Breazin escrita por Hina


Capítulo 8
Capítulo 8




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Após muito tempo, Cordélio saía novamente a noite. A situação dessa vez era bem diferente daquela em que foram comemorar a aprovação de Alexis. A começar pelo lugar.

O bar dessa vez era um lugar sombrio, em uma das regiões mais remotas da cidade. O lugar fora escolha de Hans, que sempre gostara da bebida servida lá, mais forte que a de qualquer outro estabelecimento. O ruivo tinha uma resistência surpreendentemente forte ao álcool.

Hans era sua única companhia naquela noite. Elliot negara o convite, como sempre, e Kaster continuava afogado em trabalho. Aquilo não era incomum, por serem os dois que mais saíam no grupo, estavam acostumados a terem a companhia apenas um do outro. No entanto, o ruivo estava um pouco estranho naquela noite, mais calado que o normal.

— Ei, Hans... Você viu seus pais ultimamente?- Aquele certamente não era um assunto fácil para tratar com o amigo, mas era a mais provável causa para aquele comportamento.

Como esperado, Hans não respondeu de imediato. Por um longo momento encarou o líquido amarelado no copo de vidro e então entornou-o, bebendo todo o conteúdo em um único gole. Cordélio nunca deixava de se surpreender, seu próprio copo permanecia praticamente intocado.

Por fim Hans virou-se para o amigo e deu de ombros.

— Por que quer saber?

Cordélio hesitou. Em geral ele seria direto e franco. Pediria ao amigo que explicasse o que aconteceu e faria o possível para ajudar. No entanto, desde a história com Dannyl, passara a refrear os próprios instintos. Talvez as pessoas nem sempre quisessem ser ajudadas.

O barman aproximou-se e levou o copo vazio de Hans, substituindo-o por outro preenchido com um líquido escuro. Fez o mesmo com o quase cheio de Cordélio.

— Eu me preocupo com você.

Cordélio viu Hans estremecer com as palavras.

— Sinto muito, não me interesso por homens.

— Estou falando sério, Hans.- Ambos sabiam disso. Cordélio conhecia o amigo e sabia quando ele estava tentando ganhar tempo ou fugir do assunto.

— Você devia se preocupar mais consigo mesmo, Cordélio. Às vezes é gentil demais.

O moreno já ouvira aquilo antes, a maior parte das vezes vindo de outros militares de Rydef.

— O que aconteceu?

Com um suspiro, Hans se redeu.

— O mesmo de sempre.- Ele deu um gole no líquido escuro escuro.

— Eles te procuraram?

Hans negou.

— Não. Estava vigiando a casa da Miria.

— O que?- Aquilo o surpreendeu por um breve momento. Então qualquer pensamento perdeu espaço frente a visão do copo escorregando da mão de Hans e estilhaçando no chão. Os olhos do ruivo reviraram e ele tombou, escapando de cair do banco alto apenas pelas mãos de Cordélio que o seguraram.

Um segundo. Foi o tempo que o moreno levou para processar o que estava acontecendo e se levantar. Com um dos braços segurava o corpo inconsciente do amigo, o outro se direcionou automaticamente para o coldre da arma no cinto. Estava vazio, é claro, não havia por que carregar a arma consigo quando saía para beber.

Eles estavam virados para o bar, onde o homem que os servira mirava-os por trás do balcão. Podia sentir outros olhares em suas costas, vindos dos outros clientes. Pelo silêncio pesado que preencheu o ambiente, não eram apenas clientes.

Ele arriscou um olhar de esguelha ao seu redor, sem desviar a atenção do homem de trás do bar. Havia pelo menos mais seis ou sete homens no lugar. Ele não sabia se algum deles estava armado. Com sorte, estaria. Se conseguisse uma arma poderia escapar dali.

— O que está acontecendo?

Ele não esperava uma resposta. Avaliou suas chances. Estava em uma região isolada, cercado por pelo menos sete homens, desarmado. Já enfrentara situações piores antes, mas não com um de seus amigos desacordado em seus braços. Seja lá o que fosse aquela bebida escura, deveria ser algo realmente forte e imperceptível para pegar um agente da unidade de operações especiais desprevenido e derruba-lo tão rapidamente.

— Renda-se.

Os outros se aproximaram, formando um círculo fechado ao redor dele e de Hans. Bloqueando a saída. Cordélio viu um brilho metálico na escuridão, na mão de um dos homens. Poderia ser uma faca ou uma arma.

— Quem são vocês? E o que deram para o Hans?

— O seu amigo está bem, por enquanto.- O tom do homem era seco, cru. Ele não parecia nervoso.- Se quiser que continue assim, faça o que eu digo.

Sete homens possivelmente armados. Ele não sabia qual era seu nível de habilidade, não sabia quem eram ou o que estava acontecendo. Eles tinham vantagem na posição, barrando a saída e com cobertura das sombras enquanto ele estava bem no centro do bar, sob a luz. Cordélio poderia lutar, não era um risco tão grande que não tivesse corrido antes.

Mas ele não arriscaria a vida de Hans.

Com movimentos lentos ele ergueu as mãos, apoiando o corpo do amigo contra o seu próprio e segurando-o com o braço. Mostrou as palmas abertas para o homem no balcão.

— Como quiser.

O homem fez um gesto rápido com a cabeça e outros dois se aproximaram. Um deles segurava o objeto metálico e agora sob a luz Cordélio reconhecia o que era. Algemas. Feitas de Ambrya.

Ele prendeu suas mãos firmemente atrás das costas enquanto o outro puxava Hans para longe. Cordélio fez forçou-se instintivamente para perto do ruivo, sentindo o metal das algemas pressionar seus pulsos.

— Fique calmo, vamos cuidar dele para você.

— Vocês vieram atrás de mim.- Àquele ponto aquilo estava óbvio. Ele até já imaginava o motivo.- Deixem-no ir.

Pela primeira vez o homem esboçou uma reação menos fria, um sorriso sarcástico com um tom de pena.

— Por favor, você sabe que isso não vai acontecer. Ele é nossa garantia. Mas não se preocupe, não vamos machucar o seu amigo.

Então algo atingiu Cordélio com força na nuca e sua visão escureceu.

—-//--

Fazia quase um mês que Dannyl começara seu treinamento com o tenente Dante. Ele não podia dizer que não esperava pelo que viria, ou que não pedira por isso, mas isso não tornava o treinamento mais fácil.

Um pouco para sua surpresa, Dante era realmente um bom instrutor. Não exatamente paciente, mas não parecia se importar de repetir várias vezes se visse que o garoto estava mesmo se esforçando, e Dannyl sempre estava. Frequentemente o tenente lhe perguntava se ele queria parar um pouco, ou se estava rápido demais para ele. Apesar do tom sério, Dan sabia que ele não falava serio. Era uma provocação e, como provavelmente era o efeito desejado, só servia para deixa-lo com mais vontade de seguir em frente.

Ele não contara para Cordélio sobre isso. Não sabia qual seria a reação do irmão. Ele e Dante eram companheiros de equipe, mais que isso, eram amigos. Dannyl dizia a si mesmo que ele estava se prevenindo de problemas ao evitar Cordélio, que precisava se concentrar apenas na prova.

Se fosse sincero consigo mesmo, sabia que estava apenas fugindo. Mas não podia se preocupar com isso agora.

— Pare.- Dante falou. Estavam em um terreno vazio próximo aos limites do muro externo do quartel. Não seria bom se Dannyl fosse visto treinando com o melhor soldado de Rydef, isso apenas lhe conseguiria inimigos e bajuladores. Então nos primeiros dias, o tenente o ajudou a conseguir e montar um local de treinamento improvisado fora dos muros.- Está na hora de sua instrução. Arrume-se apropriadamente antes de ir para lá.

Dannyl secou o suor da testa com o dorso da mão e olhou para o relógio preto simples no pulso. Fora um presente de sua irmã mais velha quando ele partiu para Rydef.

Faltavam exatos trinta minutos para o inicio de sua instrução. Ele tinha que se apresentar pelo menos cinco minutos antes, o que lhe deixava vinte e cinco para correr aos alojamentos, tomar banho, trocar de roupa e ir para o local da instrução. A essa altura ele já sabia que quando o tenente dizia "arrume-se apropriadamente" queria dizer "não apareça lá com uma apresentação menos do que impecável".

Aprendera também a controlar muito bem seu tempo, mais até do que precisara fazer em casa. Entre as instruções ministradas pela academia, o treinamento com Dante e seu próprio estudo para as provas teóricas, ele aprendera a contar os minutos. Se perguntava se Amélia sabia que seria assim quando lhe dera aquele presente.

— Sim senhor, tenente.

Rapidamente Dannyl começou a arrumar o ambiente, guardando tudo em caixas de madeira em um canto enquanto o loiro que o encarava impassível. Às vezes Dannyl pensava que olhos negros de Dante poderiam engolir a alma de alguém.

— Tenente.- Ele se viu falando, quando terminou de fechar a ultima caixa. Apesar do pouco tempo que tinha. Apesar de suas próprias expectativas.- Você contou ao meu irmão que esta me treinando?

Dante ergueu uma sobrancelha, ligeiramente.

— Eu deveria?

— Não, senhor. Só estou me perguntando se ele já sabe...

— Ele sabe.- O mais velho cortou-o.- Ele é seu irmão, e é Cordélio. Ele pergunta de você o tempo todo.

Dannyl estremeceu.

— Ele não soube quando eu me candidatei para vir para cá.- As palavras escaparam mais rápido do que ele pode conter. Não saberia de nada se a Amélia não tivesse lhe contado.

E de quem seria a culpa? Sua mente completou, e ele afastou o pensamento com raiva.

O tenente não respondera. Havia algo frio em seus olhos agora, além da calculada indiferença. O garoto percebeu que o desapontara, com uma desagradável mistura de irritação e culpa.

Sem dizer mais nada, ele se virou e correu para dentro dos muros.

—-//--

— Como você percebeu isso?- Alexis perguntou, sinceramente curioso, para o doutor Suez. Estavam apenas os dois no laboratório. Seth estava de folga e Leona fora com Allyn trabalhar no conserto de algumas naves da unidade.- Não parece o tipo de coisa que se descobre por acaso.

Julian sorriu.

— É uma história engraçada na verdade. Eu e Kamil estávamos em uma palestra de  astrofísica na Universidade Real de Ambryader, o palestrando estava todo animado contando sobre o novo sistema inteligente de controle dos foguetes quando o Kamie teve um insight. Ele se levantou e saiu do correndo do auditório, sem dizer nada, na frente de todo mundo. Eu fui atrás dele e quando chegamos no nosso laboratório ele me explicou que se usássemos a mesma ideia em conjunto com o que já havíamos feito com a Ambrya poderíamos ter resultados muito melhores.

— Então vocês usaram o mesmo sistema que nos foguetes?

— No final não. Havia particularidades que não permitiam, e nós praticamente tivemos que refazer tudo, de trás para frente. Mas a ideia veio de lá.

— Ainda precisa de ajustes, mas o resultado final poderia ser o sistema mais refinado de que já ouvi falar. Uma pessoa poderia controlar movimentos complexos através de pensamentos.

Julian assentiu. Ele não escondia o sorriso discreto e o orgulho nos olhos.

— Daqui a alguns anos poderá ser uma nova forma de pilotar naves e carros, ou usar um computador.

— Isso é fantástico. E assustador.

Por alguns instantes eles permaneceram em silêncio. Alexis contemplava os cálculos no computador, se esforçando para lembrar alguns conceitos e por vezes consultando um ou outro livro. Julian o observava, perdido em lembranças distantes.

— Kamil Gernot...- A voz de Alexis o trouxe de volta. O loiro falava com distração, ainda focado na tela a frente.- Você fala muito dele. Deve ter sido brilhante.

Julian sabia que viria, mas não gostou da sensação de algo sendo comprimido em seu peito com a menção ao falecido companheiro. Amigo. Irmão. Amante. Seja lá o que quisessem chamar.

— Ele era.

Com o tom amargurado, Alexis compreendeu o que dissera.

— Sinto muito.

Julian negou.

— Não sinta. Você está certo, ele era. Poderia ter feito toda a diferença para o mundo. Ele tentou fazer, mas não do jeito certo.

Alexis evitou encarar o maior, não sabia o que dizer. Quando se perdiam nas pesquisas e números, era fácil esquecer que Julian era um homem, que já vivera e tivera mais experiências do Alex almejava ter na vida, enquanto ele próprio... Vivera a vida preso em livros, jamais saíra de Breazinder, podia contar nos dedos as pessoas com quem já estivera e se prendia à mesma paixão há anos sem coragem de dar mais um passo ou seguir em frente. Sentia-se uma criança, embora tivesse aproximadamente a mesma idade que Julian.

Pouco depois, para seu alívio, Allyn e Leona retornaram. Julian passou a escuta-los discutir o relatório que fariam sobre o conserto das naves, entretido. Ele era visivelmente um admirador da engenharia, ainda que não propriamente de sua área. Ao menos nesse aspecto, ele e Alex tinha algo de semelhante. Isso e o fato de ambos gostarem de homens.

— Podemos prosseguir.- Alex disse quando terminou de rolar a página no computador.- Mais tarde eu revisarei os cálculos com mais cuidado.

— Não precisa ter pressa.- Julian interveio rapidamente.- Leve o tempo que for necessário.

— Não se preocupe, doutor.- A capitão Leona disse com certa ironia. Era uma mulher alta, de curva acentuadas e fala lenta. Havia flertado um pouco com Julian nos primeiros dias em que ele esteve ali, o que o moreno recebeu com bom humor.- Quando Alexis diz isso é porque já entendeu tudo que está ai. Ele sempre relê tudo depois.

Julian hesitou, depois assentiu.

— Talvez antes de passarmos há para a próxima etapa devêssemos fazer mais uma ou duas simulações no supercomputador?

Alexis o encarava.

— Talvez. Leona, eu lembrei de algo. Vocês trocaram os aparelhos de ventilação das naves?

Allyn franziu o cenho.

— Mas Alex, o novo modelo vai chegar no fim do mês. Não faz sentido trocar agora...

Leona revirou os olhos e puxou Allyn pelo braço para fora do laboratório. Julian virou-se para Alexis.

— Doutor, há algo que eu queria lhe perguntar há algum tempo.- Alexis fez uma pausa, escolhendo cuidadosamente as palavras.- Se você achar que eu e minha equipe não somos aptos a acompanhar o desenvolvimento do seu trabalho, por favor me diga.

Julian não esperava por aquilo.

— Capitão, eu não...

— Está tudo bem, doutor Suez. Eu não ficarei ressentido de forma alguma. Você tem sido muito gentil conosco, e particularmente eu sinto que podemos absorver o conhecimento e gerencia-lo nós mesmos, mas não quero ser responsável por atrapalhar todo o processo apenas pelo meu ego.

— Eu te acho mais do que capaz, Alexis.- Julian respondeu com franqueza.- Uma das mentes mais brilhantes que já conheci.

Com isso a postura propositalmente neutra que o loiro havia assumido se esvaiu, e confusão transpareceu em seu rosto.

— Então... Eu não entendo. Por que fazer o trabalho mais lentamente do que necessário?

Julian suspirou e passou a mão pelos cabelos castanhos, desarrumando-os ainda mais.

— Eu gostaria de prolongar um pouco mais minha estadia em Rydef.

— Há... Algum motivo para você não querer voltar a Ambryader?

— Não. Mas há um motivo para eu querer ficar aqui.

A situação tomou nova forma na mente de Alex. Ele lembrou-se da noite semanas atrás, quando saíra com seus amigos para comemorar sua aprovação no exame de tiro e vira Julian e Dante juntos. Não imaginara que o que havia entre eles fosse tão sério.

— Eu acho que entendo.- Ele disse devagar, com cuidado.- Se quiser, posso tentar marcar alguns testes no supercomputador. Para daqui a algumas semanas, quando os novos processadores chegarem.

Julian abriu um sorriso radiante.

— Isso seria fantástico, capitão Alexis.

—-//--

— Boa tarde.- Kaster cumprimentou, parando à porta do quarto de outro tenente das forças especiais, onde um grupo de pessoas se reunia.- Vocês viram o Hans?

— Nem ideia.- Respondeu um deles, que fora companheiro de Hans e Kaster nos anos de academia.- Ele não foi para a cidade?

— Eu vou averiguar. Obrigado.

Konrad seguiu seu percurso, ouvindo risos e comentários brincalhões especulando em que confusão Hans se metera.

Era incrível como, quando você puxava um fio solto, toda uma rede de sujeira era exposta por trás. Kaster começara a investigar aquela história por um mero pressentimento e agora aquilo havia desdobrado por caminhos que ele jamais teria imaginado.

Iniciara com um telefonema para seu pai.

— O senhor se lembra da Embry, a metalúrgica?- Konrad perguntara apos cumprimentar o pai.

Claro, Konrad. Eles compraram uma quantidade estranhamente grande para um empresa dessa área.

— Tem alguma ideia do porquê?

— Não acho que ele seja particularmente um apreciador.- O mais velho brincou.- Mas em alguns chás há substâncias que podem ser usadas para outros fins. Algumas ervas, se acrescidas na fundição do metal, dão a ele um odor caraterístico.

— E o chá específico que eles compraram.

— Aquele é bem raro, só é vendido em poucos lugares do mundo. Preciso confessar que não sei muito sobre ele.

— Tudo bem, pai. Pode me dizer qual era o nome do chá e quem foi seu fornecedor?

— Claro. Vou pesquisar nos arquivos quando chegar ao escritório. Mas por que esse interesse, meu filho?

Kaster explicara que o nome daquela metalúrgica fora parar em seus pedidos de investigação, e seu pai afirmou que encerraria qualquer comércio com eles imediatamente. Konrad, todavia, pediu que ele não fizesse isso, ainda. Atrairia atenção indesejada.

Toda a sua investigação, na verdade, atrairia atenção. Em algum momento os responsáveis por qualquer que fosse a sujeira envolvida ali notariam. Ele precisava ser rápido.

Seus próximos passos o haviam levado por uma série de telefones e visitas sem muito resultado. Até receber o nome de um hospital que fornecia grande quantidade de um medicamento para a metalúrgica. Porém, ao contrário do comércio de chás, aquelas drogas continham substâncias realmente perigosas. Uma venda em tão larga escala não deveria ter sido permitida. Konrad sequer encontrou seus registros no banco do exército, que fiscalizava e controlava itens de uso restrito. Não foi uma surpresa quando ele também encontrou o nome do hospital na lista das organizações que deveriam ser investigadas.

O que de fato o surpreendeu, foi o registro de pacientes. Aquele informação era sigilosa, e em casos normais ele não teria acesso, mas precisava descobrir o máximo que pudesse.

Na lista dos últimos pacientes, estavam os nomes de Miria e Hans.

Konrad não sabia por que eles estiveram lá. Hans não mencionara nenhum problema de saúde dele ou da esposa, no entanto era normal que o ruivo guardasse seus problemas para si. Qualquer que fosse o motivo, Kaster iria avisa-lo sobre o que descobrira, e pedir que procurassem outro local. Se a companhia de seu pai encerra-se uma venda tão grande sem motivos, certamente desconfiariam. Mas não de um único casal de pacientes. Ao menos Hans e Miria ele poderia avisar.  

—-//--

Quando Cordélio acordou, ele não sabia onde estava, embora se lembrasse perfeitamente bem do que havia acontecido. Ele analisou rapidamente o ambiente.

Era pequeno e escuro, o chão e as paredes de um material liso e frio, algum tipo de metal. A porta era diferente, talvez feita de Ambrya, não havia luz suficiente para ter certeza. Também não haviam janelas e apenas uma caixa de metal atrás da porta indicava o local da maçaneta. Ele estava descalço e havia algemas ao redor de seus pulsos, presos à parede por correntes. O lugar parecia uma cela de prisão, e ele estava sozinho. Não havia sinais de Hans ou de seus raptores.

Cordélio procurou por suas armas, mas, como era esperado, não as encontrou. Sua jaqueta também sumira, ele vestia apenas a calça e a camisa branca. Por quanto tempo ficara apagado.

O garoto sentiu uma onda de tontura e levou a mão à nuca. Estava úmida, mas não havia muito sangue e o ferimento não parecia particularmente ruim.

Precisava dar um jeito de encontrar Hans e sair de lá. Ou ao menos conseguir um meio para pedir ajuda.

Ele se ergueu. O comprimento das correntes permitia que ele chegasse bem próximo das portas. Precisava pensar em um modo de abrir as correntes e se soltar sem que fosse possível perceber. Assim quando seus raptores aparecessem ele só precisaria de um momento de distração para prender um deles e apagar os demais. Então descobriria onde Hans estava e sairia de lá.

A porta se abriu. A súbita claridade fez Cordélio levar a mão a frente do rosto e estreitar os olhos castanhos por um instante. Tempo suficiente para que dois homens entrassem e fechassem novamente a porta.

Eles traziam uma lanterna, apontada para Cordélio, e apesar de vestirem máscaras Cody soube que nenhum deles era o homem que falara com ele no bar.

O garoto virou para eles, afastando-se alguns passos.

— Cordélio Zala?- Perguntou a da frente, mais alto e magro.

Se fosse Hans em seu lugar, Cordélio pensou, provavelmente diria algo esperto como "Espero que sim, ou vocês terão sequestrado o homem errado.". O moreno apenas disse:

— Onde está meu amigo?

O homem de máscara sorriu. Seu sorriso era algo terrível.

— Ele está bem guardado. Agora é com você que precisamos falar.

— Seja lá o que queira saber, eu não direi nada enquanto ele estiver em perigo.

— Ah, você vai dizer. Ou vai recebe-lo aos pedaços.

Cordélio estremeceu, e fez o possível para disfarçar. Aquela situação não era nada, nenhum pouco boa.

— Eu quero falar com seu chefe.- Ele tentou. Precisava de tempo para pensar.- O homem que mandou que me trouxesse aqui.

O mascarado deu um passo a frente. Ele acertou o rosto do garoto com as costas da mão, com força suficiente para provocar um estalo. Cordélio já esperava por isso. Fechou os olhos por um segundo esperando a tontura passar e cuspiu um pouco de sangue no chão. Então virou as irias castanhas para os homens acima.

— O que você quer não me interessa, garoto.- O homem deu uma risada aguda.- Você está tornando as coisas divertidas. Mas o meu chefe, como você disse, não está com paciência para esperar enquanto brincamos.

Cordélio olhou para a terceira pessoa na cela. Tinha a idade mais próxima a sua, pelo que parecia. Ele estava quieto, o rosto escondido pela máscara e os olhos pelas sombras, sem se manifestar desde que entraram.

— Solte o Hans e eu respondo o que ele quer saber.- Mentiu, tentando passar uma confiança que não sentia.- Se está com pressa esse é o melhor...

— Hugo.- O mais alto gritou, fazendo o homem atrás dele se sobressaltar e quase deixar cair a lanterna.- Traga uma lembrança do nosso amigo para o namoradinho dele aqui.

— O que...

— Não!- Cordélio disse, rápido.- Você... Ainda não me disse por que estou aqui.

Isso atraiu a atenção do homem. Ele virou-se novamente para o moreno.

— Ah, certo. Vamos aos negócios.


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