Breazin escrita por Hina


Capítulo 7
Capítulo 7




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Julian recebera uma carta naquela manhã. Ele nem precisava ver o selo real de Ambryader para saber do que se tratava.

Após ler o conteúdo ele tirou o celular do bolso e ligou para a irmã.

A ligação caiu na mensagem padrão do palácio, pedindo que ele informasse o que desejava. Julian selecionou a opção "outros" e "aguardou enquanto um funcionário iria atende-lo".

— Palácio real de Ambryader, meu nome é Geanne. Como posso ajuda-lo?

— Oi, Geanne, é o Julian. A Madelaine está ocupada?

— Senhor Delmoro?! É um prazer falar com o senhor após tanto tempo. A princesa deve estar no quarto, vou perguntar se ela pode atende-lo.

— Por favor.

Julian esperou novamente. O tédio o fez encarar o quarto com mais atenção do que já havia feito desde que chegara. Ainda se surpreendia em como os quartos em Breazinder eram pequenos e brancos. De toda forma ele não era um bom parâmetro para comparação.

— Julian?

— Oi Maddie.

— Julian! Fico feliz em escuta-lo, meu irmão. Recebeu minha carta?

— Recebi. Você pode me ligar quando quiser, é mais rápido do que enviar cartas.

— Eu prefiro cartas.- E ambos sabiam que Julian ligaria.- Como está em Breazinder?

— Estou bem. Os quartos daqui são pequenos, mas eu sobrevivo.- Escutou Madelaine rir.- Qual era o assunto que você queria conversar?

— Nada em específico.- A voz da princesa soou ligeiramente inflexiva, o que significava que ela provavelmente estava mentindo.- Queria falar com meu irmão. Saber como ele está. Quando ele vai voltar.

— Ainda não tenho previsão, Maddie. Preciso terminar meu trabalho aqui primeiro.

— Trabalho. Eu não vejo você tão concentrado em trabalho há muito tempo.

— Uma hora eu tinha que fazer valer meu título de doutor.- Ele deu de ombros, embora não houvesse ninguém para ver.

— Então você deveria terminar logo com isso e voltar a pesquisar aqui no palácio.

— Olha só.- Julian riu.- Minha irmãzinha acha que entende mais do meu trabalho do que eu.

— Estou falando sério, Julian.- Ouviu um suspiro delicado pela linha.- O que está te prendendo?

— Hum... Eu gosto de Rydef. É uma cultura totalmente diferente, mesmo comparando com o exército de Ambryader.

— Você está apaixonado por Elliot Dante Ventura?

Aquilo nao deveria surpreende-lo, ele devia ter esperado algo do tipo vindo de Madelaine. No entanto, surpreendeu.

— Você me pegou.- Respondeu em um tom que esperava ser de brincadeira.

— Eu não quero ser a irmã ciumenta ou a princesa autoritária, mas você realmente acha que essa é uma boa ideia? O filho do comandante de Breazinder? E, Julian, faz tão pouco tempo desde que o Kamil...

Ela não terminou. Kamil sempre fora seu ponto fraco.

— Eu não sei, Maddie. Ultimamente há muita coisa que eu não sei. Eu gosto de estar com ele. E de certa forma ele precisa de mim.

No silencio que se seguiu Julian ouviu vozes sussurradas falarem com sua irmã.

— Eu preciso desligar, Julian. Pense com calma, está bem?

Julian concordou. Não havia muito mais que pudesse fazer.

—-//--

Elliot olhou mais uma vez para o relógio: faltavam quinze minutos para seu pai chegar. Checou também o celular. Nenhuma chamada perdida. Um soldado passou a seu lado e prestou-lhe continência, o garoto retribuiu o gesto.

Ele podia sentir os olhares curiosos dos homens na guarda e daqueles que passavam pela entrada do quartel. Não era comum vê-lo parado por tanto tempo próximo aos portões principais, especialmente não em roupas civis ou olhando o relógio com tanta frequência.

Não podia negar que estava um pouco nervoso, não sabia se mais porque iria encontrar-se com o maior general de Breazinder ou porque iria encontrar seu pai. Após poucos minutos ouviu o som da corneta no toque elaborado que indicava a chegada do comandante a um quartel. Todos na guarda, e todos os militares próximos, pararam para receber o general.

Alphonso Dante Ventura era um homem de olhar sério e postura inabalável. Ao seu redor havia um ar de confiança serena que dava às pessoas ao seu redor o desejo de depositar suas esperanças nele. E era isso que elas faziam.

Elliot admirava o pai, como uma estrela no céu.

— Senhor general comandante!- O oficial responsável pela guarda naquele dia disse com certa aflição pois dar ao mais velho as recepções devidas.- Não estávamos esperando o senhor tão cedo, senhor...

— Está tudo bem.- Alphonso Ventura respondeu com tranquilidade.- Voltarei mais tarde. Agora vou almoçar com meu filho.

— Ah.- O rosto do oficial se iluminou com compreensão quando ele olhou para Elliot e novamente para o general.- Bom almoço então, senhor.- Ele disse um pouco sem jeito, com um aceno para Elliot.

O garoto aproximou-se do pai. Teve de resistir à tentação de prestar continência ao general. Apenas militares fardados poderiam fazer isso, prestar continência em roupas civis era uma falha inadmissível, ao menos do ponto de vista de Elliot.

— Boa tarde, senhor.- Ele cumprimentou.

— Boa tarde, Elliot. Vamos, o carro está esperando.

Os dois atravessaram o portão. Ele sentiu com clareza, no momento em que virou as costas, aqueles que antes tentavam espiar discretamente passarem a encara-los de forma descarada. Aquilo não o incomodava muito, mas trouxe à lembrança o fato que, mesmo antes de se tornar o mais jovem e um dos mais condecorados oficiais de Rydef, ele era o filho do general Ventura.

Um carro blindado e com motorista particular os levou a um dos restaurantes mais caros da cidade de Rydef. Havia outros clientes no local, alguns deles oficiais aposentados que se aproximaram para cumprimenta-los. Dante respondia aos cumprimentos com rígida educação.

— Seu filho se tornou um homem e tanto, Ventura.- Disse o senhor de cabelos brancos que um dia fora comandante da academia e, antes disso, instrutor de Alphonso quando este era apenas um cadete.- Assim como o pai. Almeja um dia também tornar-se comandante, jovem?

Elliot não tinha a resposta pronta. Seu pai teria, em seu lugar, ele era excelente em entrevistas. O garoto apenas respondeu, em um tom quase robótico:

— Não no momento, senhor.

— Ah, claro que não!- O homem riu e alguns outros do grupo o acompanharam. Alphonso manteve o sorriso cortês.- Ninguém se torna comandante na sua idade. Ainda tem muito chão pela frente mas continue nesse caminho, mesmo com esses pequenos... derrapões, como o que enfrentou recentemente. Esse é o caminho para a vitória!

Dante assentiu, apenas porque era esperado que o fizesse. Após mais alguns comentários e trocas de gentilezas ele e o pai enfim conseguiram uma mesa afastada para sentarem-se sozinhos. Todos os garçons e funcionários foram tão gentis ao ponto de serem irritantes, ele não sabia se devido ao pelo preço absurdo que o restaurante cobrava ou à importância da pessoa a quem serviam. Também não se importava muito, desde que eles parassem de perguntar se eles desejavam mais alguma coisa e fossem logo embora.

— Não se incomode muito com esse tipo de comentário, Elliot.- Seu pai disse enquanto dobrava o guardanapo com precisão.- Foi honrosa sua decisão de terminar sua missão.

Elliot piscou. Ele sabia que o general aprovava sua postura, um soldado sempre cumpre sua missão independente do que fosse. O que o surpreendeu foi que o mais velho comentasse o fato, tanto tempo depois.

— No entanto, é verdade que você descumpriu regras e até mesmo ordens superiores. É uma infração muito grave.- O general prosseguiu com tom ponderativo.- Pode me dizer por que decidir fugir do hospital e perseguir Kamil e Julian Delmoro sem informar a nenhum de seus superiores?

Elliot levou alguns segundos para encontrar as palavras apropriadas.

— A burocracia que isso envolveria iria tomar muito tempo. Para garantir a segurança de Julian Delmoro era precisa agir com urgência.

— Entendo. É uma informação relevante, ainda que não inesperada. Irei considerar esse assunto em reuniões futuras do comando militar. Podemos tentar reduzir a burocracia nesses casos.

Elliot sorriu, minimamente. Se por um lado não acreditava que algo assim seria fácil em uma instituição tão tradicional quanto o exército, por outro seu pai não era um homem de palavras vãs. E ele era o general comandante.

— Agradeço por considerar essa exceção.

— O doutor Delmoro também me intriga.- Alphonso falou.- Há toda a situação envolvendo Ambryader e Kamil Gernot Delmoro que não foi bem explicada pela princesa. E agora ele veio até Rydef, me pergunto o que pretende com isso.

Um arrepio percorreu Elliot, aqueceu-o por dentro como a bebida que Julian o fizera experimentar naquela boate, na noite em que aquela tudo começara a dar errado. Mais uma vez ele demorou a responder, agora por um motivo totalmente diferente.

— Ele me informou que estava cumprindo a parte de Ambryader na negociação, compartilhando a pesquisa a cerca das pedras Ambrya.

— Esse é o motivo presente no relatório oficial.- O homem concordou.- Delmoro contou isso a você?

Elliot assentiu.

— Nós encontramos no quartel em Rydef.

— Entendo.

Alphonso não falou mais nada, prosseguindo seu almoço em silêncio. Dante se perguntava se a tensão que ele sentia era perceptível.

— É compreensível que ele tente procurar por você.- O homem retomou após um bom tempo.- Ele passou por uma experiência traumática envolvendo pessoas próximas, e nesse contexto você era uma referência de segurança para ele. Trate-o bem, filho. Ele parece um bom homem apesar de tudo, e a princesa Madelaine tem muito afeto por ele.

— Eu vou.- O garoto respondeu de imediato. Isso rendeu-lhe um dos raros sorrisos do pai.

Toda a tensão desapareceu. Talvez Elliot a tivesse imaginado todo o tempo, uma sombra do estado em que ele sempre vivia. Com uma onda de receio e um tipo novo de coragem, diferente daquele necessário em batalhas, ele perguntou:

— O senhor sabe como está minha mãe?

— Presumo que esteja bem.- Alphonso respondeu, com ar levemente intrigado.- Embora seja verdade que não a encontro há algum tempo. Imaginava que você a visitasse com mais frequência.

— Eu... Não. Também não a visito há algum tempo.

O general assentiu.

— Ela compreende que nosso primeiro dever é com o exército, não se preocupe.

Preocupação não era exatamente o que Elliot sentia. Era uma mistura confusa que envolvia surpresa, culpa e possibilidade.

—-//--

Passou uma semana antes que Elliot se encontrasse com o irmão de Cordélio novamente. Mais uma vez ele caminhava ao redor da base para se aquecer quando o avistou. Dessa vez o garoto parecia espera-lo, andando próximo ao muro que rodeava as construções no sentido contrário ao de Dante, e quando o avistou correu em sua direção.

Era manhã vem cedo, o lugar estava vazio ainda. Elliot parou e esperou o garoto se aproximar. Ele parecia ter se metido em alguma briga, arranhões e cortes pequenos, alguns curativos. Suas roupas não estavam sujas ou amassadas, então provavelmente fazia alguma tempo que ele se machucara. Esperava que não tivesse sido em uma briga de fato, esse seria um modo eficiente de ser expulso antes mesmo do exame.

— Tenente Dante.- Dannyl cumprimentou com um aceno. Ainda era civil, e civis não prestavam continência. Elliot retribuiu o gesto e esperou.

— Eu estive pensando.- O garoto começou.- O que eu poderia fazer para impressiona-lo, para que você aceitasse me treinar. E não encontrei nada.

— Então não temos o que conversar.

— Mas eu cheguei a uma conclusão.- Dannyl prosseguiu, um tom mais alto, fazendo Elliot parar novamente.

 Ele estendeu a mão para o loiro, onde havia um papel. Dante continuou apenas encarando-o, então Dannyl e abriu a folha e mostrou-a ao outro. Era um quadrado de simples papel branco, com a palavra "Obrigada" e um desenho de uma garotinha em traços infantis.

— Meu pai era do exército, o Cody entrou na escola de sargentos por causa dele. Eu não tinha vontade de ser um soldado. Queria estar perto da família.- Ele respirou fundo. Suas mãos tremiam um pouco e amassavam o papel que segurava.- A primeira vez que eu pensei nisso de verdade foi pouco depois do Cordélio vir para Rydef. Ele foi nos visitar em casa, e estava diferente. Ainda era o mesmo de sempre, mas parecia diferente de alguma forma. Acho que é porque ele tinha ficado mais forte. Nós saímos pela cidade e voltamos tarde da noite. No caminho alguém passou correndo por nós, esbarrou em mim e eu cai no chão. Só depois eu comecei a ouvir os gritos das pessoas, e a essa altura o Cordélio já estava atrás do cara. Ele o alcançou e lutou com ele. O cara tinha uma faca, mas o Cody ganhou mesmo assim. Era um ladrão, que tinha roubado um bar ali perto. Todos conseguiram de volta o que tinha sido roubado e agradeceram ao meu irmão. Eu só fiquei olhando enquanto ele socorria um homem que tinha sido esfaqueado quando não quis entregar a carteira. Nós levamos ele pro hospital e no caminho eu só me lembro de ouvir o Cordélio se desculpando com o homem por não ter chegado mais cedo, que ele poderia ter impedido aquilo. Foi a filha dele que deu esse papel para o Cody no hospital.

Dannyl parou por um segundo, respirando fundo. Ele não se atrevia a olhar para o tenente, já se sentia ridículo e abalado demais em falar tudo aquilo.

— Eu também quero proteger as pessoas. Sei que posso se eu tentar e me esforçar para me tornar mais forte. Eu quero proteger meus irmãos e minha mãe e outras pessoas que não podem lutar por si mesmas. Para isso eu vou me tornar mais forte que qualquer um. Por isso estou em Rydef. E por isso preciso de você.

— Não se engane.- Elliot falou apos um momento, a tensão visível em Dannyl.- A respeito da vida de um soldado. Nós não somos heróis todo o tempo. Se é isso que quer é melhor ir embora agora.

— Eu não vou. Ficarei aqui até me tornar forte. E se depois eu perceber que aqui não é meu, então eu vou partir. Até lá nada vai me fazer mudar de ideia.

Eram palavras atrevidas. Dante as acharia vazias, arrogante, se não fosse pelo modo como o garoto as falava. Ele ainda tremia, sua voz instável, como se fosse difícil dizer aquilo. E mesmo assim ele continuava. Era uma confissão e bastava para que Elliot soubesse que Dannyl estava certo ao menos sobre uma coisa: ele não ia desistir.

— Durma bem hoje e me encontre aqui amanhã.

Os olhos castanhos do mais novo brilharam.

— Que horas, senhor?

Elliot deu-lhe um olhar severo.

— Esteja aqui quando eu aparecer.

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