Let me know escrita por Miss Fuck You


Capítulo 6
Capítulo 6


Notas iniciais do capítulo

Not really sure how to feel about it
Something in the way you move
Makes me feel like I can't live without you
It takes me all the way
I want you to stay
—Rihanna - Stay


*Parte sublinhadas são falas em português quando junto dos personagens coreanos.



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Eu não queria preocupar o Gustavo, mas estávamos quebrados. A minha viagem para o Brasil, todas as despesas com o velório, os dois meses que fiquei parada lá, mais as compras de roupas para o Gustavo e as nossas passagens de volta para a Coréia… somando tudo eu estava falida. Tudo o que consegui economizar em um ano havia ido embora em dois meses.

Eu tinha muita sorte de ter trabalho agendado, mas ainda assim não seria o suficiente para nos tirar do buraco, a conta do meu cartão de crédito estava enorme. Tinha planejado colocar o Gustavo em um curso, para que ele aprendesse o coreano, mas eu teria de adiar isso até que as coisas ficassem mais folgadas, eu não queria ter de fazer isso, mas ele teria de perder um ano escolar.

Suspirando guardei todas as contas numa pasta, do que adiantava ficar aqui perdendo o meu sono por coisas que eu não tinha como resolver? Se eu conseguisse vender a casa talvez as coisas melhorassem um pouco. Olhei para meu irmão que estava dormindo, até parecia alguém inocente e nenhum um pouco chato. Deixei um recado em cima da mesa dizendo que tinha ido trabalhar, e que mais tarde eu vinha pra casa.

As ruas ainda estavam escuras quando eu saí, andei até o ponto de ônibus e esperei com mais um monte de gente. É… antes eu teria acordado mais tarde e pegado um táxi. Eu realmente estou indo para a falência.

Quando cheguei ao estúdio, fui umas das primeiras a chegar, logo cedo eu iria fotografar uma menina que estava iniciando a sua carreira de modelo. Modelos geralmente são fáceis de fotografar, eles já sabem as posições que tem de fazer, suas expressões são boas, então as fotos não demoram muito a ficar prontas. É meio chato na verdade, antes eu teria procurado por outra coisa, mas como estava desesperada por dinheiro, aceitei todo tipo de trabalho.

Passei o dia inteiro dentro do estúdio, com alguns pequenos intervalos para o almoço e esperando algum cliente atrasado chegar. Quando saí do estúdio estava escuro de volta e quando cheguei em casa, Gustavo estava dormindo de volta, na mesma posição em que eu deixei quando saí pela manhã, eu até me preocuparia em verificar se ele estava vivo ou se ele pelo menos se levantou da cama, mas a bagunça na casa denunciou que ele esteve acordado, comeu muito bem e andou por todos os lados. Cansada tentei arrumar ao máximo a bagunça, o chutei para que ele só ocupasse um lado da cama, ele só resmungou, nem abriu os olhos e foi para o seu lado.

Entrei em uma rotina meio desgastante, eu só tinha trabalhos dentro de estúdio, a maioria para modelos, algumas revistas, um ou outro grupo novo de k-pop que eu já havia fotografado mas que sinceramente não me lembrava, e assim as coisas seguiram por mais ou menos um mês. Raramente eu recebia alguma mensagem do Yoongi e sinceramente eu andava tão casada que era difícil me lembrar de mandar alguma mensagem também, deduzi que ele andava mais ocupado do que eu e me arrependi de ser tão resmungona antes por ele nunca mandar mensagens.

Hoje eu tinha um projeto diferente. A Big Hit me contratou para fotografar um fanmeeting que o Bangtan iria fazer, eu estava feliz por sair da mesmice da rotina e principalmente porque eu poderia ver Yoongi, eu sabia que ele não poderia falar comigo, nem mesmo olhar direito pra mim, mas eu estava feliz de pelo menos o poder ver, se seu rosto não estivesse estampado em vários lugares, eu acho que já teria me esquecido de como ele se parece.

Decidi levar meu irmão junto comigo hoje, eu precisaria de alguma ajuda para carregar as coisas, mas eu principalmente estava me sentindo mal por o deixar sozinho todos os dias e por quase nunca conseguir conversar com ele, também estava preocupada. Eu tinha minha cabeça sempre ocupada, então raramente pensava na minha mãe, mas mesmo assim, algumas vezes ela se infiltrava nos meus pensamentos e eu ficava triste, então como ele devia se sentir tendo muito tempo livre e ainda mais sozinho?

Ele reclamou bastante por ter que acordar cedo, o que me deixou bem irritada porque em comparação com todos os outros dias pra mim aquilo não era nem um pouco cedo. Ele por fim parou de reclamar, tomou o seu café da manhã e dormiu o caminho inteiro dentro do ônibus.

Quando chegamos mostrei a minha credencial e a do meu irmão ao segurança que nos deixou entrar antes de todas fãs, eu poderia sentir seus olhos fuzilando as minhas costas. Comecei fotografando a entrada, as cadeiras onde as elas se estariam que estavam todas enfeitadas, enquanto isso Gustavo posicionava o tripé em cima do palco, queria fotografar a entrada das fãs e aquele era o melhor lugar. Fotografei a mesa onde ele se encontrariam com as elas e as placas com os nomes deles, coloquei a câmera no lugar e comecei a fotografar quando elas começaram a entrar e a se sentar, quando a última delas entrou rapidamente tirei a câmera do suporto e desci do palco, Gustavo também foi rápido em desmontar e guardar tudo. Não queria me gabar, mas erámos uma boa dupla, quando não estávamos quase nos matando tínhamos um trabalho de equipe ótimo.

Me sentei no chão e esperei que eles entrassem para fotografar, talvez eu tivesse fotografado demais uma certa pessoa, por isso mudei o meu foco para os outros e tentei tirar boas fotos.

As horas passaram rápido, eu sempre me distraia enquanto trabalhava, eu estava fascinada com as fãs, estava amando suas expressões ansiosas quando percebiam que estava chegando sua vez de ver de perto seus ídolos, seus olhares acanhados e descrentes quando os encontrava frente a frente, seu sorriso enorme depois de conhecer e tocar a todos e até mesmo suas lágrimas.

Fotografei tudo até o último momento, o último adeus para os fãs, as lágrimas delas, os abraços e sorrisos compartilhados entre elas, algumas até mesmo posaram para mim com sorrisos enorme, até mesmo gravei algumas, perguntei qual era a sensação ter encontrado seus ídolos de perto, muitas começaram a chorar enquanto falavam, outras pareciam descrentes com o que tinham acontecido e algumas falavam muito, e muito rápido e sempre soltando risadinhas, no final perguntei seus nomes, idades e de onde eram. Muitas moravam muito longe, tinham implorado por seus pais para poderem vim hoje. Era realmente muito fascinante e comovente o amor que elas sentiam por eles.

—Então… o que vamos fazer agora? – Gustavo perguntou quando a última menina saiu do local.

—Agora vamos para empresa, onde vou ter uma reunião com todos os membros e os responsáveis pelo projeto e ter um monitoramento das fotos e escolher as melhores fotos para usar no projeto.

—Isso vai levar um longo tempo. – ele diz suspirando. – Você tirou milhões de fotos, fez até vídeos.

—Pare de ser tão resmungão. – digo enquanto guardo o resto do meu material, Gustavo já havia guardo a maioria e carregava o equipamento mais pesado. – E pelo amor de Deus! Vê se consegue ser só um pouquinho mais educado!

Eu decidi esperar dentro do lugar até as fãs irem embora e o lugar estar mais tranquilo, então eu estava deitada no palco olhando algumas fotos que eu tinha tirado… bem, talvez eu estivesse olhando as fotos de uma certa pessoa. Gustavo estava sentado na beira do palco e reclamando bastante sobre tudo. Então estávamos nós dois entediados no salão vazio.

—Eles são bastante famosos? – Gustavo rompeu o silêncio.

—Sim.

—Eles tem fãs em todo o mundo. Até no Brasil, sabia?

—Hum… você parece saber bastante sobre eles. Está interessada?

—É o meu trabalho.

—Eu acho que você gosta deles. Principalmente do baixinho. Você tirou bastante fotos só dele. – quando foi que ele percebeu isso?

—Não viaja Gustavo! – chuto as suas costas.

Qualquer pessoa que possua um irmão sabe que isso equivale a uma declaração de guerra, primeiro foram tapas leves, uns pequenos empurrões, deixei de lado a minha câmera e então as coisas começaram a evoluir e quando dei por mim estávamos nos estapeando e gritando acusando um ao outro por ter exagerado.

Não é que eu tenha orgulho disso nem nada, mas eu estava ganhando a briga. Eu tinha os cabelos do Gustavo enrolados nos meus dedos e puxava sem dó nem piedade, ele também tinha uma parte do meu cabelo em sua mão e também puxava sem dó nem piedade, mas eu sabia exatamente onde ele era mais sensível a dor, então eu estava levando a vantagem e pronta para escutar a sua rendição.

Foi desse jeito que o Jin nos encontrou, eu só me dei conta da sua presença quando escutei a sua voz assustada chamando o meu nome. Eu e Gustavo nos soltamos rápido, do mesmo jeito que fazíamos quando a mãe nos pegava brigando, com vergonha rapidamente ajeitei meus cabelos.

—Olá Jin. – falei me curvando.

—Está tudo bem? – ele perguntou preocupado olhando de mim para o meu irmão.

—Ah! Sim… sim… tudo bem. Esse é o meu irmão Gustavo. – o mesmo olhou para mim quando reconheceu seu nome. – Gustavo esse é o Jin. Você deve chama-lo de Hyung, o cumprimente.

Tudo o que ele fez foi lhe dar um aceno de cabeça e olhar para o outro lado emburrado, agarrei seus cabelos no topo de sua cabeça e o forcei a se curvar.

—Ai! Ai! Ai!— ele disse dando tapinhas na minha mão.

—Cumprimente, como eu ensinei.

—Eu não lembro como! Eu não lembro! Tá doendo Aly!

—Annyeonghaseyo! – o lembrei e ele repetiu depois de mim de forma desajeitada, soltei seus cabelos e ele olhou pra mim irritado. Jin o respondeu de forma muito educada e polida. Meu Deus! Somos uns bárbaros em comparação!

—Eu vim perguntar se você não quer uma carona para a empresa, estamos indo para lá agora.

—Ah…não quero incomodar.

—Não é um incomodo. – ele diz sorrindo. – Vamos? – faz um gesto para seguirmos por onde ele veio.

Quando chegamos todos os membros estão rindo de alguma coisa, mas se calam rápidos quando chegamos, começo a sentir que ou estavam rindo de mim, ou de Jin, o lugar ficou silencioso por uns dois segundos antes que explodisse novamente em risada, eu os cumprimento e eles fazem o mesmo, Gustavo estava mais esperto e eu não precisei puxar seus cabelos novamente.

Hope parecia bastante animado em conhecer meu irmão e até tentou iniciar uma conversa, mas como Gustavo não entendia uma palavra do que ele estava dizendo a conversa se tornou difícil, o que não o fez desistir e passou a conversar praticamente por mimicas. Enquanto eu conversava com os outros sobre o meu irmão, eles estavam bastante curiosos sobre ele e quase não acreditaram quando eu disse que ele tinha quinze anos, ele já ultrapassavam a maioria deles em altura, confesso que usei a oportunidade para ter uma pequena vingança e comecei a contar alguns momentos bem criança dele, o que gerou muitas risadas.

—Hey! Você ta falando de mim não é? Não entendi uma palavra do que você falou, mas tenho certeza que estava falando de mim!— Gustavo reclamou do meu lado. – O que foi que você disse? Tenho o direito de me defender.

Se está tão curioso assim, então aprenda a falar o idioma.

—Isso… Isso é… injusto! Você não pode fazer isso!— não pude evitar o sorriso que surgiu no meu rosto, ganhei outra discussão. – Eu também posso contar umas histórias suas.— ele disse de forma maliciosa, eu dei de ombros, ele não conseguiria contar. – Você sabe que existe algo chamado google tradutor, né?

—Cala boca Gustavo! Quem disse que eu estava falando de você?— fui rápida em me defender —Isso é mania de perseguição, sabia? Só porque estamos rindo, isso não significa que seja de você.

—Você estava olhando pra mim e rindo.— ele acusou.

—Meu Deus! Não posso nem mais olhar pra você?

—Eu devia fazer você carregar as suas próprias coisas.— ele resmungou baixinho cruzando os braços e no seu rosto se formou um bico, dessa vez eu escondi meu sorriso vitorioso e lhe dei as costas pra só então sorrir.

—Vocês acabaram de discutir? Eu queria poder entender o que vocês falaram. – V comentou animado e logo em seguida tentou imitar o que a gente falou, mas não chegou nenhum pouco perto de sair alguma palavra.

—Basta saberem que eu ganhei a discussão. – sorri vitoriosa e ergui o queixo, o que gerou outra onda de risadas.

No caminho para a empresa, dentro da van, eles começaram a pegar no pé do Jungkook dizendo que finalmente ele era Hyung de alguém e que agora ele teria de amadurecer o um pouco e toda vez que olhava para o Gustavo o chamavam de maknae, mesmo ele não me pedindo, eu sabia que ele estava curioso então eu lhe expliquei o que era o maknae e traduzi boa parte da conversa pra ele.

Quando chegamos na empresa, fomos para uma sala de espera enquanto os meninos iriam sei lá pra onde dentro da empresa, aproveitei esse tempo para passar mais algumas lições de etiqueta para o Gustavo e o fiz prometer estudar um pouco o Coreano enquanto eu estava ocupada, eu tinha pegado algumas apostilas velhas minhas e passei para ele estudar, coisa que ele quase nunca vazia, mas dessa vez eu mesma abri e lhe mostrei as questões que eu queria que ele resolvesse.

Como o Gustavo previu, a reunião durou horrores, eu realmente tinha tirado muitas fotos, fora a discussão sobre quais fotos se encaixariam melhor no projetos deles, eles assistiram as entrevistas e acabaram gostando muito, decidiram ficar com as filmagens, o que me rendeu um bom extra.

Quando saí da sala, Gustavo estava no mesmo lugar, tão concentrado estudando que nem me percebeu ali, recebi uma mensagem do Yoongi dizendo querer se encontrar, fiquei parada olhando para o meu celular e para o meu irmão, não sabia o que fazer, eu não podia dizer para ir pra casa sozinho, ele não saberia como, também não podia o deixar ali sentado e simplesmente sumir. Gustavo notou minha presença então pegou todas as coisas e veio até mim, eu ainda segurava meu celular tentando pensar em algum jeito de conseguir o ver, mas nenhuma ideia veio até a minha mente.

—Algum problema?

—Não. Nenhum. Você conseguiu estudar aqui?

—Até que sim.— diz ele dando de ombros.

—Você trabalhou bastante hoje.— digo pegando algumas das suas mãos, ele carregou tudo sem reclamar do peso. — Tem um café aqui perto… eles realmente tem coisas gostosas, você pode pedir o que quiser.

**********

—O que você queria que eu fizesse? – já fazia alguns minutos que Yoongi tinha me ligado e desde então estávamos brigando.

—Você não acha que eu merecia um pouco mais do que aquela mísera linha de mensagem?

—O que mais se tinha para dizer? Eu disse que não podia me encontrar com você! O que além disso eu teria de dizer? Se você queria algum tipo de explicação a mais devia ter perguntado! Eu não sou adivinha, sabia? – percebi que minha voz tinha aumentado um pouco e uma senhora que passava na rua ficou me olhando feio, lhe dei as costas.

—Três meses! Eu não te vejo a três meses e tudo o que recebo é “não posso ir”. Você realmente acha que não tem nada de errado nisso?

—Não, eu não acho!

—Uau! Você realmente não tem um pingo de consideração comigo! – ele me acusou, como se ele fosse algum tipo de vítima na história.

—Não use esse tom comigo!

—Que tom eu deveria usar? Você não especificou isso! Não vejo o problema de usar esse tom! – ele respondeu na mesma hora sarcástico.

—Okay! Você quer falar sobre quem não pode ver quem? Que tal no começo do namoro? Você nunca podia me ver! Você ficou praticamente um mês inteiro sem se quer mandar uma mensagem!

—É diferente e você sabe disso!

—Como isso é diferente? Você estava ocupado, okay, eu entendo. Mas eu também sou uma pessoa ocupada!

—Você não estava ocupada! Você estava em um café fazendo nada!

—Eu estava com o meu irmão! Eu o negligenciei desde que ele veio para cá! Ele tem ficado sozinho enquanto eu trabalho, hoje foi o único dia que ele saiu de casa desde que chegou na Coréia! Eu mal o vejo direito, eu precisava dar atenção pra ele. – me defendi.

—E você tem me visto?

—Não faça isso! – eu o avisei. – Não fique me colocando contra a parede por ter escolhido passar um tempo com a minha família. Isso é injusto comigo. – eu o escutei suspirar do outro lado da linha, nós dois ficamos quietos por um longo tempo apenas escutando as nossas respirações, frustrada chutei uma pedra na rua.

—Eu preciso voltar a pratica. – sua voz soa distante e um pouco fria. – Depois conversamos. – ele não me dá se quer a chance de responder e desliga, isso me deixa furiosa.

Como ele pode simplesmente desligar assim na minha cara? Como ele pode ficar bravo por eu ter passado um tempo com o meu irmão? Se ele fosse uma pessoa normal, eu pelo menos o teria chamado para ir junto, eu estava pensando na maldita imagem dele e é isso o que eu recebo?!

Quando entro em casa fecho a porta com um pouco de força a mais, meu irmão me olha interrogativo mas eu apenas disfarço e sorrio. Volto ao meu trabalho, ou pelo menos tento, já que ele aparece na maioria das fotos e cada vez que vejo seu rosto sorridente nas fotos me lembro da briga, com mais raiva ainda salvo o meu trabalho já feito e desligo o computador. Estou preparando a janta quando o celular começa a tocar em cima da mesa, dou um espiada no visor e vejo que é ele, apenas ignoro, ainda estou com raiva por conta da discussão, mas principalmente por ele ter desligado na minha cara.

Depois dele ligar três vezes ele desisti, volto a atenção para o livro que eu fingia ler durante todo aquele tempo, percebo que estou lendo a mesma páginas a muito tempo e que não prestei atenção em nenhuma palavra do estava escrito, deixo o livro de lado e encaro a parede do outro lado, de repente me sinto sufocada naquela casa pequena.

—Vou comprar sorvete, você quer?

—Nesse frio? Não, obrigado. – ele me responde sem tirar os olhos do seu celular.

Coloco o casaco de volta, pego minha carteira, ignoro o celular em cima da mesa e saio, o frio não é pouco, mas quem sabe ele esfrie um pouco a minha cabeça, vou em direção a loja de conveniências perto da minha casa, entro lá e começo a olhar para tudo, nem quero mais sorvete, nem sei se quero alguma coisa. Mas sempre me sinto estranha de entrar em alguma loja e sair sem comprar nada, então pego um sorvete de qualquer maneira e saio de lá, não quero voltar pra casa também, então fico vagando pelas ruas.

Eu realmente merecia um prêmio! De verdade! Que tipo de idiota consegue se perder no próprio bairro? Um bairro que mora a mais de um ano?

Prazer, Alysson, a rainha das idiotas!

Pensei comigo mesma, e pra ajudar eu tive a brilhante ideia de deixar meu celular em casa, isso é que é ser idiota com estilo. Eu estava parada no mesmo lugar desde que percebi que havia me perdido, tentei lembrar o caminho que fiz para chegar até aqui, mas não fazia a menor ideia, também não reconhecia absolutamente nada a minha volta. Soltei um suspiro derrotado, é melhor voltar a andar, talvez eu ache algum ponto familiar, um telefone público, até mesmo um táxi ou quem sabe uma alma viva pra me responder onde diabos eu estou.

Será que eu deveria andar para só andar reto? Eu havia virado em algumas que me pareciam vagamente familiar, mas agora eu já não estava reconhecendo mais nada. Eu devia escolher uma rua e simplesmente andar reto até encontrar uma pessoa… ou chegar ao fim dela… ou até que eu não aguente mais andar.

Devo ter andando por horas, meus pés doloridos são provas disso, mas finalmente reconheci alguma coisa e voltei ao caminho certo da minha casa, se eu não tivesse entrado em ruas que eu achava conhecer, teria me achado muito mais rápido, fiquei andando em círculos pelo bairro.

Em frente a minha casa Yoongi e Gustavo estavam sentados lado a lado e pareciam estar tendo algum tipo de conversa feita de mímicas e celulares. Gustavo foi o primeiro a me notar e a se levantar, mas eu tinha meus olhos presos em Yoongi, o que ele estava fazendo aqui?

—Onde você tava?

—Me perdi.— ele passa a mão pelos cabelos, estava nervoso. — Esse cara chegou faz uns minutos, ele quer falar com você.

—Vai pra dentro, tá frio. Daqui a pouco eu entro.— em meio as resmungos ele entrou.

Eu continuei parada no mesmo lugar, apenas o encarando, mas ele parecia nervoso, olhava a todo instante para os lados e mexia suas mãos de forma inquieta. Ele se levantou e deu um passo à frente, se aproximando mais, abriu e fechou a sua boca várias vezes, mas não disse nada. Isso durante minutos.

—Você não acha que está errado. – eu sou a primeira a dizer, eu posso ver em seus olhos que ele não pensa ter feito nada de errado, eu sei que se ele pensasse ter feito alguma coisa errada, ele já teria pedido desculpas, esse é o tipo de pessoas que ele é. Ele apenas assente de forma positiva. – Eu também não acho que fiz nada de errado. – eu percebo que ele quer falar alguma coisa, até mesmo abre a sua boca e toma uma respiração, mas se contém e não diz nada. – Eu não pensei que termos sidos criados em lugares diferentes fosse causar tanto problema. – ele ainda está em silêncio. – Bem… até mesmo pessoas do mesmo país, com a mesma cultura brigam por causa das diferentes formas que foram criados.

—O que você está querendo dizer com isso? – ele pergunta franzindo a testa.

—Que somos muito diferentes. Fomos criados de formas diferentes, pensamos de um modo diferente.

—Ser diferente não é algo ruim.

—Somos diferentes de mais.

—Você não acha que está exagerando?

—Não é só sobre a briga de hoje. Enquanto eu estava andando perdida eu estava pensando nisso. Você é um Idol, não pode ser visto com nenhuma mulher. Já parou pra pensar no que vai acontecer se alguém descobre sobre nós?

—Se isso acontecer eu vou dar um jeito. Não é o fim do mundo, as pessoas vão esquecer quando um novo escândalo aparecer.

—Pode não ser o fim do mundo pra você, pode ser que você consiga manter a sua carreira, que a sua vida continue da mesma forma. Mas você já parou pra pensar no que pode acontecer comigo? – ele ficou em silêncio, ele nem se quer havia considerado a possibilidade ou pensado a respeito. – As pessoas não gostam de mim Yoongi. Eu tive que batalhar muito pra conseguir trabalhar aqui… que droga… eu cheguei a passar fome! – estava começando a sentir meus olhos arderem com as lembranças de quando eu cheguei na Coréia. – Eu não sou estúpida, eu sei que as pessoas da sua empresa me evitam, eu sei que muitas vezes elas me deixaram para trás de propósito… Agora imagina se as pessoas descobrem que estamos juntos. A maioria já não gosta de mim, apenas me tolera por perto por conta do meu trabalho… então elas vão ter um real motivo para não gostarem de mim. Eu posso perder muitos trabalhos e então como é que eu vou poder me sustentar? Como eu vou poder criar o meu irmão?

Me calei antes que começasse a chorar na frente dele. Eu podia não deixar transparecer, mas todo o preconceito com estrangeiros na Coréia me incomodava bastante, não era por escolha que eu não tinha nenhum amigo, era apenas que as pessoas podiam até trabalhar comigo e algumas até serem simpáticas, mas se tornar amigo de um estrangeiro… principalmente de um brasileiro que tinha uma cultura tão diferente e principalmente uma fisionomia diferente era uma coisa totalmente diferente e que eles evitavam com bastante afinco.

Cada aspecto do meu corpo que me fazia bonita no Brasil, fazia não me encaixar no padrão de beleza na Coréia e as pessoas tendiam a se afastar. Eu percebia que elas eram mais receptivas com os japoneses ou chineses pois eles tinham uma cultura e fisionomia mais próximas das deles, mas eu me destacava de mais, eu era diferente de mais.

—Eu não vou deixar isso acontecer. Não vou te deixar passar fome de novo.

—Eu não quero seu dinheiro Yoongi, não quero depender de você.

—AISH! – ele praticamente gritou e passou a mão na testa com raiva. – O que você quer que eu faça então? Por que estamos conversando sobre coisas que nem se quer aconteceram? Eu sinto muito que você tenha passado por dificuldades, eu sei o quanto é horrível isso, eu mesmo já passei fome por um tempo. Eu sinto muito que as pessoas se afastem de você, de verdade eu sinto muito, mas eu não vou me afastar de você só porque veio de outro país. Eu sinto muito… de verdade eu sinto muito.

Nesse ponto eu já estava chorando, porque eu sabia o que seria melhor, para nós dois, o melhor seria terminamos as coisas aqui, mas eu não conseguia fazer isso, eu não tinha forças pra isso, eu gosto dele demais pra conseguir fazer.

—Não termina só porque você está com medo. – ele se aproxima mais e segura a minha mão. – Eu enfrento qualquer coisa. Você só precisa estar do meu lado, só precisa segurar a minha mão bem forte. – sua outra mão vem para o meu rosto e limpa as lágrimas que eu deixei cair. – Fala alguma coisa.

Sua voz é tão suave, seu rosto está tão perto que posso sentir a sua respiração no meu rosto, eu esqueço sobre tudo, eu avanço e toco seus lábios e o estava com tanta saudades dele… eu me esqueço que não podemos nos tocar em público, esqueço que estamos em uma rua pública que qualquer um pode passar e nos ver, esqueço que isso aqui é quase um tabu, eu o beijo e ele me beija de volta, mas o beijo acaba muito cedo, ele não satisfaz toda a minha vontade, não mata toda a saudades que eu tinha dele.

Quando abro meus olhos novamente percebo que ele está muito corado e eu sei que é por termos nos beijado em um lugar tão visível onde qualquer um poderia nos ver.

Mas naquele momento eu não me importo.


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