Passando-se quase duas semanas após a sua mudança, Jordan começava a se acostumar com a rotina de morar no apartamento. Nunca antes ele tinha um vizinho em cima e para ele era um pouco estranho. O que ele menos gostava era o elevador, principalmente quando tinha alguém. Apesar de o hospital ter elevador e andar sob ele, ele sentia a diferença no caso dos dois ambientes.

                As noites ele se divertia às vezes olhando as câmeras de segurança, ficava espiando os outros condôminos e uma vez flagrou dois moradores se beijando crentes de que ninguém estava vendo. Essa noite Jordan se encontrava entediado de suas férias, não havia muita coisa para fazer e o assalto que aconteceu e as compras de equipamentos não planejados, estragaram a sua ideia de talvez viajar.

                O apartamento estava todo apagado apenas a TV estava ligada, única fonte luminosa no apartamento inteiro. Jordan estava largado no sofá com um saco de batata Ruffles em cima de sua barriga. Ele dormia tranquilamente até que despertou inesperadamente por ter notado que dormiu sem ter percebido.

                Levantou-se e pôs a mão a cabeça, uma leve dor de cabeça havia lhe batido e uma sonolência forte. Olhou para o canto do sofá e encontrou uma garrafa de vinho vazia, juntamente com uma taça de vinho. Que deprimente, resmungou lembrando-se do que tinha feito. Jordan pegou o controle e apontou para a TV pronto para desligar, mas parou o ato quando viu um carro entrar na garagem. Ele já o conhecia. No mesmo instante ele apertou o botão “gravar”.

                Fazia alguns dias que ele vinha percebendo que seu corro estava levanto alguns arranhões e não pareciam ser acidentais, muito pelo contrário. E ele só tinha uma única suspeita: A advogada que vivia brigando. Ambos ainda não tinham entrado em acordo sobre a batida e essa mal negociação vem causando mais desentendimento entre eles. Certa vez, eles brigaram dentro do elevador com um condômino presente.

                Jordan tinha certeza que ela que causava esses arranhões por pura birra, por ele não pagar o prejuízo do carro dela.

                O carro passou pela garagem e Jordan o acompanhou pelas telas das câmeras. Passando pelo corredor da garagem, ela estacionou o carro com facilidade, sem maiores problemas. A advogada saiu do carro e andou calmamente pelo corredor da garagem, onde também era caminho para a o hall onde ficavam os elevadores. Jordan a viu parar no meio do caminho e voltar. Percebeu que ela olhava para o seu carro, abaixou-se a analisou o carro.

                Nesse momento Jordan se sentiu vitorioso, iria pegar ela no flagra, porém ela nada fez. Isso foi decepcionante.

                No mesmo momento em que ele via a cena se desenrolar, a sua atenção foi roubada por uma luz que vinha em algum ponto da imagem de alguma das câmeras. Um carro havia acabado de estacionar na frente do prédio o que era estranho, pois o estacionamento ali era proibido.

                Do carro havia saído três homens com roupas pretas, luvas e seus rostos estavam cobertos. O coração de Jordan saltou pela boca ao perceber que se tratava de assaltantes. Mesmo muito assustado ele não conseguiu mover um musculo do sofá. Estava totalmente congelado com a cena e com a ousadia daqueles homens.

                Os homens misteriosos entraram na portaria sem muitos problemas, como se fosse moradores. Um dos homens falou com o porteiro e ele parecia indicar o caminho, porém o mesmo não parecia assustado com a situação, muito pelo contrário, estava muito tranquilo. Os homens sumiram da tela e Jordan correu seus olhos até avistá-los. Em uma das imagens ele os viu.

                Agora eles andavam calmamente em direção a garagem e em poucos segundos Jordan percebeu que eles estavam indo em direção a advogada. Correu seu olho até a câmera em que ela ainda estava abaixada, analisando os a arranhões que tinha no carro dele.

                Saia daí, porra! Pensou ele nervosamente.

                A advogada levantou-se, mas não em tempo suficiente para se safar da emboscada que tinha caído. Quando ela tentou correr um dos homens arregaçou uma arma e nesse momento Jordan tinha o seu coração pulsando na sua garganta.

                O homem gesticulava a arma nervosamente enquanto avançava ameaçadoramente. A advogada tinha seus braços estendidos para o alto e andava de costas, tentando procurar um ponto de refugio, mas ela se encontrava cercada pelos carros. Até que ela se chocou contra o seu próprio carro. Estava encurralada.

                Os homens avançavam lentamente e a advogada aos poucos abaixava o braço e dialogava algo, mas não parecia ter sucesso. O homem que tinha a arma erguida parecia intimidá-la.

                Jordan queria gritar, queria se mover, mas os seus músculos não o correspondia, não o obedecia. Por mais que ele quisesse pegar o telefone para fazer uma ligação, seu corpo não respondia aos seus estímulos.

                De repente a advogada fica de costas ao mando do estranho homens mascarado. Ela estava parada de frente ao retrovisor do carro, quase que encostada no vidro do carro. O homem se aproximou o suficiente dela para sussurrar algo em seu ouvido. Seja lá o que fosse que ele tinha sussurrado surtiu efeito. Apesar da imagem não ser perfeita, Jordan tinha percebido que ela tinha uma expressão de pânico.

                A advogada parecia brincar com suas mãos nervosamente a frente do seu corpo, esperando para que aquilo se resolvesse. O homem se afastou com agilidade, arregaçou uma das mangas, revelando uma tatuagem que circundava o pulso, e deu um tiro.

                Na mesma velocidade que o tiro foi dado, Jordan despertou de sua incapacidade de se mover. Ele deu um salto do sofá, derrubando a batata Ruffles pelo chão. Desligou a TV e saiu correndo desesperadamente pelas escadas de segurança. Ele não nem pensou duas vezes qual seria as consequências daquele ato.

...

Os homens voltaram para a portaria com tranquilidade. Era tarde da noite e muitos dos moradores estavam dormindo para começar a sua rotina cansativa no dia seguinte. Um dos homens consultou seu relógio de pulso, na qual já marcava quase duas da manhã. Acelerou os passos e entrou na portaria.

                - Ok, me passa as gravações – disse estendendo a mão para o porteiro.

                Sem dificuldades, o porteiro mexeu rapidamente no equipamento e passou as gravações das câmeras referentes aquele dia.

                - Sabe o que fazer depois – falou ele pegando o DVD do porteiro.

                - Essa parte será moleza – respondeu.

                O homem assentiu e virou-se para ir embora, mas antes que todos saíssem do prédio, o porteiro o chamou novamente.

                - Temos um problema – disse ele apontando para a tela.

...

Jordan chegou perto do corpo da advogada já ofegante. A poça de sangue se espalhava rapidamente. Ao contrário do que ele imaginava, ela não estava morta, a advogada respirava, com dificuldade, mas estava viva. Tentou procurar o seu celular no bolso, mas não o encontrou. Ao lado do corpo da advogada estava o celular dela. Jordan esticou-se para pegá-lo e fazer uma ligação, porém percebeu que alguém se aproximava. Rapidamente ele escondeu o celular dentro da calça.

                A sua frente ele via um homem vestido de preto vindo em sua direção a passos furiosos. Jordan tentou correr para algum lado, mas o homem foi muito mais rápido. Ele pegou em seu braço e puxou. Deu-lhe um chute nos joelhos que o fez se ajoelhar no chão. Quando menos percebeu, os braços do homem estavam em volta do pescoço de Jordan.

                Jordan via o seu mundo ao redor se silenciar e escurecer aos poucos. Tentou relutar, mas as suas forças se esvaia como se fosse fumaça. Aos poucos ia perdendo os sentidos até ser engolido completamente pela escuridão.