Uma vida feliz para Arlequina? escrita por Dani Tsubasa


Capítulo 5
Capítulo 5 – Não vá embora




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Capítulo 5 – Não vá embora

Acordou com a luz da janela incomodando seus olhos e olhou na direção de Harley, vendo que ela não estava lá. Checou o relógio, marcava quase meio dia. Após alguns minutos tentando organizar a confusão em sua mente, lembrou-se da noite anterior. Harley devia estar com muita raiva dele. As lembranças amargas que o levaram a fazer todas as ações impensadas da última noite de repente voltaram para atormentá-lo. Harley não sabia de nada. E talvez nunca soubesse. O passado estava muito distante e devia continuar lá. Levantou-se e caminhou até o banheiro, nem sinal dela. Depois de tomar banho e se trocar, mandou mensagens e ligou para o celular dela mais de dez vezes, sem resposta. Ligou para Pâmela.

— Pam.

— O que você quer?

— Bom dia pra você também.

— Bom dia??!! Você corta o coração de Harley de novo e tudo que você me diz é bom dia?!!

— Então ela está com você.

— Não. Se estivesse, acha mesmo que eu atenderia o telefone? Apesar de você ser um patife, eu sei o quanto Harley te ama! Ela já passou por desgosto suficiente na noite de ontem e em muitas outras pra ainda ouvir uma briga nossa! Se você tem algo a dizer diga pra ela! Se quer falar sobre alguma coisa, converse com ela, com a mulher que sempre esteve ao seu lado, apesar de você não merecer nem um pensamento vindo dela!! Fale com ela e não com suas garrafas de bebida!!

— Eu só quero saber onde ela está.

— Eu não sei, e se soubesse não diria, a menos que ela me implorasse. Perguntei se ela queria vir até aqui pra conversarmos, mas disse que quer ficar sozinha e pensar. Não me disse pra onde ia e eu não insisti. Mas onde estiver, deve estar melhor do que estaria aí. Presa ou sendo levada pra Arkham pelo Batman é que não está, ou já saberíamos.

O Coringa suspirou antes de desligar e guardar o telefone no bolso. Saiu do quarto e desceu as escadas, encontrando seus homens a sua espera.

— Alguém sabe de Harley?

— Ela saiu muito cedo, senhor. Nem quis tomar café. Não parecia bem. Estava de uniforme e armada como sempre. Disse que voltaria mais tarde e saiu.

— Peguem os carros e procurem pela cidade. Quem encontrar primeiro me avisa.

—Devemos levá-la até o senhor?

— Não a forcem. Só me digam onde ela está e a sigam.

— Sim, senhor.

Saiu da casa e entrou no carro vermelho, dando partida e sendo seguido por seus homens em outros carros. Levou Bud e Lou com ele, para que os dois tentassem farejar Harley. Separam-se ao chegar no centro de Gotham, seguindo para os possíveis lugares onde Harley poderia ter ido. Passaram horas rodando por Gotham. Ela não estava em nenhum bar, nenhuma boate secreta do crime, em nenhum lugar onde se pudesse comprar qualquer coisa parecida com pudim, e definitivamente não estava na casa de Pam, e muito menos em Arkham. Ele havia verificado, só por via das dúvidas. Só faltava procurar pelo Batman! Bud e Lou pareciam ter farejado algo pela janela quando passavam pelo centro da cidade, mas depois de parar o carro e deixar que os dois cheirassem o chão, acabaram perdendo o rastro, e foram procurar em outros lugares.

— Nossa, docinho... Pra onde você foi?

******

Harley estava sentada na cobertura de um prédio abandonado no centro de Gotham. Depois de caminhar sozinha por toda a manhã e falar com Pam no telefone, havia se sentado ali. Estava ficando frio e suas pernas começavam a congelar, mas não se importou. Viu o carro vermelho inconfundível passando pela rua em alta velocidade. Devia estar procurando por ela, mas ela não queria ser encontrada. Não queria voltar pra casa tão cedo. Não para castigá-lo, mas por receio de se ferir de novo. No momento ela só queria um abraço e provavelmente ganharia um grito ou nada. Sentia uma carência que nenhum amigo, nem Pam, poderia suprir.

Lembrou-se da visão causada por Magia quando ainda estava a serviço do Esquadrão Suicida. Os dois juntos, casados, levando uma vida normal com seus bebês e suas hienas. Sem Batman, sem crime, sem policiais, sem Arkham, sem gritos, agressões ou brigas horríveis. De repente uma vida normal lhe pareceu tentadora. Se o Batman morresse? Sem a obsessão pelo Batman no caminho, ele se tornaria diferente? Ou perderia a vontade de viver? O Batman era mais importante do que ela? Às vezes pensava que sim. Largara tudo para segui-lo, e sua retribuição era dor e tristeza. Como dar um tiro na mais profunda escuridão e acertar o próprio pé. Olhou para baixo e lembrou-se das vezes em que após brigas terríveis ele a atirara impensadamente de algum lugar alto e por muito pouco e por muita sorte ela não havia morrido.

— E se eu pulasse daqui agora mesmo?  Pra acabar logo com tudo isso?

Pensou no sonho de noites atrás. E apesar de ser um sonho, de uma coisa tinha certeza. Pam choraria muito se ela fizesse aquilo.

— Amanhã Gotham estaria ouvindo a notícia de que acharam o corpo da bandida mais louca e imprevisível que a cidade já conheceu. E podia até ser que comemorassem... Mas talvez te console saber que uma pessoa pelo menos estaria chorando por você. E os outros podem dar uma de durões, mas acho que também iam sentir sua falta.

Harley arregalou os olhos ao reconhecer aquela voz e olhou para trás, vendo o Pistoleiro sorridente olhando para ela. Não o via há meses.

— E aí, maluquinha?

Harley levantou-se e sorriu de volta, deixando seu taco de baseball no chão, e abraçou o amigo longamente. Aquele consolo era tudo que ela precisava. Os dois se afastaram e se olharam.

— O que foi? – Ele perguntou gentilmente ao ver os olhos dela marejarem – Brigou com seu palhaço?

— Como me achou? E por que está aqui?

— Eu tava passando, vi um prédio abandonado e resolvi subir pra apreciar a vista da cidade. Faz muito tempo que eu não faço isso... Eu larguei o ofício.

— Que?! Sério?! Então não mata mais ninguém?

— Não. Tô ajeitando minha vida e decidindo o que vou fazer agora pra cuidar da Zoe. Fui solto ontem... Sob vigilância, claro. Tenho que fazer visitas semanais, toda aquela coisa de condicional. E eles me visitam também de vez em quando. Se eu andar na linha por cinco anos, tô livre.

— É melhor ir embora. Se for visto comigo vai ter problemas.

— Calma, princesa. Não colocaram GPS em mim também. E aquela porcaria de chip foi retirada. Mas diz aí... Seu palhaço mexeu os pauzinhos pra desativar isso há muito tempo pra nós não é? Pouco tempo depois que você fugiu, um dos guardas foi na minha cela no meio da madrugada, com uma arma de choque. Eu já ia bater nele porque eu não tinha feito nada de errado. A última coisa que me lembro é dele me dizendo que se eu contasse aquilo pra alguém todo mundo ia morrer, e que eu ia agradecer depois. Zoe estava estudando esses dias e me disse por acaso que uma carga de energia muito forte pode desativar explosivos permanentemente.

— Fui eu que pedi pra ele fazer isso depois que fugiu comigo.

— Estou grato. Especialmente por fazer aquela mulher de pateta por todo esse tempo. Ela apareceu lá uma vez, furiosa porque alguém tinha destruído todos os mecanismos pra nos explodir, só que até hoje pensa que os chips ainda funcionam. Mas chega de falar de mim. Pode me contar o que houve? Posso ajudar você?

— Não. Às vezes ele pensa demais, embaralha tudo que tem dentro da cabeça e fica louco, grita, ainda mais quando bebe ou quando está com algum plano louco contra o Batman. A noite não foi boa ontem.

— Pra você tá querendo se jogar daqui de cima já deve ter acontecido bem pior... E há muito mais tempo do que eu imagino.

Ela ficou em silêncio, confirmando o que ele tinha dito.

— Arle... Acha mesmo que ele ama você? É o Coringa. Parece que ele só ama atazanar o Batman, não que eu ache isso errado.

— Ele me ama. Em algum lugar lá dentro eu sei que ele me ama. E eu o amo mais que tudo, mas ele também me machuca, e isso tem me cansado.

— Arle, eu não quero me meter... Mas não confunda amor com obsessão. Tenha cuidado. E se precisar de ajuda, desde que não seja pra nada criminoso, pode contar comigo. Eu preciso voltar agora. Só temo deixar você aqui e ver más notícias na TV mais tarde.

Ela sorriu.

— Pode ficar tranquilo. Eu não vou fazer isso. Tenho algo importante que quero fazer e meus bebês estão me esperando em casa.

— Bebês?!

— Bud e Lou. São duas hienas.

— Ah, ok... Até nas escolhas de animais de estimação você é doidinha.

Os dois riram juntos.

— Tem uma saída pelos fundos, eu vou sair por lá. Vê se não demora aqui e não pula! Quando quiser chorar ou pular de um lugar alto, lembre que tem pessoas aqui fora que se sentiriam péssimas se você fizesse isso. E só pra constar... Eu não te vi, e você não me mil. Nós nunca nos encontramos e nem sei por onde você anda e vice versa!

— Fica tranquilo.

— Foi muito bom te ver novo, Arle.

— Também foi bom te ver – ela sorriu, vendo quando ele se afastou e desapareceu.

Apanhou seu taco do chão e lançou um último olhar à cidade. O céu começava a mudar de cor para o entardecer. Seu celular tocou.

— Oi, Ruiva.

— Harley, onde você tá? – Perguntou apreensiva – Você me ligou e sumiu há horas. Acho que deve saber que ele saiu pra te procurar. Me ligou pouco antes do meio dia atrás de você. São mais de quatro da tarde agora. O que esteve fazendo?

— Só andando por aí. Eu já vou pra casa.

— Vai voltar? Devia pegar suas coisas e suas hienas e vir pra cá. Sabe que pode ficar o tempo que quiser. Mas se quer assim, vá resolver as coisas. Só não deixe me ligar depois ou se algo acontecer.

— Tá bom.


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