompemos nenhum discurso e ninguém nos olhou duas vezes. Despedi-me rapidamente e caminhei até a mesa da Coruja, que é a segunda esquerda, se você estiver de frente para a mesa dos Líderes e contar da parede da esquerda para a direita.

— Até que enfim você chegou – Maggie exclamou quando me sentei na sua frente. – Onde estava?

Mas antes que eu conseguisse responder, Sam se levantou da mesa dos Líderes, chamando a atenção de todos.

— Boa tarde. Como vocês sabem, quando a Effy não está eu assumo o seu local temporariamente como Líder das Raposas até ela retornar – reparei que ele torcia as mãos e gaguejava um pouco, de nervosismo. – Sei que isso nunca tinha acontecido anteriormente e como já dissemos, não sabemos quando ela vai voltar, mas tentaremos seguir com o programado para essa temporada normalmente. Como eu agora eu sou responsável pelas Raposas, Dylan vai ficar responsável pelas Larvas.

Algumas pessoas da mesa das Raposas bateram palmas, comemoraram e bateram nas costas de Dylan, que riu e agradeceu. Os Líderes voltaram a se sentar e todos começaram a comer. Conversei com meus amigos sobre a manhã de cada um e depois fizemos algumas teorias sobre a Effy e apostas sobre o restante dos novatos.

— Acho que Mavis só está esperando Effy voltar para escolher logo a Telma – Ron falou enquanto enfiava batatas na boca. – Mavis não gritou com ela quando invadiu a pista de atletismo atrapalhando a corrida.

— Independentemente de você estar certo ou não, não fale de boca cheia Billius. Não somos obrigados a isso – Elle falou revirando os olhos.

Ronald numa atitude infantil mastigou de boca aberta, fazendo Jena fingir vomitar e Maggie bater na sua cabeça.

— Só sei que uns pirralhos da Larva não pararam de me importunar hoje – John falou enquanto se servia. – Eles queriam montar o cavalo da Effy e quase deixei só para eles caírem, quebrarem o pescoço e pararem de me encher.

— Acho que Elizabeth não iria brigar com você caso isso acontecesse – Francis falou.

— Muito menos com o cavalo – Elle completou.

John e Elle trabalham nos estábulos. Pelo fato da família morar no campo e o avô deles ter um rodeio no Texas ambos se dão muito bem com animais em geral. John tem 16 anos e é um rapaz negro, forte, com cabelo raspado e olhos que parecem besouros. Possui algumas cicatrizes nas mãos e seus músculos o deixam ainda mais com cara de malvado, mas ele é alguém engraçado e que sempre quer o bem das pessoas, apesar das ameaças. Elle tem 15 anos e possui a pele um pouco mais clara do que a do irmão. Seus cabelos são compridos, cacheados e naturalmente armados. Ela é magra com algumas curvas e seus olhos são castanhos. As pessoas geralmente temem mais o irmão pela aparência dele, mas deveriam ter medo dela.

— A Biblioteca estava estranhamente vazia hoje – Francis falou. – Acho que o episódio da Effy ontem colocou um pouco de medo nas pessoas, sei lá.

Francis, como um típico nerd rato de biblioteca, trabalha como ajudante da bibliotecária. Ronald trabalha no Chalé das Quadras, Maggie na enfermaria e Jena na horta e auxiliar de cozinha. Depois de cada um contar sobre seu dia, falei sobre o meu excluindo a parte da Sophie.

— Não adianta ficarmos fazendo teorias, quando ela voltar apenas alguns ficarão sabendo da verdade – Maggie falou enquanto abraçava Ron de lado. – O restante vai saber de outra versão dos fatos.

— Acha que ela vai voltar? – Jena perguntou.

— Ela não tem motivo para não faze-lo, tem?

Olhei por cima do ombro a mesa das Larvas e avistei Evelyn acenando para mim. Despedi-me dos meus colegas de Chalé e rumei em direção às garotas. Max deu espaço para que eu me sentasse ao seu lado, mas recusei.

— Desculpe, mas só posso sentar na minha mesa – falei. – São as regras.

Calíope revirou os olhos e falou que ninguém de fato estava se importando com as regras ultimamente e após muita insistência delas acabei me sentando. Telma sorriu para mim enquanto terminava seu desenho. Avistei Dawn e Lua conversando perto da saída, mas antes que eu pudesse comentar algo sobre, Cal falou:

— O Líder dos Lobos não para de me olhar – falou com raiva. – O que será que ele quer?

Mas antes que uma de nós pudesse responder, Elijah se aproximou da mesa com Dylan. Eles nos olharam por alguns segundos. Levantei-me rapidamente e Elijah me deu uma piscadela amigável enquanto Dylan se sentava do lado da Evelyn de forma desleixada.

— Bem meninas, vocês sabem as regras – ele falou. – Chegaram atrasadas, como muitos outros vou acrescentar, provavelmente crendo que só por que a Effy não esta aqui não vamos puni-las, certo?

— Ouvimos boatos sobre isso e decidimos confirmar – Calíope falou de forma inconsequente.

Dylan riu enquanto nós fuzilávamos Calíope com o olhar, que deu de ombros.

— Jason precisa conhecer você – Dylan falou olhando a ruiva, que revirou os olhos. – Enfim, sinto em dizer que estavam enganadas meninas. Sabem como é. Eu tenho uma namorada furiosa para lidar se deixar o Acampamento bagunçado quando ela voltar – rimos da cara de medo que ele fez. – Tenho que deixar a ditadura dela intacta, então vocês estão de detenção.

E se levantou, empurrando Elijah na nossa direção.

— Vamos lá Elijah, eu não sou o único com a capacidade de falar por aqui – Dylan falou sorrindo.

— A ruiva com a língua afiada já me mostrou isso, obrigado – ele falou com um meio sorriso. – Isso vale para você também Dominique. Como já faz parte de uma Irmandade devia dar o exemplo para aqueles que não fazem.

Corei e abaixei um pouco a cabeça, percebendo que o Refeitório estava quase vazio.

— O que é a detenção? – Evelyn perguntou.

— Bom, no caso das Larvas você, suas amigas e os outros do Chalé que se atrasaram hoje vão limpar o Chalé das Larvas sem ajuda no sábado. Vamos lá garotas, poderia ser pior – ele falou diante das caretas das meninas que estavam sentadas. – Vocês tem sorte de Effy não estar aqui, ela poderia muito bem mandar vocês limparem o chiqueiro por isso. Ou caçar vocês.

E lá estava aquela palavra de novo. Lembrei-me do que Elijah tinha dito mais cedo: Não. Eles foram caçados. Será que os campistas maus eram jogados na floreta para serem devorados pelos animais selvagens e que na verdade esse é o mistério do Acampamento, o motivo de todos os segredos?

— E a Domi? - Lyn perguntou me olhando.

— Isso é com o Líder dela – Dylan que estava de pé do meu lado falou. – Você tem sorte do Eli ser meio coração mole e não ligar muito para regras.

— Ei! – Elijah exclamou em protesto.

— Estou mentindo? – Dylan falou rindo, mas o riso logo morreu quando ele avistou Mavis chamando por ele na porta. – Bom, tenho que ir para a minha sessão de tortura, até mais meninas.

Nos despedimos do Dylan que parecia muito animado para alguém que estava prestes a ser torturado e me perguntei se esse não seria o estado constante dele. Mavis falou para Elijah se apressar antes de fechar a porta com Dylan logo atrás dela.

— O que ele quis dizer com sessão de tortura? – Cal perguntou.

— Desculpe, mas não posso falar – Elijah falou dando um sorriso triste. – Vou pensar no seu castigo e depois falo Domi.

Então o observamos correr porta a fora em direção ao Portão Leste, o Portão das Corujas. As meninas se levantaram e caminhamos juntas para o lado de fora do Refeitório, cada uma perdida em seu próprio pensamento.

— Parece que a teoria da Austen estava errada – Cal falou se sentando em uma dos degraus da escadaria que da acesso ao Refeitório. – Se eu encontra-la vou fazer limpar o Chalé com a língua.

 

Lucian Gonzalez, Lucian

(Julho – Segunda-feira, tarde).

Faz dois dias que Elizabeth Manson foi embora. A essa altura as Raposas não parecem mais tão calmas ou contentes de receberem ordens do Sam, mas o obedecem porque sabem que por trás de suas decisões estão e-mails da Effy com instruções e ordens. Esse é o único contato que temos com ela.

Effy tem ignorado todas as mensagens, e-mails e ligações que mandamos. Sam tem medo de perguntar alguma coisa que não esteja relacionado a trabalho e Effy se irritar com ele, apesar de Mavis e eu garantirmos sem nenhuma garantia que isso não irá acontecer.

— O que ele acha que ela vai fazer? – Mavis exclamou jogando as mãos para cima. – Bater nele?

— Acho que ele não tem medo de perguntar algo – Matthew respondeu calmamente, com a cabeça apoiada no encosto da cadeira e os olhos fechados. – Deve ser legal para ele parar de ser o ajudante e passar a ser o Líder. Talvez ele ache que se perguntar para ela alguma coisa ela vai achar que tem algo de errado e vai voltar para o Acampamento e Sam vai ser automaticamente rebaixado.

— Ele é muito egoísta se pensar assim – Mavis falou num tom alto. – Ele já manda no Chalé das Larvas, isso não está ótimo?

— O Chalé das Larvas é temporário, você sabe Mavis – Elijah falou enquanto escrevia num caderno. – Talvez Sam se ache bom demais para ser um mero ajudante.

— É. Talvez ele tenha alertado Effy sobre algo falso que esta acontecendo do lado de fora que a obrigaria a sair, como a mãe dela morrer – Jason comentou com descaso e com uma falsa expressão de preocupação. – Então, quando era tarde demais, Effy se viu no meio de uma armadilha e agora deve estar enterrada num buraco qualquer.

— Isso é sério Jason – Mavis exclamou dando alguns tapas nele. – Ela está desaparecida e você fica fazendo brincadeirinhas? Cresça! Não brinque com essas coisas. Você é idiota? Retardado?

Suspirei enquanto Mavis xingava Jason. Estávamos todos sentados em uma mesa na varanda do Chalé Cais. Os poucos campistas que circulavam ali não nos olhavam duas vezes, mas os gritos pouco discretos de Mavis não ajudavam muito na ideia de passarmos despercebidos. Eu sentia como se estivesse fazendo algo fora da lei. Quando na verdade, suspeitava que Effy estivesse.

Ela tinha o costume de ir para a Califórnia às vezes, quando as coisas ficavam ruins na casa dela. Ela sempre diz que sua casa em Lake Tahoe a ajuda pensar e talvez ajude, mas ela sempre volta abatida e demora um tempo para se recuperar dos sentimentos negativos. Mas ela estava no Acampamento, seu paraíso na Terra, longe de qualquer problema, qualquer briga com os pais, longe do mundo real. Então não faz sentido para mim ela ter nos deixado em plena temporada.

 

Olá querida, anjo do meu pesadelo

A sombra no fundo do necrotério

A vítima menos suspeita na escuridão no vale

Podemos viver como Jack e Sally se quisermos

Onde você sempre pode me encontrar

Nós teremos o Dia das Bruxas no Natal

E na noite desejaremos que isto nunca acabe

Desejaremos que isto nunca acabe

 

Talvez ela tenha ido embora por causa do cara misterioso que bateu nela e que nenhum animal ou campista encontrou vestígio. Ou talvez seja algo a mais, já que ela estava estranhamente distraída nas ultimas semanas. Talvez seja alguma briga particularmente feia com os pais. Talvez tudo isso esteja interligado.

— É difícil reconhecer o fato de que você não conhece as pessoas – soltei fazendo Mavis e Jason pararem de discutir e todos se virarem para mim. Ainda com os olhos sobre uma mesa ali perto onde dois campistas se beijavam levei meu pedaço de torta de chocolate e algodão doce à boca.

— O que quer dizer com isso? – Elijah perguntou distraído.

Dei de ombros e sorri sem mostrar os dentes. Mavis me lançou um olhar triste enquanto Jason revirava os olhos. Matthew abriu minimamente os olhos e observou cada um de nós calmamente.

— Talvez seja mais sensato pararmos de procrastinar e fazermos algo útil – Matt falou calmamente enquanto se ajeitava na cadeira e tomava um gole de café. – Effy não atende nossas ligações e não nos responde. Ficarmos sentados o dia inteiro fazendo teorias não ajuda ninguém. Somos Líderes, devemos dar o exemplo, ocupar nossas cabeças com algo útil. Deixar tudo em ordem para quando ela voltar, porque ela vai voltar.

— Aleluia – Jason falou erguendo as mãos e sorrindo. – Finalmente alguém fora eu e o Dylan percebeu que ficar sentado o dia inteiro falando da Effy quando ela esta nem aí pra gente não faz a menor diferença.

— Como você pode ser tão insensível Blood? – Mavis falou encarando o rapaz com ódio. – Nós não sabemos se ela está viva, se está bem, o que está acontecendo e você age normalmente, como se ela tivesse ido à padaria?

— Talvez tenha ido – ele falou dando de ombros e se levantando. – Talvez os pães ou sei lá o que da Califórnia sejam melhores. Nós dissemos aos campistas que eles não deveriam se preocupar porque Effy está bem, mas como vocês esperam que eles acreditem em nós se vocês não perdem essa cara de enterro?

Suspirei fundo e me concentrei na minha torta. Jason é meu melhor amigo. No geral temos um bom relacionamento, mas algumas atitudes dele me irritam profundamente. Esse descaso com o que pode estar acontecendo com a Effy é um desses casos.

— Jason – Matt falou tentando evitar outra briga. – Por que você não vai treinar basquete com sua Irmandade? Os Lobos estavam reclamando que você não tem jogado muito ultimamente.

— Outra ótima ideia Matt – ele falou sorrindo cafajeste. – Até mais adoradores da Manson.

Mavis bufou e fuzilou Jason com o olhar enquanto o mesmo descia a escada externa animadamente. Elijah balançou a cabeça em negação e fechou seu caderno, sorrindo.

— Terminei mais uma música – anunciou animadamente. – Bom, eu prometi ajudar um campista na Biblioteca, então vou indo.

— O mesmo de ontem? – Matt perguntou enquanto observava Eli levantar. – Francis?

— Ele mesmo.

— Ele está pedindo sua ajuda ou você está se aproveitando do nerd para fazer suas táticas Campbell? – perguntei sorrindo.

Elijah riu assim como Matt e se despediu sem me responder, o que confirmou minhas suspeitas. Mavis parecia estar com a cabeça em outro lugar enquanto encarava a superfície de madeira lustrosa da mesa. Então ela nos encarou com uma expressão neutra e perguntou:

— Acham que Jason está certo? Deveríamos parar de nos preocupar com a Effy?

Batuquei no tampo da mesa e olhei para a direita, onde as árvores balançavam com a brisa, parecendo sussurrar segredos uma as outras. Sorri ao ver o topo das montanhas que mesmo em pleno verão estavam cobertos de neve. Algumas nuvens de chuva começavam a aparecer no horizonte. Olhei para o Lago onde alguns campistas andavam em grupos, com os rostos alegres e tensos ao mesmo tempo.

— Eu não sei – falei por fim. – Acho que devemos nos preocupar, mas não tanto. Effy vai aparecer quando quiser. Lembra-se do mês passado, quando ela não foi pra aula e dava respostas vagas?

— Se o irmão coruja está dizendo isso é porque de fato estamos sendo paranoicos – Matt falou com uma falsa expressão de preocupação.

— E se você diz isso é porque estamos sendo muito paranoicos – Mavis falou.

Gargalhamos por alguns minutos, esquecendo momentaneamente dos nossos problemas e preocupações, parecendo mais como os adolescentes que deveríamos ser. Matthew começou a cantarolar algumas músicas do Kansas como de costume e Mavis acenou para um grupo de garotas da Larva que haviam entrado no café.

— Bom, eu vou seguir o conselho do Blood e fazer algo útil, mas não digam a ele que falei isso, certo? – Mavis falou sorrindo marota enquanto se levantava e caminhava até a saída.

Matthew e eu fizemos barulhos de concordância. Olhei para o balcão do café e avistei Carl conversando com uma garota de cabelos ondulados na altura das costas, pele clara e altura mediana, além de óculos com aro redondo que pelo colar reconheci como sendo a novata da Coruja. Sorri em ver meu irmão caçula socializando e não escondido atrás de um livro.

Tentando seguir o conselho de Effy e parar de ser tão irmão coruja, voltei meu olhar para a torta. Matthew tomava calmamente seu café expresso olhando os campistas da sua Irmandade que pescavam ao redor do Lago.

Suspirei internamente enquanto absorvia o silêncio. Matthew é um cara legal e nós nos damos bem, mas basta ficarmos a sós que o assunto morre e cada um fica encarando um canto até algo acontecer. Isso apenas confirma minha teoria de que ele só fala comigo por causa de Effy e Jason.

— Bom – comecei após ter terminado minha torta. – Eu vou ali falar com o Carl.

Matthew sorriu e depositou sua xícara vazia na mesa.

— Tudo bem. Eu tenho que fazer alguns relatórios e dormir um pouco.

Rimos e nos levantamos. Acenei para ele enquanto caminhava até uma mesa onde Carl estava sentado sozinho, lendo. Observei a capa do livro e o reconheci como sendo um que Effy havia lhe dado no feriado.

Effy e Carl não se falavam muito quando se conheceram. Quando ela ia nos visitar na nossa casa, em Miami, meu irmão caçula passava a maior parte do tempo trancado no quarto interagindo muito pouco com ela. Em uma dessas visitas, Effy conseguiu entrar no quarto do Carl sem este notar e viu a quantidade de livros empilhados no cômodo. Com isso, ela começou a puxar assunto com ele usando um ponto em comum: a leitura.  Desde então, sempre que nos visita, Effy sempre leva alguns livros para Carl ler.

Segurei um suspiro ao pensar na quantidade de vezes que havia pensado nela num curto período de tempo. Senti falta da sua forma simples e eficaz de resolver problemas. Ela saberia como acalmar Matthew e aconselha-lo sobre um grupo de campistas do Urso que estavam dando problemas. Brigaria com Jason para ele ser um Líder mais responsável de forma eficaz. Acalmaria Mavis e falaria para ela pegar mais leve com os Búfalos se não quisesse ser odiada. Falaria para o Elijah ser mais atento com seus campistas que estavam beijando e fazendo outras coisas por aí.

 

Sinto sua falta, Sinto sua falta

Sinto sua falta, Sinto sua falta

 

Sentei-me na cadeira de frente ao Carl, que fez um gesto com a mão me pedindo para aguardar em quanto terminava de ler. Observei seus cabelos lisos penteados, as sardas em volta do nariz e seu rosto sem nenhum resquício de barba. Reparei que ele estava usando uma bermuda caqui azul que ganhou de natal e uma camiseta bem passada lisa, assim como um colar do Assassin’s Creed juntamente com o da sua Irmandade.

— Algum problema? – ele perguntou fechando o livro e o depositando sobre a mesa.

— Por que teria algum problema?

Carl deu de ombros.

— Não sei. Ultimamente você só vem falar comigo por causa de algum problema.

— Isso não é verdade – falei, apesar de não ter muita certeza.

Ele deu de ombros novamente então olhou para o arranjo da mesa e o centralizou graças a sua mania de organização.

— Eu vi você falando com uma garota da sua Irmandade – decidi comentar querendo acabar com o clima tenso. – Isso é bom, não é?

— Sei lá. Acho que não.

— Por quê? – perguntei curioso.

Carl apoiou os cotovelos na mesa e a cabeça em uma das mãos, olhando o lado de fora por uma das janelas do Chalé. Ele ficou alguns minutos em silêncio, colocando os pensamentos em ordem então falou:

— Ultimamente as pessoas só vêm falar comigo por causa da Effy praticamente. Como você é o melhor amigo dela e eu sou seu irmão eles acham que eu sei de algo que os Líderes não estão falando. Queria que Effy estivesse aqui para tudo voltar ao normal.

Percebi que apesar do seu jeito indiferente e distante, Carl sentia falta da Effy. Talvez por ela ser uma das únicas pessoas capazes de fazer ele se sentir em casa mesmo estando em um Chalé onde quase ninguém fala com ele. Talvez por ela ficar horas a fio debatendo com ele sobre livros e teorias, apesar de ter um monte de afazeres. Por ela brigar comigo quando dou uma de irmão super protetor – algo que Carl detesta.

Suspirei e a amaldiçoei mentalmente por sair sem uma explicação. Por não responder nenhum de nós. Por estar agindo de forma estranha desde o final de maio.

— Eu também sinto a falta dela Carl. Mas acho que nós, principalmente você porque é o mais atento, deveríamos estar esperando algo assim afinal de contas ela vem agindo de forma estranha há meses e...

— Não – ele falou me interrompendo. – Effy sempre agiu de maneira estranha. Desde quando a conhecemos. Sempre com suas viagens sem sentido para a Califórnia, sempre sumindo por alguns dias sem dar notícias. Ela sempre foi muito séria. Você lembra o que eu disse quando a conhecemos? Era o primeiro ano dela como Líder.

— Você disse que ela parecia muito séria para alguém de 13 anos – falei tentando me recordar. – Que ela parecia estar sempre na defensiva.

— É. Lembra-se do caderno que ela sempre carrega? O que muda todo ano, mas que sempre tem a mesma capa e ela não deixa ninguém encostar? Das respostas vagas que ela sempre da quando alguém pergunta da Família dela até as pessoas pararem de perguntar? Effy é estranha, misteriosa. Ela talvez goste tanto de mistérios que acabou por se tornar um.

— Você está falando dela como se estivesse morta.

Carl deu de ombros e reparei que seus olhos ficaram tristes.

— Talvez esteja Lucian. É difícil saber quando ela simplesmente não responde.

Segurei minha respiração inconscientemente. Eu não sabia o que falar ou fazer. Percebi que estava batucando sobre a mesa durante todo o tempo que Carl esteve falando. Geralmente eu sou um bom conselheiro, mas naquele momento meu cérebro pareceu me abandonar. Eu não parecia capaz de pensar em algo coerente para falar. A ideia de que minha melhor amiga estivesse morta já era assustadora, mas quando Jason falou não dei muita bola, apesar daquilo já ter passado pela minha cabeça. Mas algo totalmente diferente é quando seu irmão nerd fala isso.

— Acho que devemos seguir o exemplo dos outros e fazer algo útil – falei. – Afinal de contas ficar sentado pensando nos e se não ajuda em nada.

— Acho que sim – ele falou se levantando e pegando o livro. – Elijah me chamou para ir à Biblioteca com mais alguns Corujas para fazermos nossa estratégia desse ano. Sabe por quê?

— Bom, você é inteligente e Effy confia em você. Você deveria ir Carl.

— Eu sei – ele falou no meio de um suspiro. – Mas eu não quero. E se eu falar algo e eles rirem de mim? Ou se eu falar algo e todos me olharem? E se...

— Como eu disse – falei o interrompendo e depositando uma mão sobre seu ombro. – Ficar pensando nos e se não ajuda em nada.

Carl sorriu de lado e concordou. Descemos pela escada externa e saímos no fundo do Chalé Cais, onde alguns carrinhos estavam estacionados. Carl e eu começamos a falar de algumas adaptações de filmes de super-heróis enquanto caminhávamos em direção a Biblioteca quando um carrinho cheio de meninas desacelerou do nosso lado.

Olhei para o carrinho e encontrei as mesmas garotas da Larva que Mavis havia cumprimentado alguns minutos atrás. Sorri para elas que sorriram de volta e reconheci a garota de óculos redondo da Coruja que havia falado com meu irmão.

— Carl? – uma garota de cabelo tingido de vermelho chamou. – Está indo para a Biblioteca?

— Por quê? – ele perguntou na defensiva.

Dei uma cotovelada em suas costelas o que fez ele resmungar.

— Ele está – respondi. – Por quê?

— Ah, que ótimo – a garota da Coruja exclamou. – Também estamos indo para lá. Ouvi dizer que Elijah chamou alguns campistas da Coruja para uma reunião e imaginei que Carl estivesse estre eles.

— Por que imaginou isso? – Carl perguntou levemente surpreso. – Você nem me conhece.

As bochechas da garota ficaram tingidas de vermelho.

— Eu sei que não te conheço você está sempre na defensiva, é difícil fazer amizade com alguém assim e...

— O que a Dominique quer dizer – outra garota que estava sentada no banco do carona falou. – É que ela é muito observadora e você aparenta ser inteligente ou algo assim, por isso ela imaginou que você seria chamado.

— Obrigada por me deixar com cara de stalker Maxine – Dominique falou revirando os olhos, mas sorrindo.

— Disponha – Maxine respondeu.

— Enfim – a garota que estava dirigindo e que Jason estava de olho falou. – Vai querer uma carona ou não?

Carl arregalou minimamente os olhos diante da hipótese de entrar num carrinho cheio de pessoas desconhecidas e me olhou pedindo apoio. Eu sabia que deveria ser o irmão legal e tira-lo daquela situação, mas também estava ciente de que Carl precisa fazer amigos.

— É claro que ele quer – falei fazendo ele me olhar irritado. – Fico feliz que vocês tenham aparecido, eu precisava mesmo ir a outro lugar...

— Eu não pedi pra você ser minha babá Lucian – Carl me interrompeu irritado.

— Opa opa opa rapazes – a garota de cabelo vermelho curto falou. – Sem brigas. Agora Carl, entre logo no carrinho ou você vai chegar atrasado. Lucian né? Obrigada.

— Disponha senhoritas – falei sorrindo.

Ainda me lançando olhares fulminantes Carl entrou no carrinho que logo seguiu seu curso em direção a Biblioteca. Suspirei. Na verdade eu não tinha algo para fazer. Não sendo um Líder, eu não tinha nenhuma obrigação prévia. Não tendo levado uma detenção, eu não tinha nenhum trabalho obrigatório para fazer. Meu turno como instrutor de basquete seria somente no dia seguinte. Eu poderia ir jogar basquete com Jason, mas não estava a fim de ouvi-lo tirar sarro da minha cara caso eu perdesse. Decidindo caminhar a esmo, dei meia volta e comecei a andar em direção ao sul do Acampamento, seguindo em linha reta até encontrar algo interessante.

Peguei meu celular no bolso da calça e conferi a tela. Nenhuma mensagem ou ligação. Os campistas não podem ficar com seus aparelhos quando a temporada começa, mas os Líderes e eu concordamos que com Effy desaparecida era essencial que nós tivéssemos com nossos celulares caso ela resolvesse dar sinal de vida. Dessa forma, Jason arrombou sua sala no Chalé Principal e depois seu armário juntamente com Mavis e um Elijah empolgado que estava cantarolando músicas de filmes de espionagem, enquanto Matt dizia que aquela era uma péssima ideia e eu ficava de olho para ver se alguém aparecia. Sabíamos que muito provavelmente Effy ficaria furiosa com nossa atitude, mas não mais do que Mavis e eu estávamos com ela.

 

Onde você está? E eu sinto muito

Não consigo dormir

Não consigo sonhar esta noite

Eu preciso de alguém e sempre

Esta estranha doente escuridão

Vem rastejando e assombrando o tempo inteiro

E enquanto eu olhava fixamente, eu contava

Teias de todas as aranhas

Pegando coisas e comendo seus interiores

Como a indecisão de te ligar

E ouvir sua voz de traição

Você vai vir para casa e parar esta dor esta noite

Parar esta dor esta noite

 

Deixando o Lago para trás me aproximei do pomar e das salas, na minha direita e esquerda respectivamente. Eu conseguia ouvir algumas Corujas tocando na sala de música e Lobos e Búfalos lutando. Alguns Búfalos também conversavam animadamente com Ursos nas mesas embaixo das árvores do Pomar enquanto as Raposas liam ou conversavam entre si. Vi Dylan saindo da Enfermaria estranhamente sério e Sam o acompanhava falando algo rapidamente. Dylan se voltou para o mais novo Líder das Raposas e o calou apenas com o olhar, numa atitude muito Elizabeth Manson, e então falou algo lentamente para ele, dando-lhe as costas em seguida e montando num cavalo, rumando em direção a Vila.

Sam ficou algum tempo parado no local até que começou a correr atrás de Dylan, creio eu. Franzi a testa, confuso com a cena que tinha acabado de acontecer e fiquei subindo e descendo da ponta dos pés, parado no mesmo lugar com as mãos atrás das costas. Eu estava quase continuando meu caminho quando vi um rapaz de cabelos cacheados na altura da cintura, alto e forte, com sobrancelhas grossas e barbicha. Seu rosto aparentava raiva e ele esfregava os olhos com força. Eu havia aprendido como identificar um problema e liga-lo a sua origem sem precisar perguntar a ninguém, apenas observando poucas cenas com Effy. Então algo me dizia que a cena que vi entre Sam e Dylan e a reação do garoto tinha alguma relação.

— Tudo bem aí? – perguntei me aproximando lentamente.

— É, se você considerar tudo bem ser responsável por alguém que não para de fazer merda e ter a confiança de outra pessoa sobre você – ele falou rude. – Elizabeth vai me matar.

— Como eu não considero isso tudo bem, vou acreditar que você não está legal - falei tentando anima-lo.

— Eu deveria ter batido mais naquela cabeça dura quando tive chance – ele falou esfregando os nós dos dedos.

Levantei-me na ponta dos pés pensando no que ele havia acabado de dizer. Então, me lembrei imediatamente dele: Kenai Nimble, o cara responsável por Oliver Bier – pessoa que Effy vinha amaldiçoando nos últimos dias.

 

Não perca seu tempo comigo você já é

A voz dentro da minha cabeça

(eu sinto sua falta, sinto sua falta)

Não perca seu tempo comigo você já é

A voz dentro da minha cabeça

(eu sinto sua falta, sinto sua falta)

 

— Não acho que isso teria resolvido – falei. – Oliver me parece um tanto quanto inconsequente.

Kenai olhou para mim pela primeira vez, sério. Passou seus olhos escuros pela minha roupa e então voltou a focar no meu rosto, onde meu sorriso amigável ainda permanecia.

— Quem é você? – perguntou.

— Lucian Gonzalez – respondi lhe estendendo a mão.

Kenai encarou-a durante algum tempo, mas por fim apertou firmemente.

— Kenai Nimble.

— Eu sei.

— Você parece saber de muitas coisas Gonzalez, mas não me lembro de você na mesa dos Líderes.

— Isso porque não sou um, sou apenas o amigo deles.

— Ah, claro – ele falou. – Lembro-me de você conversando várias vezes com a Manson. Estou ferrado, não é?

— Bom... Eu não sei o que o Bier fez, então não posso ter certeza. Mas como ela não está aqui não acho que deva se preocupar.

— Aposto que aquele substituto de nariz empinado vai falar a ela – ele resmungou cerrando os punhos.

— Sam? – dei de ombros. – Não sei dizer. Mas então, o que o Oliver fez?

Kenai balançou a cabeça negativamente falando que por enquanto estava proibido de contar a alguém e que apesar dele não se importar muito, não queria se ferrar ainda mais.

— Sabe como é, a Manson pode me obrigar a fazer algo pior do que apenas ser babá do Oliver. E eu não confio em você.

Sorri e pensei que um homem daquele tamanho estava amedrontado diante da possibilidade de alguém quase 30 centímetros mais baixa fazer algo com ele. Dependendo do que Oliver fez era sensato Kenai pensar duas vezes antes de quebrar alguma regra. Aparentemente, Oliver ria na cara do perigo.

— Seria estranho se você já confiasse em mim – falei começando a caminhar em direção ao sudoeste. – Acabamos de nos conhecer.

Kenai assentiu e começou a andar do meu lado, atitude que me surpreendeu. Começamos a conversar e apesar de ele ter deixado bem claro que ainda não confiava em mim, conversou normalmente comigo. Ele é alguém um pouco sem tato e que não sabe usar o poder das palavras, mas ao mesmo tempo é alguém engraçado e animado. Começamos a falar sobre doces – algo que ele detesta – e eu tentei convencê-lo de que chocolate é uma das maiores criações do ser humano. Depois passamos a conversar sobre basquete.

— Eu gosto, mas não sou fanático – ele falou enquanto nos aproximamos da floresta. – Me inscrevi para jogar. Só espero que minha punição não seja ficar sem praticar esportes ou comer no Refeitório, se não aquele tapado do Sam vai se ver comigo.

— Sam pode estar no comando, mas na verdade ele é mais uma marionete, uma representação – falei tentando acalma-lo.

— Como assim? – Kenai perguntou me olhando.

— Effy tem mandado e-mails com instruções para ele organizar o Acampamento. Então se alguém for puni-lo, provavelmente vai ser ela e não acho que ela vai fazer algo que você sugeriu.

— Isso talvez explique a briga entre o Dylan e a marionete – Kenai murmurou para si mesmo.

— O que quer dizer com isso? – perguntei parando de andar.

— Ah, bem – ele falou passando o piercing da língua pelos lábios. – Dylan falou que Sam não tem capacidade de mandar no Acampamento se precisa mandar um e-mail para a Manson cada vez que algo da errado e a marionete rebateu dizendo que Dylan estava com inveja porque a namorada dele tinha roubado seu lugar ou algo assim. Na verdade eu não entendi muito bem essa parte.

Kenai me encarou como se esperasse que eu acabasse com suas duvidas. Subi algumas vezes na ponta dos pés pensando se podia falar algo a respeito, mas decidi que como uma hora ou outra ele iria saber não fazia sentido fazer mistério.

— Eu não sei muito bem porque não estava aqui quando aconteceu – comecei. – Eu entrei no primeiro ano da Effy como Líder. Há varias maneiras de se tornar um Líder: por uma atitude heroica, como Jason, ou por ser o escolhido pelo Líder para substitui-lo quando este está no seu último ano no Acampamento, como a Mavis. A maneira menos comum por ser a mais arriscada é pelo Duelo de Gladiadores.

— Isso parece perigoso – Kenai falou sorrindo animado.

— E é. O Duelo é uma luta entre duas pessoas usando armaduras, escudos e armadas com espadas ou alguma outra arma branca de contato. Geralmente é usada apenas como treinamento ou diversão, mas um campista que pertença a uma Irmandade pode desafiar seu Líder para um Duelo. O ganhador ou vira Líder ou continua sendo um.

— O Líder não pode recusar? – ele perguntou passando a mão por sua barbicha.

— Não. O Duelo só acaba quando um dos oponentes desiste, cai no chão por cansaço ou está tão ferido que não consegue reagir.

— Já aconteceu de alguém morrer no meio da luta? 

— Não, mas quando a luta acaba por ferimento geralmente o perdedor está bem perto disso. De qualquer forma, Dylan era o Líder das Raposas e Effy era uma mera campista desprezada pelos demais por questões que não cabe a eu comentar. A questão é que, para provar a todos que ela tem seu valor ou sei lá o que, Effy desafiou Dylan para um Duelo de Gladiadores. Todos acharam que ela iria perder por ser uma pequena garota de 12 anos, mas ela havia treinado a temporada inteira para aquele momento. Dylan também é muito bom, é claro, já que virou Líder assim, mas ele não levou Effy a sério. Por isso saiu desacordado da Arena.

— Arena?

Apontei sobre o ombro dele, em direção à construção que parece um Coliseu novo. Kenai arregalou os olhos, um sorriso brincando em seus lábios. Seus olhos percorrer a Arena algumas vezes até que ele voltou seus olhos para mim e falou:

— Eu queria muito ter visto isso.

Sorri e assenti com a cabeça. Conversamos mais alguns minutos até que uma campista da Larva veio chamar Kenai, dizendo que Dylan estava atrás dele. Nos despedimos e eu voltei a encarar a Arena que tem mais ou menos a altura de um prédio de 14 andares. Olhei para o topo quase caindo para trás e imaginei como aquele lugar deveria ser cheio para ver um Duelo. Estava tão distraído que demorei alguns segundos para perceber que o bolso da minha calça vibrava. Peguei meu celular ainda olhando para o topo e então desviei para o aparelho que ainda vibrava, prendendo a respiração e arregalando os olhos ao ler o nome na tela. Atendi o celular, quase o derrubando no chão.

— Effy?

 

Não perca seu tempo comigo você já é

A voz dentro da minha cabeça

(sinto sua falta, sinto sua falta)

Não perca seu tempo comigo você já é

A voz dentro da minha cabeça

(sinto sua falta, sinto sua falta)

Não perca seu tempo comigo você já é

A voz dentro da minha cabeça

(sinto sua falta, sinto sua falta)

Não perca seu tempo comigo você já é

A voz dentro da minha cabeça

(sinto sua falta, sinto sua falta)

 

Leiam as notas finais. 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Dominique: https://37.media.tumblr.com/tumblr_m96dyqbyZy1qidzpao1_500.png

Lucian: http://gpsbrasilia.com.br/fotoEmpresa/f8//01/henry5.jpg

Foto tatuagem Maxine: http://cdn1.mundodastribos.com/769671-15-tatuagens-aquarela-para-voc%C3%AA-escolher-2.png

Agora as minhas explicações: meu ano letivo começou e eu mudei de turno (agora estudo de noite) o que dificulta um pouco as coisas. Estou em ano de vestibular então estou focando bastante nos estudos, mas quero que saibam que independentemente do tempo que eu demore para postar eu JAMAIS vou desistir da fic, estou sempre tendo novas ideias e tentando escrever. Então eu posso demorar, mas uma hora vou voltar com um capítulo pronto para vcs :D

Quer fazer parte do grupo? Mande seu número por MP.
Meu twitter: Mad_Hatter_of_W.

Eu preciso que vcs me mandem o que seu personagem acha de cada Líder. N precisa ser algo muito elaborado ou grande, apenas uma opinião mesmo.

Comentem!

Até.
XOXO,
Tia Mad.