Let me know escrita por Miss Fuck You


Capítulo 5
Capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

'Just give me a reason
Just a little bit's enough
Just a second we're not broken just bent
And we can learn to love again
It's in the stars
It's been written in the scars on our hearts
We're not broken just bent
And we can learn to love again"
—Just Give Me A Reason - Pink



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Quando saí do avião, a primeira coisa que fiz foi conferir minhas mensagens, eu sabia que a essa hora o velório já estaria acontecendo, respirei aliviada quando vi a mensagem me dizendo que ainda faltava algumas horas para o enterro, peguei um táxi, já impaciente com o trânsito, então fui conferir todas as outras mensagens, a maioria era me dando pêsames. Tinha uma do Yoongi perguntando se eu tinha chegado bem, lhe respondi que sim e não olhei mais o meu celular.

Estava parada em frente a capela do cemitério com uma mala em cada mão, morrendo de medo de dar mais algum passo. Até aquele momento eu poderia fingir que não era real, que eles só estavam tentando pregar uma peça em mim, uma de muito mal gosto, mas isso significaria que minha mãe estava viva. Agora eu estava ali e a veria com meus próprios olhos. Eu a veria depois de três longos anos e ela… Deus! Como eu posso fazer isso? Como eu vou conseguir enfrentar isso?

—Aly? – meu olhos focaram novamente e quase não reconheci meu irmão, ele estava muito maior desde a última vez que o vi, até a sua voz tinha mudado, mudado de um jeito que as ligações não mostravam.

—Eu cheguei. – disse indo o encontrar dentro da capela, larguei minhas malas de qualquer jeito e o abracei. – Eu estou aqui agora. Vai ficar tudo bem.

Gustavo me abraçou de volta e começou a chorar, ele soluçava e tremia, eu apenas continuei o abraçando, dizendo que eu estava ali agora e o confortando da melhor forma que eu conseguia. Quando ele se acalmou um pouco, disse que iria no banheiro, eu sabia que ele estava com vergonha de ter chorado tanto na frente de todo mundo.

Me encontrei com a minha tia e agradeci por ter cuidado de tudo e por ter cuidado do Gustavo, ela me disse algumas palavras de consolo, mas sinceramente, eu não estava escutando, minha atenção estava no caixão no centro da sala. Me aproximei com passos trêmulos, tapei a minha boca para não acabar soltando um grito.

Era a minha mãe. Era a minha mãe e ela não estava mais respirando, toquei seus dedos e eles estavam frios. E então a ficha caiu, eu estava órfã, eu nunca mais iria escutar a risada da minha mãe, nunca mais iria sentir o aconchego ou o calor de seus braços, eu não teria mais a quem ligar de madrugada pedindo socorro quando não sabia o que fazer com as roupas sujas e nem perguntar como preparar algum prato, ela nunca me veria casar, não estaria comigo quando eu tivesse filhos, não veria seus netos, eu não teria como falar com ela para tirar alguma dúvida, ela nunca veria o Gustavo passar por aquela fase estranha quando não se é mais um adolescente mas ainda não é um adulto, não o veria parecer um idiota porque arranjou uma namorada, não o veria se tornar um homem, arranjar seu primeiro emprego, não ficaria acordada até de madrugada o esperando voltar de festas, não daria uma bronca nele quando o visse chegar tropeçando bêbado em casa, não o confortaria quando ele tivesse de ressaca, não ouviria seu pedido de desculpas, não o veria conhecer uma boa moça, se casar e ter seus próprios filhos.

Ela não veria nada disso.

O velório foi algo estranho, chorei muito quando cheguei, mas depois me acalmei, confortei meu irmão, dei atenção aos amigos de minha mãe, e aos familiares que aparecem, eu só os tinha visto uma ou duas vezes em toda a minha vida, eram parentes do meu pai, raramente os vi ou falei com eles.

Na hora do enterro, pensei que eu morreria junto, que eu me jogaria no tumulo junto com ela, mas a mão de Gustavo na minha manteve meus pés presos no lugar, me manteve sã em toda aquela dor. Eu já era uma adulta, vivi com a minha mãe por vinte e um anos, mas Gustavo só a teve junto por quinze anos, é nessa fase da vida que ele mais precisa da mãe junto dele, pra ele tudo era muito pior. Eu tinha de ser forte por ele.

Passei dois dias letárgica, ainda não lembro direito o que fiz naqueles dias, mas quando voltei a mim, percebi que o mundo não tinha parado, que as pessoas continuaram a viver e a maioria delas era alheia ao tamanho da minha dor.

Eu precisava continuar a minha vida.

Um mês passou voando, eu mal o percebi, eu tive de fazer ligações cancelando trabalhos e explicando o motivo, todos foram muito respeitosos, mas eu já estava cansada de ter que recontar que minha mãe havia morrido e que eu precisava cuidar das coisas no Brasil primeiro. Eu percebi que dificilmente eu encontraria um emprego aqui no Brasil, então decidi voltar a Coréia, e então eu passei dias infinitos correndo atrás da papelada para tirar um passaporte para o Gustavo, entrei numa briga enorme com o pai dele. Um bêbado que se achava no direito de ficar com ele. Nunca se importou com o filho, maltratou a minha mãe, a mim e até ao Gustavo e agora queria cuidar dele, fiz algumas ameaças séria contra ele, e ele finalmente nos deixou em paz, eu sabia que tudo o que ele queria era conseguir algum dinheiro com isso tudo pra bancar a sua bebida.

Gustavo voltou para a escola, eu lhe disse que precisávamos ir pra a Coréia por conta do meu trabalho, acho que ele pensou que passaríamos alguns dias e voltaríamos, porque ele agia como se tivéssemos indo de férias.

—Gustavo, você precisa colocar na mala tudo o que quer levar com você, o que for deixado pra trás não tem como recuperar. – avisei pela centésima vez.

—Tá. – ele respondeu indiferente mexendo no seu celular.

Eu já tinha esvaziado quase toda a casa e já tinha a colocado para vender, mexer nas coisas da minha mãe foi difícil, chorei em cima de suas roupas, mas consegui colocar tudo dentro das caixas e mandar para a doação.

Quase dois meses no Brasil e eu tinha tudo pronto para a viagem, até as passagens compradas. Eu estava conversando com algumas empresas na Coreia e vendo o que eu poderia conseguir de trabalho, aparentemente as pessoas não tinham me esquecido, porque logo eu tinha uma agenda cheia de trabalho. Também comecei a pesquisar casas maiores e mais perto dos meus trabalhos, mas eu precisaria ir pessoalmente nos lugares, não confiava alugar casa pela internet, mas de qualquer modo liguei para os responsáveis e agendei visitas.

Contra a vontade do Gustavo o arrastei até lojas para comprar roupas de frio, quando chegássemos na Coréia estaria em pleno em inverno, ele precisaria de roupas para aguentar.

—Estamos no verão. – ele reclamou.

—Lá está no inverno. Você vai ter uma hipotermia se não se agasalhar direito. Anda, prova isso.

—É muito grande. – ele reclamou mostrou o casaco.

—Precisa ser grande, você vai estar com pelo menos umas duas camisetas, mais um moletom, se tiver com frio dá pra colocar uma de lã. Precisa ser grande. – conclui.

—Isso é um exagero. – ele reclamou mas colocou mesmo assim. – Está grande.

—Está num bom tamanho. Os casacos daqui não são muito bons, mas você não vai morrer de frio, chegando lá eu compro pra você mais casacos.

O deixei escolher mais uns dois casacos e fomos embora. Chegando em casa tive de brigar com ele pra começar a guardar suas coisas que ainda estavam espalhadas pelo seu quarto, viajaríamos daqui a três dias e tudo ainda estava uma bagunça. Ele ficou bravo comigo e bateu a porta do seu quarto, no jantar não falou comigo, mas quando fui espiar ele estava guardando as suas coisas.

Entrei no antigo quarto da minha mãe que já não tinha mais nada, eu já tinha vendido todos os móveis, coisa que gerou uma grande discussão com o Gustavo e o fez ficar sem falar comigo durante dias, fechei a porta delicadamente e comecei a chorar. Como eu iria cuidar do Gustavo quando nem mesmo sabia como cuidar de mim mesma?

Senti tristeza, senti raiva, senti nojo de mim mesma por ter pena de mim mesma e raiva da minha mãe por ter morrido, então senti vergonha porque eu tenho certeza que ela não queria isso, tenho certeza que ela não queria morrer, não foi escolha dela, ela nunca nos abandonaria se pudesse escolher.

Foi nessa confusão de sentimentos que meu celular começou a tocar.

—Alô? – atendi sem olhar o visor, a pessoa do outro lado ficou quieta, olhei no identificador e percebi que era o Yoongi, troquei para o coreano e ele respondeu.

—Você está bem? Por um momento pensei ter ligado para o número errado e eu não sabia o que fazer.

—Estou bem.

Parece que estava chorando. – como que ele sempre sabia? – Você sempre está chorando, estou começando a ficar preocupado com você.

—Não é minha culpa se você sempre liga quando eu acabei de chorar. – solto um suspiro. – Cuidar de um adolescente não é fácil. Eu tenho de brigar com ele por tudo, pra que ele arrume o seu quarto, guarde suas coisas, que desça para comer, que pare de mexer no seu celular, que estude para as suas provas, que pratique um pouco do coreano. E agora ele está me ignorando.

—Ele vai voltar a falar com você, você sabe disso. Da última vez aconteceu a mesma coisa.

—Eu sei… eu sei… apenas me sinto solitária quando ele faz isso.

—Você pode me ligar quando se sentir sozinha.

—Eu não sou rica sabia? Sabe quanto custa uma ligação internacional?

—Sabia que a internet já foi inventada? – ele me perguntou num tom irônico.

—Você é uma pessoa ocupada. Está promovendo suas novas músicas agora, devia estar descansando no lugar de estar falando comigo.

—Alysson…

—Está tudo bem. As coisas não são tão ruins assim, é só você que me liga nos meus piores momentos.

—Estou feliz então que eu possa estar junto de você de alguma forma nos seus piores momentos. -  permaneci calada, eu nunca sabia o que responder quando ele falava coisas como essas, antes era por causa de toda a dor que eu tinha dentro de mim, agora… eu não tinha mais tanta certeza, a dor ainda ali, mas tinha alguma coisa a mais, culpa talvez. – Eu vou te buscar no aeroporto.

—Essa não é uma boa ideia. Você pode ser reconhecido e viraria um caos. – O escutei soltar um suspiro. – Você falou dessa ideia para o Jin e o Namjoon?

—Não. – ele resmungou. – Não quero falar deles.

—Vocês brigaram? – outro suspiro.

—Não… não exatamente. Eu só não quero falar deles. Podemos para de falar deles?

—Não. Eu vou contar a eles o que você está querendo fazer, essa é uma ideia terrível… e você sabe disso, não é?

—Eu sei… - suspiro. – Mas eu quero te ver. Sinto a sua falta. – ele fala a última frase quase sussurrando.

—Eu também sinto a sua falta.

—Quando eu vou poder te ver? – Dessa vez o suspiro vem da minha parte.

—Eu não sei… minha agenda já está cheia…

—Como é que é possível você já ter uma agenda cheia se nem na Coréia você está? – sua voz soava irritada.

—Não é como se eu fosse a única ocupada nessa relação. – fiquei na defensiva e um pouco irritada com a sua acusação.

—Um dia… eu só quero apenas um dia… Se eu tivesse um tempo na minha agenda lotada, eu queria sentir o seu calor e os seus olhos profundos… - sua voz soa lamentosa e logo minha raiva some.

—Tenho quase certeza que isso é uma música… Não é de vocês? – a sua resposta foi uma risada.

—Quer dizer que você finalmente veio para esse século?

—O quê? – pergunto indignada. – Está insinuando que eu sou velha?

—Só o seu gosto musical. – ele zomba de mim.

—Bem… que tipo de namorada eu seria se não escutasse as músicas que meu namorado faz? – digo num tom indiferente e dou de ombros mesmo que ele não possa ver.

Depois disso a conversa foi muito mais leve e despreocupada, ele me fez questão de contar cada detalhe do seu dia, e eu amei ficar sabendo de tudo o que ele fez e depois ele quis saber de cada detalhe do meu dia, falei de uma forma geral e ele ficou reclamando, dizendo que ele detalhou o seu dia e que eu deveria pelo menos fazer isso, mesmo que fosse extremamente chato e entediante. Quando desliguei o telefone eu estava me sentindo muito melhor e tinha até um sorriso no rosto.

Me levantei e saí do quarto vazio, bati na porta do Gustavo mas ele não respondeu nada, esperei mais algum tempo, mas nada, abri lentamente a porta e o encontrei ainda arrumando as malas.

—Quer ajuda? – perguntei da porta, ele não respondeu nada, nem se quer me olhou. – Gustavo… fala comigo.

—Não quero ir! – esbravejou jogando uma camisa com força dentro da mala. – Posso muito bem ficar aqui sozinho até que você volte.

—Gustavo… você sabe que eu não tenho data pra voltar.

—Eu não me importo.

—Você não pode ficar sozinho!

—Fico com meu pai então!

—Sério Gustavo? É sério mesmo que você ta dizendo isso? Você prefere mesmo ficar com ele? Você se lembra do que ele fez pra nós? Porque eu me lembro muito bem! E se você pensa que eu vou te deixar nas mãos daquele… daquele… - tive de me esforçar muito para não xinga-lo. – daquele homem, você está muito enganado!

—O que eu vou fazer naquele pais? Eu não conheço ninguém lá, nem falo a língua deles! Não quero ir pra lá! Não quero abandonar a nossa casa! Você vai vender a casa! – ele apontou um dedo tremulo e acusador pra mim. – Não está pensando em voltar! Acha que eu sou burro? Você arranjou um namorado por lá e é por isso que quer voltar pra lá!

—Gustavo a gente já teve essa conversa. – respondi tentando manter a calma. – Meu emprego…

—SUA MENTIROSA! – ele explodiu. – VOCÊ É UMA MENTIROSA! Você ficou vivendo uma vida boa lá e esqueceu da gente! Você não se importava com o que acontecia com a gente, mal ligava pra casa! Você sabia que a mãe tava precisando de dinheiro! E você não fez nada! Se você não fosse tão egoísta e tivesse mandado dinheiro ela não teria que trabalhar tanto e ela não estaria tão cansada e aquilo tudo não teria acontecido. – ele parou de falar, estava ofegante, me aproximei dele. -  É CULPA SUA QUE ELA MORREU! – ele explodiu de repente.

Antes que me desse conta eu já tinha feito, o som do tapa ressoou nos meus ouvidos, minha mão latejou, me arrependi do que fiz logo em seguida, mas eu estava me sentindo tão ferida naquele momento, olhei para o seu rosto e o vi começar a ficar vermelho e inchar onde minha mão o acertou, as lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto.

—Não fale sobre coisas que não sabe. Eu enviei tudo o que eu podia pra casa. Não é minha culpa que a mãe morreu e muito menos é sua culpa. Foi um acidente, não é culpa de ninguém. Estamos entendidos?

Ele assentiu, tinha sua cabeça baixa. Resolvi o deixar sozinho no quarto e fui para o meu onde caí no choro, me arrastei até o colchão no chão, tentei abafar os soluços com o travesseiro. A acusação do Gustavo ainda se repetia na minha cabeça e cada vez que se repetia me machucava de forma inimaginável. Eu tinha as minhas costas para a porta, não escutei ela se abrindo, mas vi a luz entrando no quarto, tentei parar de chorar e fazer uma voz normal, mas antes que eu pudesse me recuperar ele entrou no quarto e se deitou do meu lado me abraçando.

—Desculpa. – ele disse me apertando. – Não é sua culpa. Desculpa. – segurei uma de suas mãos e a apertei forte.

—Também não é sua culpa Gustavo. – me virei de frente pra ele. – Olhe pra mim. – ele não se mexeu então peguei seu rosto tendo o cuidado com a parte inchada. – Não é sua culpa, eu sei que você anda se culpando, mas não havia nada que você pudesse ter feito. Você não sabe o quanto eu fiquei feliz quando eu soube que você estava bem, você tem ideia de como eu ficaria se tivesse acontecido alguma coisa com você também?

—Se eu não tivesse que ir no hospital naquele dia… - ele disse num fio de voz. – Se eu não tivesse quebrado o braço… ela estaria… estaria viva. - nesse ponto ele já estava chorando. – Eu sinto muito Aly, eu sinto muito!

—Está tudo bem. Não foi sua culpa. Eu já disse que não é culpa de ninguém, foi um acidente. E você não deve ficar se culpando por ter sobrevivido, só de pensar que eu poderia ter te perdido também… eu não iria aguentar viver sozinha.

A sua resposta foi um soluço e me abraçar mais forte, choramos juntos por um bom tempo, eu fiquei a todo o momento dizendo a ele que estava tudo bem a alisando seus cabelos até que ele caiu no sono. Eu continuei acordada até que vi sua respiração se tornou profunda e todo o seu corpo relaxou completamente, pela primeira vez em dois meses eu senti que eu poderia respirar fundo sem sentir dor, que eu poderia seguir em frente e que as coisas poderiam ficar mais fáceis.

Pela primeira vez em dois meses Gustavo não acordou de madrugada gritando, o que agradeci imensamente, estava preocupando, pensando seriamente em o levar a um psicólogo, mas com a mudança e todo o estresse de arrumar todos os papeis acabei o negligenciando, mas acho que a conversa que tivemos teve bons resultados.

Os dias passaram rápidos e de forma agitada, a todo momento nos lembrávamos de colocar alguma coisa na mala. Agora estávamos lado a lado na sala vazia encarando a casa que foi o nosso lar por muitos anos.

—Casa é qualquer lugar em que estivermos juntos. – falei, senti a necessidade de preencher o vazio.

—Para de tentar parecer legal. – Gustavo reclamou. – Tenho certeza que você leu essa frase em algum caminhão. – e ele saiu carregando as suas malas me deixando sozinha encarando a casa.

Soltando um suspiro saí também carregando as minhas malas, tranquei a porta e entreguei para a corretora de imóveis. O Táxi já estava esperando, Gustavo estava se despedindo de seus amigos e eu estava colocando as malas no táxi. O caminho foi silencioso, tirando os momentos em que eu perguntava se ele não tinha esquecido de alguma coisa, se ele tinha deixado algum casaco na bolsa de mão. Ele até que foi muito paciente comigo e respondeu que sim, um sim emburrado, mas pelo menos ele estava respondendo.

**************

Eu podia sentir a impaciência do Gustavo do meu lado, ele nunca tinha andado de avião e a viagem do Brasil para a Coréia era brutal. Confesso que dormi muitas horas, no restante do tempo conferi minha agenda e comecei a mexer em outras funções do meu celular, até que um aplicativo simplesmente sumiu, então resolvi para de mexer antes que quebrasse o troço de vez.

Quando chegamos no aeroporto a primeira coisa que fiz foi colocar meu casaco e disse para o Gustavo fazer o mesmo, pegamos a nossa bagagem e seguimos para fora do aeroporto, eu sabia que ele nunca tinha visto neve na vida dele, eu podia ver pelo seus olhos que ele estava animado, mesmo que ele tentasse parecer indiferente.

Tão criança! Sorri para mim mesma, no táxi ele ficou o tempo todo olhando para fora fascinado, eu fiquei morrendo de medo de que a mudança fosse piorar as coisas para ele, mas o vendo agora, sei que foi a decisão certa.

—É aqui que você vive? – ele me perguntou quando finalmente chegamos em casa, ele estava no meio da casa olhando em volta.

—É. – me senti constrangida. – Eu sei que é meio sufocante, mas eu vou procurar logo outra casa e você vai poder ter o seu próprio quarto. Por enquanto você pode dormir na minha cama, vamos ter que manter as roupas nas malas porque não tem espaço para tudo, mas você pode tirar as que você acha que mais vai usar, vou deixar algumas gavetas pra você usar.

Eu fui em direção a mini geladeira tirando tudo o que estava estragado, o que era praticamente tudo, atualmente eu tinha duas garrafas de água na minha geladeira, eu precisava fazer compras. Joguei as comidas estragadas dentro de um sacola e deixei separada para quando eu saísse colocar na lixeira, verifiquei os armários e achei ramyon. Tinha que servir por hoje, estava cansada de mais para fazer compras.

Saí para jogar o lixo fora e quando voltei encontrei o Gustavo sentado no meu colchão de cabeça baixa com a sua mala aberta, mas intocada.

—Você esqueceu de alguma coisa? – ele negou com a cabeça. – Está com fome? Vou fazer ramyon, amanhã eu vou fazer compras.

—Estou sem fome. – ele respondeu baixo e numa voz estranha que me fez parar tudo o que eu estava fazendo.

—O que foi? – ele não me respondeu, ainda estava de cabeça baixa e o escutei fungar. – Você está chorando? – perguntei surpresa e fui para o seu lado, ele estava chorando. – O que foi Gustavo?

—Todo esse tempo… eu achei… achei que você tinha uma boa vida aqui… achei que você estava morando numa casa enorme… Desculpa Aly. Eu falei coisas horríveis… eu…

—Hey! Está tudo bem, não é tão ruim assim para uma pessoa e eu passava mais tempo fora de casa do que dentro. Não se preocupe com isso, eu já esqueci tudo de ruim que você me disse.

Fungando ele me abraçou forte, ele parecia um menininho naquele momento, fungando e se agarrando a mim, lembrei de quando ele era uma criança e fazia a mesma coisa quando estava arrependido depois de ter aprontado alguma coisa comigo. Naquele momento ele me fez rir, o abracei de volta, dando leves tapinhas nas suas costas e esqueci completamente que ele era um adolescente chato e só vi um menino doce e sensível. A imagem não durou muito tempo, logo ele me empurrou pro lado dizendo que estava com fome.


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