Solangelo Moments escrita por Junebug


Capítulo 35
The Way Home


Notas iniciais do capítulo

Universo Alternativo. Muito tempo atrás, a Oddly Enough tinha pedido algo com Maeve num UA, daí surgiu esse cap. que tá muito longo para existir, mas que eu realmente não via como postar separado de 'Solangelo Moments'...



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Maeve saiu correndo pelas ruas já escuras, enxugando as lágrimas, até chegar à parte da cidade onde carruagens mais elegantes e até automóveis transitavam pelas ruas. Diante da porta de carvalho do prédio baixo de tijolos vermelhos, ela sacudiu a aldrava até que a porta foi aberta.

Não era o doutor, nem sua secretária, mas um homem jovem de cabelos e olhos escuros com uma sobrancelha levantada.

— O doutor Solace não está? – ela perguntou, agora sentindo-se envergonhada apesar do desespero.

— Ele teve que sair para ver um paciente... Você está ferida? Cadê sua mãe e seu pai?

Pensando na resposta àquelas perguntas, ela voltou a chorar.

— Eu não tenho mãe, nem pai... – ela se esforçou para dizer. - A Sra. Hall me colocou para fora...

— Ei, ei, tudo bem. Vai ficar tudo bem.- O homem a fez entrar e, tentando acalmá-la, apertou de leve suas mãos, mas foi o suficiente para Maeve gemer de dor e puxar instintivamente a mão esquerda dolorida.

Delicadamente, ele pegou de volta essa mão e soltou uma exclamação de surpresa ao deparar com a pele vermelha e as bolhas na palma.

— Eu deixei o ensopado queimar... A Sra. Hall sempre usa a colher de pau como palmatória... e... a colher estava dentro da panela no fogo...

O homem franziu profundamente o cenho diante daquilo.

— Venha comigo.

Ela o seguiu pelas escadas que levavam ao segundo andar. Lá passaram por uma convidativa sala de estar e chegaram à cozinha.

O homem disse para ela se sentar e trouxe uma tigela de água para pôr a mão.

— Acho que isso pode ajudar até que Will volte. Ele não deve demorar muito mais. A água está muito fria?

Maeve fez que não e agradeceu.  A mão parara de arder. Seus olhos ainda úmidos não conseguiam deixar de encarar um empadão de carne pela metade à sua frente.

— Está com fome?

Ela baixou os olhos.

— Desculpe. Eu...

— Tudo bem.

Ele serviu um pedaço a ela com um copo de leite. Maeve estava faminta e, com a mão direita, devorou boa parte da comida até se lembrar dos bons modos. Ela ergueu os olhos para o homem, sentado ali ao lado, e começou a tentar se explicar:

— No mês passado, o doutor Solace cuidou do bebê da Sra. Hall, que estava muito doente... Fui eu que vim buscá-lo na época. As pessoas diziam que ele não cobrava de quem não podia pagar... Ele... Ele foi muito gentil. Quando estava de saída, também deu balas de caramelo para mim e as outras crianças. Eu... lembrei dele quando estava na soleira da porta trancada com a mão machucada...

— Entendo.

Maeve percebia que apesar do jeito mais sério, esse homem também era uma boa pessoa.

— O doutor mora aqui com você?

— Sim.

— Vocês são parentes?

— Não. Ele é mais como um... eh... amigo.

— Esta é uma casa muito bonita. – Ela estava admirada, apesar de ser um tanto intimidante estar numa cozinha que era quase do tamanho do pequeno apartamento da família Hall.

— Obrigada. Ela pertence à minha família há muito tempo... Agora eu sou o último que restou por aqui...

— Que bom que tem a companhia do seu amigo, então.

Ele abriu um pequeno sorriso.

— É. Acho que você tem razão... Gostaria de um pedaço de bolo? – ele perguntou, percebendo que ela tinha acabado.

— Eu nunca comi bolo...

Maeve adorou bolo. Ela poderia passar o resto da vida comendo bolo.

Ele, então, quis saber seu nome, e depois ela ficou sabendo que ele se chamava Nico di Angelo.

— Você não é médico também, é?

— Não. Eu escrevo para o jornal.

— Você escreve notícias?

— Não. Eu escrevo histórias... Histórias de mistério.

— Com fantasmas?

— É. A maioria delas tem fantasmas...

— Legal!

— Você não tem medo de fantasmas?

— Não em histórias.

Ele voltou a sorrir com aquilo.

Eles ouviram a porta abrir lá embaixo.

— Espere um momento.

Nico di Angelo foi até lá e deve ter contado tudo sobre Maeve para seu amigo, porque quando o doutor Solace apareceu não lhe fez nenhuma das mesmas perguntas.

Enquanto ela comia outro pedaço de bolo, ele cuidou de sua mão.

— Então... você não é mesmo filha do Sr. e da Sra. Hall? – perguntou o doutor num tom cauteloso.

— Minha mãe morreu quando eu nasci... E ninguém sabe quem é meu pai. A Sra. Hall era vizinha da minha mãe.

— Ela... pôs você para fora?

— Eu bati e implorei, mas ela não abriu a porta.

Maeve estava se segurando para não voltar a chorar. O outro pedaço de bolo tinha acabado e sua mão agora estava enfaixada. Era hora de voltar...

— Será que ela não vai mesmo me querer de volta?

— Você ficaria muito triste se não pudesse mais voltar para lá?

— Bom... Ela sempre disse que eu tinha muita sorte de não estar num orfanato... Talvez fique ainda mais brava por eu não estar lá para ajudar na hora de colocar o bebê para dormir.

Maeve estremeceu com essa possibilidade. Ela se lembrou de quando a mulher puxou sua orelha a ponto de fazer sangrar. Era uma coisa que ela sempre ameaçava repetir.

— Não se preocupe – disse Nico di Angelo, como se adivinhasse seu pensamento. - Não vamos deixar que ela machuque você novamente.

— De verdade?

— Nós prometemos – o doutor Solace assegurou com um sorriso gentil.

Essa era a melhor coisa que Maeve já ouvira em todos os seus dez anos de vida. Ela não sabia como eles fariam isso, mas confiou no que diziam.

— O que acha de passar a noite aqui e amanhã resolvemos isso?

Maeve ficou feliz com a sugestão.

Eles não permitiram que ela lavasse a louça por causa da mão enfaixada, e o quarto ao qual foi conduzida era o lugar mais bonito em que já tinha estado. Gostou especialmente do armário com florzinhas pintadas e da penteadeira cheia de objetos pequenos e coloridos diante de um espelho com moldura branca.

— Uma garota morava aqui?

— Esse era o quarto de Bianca... Minha irmã – disse o Sr. di Angelo.

Pelo olhar dele, Maeve não precisou perguntar onde ela estava. Sentiu-se triste por ele.

— Eu... posso mesmo dormir aqui?

— É claro – ele garantiu.

Ainda assim, a garota estava tímida ao se sentar na beirada da cama.

— Eu peço para a faxineira cuidar muito bem daqui, mas como o lugar esteve sempre fechado no inverno, talvez o cheiro não esteja muito bom...

— Eu acho que o cheiro está ótimo.

Nico di Angelo foi até o armário e pegou uma caixa.

— Bianca mantinha aqui algumas coisas de quando era mais nova. Acho que deve ter alguma roupa de dormir que você possa usar.

— Obrigada.

Na caixa, ela encontrou uma foto que parecia ter sido tirada durante um picnic num jardim. Uma menina mais ou menos da sua idade, com vestido claro e cabelos escuros presos numa trança sorria e tinha os braços em torno de um garoto mais novo à sua frente. O garoto era, sem dúvidas, Nico di Angelo no meio de uma risada.

Maeve apoiou a foto no abajur da mesa de cabeceira e adormeceu observando-a. Sonhou que estava naquele jardim com Nico di Angelo e o doutor Solace, e Bianca dizia que ela podia ficar em seu quarto pelo tempo que quisesse.


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