Uma vida feliz para Arlequina? escrita por Dani Tsubasa


Capítulo 6
Capítulo 6 - O sentimento mais doce é o mais assustador




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Capítulo 6 - O sentimento mais doce é o mais assustador

O Coringa sentou-se sozinho na sala. Havia mandado seus homens embora. Estava irritado e queria ficar sozinho. Ele nunca deixara de localizar Harley rapidamente antes, como ela se escondera tão bem? Havia verificado os locais abandonados da cidade, talvez tivesse feito isso na hora errada e nos lugares errados para encontrá-la. Já estava quase escuro e começava a ficar de fato preocupado. E se ela estivesse em alguma confusão e nesse exato momento sendo arrastada para Arkham? Devia estar com muita raiva dele. Ela nunca sumia por tanto tempo. Será que estava começando a pensar que ele não se importava com ela? Podia não parecer, mas ele se importava. Podia perder o controle, mas não a queria longe. No meio de sua loucura e de seus planos anti-Batman costumava se esquecer que Arlequina tinha um coração que transbordava amor e alegria, especialmente por ele. Assim como o passado e as lembranças, o amor era algo perigoso, e queria manter a maior distância possível dele, mas Harley costumava sempre dificultar essa tarefa, e nem sempre ele sabia lidar com isso.

De repente, Bud e Lou, deitados angustiadamente no chão, ergueram as orelhas e a cabeça em direção à porta, e ele levantou-se em expectativa quando as duas hienas saíram correndo. Ouviu os risos de Harley quando os dois animais pularam em cima dela fazendo uma verdadeira festa enquanto ela abraçava seus “bebês”. Finalmente as hienas se afastaram felizes da vida, indo para algum lugar e os dois se encararam. O olhar dela estava frio e triste e conseguiu perceber que ela havia chorado, mesmo que muito tempo atrás. Harley fez menção de se retirar, mas ele a chamou.

— Onde estava?

— Por aí...

— Harley, vamos conversar.

— Não quero.

— Eu fiquei preocupado com você.

Harley voltou a pensar em sua vontade de ir embora, em toda a angústia que sentia, na saudade que tinha de seus filhos, em sua vontade de pular daquele prédio mais cedo. Se o Pistoleiro não tivesse aparecido, talvez ela tivesse mesmo pulado. Lembrou-se de seu sonho. Ficara com medo naquela noite, mas agora tudo que ela queria talvez fosse morrer. Estava cheia de tudo aquilo. E embora doesse admitir, não conseguia ver um propósito em sua vida longe do Coringa. Ainda que tivesse amigos que a amavam lá fora. Estava vivendo um amor suicida, que a mataria de um jeito ou de outro.

— Por que está preocupado comigo agora? Não estava quando me bateu até eu desmaiar algumas vezes, quando gritou comigo e até já me empurrou pra morrer, Pudinzinho... – começou a repetir as mesmas palavras de seu sonho e o lembrando de quando ele a jogou do alto de um prédio por ela tentar matar o Batman logo que se tornou Arlequina, e ele ainda disse para ela não chamá-lo de Pudinzinho – Me resgatou duas vezes depois que nos enviaram como Esquadrão Suicida, mas o tempo passou e você continua sendo frio e perverso... Até comigo. Mesmo que não tenha mais me batido tanto. Só os seus gritos... Me machucam muito. Muito. Meu amor por você me causa mais dor do que todos os machucados que já sofri. Às vezes me pergunto se eu deveria ter ido embora com eles dois... E apesar de tudo... Eu não sei porque, mas ainda amo você – sua voz começava a se alterar.

Droga! Ela não queria chorar mais. Não na frente dele. Esperou levar um grito ou até finalmente aquele lado violento que ele vinha tentando enterrar voltar do nada, mas ele apenas respirou fundo e apertou os punhos tentando se acalmar, e um silêncio incômodo permaneceu por quase um minuto.

— Harley...

Ela o ignorou e subiu as escadas. Sentou-se no sofá novamente pensando em como lidar com a situação. Antes sempre gritava e até batia nela e pronto, sem resolver nada realmente. Com o tempo Harley começara a ficar sentida com aquilo e revidar ou demonstrar sua frustração, especialmente depois de conhecer Hera Venenosa. E incrivelmente ela vinha conseguindo fazer uma coisa que ele jamais imaginaria em mil anos, fazê-lo se sentir culpado. Por que?! Ele era o Coringa! Não sentia culpa! Nem remorso! Mas Harley conseguia trazer tudo isso de uma vez, além daquela sensação estranha que ele insistia em ignorar, a que fazia ele se sentir bem ao pensar nela ou quando ela estava perto.

— Tudo bem... Eu posso suportar essa sensação estranha e incômoda por ela – disse para si mesmo ao se levantar.

Alimentou as hienas e subiu para o andar de cima. Harley estava de roupão, separando suas roupas de dormir para ir tomar banho e o ignorou quando entrou no quarto. Largou seu sobretudo num canto e caminhou até ela.

— Harley... Não é porque perdi o controle ontem que não amo você.

— Não é porque sempre estou ao seu lado que tenho culpa do que quer que tenha acontecido pra me tratar daquele jeito.

Ela levou as roupas para o banheiro, as deixando num canto da pia, e ele a seguiu, segurando-a com força pelos pulsos e os prendendo na parede quando ela tentou resistir.

— O que vai fazer agora? Ande logo com isso...

Ela desviou o olhar esperando levar a primeira pancada, mas ganhou um beijo, mesmo que tivesse começado parecendo forçado como um ato de possessão mais do que de amor. Alguns segundos depois ele suavizou a pressão em seus lábios quando sentiu que a resistência dela tinha sumido, e soltou seus pulsos, sentindo as mãos dela o agarrarem pelo pescoço, e a levou de volta para o quarto. Quando se deitaram na cama o cabelo dela já estava solto e sua camisa no chão, as mãos dela corriam pelas tatuagens em seu corpo. Como aquilo era possível? Como ele conseguia fazer sua tristeza se evaporar daquele jeito? Ela o amava demais? Ou estava sendo tola? Ou ambos?

— Me perdoa, amor – ele disse a encarando.

— Me conta o que aconteceu.

— Não quebra o clima agora – disse voltando a beijá-la.

Harley fechou os olhos e deixou que o momento continuasse. Algum tempo mais tarde ela acordou, com ele a abraçando pelas costas por cima do lençol e peças de roupa espalhadas pelo chão do quarto. Seus pensamentos outra vez voltaram à decisão de partir ou ficar, mas foram totalmente quebrados pelo que ele lhe perguntou ao perceber que estava acordada.

— Harley... – disse baixinho – Você gostaria de tê-los de volta?

— É tudo que eu mais queria, Pudinzinho. Mesmo que ainda assim jamais tivéssemos uma vida normal.

Sua mente viajou a memórias já um pouco distantes, quando havia brigado com Diablo ao saber que ele matara toda a sua família, incluindo os dois filhos crianças, ainda que só fosse culpado em parte.

[Flash back}

— E as crianças? – Floyd perguntou.

— Ele matou! – Ela respondeu sentindo seu sangue ferver ao sentir quase a mesma culpa atingi-la – Não matou?! Assume isso! Aceita! Você achou que ia acontecer o que?!

— Arlequina... Para com isso – O Pistoleiro pediu.

Mas ela simplesmente não conseguiu. Naquele momento esqueceu que era Arlequina, que era louca, que era a rainha do Coringa, que era uma criminosa, era simplesmente a mãe incompetente que deixara seus filhos partirem. Lá no fundo ela sabia que na verdade, dentro de sua mente, estava repreendendo a si mesma. E continuou, mesmo vendo os olhos de Diablo marejarem.

— Você achou que... Piscaria e teria uma família normal com mulher e filhos pra pagar tudo com cartão?! Não é um tipo de lavagem na máquina! Pessoas como nós não tem essa de normal!

{Fim do flash back}

Depois de perder o amigo se sentia um tanto culpada por aquelas palavras e esperava que agora ele estivesse em paz ao lado de sua família em algum lugar além da vida.

— Mas como faríamos? Com a vida que levamos?

— Eu não sei, amor... Mas confesso que às vezes também sinto falta. Fico pensando em como seria com eles aqui. Se um deles também inventasse de me chamar de Pudinzinho...

Ela não conseguiu segurar as risadas com aquilo, e virou-se para ficar de frente para ele.

— É sério? Ficaria feliz com eles aqui?

— Sim.

Harley tentou não expressar, mas o tom de voz dele lhe parecia estranho. Como se não fosse a primeira vez que ele passava por tal situação. Mas preferiu não perguntar ainda. Finalmente tinham se acertado, não queria quebrar aquele momento.

— Pudinzinho... Eu to morrendo de fome.

— Tem que estar mesmo. Passou o dia inteiro sem comer nada, não é? Vamos pra cozinha, tenho uma surpresa pra você.

Harley se vestiu novamente com seu roupão de banho e ele vestiu as roupas no chão, deixando apenas a camisa e o sobretudo para trás quando desceram as escadas. Ela se sentou à mesa enquanto ele buscava alguma coisa na geladeira.

— E aí? – Ele sorriu.

Harley emitiu um gritinho de alegria ao ver que ele colocou um pudim na mesa.

— Obrigada, Pudinzinho! – Agradeceu o agarrando pela nuca quando os dois se beijaram.

— Eu sabia que ia gostar – ele sorriu.

Os dois se sentaram para comer e Harley tentou afastar toda a confusão que nublara sua mente desde a noite anterior, ao menos por aquela noite.


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