Bloodlines escrita por Srta Who


Capítulo 4
Capítulo IV




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/704116/chapter/4

Capítulo IV –

Apenas Mais Um Dia

 

Tic Toc, faz o relógio,

E agora, o que vamos fazer?

Tic Toc, faz o relógio,

Com o verão se esvaindo como vamos sobreviver?

            “Tic Toc” O relógio repetia sem nunca parar, como um mantra, ou uma música vinda do próprio inferno.

Tic Toc, faz o relógio,

A manhã vem raiando.

Tic Toc,

O relógio segue tocando.

            Há quanto tempo ele estava acordado? Certamente horas. Mas quantas? Duas? Quatro? Erwin não se atrevia a checar.  

Tic Toc, faz o relógio,

Enquanto os anos voam,

Tic Toc,

Os sons do fim em nossos caminhos ressoam.

            O loiro se revirou pela milionésima vez dando de cara com o Hanji. Adormecida. Tranquila. Perfeita.

Tic Toc, faz o relógio,

O destino é cruel, eu lamento,

Tic Toc, faz o relógio,

Você diz " não se preocupe ainda temos tempo."

Erwin passou seus braços ao redor dela e deitou-a em seu peito sentindo o coração da professora bater lentamente contra o seu que batia num ritmo acelerado. Ansioso. Desesperado. Confuso.

Tic Toc, faz o relógio,

Eu fiz tudo o que podia.

Tic Toc faz o relógio,

Chegou o fim do dia.

            Lágrimas caíram dos olhos dele.

Tic Toc, faz o relógio.

Tic Toc, segue o relógio.

Tic Toc.

Tic Toc.

O sol começou a raiar. Hanji logo acordaria. Erwin usou uma das mãos para secar o rosto. Chorar não adiantaria.

Tic Toc o relógio continua a tocar,

            Ele seria forte. Por Levi, por suas filhas, por Hanji, por Kuchel. Ele seria forte porque não havia outra opção, porque ser forte era tudo que lhe restava.

Tic Toc, no fim do caminho a morte está a nos esperar.

...

—Merda! – Levi murmurou com voz ainda rouca por ter acabado de acordar. Ele levantou levemente o torso tentando sentar, mas não foi muito longe. Suas costas estavam matando-o de dor. Era a mesma coisa. Todas as manhãs eram iguais. O moreno então suspirou fundo e ignorando cada pedido de seu corpo para permanecer deitado e sentou rapidamente, isso o fez deixar escapar um leve gemido. Depois de mais de cinco anos Levi já perdera as esperanças. A chance daquela dor ir embora era tão remota quanto a da televisão finalmente transmitir coisas de qualidade.

            O rapaz fez lentos movimentos circulares com suas omoplatas, ouvindo como resposta altos estalos vindos de suas costas. Ele não se preocupou em correr para fora da cama, sabia que não estava atrasado porque nunca acordava tarde.

            Depois de uns bons cinco minutos fazendo movimentos leves Levi finalmente teve certeza de que podia sair da cama sem problemas. E assim o fez.

            Ele tinha uma rotina um tanto quanto monótona, acordava, sentia as costas doerem, esperava, levantava, limpava seu quarto, comia e ia para a faculdade. Agora que os quatro primeiros tópicos da lista foram finalizados era hora do próximo, que na opinião do moreno era o mais importante de todos.

            Dobrar, esticar, limpar. De novo, e de novo. Dobrar, esticar, limpar. Aquilo lhe causava um bem-estar anormal que ele nunca questionou. Dobrar, esticar, limpar. Estava tudo pronto. Levi agora usava sua ótima visão tentando encontrar qualquer vestígio de sujeira remanescente. Mas a quem ele tentava enganar afinal? O lugar estava cirurgicamente limpo.

            Ele suspirou desapontado, porque apesar da aparente limpeza algo sempre pareceria sujo ou fora do lugar para ele. Chamem de psicose, obsessão, Toc, ou do que quiserem, Levi só odeia sujeira, e isso não é errado... é?

            O jovem continuou com sua rotina, e como – quase – sempre ás 7:30 em ponto ele terminou de guardar a louça, agarrou a mochila e saiu para a faculdade trancando a porta branca do apartamento 221 atrás de si.

            De novo, e de novo ele repetia o mesmo trajeto, andando pelas mesmas calçadas, vendo as mesmas fachadas, e tendo o mesmo céu sobre sua cabeça, de novo e de novo Levi caminhava, de novo e de novo andava pelos mesmos corredores, de novo e de novo, entrava na mesma sala, de novo e de novo... não, dessa vez, havia algo novo.  

Dessa vez havia alguém cuja face destoava entre os poucos rostos familiares que já ocupavam as cadeiras, dessa vez havia a garota morena. “Qual é mesmo o nome dela? ” Ele questionou mentalmente ao vê-la sentada olhando pela janela. “Mi... Milli? Marry? Mika... alguma coisa.... Mikasa! ” O rapaz lembrou. 

—Bom dia. – Ele cumprimentou com sua habitual estoicidade enquanto sentava na cadeira a frente dela.

—Bom dia. – Mikasa respondeu com o mesmo tom. “Ótimo, ao menos não é do tipo tagarela” Levi agradeceu mentalmente enquanto tirava de dentro da bolsa seu caderno de esboços e uma lapiseira.

O rapaz começou a rabiscar em traços grossos e sombrios objetos aleatórios, uma chave, livros, um par de espadas e olhos derramando lágrimas de sangue sobre as últimas. A garota atrás dele arqueou uma sobrancelha, curiosa com a peculiaridade dos esboços.   

—Você desenha bem. – Mikasa comentou. A voz dela pareceu estranha aos ouvidos de Levi, não era aguda como a voz de uma garota de sua idade deveria ser.

—É um dos requisitos do curso. – Ele respondeu sem dar muita importância, não era a primeira vez que ouvia aquilo.

—Não, o requisito é desenhar. Desenhar bem é algo completamente diferente.

—Pode ser.

            Ele podia sentir que a morena se inclinava na cadeira para observa-lo. Isso o fazia desconfortável.

—Pode parar com isso. – Levi murmurou não querendo chamar atenção falando alto.

—Parar com o que?

—Não precisa ser legal só para pedir desculpas. Eu realmente não me importo se você sente muito por ontem ou não. – Disse sem nunca tirar os olhos dos traços que desenhava no caderno.

—Eu não estou tentando parecer legal. – A outra respondeu. – Mas talvez você devesse tentar. – Ela sussurrou para si mesma parando de olhar o que o moreno desenhava.

            O rapaz ouviu, mas fingiu que não. Não era a primeira vez que davam a entender que o acharam rude, e sinceramente Levi não conseguia entender como as pessoas ainda tentavam manter uma conversa com ele, será que não conseguiam ver o gigante “ eu não quero conversar” estampado em seu rosto?

—Não me diga que já está assustando a aluna nova?! – Isabel gritou da porta o que fez com que todos os que já estavam na sala olhassem para os dois.

—Que ótimo. – Levi grunhiu.  

            Isabel correu até eles enquanto Farlan, que vinha logo atrás dela andou calmamente com um sorriso amarelo, envergonhado pela amiga.

—Você poderia gritar mais alto, cabeça de fogo. Acho que as pessoas do outro lado da rua ainda não te ouviram. – Levi disse guardando seu caderno de volta na mochila.

—Não se importe com o meu irmão aqui! – Isabel disse olhando para Mikasa. – Ele é assim no começo, mas quando você o conhece ele... é igual. – A ruiva completou rindo.

—Não me parece animador. – A morena comentou. Isabel deixou Levi de lado e engatou uma conversa com a outra garota, o que deu a Farlan uma deixa para se virar e conversar com o amigo.

—E então? Como ela está? – O loiro perguntou. Levi suspirou.

—Bem. – Ele respondeu. – Está em observação. Eu e Erwin vamos busca-la mais tarde.

—Então por que você ainda parece preocupado?

—Ela é minha mãe é minha obrigação estar preocupado. – Aquele não era o mesmo tom que usara com Mikasa ou com Isabel. Levi não conseguia manter sua postura austera quando se tratava de sua família.

            Farlan lançou lhe um sorriso. Bem diferente do rígido de Erwin, ou do amoroso de Kuchel. Era como um “vai ficar tudo bem, cara” e por mais que seus instintos insistissem em discordar o coração de Levi queria acreditar naquele sorriso.

            Os dois conversaram mais um pouco sobre assuntos aleatórios, como todos os outros alunos faziam.

—Que estranho. – Levi comentou enquanto Farlan morria de rir de algo que o moreno contou.

—O que é estranho? – Ele perguntou ainda sentindo o estomago doer pela longa gargalhada.

—A senhora Marlene já deveria ter chegado a essa hora.

—Você não soube? Ela foi convidada para trabalhar na capital do distrito vizinho. – O moreno arqueou uma sobrancelha. – Eu te mandei uma mensagem ontem. – Farlan encarou o amigo por um segundo antes de balançar a cabeça em reprovação. – Sinceramente, Levi, não entendo porque você tem um celular, você nunca usa aquela droga.

            Levi apenas sorriu com a indignação do loiro.

—Ei, maninho! – Isabel chamou atrás deles.

—O que foi?

—Mikasa acha que você não gosta dela. – A morena ao lado de Isabel arregalou os olhos.

—Eu não a conheço. E não confio, ou gosto de quem não conheço. – A ruiva fez uma careta.

—É por isso que está sozinho. – Ela retrucou mostrando a língua.

—Que estranho, porque não vejo a fila de homens atrás de você.

—Eu teria uma se quisesse, não é Farlan? – Rapaz suspirou e concordou com a cabeça.

—Viu?! - Levi deu os ombros e voltou o rosto para o loiro novamente. Ele estava prestes a dizer algo quando Farlan o interrompeu.

Nem uma palavra.

            Uma hora mais tarde o professor seguinte chegou, e pediu desculpas em nome da universidade pelo período vago e avisou que a instituição já estava buscando por um substituto para a senhora Marlene. Ele deu boas vindas a Mikasa e deu sua aula normalmente e os professores seguintes fizeram o mesmo até a hora da saída.

            Levi voltou ao hospital, levou sua mãe para casa com Erwin e foi trabalhar, afinal, aquele era só mais um dia, igual aos outros, mais uma quarta-feira onde ele rumaria à joalheria onde trabalhava, mais uma quarta feira onde ele voltaria para casa e se intrigaria os desenhos bizarros que fizera, mais uma quarta feira onde sentaria para tomar chá com sua mãe depois do jantar, mais uma quarta-feira quando ele teria de ficar completando a centena de trabalhos que foram incumbidos de fazer, mais uma quarta feira onde ele ficaria acordado até Kuchel aparecer na porta de seu quarto avisando que já passava da 1:00 da manhã. Aquele era só mais um dia na vida de todos, e como qualquer outro dia este terminaria assim que Levi deitasse para dormir só para acordar com aquela horrível dor nas costas e começar tudo de novo na manhã seguinte.

 

 

 

 

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Bloodlines" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.