Spark ia para dizer algo reconfortante para a amiga, mas antes de conseguir mexer os lábios para dizer alguma coisa, um som de um martelo se ouvia da porta do quarto de Candela, que afixava um novo placar.

“Pombos de gelo aqui não.”

— Ah, pombos de gelo… Você a irritou sério! – Spark riu tapando a boca para não sair uma gargalhada, mas foi uma missão impossível.

— Que quer que eu faça? Eu meio que fico descontrolada quando ela age assim… - Blanche suspirou apoiando a cabeça em seu braço sobre a mesa.

— Não desespere! Aqui o Spark vai ajudar! Todo mundo gosta do Spark, não é mesmo? – Spark finalizou.

— E como você quer ajudar?

— Ora essa! Seguindo meu instinto, claro! – Ele sorriu com o seu ar bobo do costume.

— E o que seu instinto diz? – A albina duvidou do colega.

Spark pensou um minuto.

— Que estes ovos estão crus. – Spark apontou para o seu prato.

Blanche repousou a cabeça na mesa, estava numa linda situação. Há uns bons meses que ela estava apaixonada por Candela, toda aquela motivação e garra da outra a impressionavam, mexiam com ela… Mas elas eram tão diferentes, e rivais… Era algo quase como impossível… E as notícias recentes não ajudavam. Não entendia como podia haver tanto desentendimento entre Valor e Mystic… Eles lutavam por coisas distintas, mas ao mesmo tempo, semelhantes… E os Instinct… Bem, eles eram fofos, como Spark, impossível não gostar deles.

Candela saiu de seu quarto, tinha uma face superior e fria, nem se designou a olhar os dois sentados na mesa quando lhes dirigiu a fala.

— Vou ver os ginásios de minha equipa. Voltarei pela noite. – Se dirigiu na porta – Veja se os Valor não são muito maus para si, menina serenidade.

E Candela saiu de casa acabando a sua fala com um tom de raiva enorme e batendo com a porta.

— Uhh… Blanche, acho que ela está zangada. – Spark analisou.

— Sério? Não me diga…

— Bem, acho que vou ver meus ginásios também, alinha? – Spark convidou.

— Pode ser. Tenho de ver como os Mystic andam a defender a zona. – A outra levantou-se.

— Isso mesmo! Vamos! Quero ver se apanho mais Pidgeys por aí! – Spark pegou seu celular e saiu correndo.

— Aff… Pidgeys… - Blanche suspirou fazendo o mesmo, mas não correu.

Os três líderes se dirigiram aos seus ginásios, Blanche e Spark caminharam lado a lado durante algum tempo, mas logo se dispersaram um do outro.

Spark corria de um lado para o outro capturando imensos zubats, pidgeys, rattatas… E sempre mantinha um enorme sorriso nos lábios! Passou por um monte de Pokéstops e vários treinadores Pokémon, até chegar a um de seus ginásios.

— Ena! Um novo ginásio Instinct! – Spark sorriu ao olhar para o grande edifício amarelo.

Alguns treinadores trajados de vermelho olharam para ele, riram enquanto passavam, Spark deixava passar, ou fingia que não ouvia, ele gostava de ser um Instinct, tudo o resto, como o dizerem mal de sua equipa, passava-lhe ao lado.

Spark entrou no ginásio, saudando o líder e todos os treinadores presentes, Instinct ou não, ele não via preconceito com cores, apenas treinadores despostos a dar tudo de si em nome do que acreditavam.

— Olá! – Spark foi simpático ao cumprimentar as pessoas, com seu ar feliz tão habitual.

— Ah! É o Spark! P-posso tirar uma foto? – Uma treinadora vestida de vermelho, provavelmente uma Valor, pediu timidamente.

Spark olhou para a menina, estranhando um pouco o pedido vindo de um Valor, não era comum, mas logo assentiu.

— Claro, docinho, não há problema! – Spark respondeu simpático colocando um braço em torno da menor e pousando para a foto com um polegar levantado.

Os olhos da garota brilharam como diamantes ao sentir Spark ao seu lado, a abraçando, e com entusiasmo tirou uma foto com o maior.

— M-muito obrigado… - Ela agradeceu a foto conferindo-a, olhando uma vez mais para o líder com os olhos brilhantes.

Spark acariciou o cabelo da menor com respeito e carinho.

— Tudo bem, pequena Valor, tudo por um jovem coração de treinador. – O amarelo sorriu vendo a outra distanciar-se e correr para um grupo de treinadores.

Viu a menina mostrar a foto a uma treinadora azul, uma Mystic, elas pareciam amigas. Ambas ficaram entusiasmadíssimas a olhar para a foto. Como era bom assistir à convivência entre Teams… Elas o lembraram de suas duas colegas… Mas talvez com menos brigas… Por falar nisso ele não tinha de arranjar um modo de fazer Candela falar com Blanche de novo? Podia fazer Blanche pedir desculpas… E se fizesse um bolo? Não… Não era isso… Um bolo resolveria um problema com ele mesmo, não com Candela…

— Spark! Você por aqui? – Uma voz animada se fez ouvir.

Spark voltou-se para ver quem chamava, paralisou ao ver o nobre professor Pokémon.

— Pro-professor Willow! Não o esperava ver aqui… O que o trás ao meu ginásio? – O amarelo ficou nervoso e ligeiramente rubro. O professor Willow? Ali? Porquê?! Isso era… Uma honra…

— Oh, bem, vim ver como as coisas rolam por aqui… Parece bastante concorrido… Há imensos Mystic e Valor a tentar pegá-lo. – O albino olhou para os jovens que rondavam a sala com um sorriso orgulhoso.

— É verdade… Mas os Instinct são mais persistentes do que parecem. Não vão tomar este ginásio tão sedo! – Spark sorriu com fé em seus treinadores, colocando as mãos em suas ancas numa posição confiante.

O professor riu e acariciou o cabelo do mais novo, fazendo o outro corar.

— Essa foi a principal razão por o escolher para a Team Instinct. – O professor olhou para ele com carinho.

O menor ficou um pouco rubro e olhou para baixo, algum silêncio por breves segundos.

— Mas não foi bem por isso que eu vim aqui. – o mais velho começou – Passei por Candela e Blanche ainda agora. Elas não pareciam lá muito bem…

— É verdade. Elas discutiram esta manhã. – Spark explicou.

O professor voltou a sorrir.

— Tome. – O albino entregou um envelope para o loiro.

— O que é? – O jovem Instinct inspecionou o exterior daquele presente.

— Pode dizer-se que é uma recompensa pelo vosso trabalho ardo. – Esclareceu esboçando um sorriso.

Spark olhou para os brilhantes olhos do professor e logo voltou a encarar o envelope. Era um recipiente branco limpo, não possuía nada escrito em volta. Abanou-o para ver o que tinha dentro, pareciam uns folhetos ou assim…

— Obri… – Spark voltou a olhar para cima para agradecer ao maior, mas este já lá não estava – …gado…

Olhou para os dois lados.

— Onde será que ele foi? Deu uma de Pokémon Fantasma?

Não vendo vestígios do professor, guardou o envelope no bolso traseiro das calças, veria tudo quando chegasse a casa, agora tinha Instincts para guiar.

O dia decorreu nas suas normalidades. Spark tirou fotos com os seus fans, Candela defendeu ginásios com a sua força o orgulho vermelho e Blanche ensinou aos seus seguidores novas estratégias em combate, mas ao final do dia, calhou as duas treinadoras chegarem ao mesmo tempo em casa, olharam uma para a outra, Candela a ignorou e colocou a chave na porta, Blanche desviou o olhar, fingiu não perceber que a outra a ignorava.

A porta abriu, Spark estava sentado na mesa da cozinha, havia chegado mais cedo. Vestia uns calções de banho laranjas com uma risca lateral verde, uma t-shirt preta e uma camisa aberta florida a combinar com o traje, o seu cabelo estava preso por uns negros óculos de sol.

— Meninas! Ainda bem que chegaram! Vamos para Alola! – Spark disse se colocando em cima da mesa, só mesmo porque sim, e apontando para o infinito.

— Ah… Alola? – Candela interrogou achando estranho, ficando a olhar para o outro.

— Spark! Sai de cima da mesa! Não é você que a limpa! – Blanche apressou-se a repreender, mas o loiro continuava seu desvaneio.

— Sim, meninas! Alola! Praias sem fim, resorts em todo o lado! Minhas senhoras, nós vamos de férias! – O loiro mostrou os três ingressos às outras.

— Mas você é líder de team ou trabalha numa agência de viagens? – Candela interrogou, como assim ele tinha arranjado aquilo do dia para a noite?

— Foi o professor Willow que nos deu! Ele disse que era uma recompensa por nosso trabalho! – Spark sorriu.

A notícia parecia entusiasmar o Instinc ao extremo, mas Candela e Blanche não pareciam agradadas. A Valor chutou a mesa de leve, mas irritada.

— Vá você e Blanche.

— Temos de ir todos. – Spark declarou sério.

— E porquê? Pensei que os Valor eram uns selvagens que só causavam problemas. Não é? – Olhou de lado para Blanche, ela ainda possuía algum rancor.

Blache ficou meio envergonhada, mas não o demonstrou. Manteve-se firme, hirta e sem dizer nada, olhando na direção contrária a Candela.

— Eu não vou!

— Candela, por favor. Eu sei que você está chateada com o que Blanche disse, mas deixe isso para lá um bocado… Não é o mesmo quando saímos com alguém em falta… Sem você não dá… - Spark proferiu a frase com a maior sinceridade audível.

Candela paralisou. Spark, porque tinha de ser sentimental numa hora destas?! Ela odiava aquele jeito do amarelo, sempre doce, sempre preocupado, carente… Aquele jeito de querer o melhor para os seus… Não era mau, mas em momentos como aquele, em que ela só queria estar no seu mundo, a irritavam! Ele era mesmo… Instinct! Acabou então por relaxar os músculos e suspirar.

— Está bom, eu vou… - A treinadora acabou por concordar em ir, mas se notava o tom contrariado.

— Que bom! – O Instinct foi inesperado e ainda em cima da mesa abraçou a vermelha com imensa força, prendendo-lhe os braços contra o corpo, a deixando imóvel.

Candela sentiu-se embaraçada por o outro a abraçar assim tão forte em frente de Blanche, ficando rubra e sem jeito enquanto o outro dançava e cantarolava em cima da mesa.

— Vamos para Alola! Vamos para a praia! Vamos para Alola! Vamos para a praia!

Spark parecia uma criança entusiasmada por finalmente ter recebido o brinquedo que tanto pedira.

— Spark, tenha cuidado, se continuar assim você vai… – Blanche falou tarde demais – …cair…

Com tanta dançaria, o loiro acabou por escorregar num guardanapo e cair direito no chão.

— Não se preocupem! Os bilhetes estão salvos! – O loiro ergueu a mão que segurava os mesmos.

Candela riu da figura estatelada do amigo, e no fim, sorriu com compaixão. Blanche a olhou um pouco, adorava aquele sorriso, aquele sorriso sincero e divertido… Tão fofo… Ela gostava tanto de conseguir provocar… Mas só Spark conseguia… Isso a deixava um pouco desapontada… Fogo, Spark, porque tinha de ser tão carismático?!

Esses breves momentos foram rápidos, Candela logo percebeu que a Mystic a observava e voltou a colocar uma face pesada. A azul não comentou, apenas se repreendeu por ter sido pega daquele modo. Avançou para o lado de Spark.

— Vamos, Spark, você já está bêbedo de sono, vou levar você para o quarto. – Blanche levantou o amigo e colocou o braço dele em volta de seus ombros, o ajudando a andar.

— Blanche, você é minha melhor amiga! Eu gosto muito de você! – Spark balbuciava feliz, sim, ele estava bêbado de sono.

Candela viu os dois seguirem o corredor até ao quarto do loiro, como se quisesse confirmar que estava tudo bem, e quando lhe pareceu oportuno, se virou na direção oposta à deles e seguiu para longe.

A porta do quarto do Instinct era de madeira, tinha um Zapdos pintado a amarelo e por baixo uma frase simpática: “Seja bem-vindo”.

Bem diferente do quarto de Candela, que era do lado direito, no fundo do corredor, bem junto do dele, uma porta de madeira pintada de vermelho, um Moltres impetuoso pintado a preto parecendo estar rodeado de chamas, sobrevoando a palavra “Valor” e uma triste placa com uma mensagem já conhecida… Em frente ao de Spark, estava o da azul, o mais simples provavelmente, um quadro do Articuno pendurado sobre um calendário… Era assim a face de seu quarto… Triste e simples… Como ela…

Blanche abriu a porta e ambos entraram, deitou Spark na sua cama, era um Snorlax gigante, se sentando do seu lado.

— Não tem de agradecer. – Spark sorriu colocando as mãos atrás de sua nuca.

— Pelo quê? Por me quase ter partido a cozinha?

— Não! Lembra de eu ter dito que seguiria o Instinto? Pois aí está! A oportunidade apareceu e consegui! Umas férias nós três em Alola! E aqui o tio Spark vai conseguir não só que você e Candela se reconsiderem como que se tornem namoradas!

Spark parecia agora consciente do que dizia, ele era assim, passava de um sentimento para outro quase como automático… Blanche ficara um pouco alterada… Pensar em um dia ser namorada de Candela… Isso seria possível? Fazer todas essas coisas de casal com ela… Que raiva, Spark! A fazendo pensar nessas coisas!

— Bem, sempre soa melhor do que qualquer coisa com ovos crus. – Blanche meio que sorriu.

— Pode contar aqui com o cupido, estas férias vão ser a melhor coisa que aconteceu nas nossas vidas! – O loiro se sentou com as pernas cruzadas no colchão.

— Você é mesmo um frango eletrocutado… - Blanche atirou uma almofada ao colo do outro sorrindo, fazendo uma referência a sua ave lendária, a única do grupo que ainda não tinha sido apelidada.

— Mas um franco eletrocutado com boas ideias! – Spark sorriu apanhando a almofada e a esfregando na face da outra.

Risos se ouviam de ambos os amigos, estavam a divertir-se, Candela bebia seu café pensativa na cozinha, tinha muito em que pensar.

E foi nesse clima que todos se preparavam para as férias mais atribuladas, mais estranhas de suas vidas.

E o que Spark planeava…

Nem as três aves lendárias o poderiam prever…