Bloodlines escrita por Srta Who


Capítulo 3
Capítulo III




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Capitulo III

Pontos Fracos.

—E então? Vocês ainda não me responderam. – Levi disse sentados aos pés de Kuchel cruzando os braços em frente ao peito. – O que aconteceu com você? – Erwin se mexeu desconfortável na cadeira.

—Estres. – Ela respondeu rapidamente com um sorriso amarelo.

—Tsc. Eu já não disse para parar de estressar por causa daqueles pirralhos?

—E eu já não disse para não falar assim de meus alunos? Não é porque você já é um homem que não posso lhe dar uns puxões de orelha.

Todos têm pontos fracos, mesmo que não gostemos de admitir é a mais pura verdade. O de alguns é medo, o de outros, amor, o de poucos a polícia. Kuchel tinha três: Erwin, Levi e seus alunos. A professora do primário, assim como todos os outros professores do planeta, nutria um amor especial por seus pupilos e não suportava que ninguém, ainda que esse alguém fosse Levi, os chamasse de pirralhos ou qualquer coisa do gênero.

—De qualquer forma. – Levi desviou seus olhos dos de sua mãe esquivando-se da desaprovação que estampava o rosto da mulher. – Erwin concorda comigo quando digo que você trabalha demais. Não é? – O mais velho limitou-se a dar um discreto aceno de cabeça.

—Eu sei o que estou fazendo. – Ela retrucou emburrada.

            Nos cerca de cinco minutos que se seguiram a conversa morreu, nenhuma miséria palavra fora trocada. Não que eles se importassem, é claro. Na verdade, era assim que passavam boa parte do tempo juntos. Em silêncio.

            Isso, no entanto, não queria dizer que nãos gostassem da companhia uns dos outros, eles apenas formam uma família peculiar. O tipo de família que se entende melhor sem palavras, porque seus diálogos geralmente geram algumas caras emburradas.

Qualquer um que pudesse vê-los ali, sentados naquele leito perturbadoramente branco, tendo suas próprias respirações como único som a chegar até seus ouvidos e evitando cruzar olhares pensaria que Erwin, Kuchel e Levi se odeiam, mas o que nenhum observador poderia deduzir é que a verdade é justamente o oposto. Apesar de tudo aqueles três estavam muito felizes por estarem juntos. Eles se amam, como qualquer outra família. Afinal é isso que eles são, uma família qualquer, num hospital qualquer, numa cidade qualquer, lidando com seus problemas quaisquer.

A quietude instaurada no cômodo foi rasgada pelo barulho ríspido da porta de correr sendo aberta. Os três voltaram seus olhares para a cabeça loira que surgiu por trás desta.

—Com licença. O horário de visitas acabou. – A enfermeira anunciou.

—Visitas? Ela não pode ir embora conosco? – Levi questionou franzindo o cenho.

—Infelizmente a paciente ficará em observação esta noite. Se tudo correr bem ela receberá alta amanhã. – O moreno abriu a boca para questiona-la, mas antes que pudesse emitir qualquer som a loira vestida de branco retrucou. – Procedimento padrão. Vocês têm cinco minutos. – O rapaz bufou pelo nariz quando ela voltou a fechar a porta.

—Voltaremos para te buscar amanhã. – O moreno levantou-se da cama. –Nunca mais. – Ele murmurou. Kuchel estranhou. –Nunca mais me assuste daquela forma. – Completou. Sua mãe riu.

—Eu também te amo. – O moreno sorriu, era a segunda vez aquele dia. Batera seu recorde.

Em seguida Erwin deixou a poltrona e pressionou um beijo na testa dela, sendo cuidadoso o bastante para não atingir o círculo arroxeado em sua testa que contrastava duramente com a pele alva de Kuchel.

—Descanse. E não se preocupe, cuidarei de Levi. – O loiro murmurou. – Até o ultimo dia de minha vida.

—Obrigada, filho. – Ela respondeu emocionada.

            Erwin se juntou a seu irmão que já o esperava no corredor. Ele acenou mais uma vez para a mulher sentada na cama e fechou a porta.  

            O som foi seco, e perturbador. Agora Kuchel estava a sós com seus pensamentos. Seus filhos, a quem se doara completamente, se foram.

            A solidão que lhe fora imposta a fizera perceber que aquela doença não era o pior de seus problemas. Ela não se importava nem um pouco de morrer. Pois sabia que, assim como todos, nascera fadada a perecer e estava pronta para isso. Mas e quanto a seus filhos? Estavam prontos para viver sem ela? Para lidar com a dor da perda? Kuchel ainda conseguia lembrar vividamente de como fora a dura a perda de seus pais, de como chorara por dias a fio, do quão difícil fora ter de recomeçar toda sua vida sem as pessoas que mais a amaram.

            Como qualquer outra mãe, de qualquer outra família, ela fizera coisas que nunca imaginara ser capaz, apenas para proteger seus meninos, apenas para evitar que qualquer dor os alcançasse, mas dessa vez não havia nada a ser feito. E a dura realidade lhe apertava o peito.

E então, sozinha em seu leito de hospital, Kuchel sentiu lágrimas gélidas e silenciosas escorrerem por sua face.  

...

—Levi. – Erwin chamou quando ele andava em direção a saída. – Não quer uma carona? – O moreno deu os ombros e esperou seu irmão para continuar a andar.

Silenciosamente os dois dirigiram-se ao estacionamento subterrâneo do hospital. E assim permaneceram até o final do trajeto, ambos tão profundamente imersos em seus próprios pensamentos que se quer se davam conta da presença um do outro.

            Ao chegar ao prédio, o qual dividira por anos com sua mãe e seu irmão, o mais velho despediu-se do moreno e deu a volta em seu carro. As ruas estavam praticamente vazias, o que fez Erwin agradecer mentalmente, a última coisa que precisava no momento era pegar trânsito, tudo o que ele queria era chegar em casa e pôr os pensamentos em ordem, se é que isso era possível depois de um dia como esse.

            Afinal, o que fizera o delegado para merecer aquilo? Seria ele um demônio tão cruel ao ponto de merecer tal castigo? Como podia o destino ser tão frio para com ele sua família? Erwin não entendia o porquê daquilo está acontecendo, e por isso perguntas como aquelas lhe enxiam a cabeça enquanto as rodas de seu veículo deslizavam pelo asfalto lamacento, guiando-o o mais rápido possível para seu lar, sua família, sua segurança, sua razão, a outra parte de seu tudo.

            Uma curva depois da outra, mais subida de rua, outra curva, mais pensamentos, mais vontade de estar nos braços de sua mulher.  

Agora, longe do centro, faltavam poucos minutos e um nova dúvida lhe invadiu a mente. Será que ele deveria contar a verdade a Hanji ou a suas filhas? Não. Às meninas definitivamente não. Elas eram muito jovens para lidar com isso. E Hanji? Ele deveria lhe contar? Seria essa a coisa certa a fazer? Antes mesmo de chegar a uma resposta Erwin percebeu que seu caminho chegara ao fim. Ele estava em casa.

            O delegado estacionou o carro em frente a garagem e cruzou o gramado ainda branco de sua casa no subúrbio. Erwin parou de frente para a porta branca com vidros retangulares por toda a volta. O loiro sorriu, como sempre sorria ao parar e observar os belos detalhes da peça de madeira que fora escolha de seu irmão mais novo. Ele tinha de admitir, Levi tem bom gosto. O homem agarrou a chave dourada no bolso do sobretudo negro que usava e entrou em casa.

            Antes dele se quer ter a chance de anunciar sua chegada pode ouvir gritinhos de alegria vindo em sua direção, mais conhecidos por ele como Lilian e Isabelle, suas filhas gêmeas.

—Papai! – Ambas exclamaram com extremamente felizes. Por um segundo ele apenas as observou se perguntando como elas se sentiriam quando ele morresse. Será que sentiriam metade da dor que o atormentava nesse momento? Será que sentiriam os olhos arderem e um nó se formar na garganta ao olharem para seus próprios filhos? Erwin esperava que não.

—Oi, queridas. – Ele disse pegando-as nos braços e dando um beijo na bochecha de cada uma delas. O rosto das duas rapidamente sumiu da vista de Erwin quando elas o abraçaram pelo pescoço deixando à mostra apenas as cabeleiras loira e morena. Era fácil notar o quanto as pequenas eram apegadas ao pai.

—Amor, você demorou. – Hanji disse aproximando-se dos três e dando um beijo carinhoso no marido. –Como está sua mãe?  

—Bem. Ela está bem. – Mentiu o loiro.

—Que ótimo! E o nanico do seu irmão? Continua com aquela cara azeda de sempre? – A morena questionou com um brilho cruel transparecendo pelas grossas lentes de seus óculos ovais. Porém seu marido não sorriu, ou reprimiu sua piada maldosa, ele apenas continuou a olhar para algum ponto acima dos ombros dela. Para o branco vazio da parede a sua frente. –Ei, Erwin, você está me ouvindo?

—Hm? O que?

—Você está bem?

—S- Sim. Só estou um pouco cansado. Sabe como são os hospitais. – Ela ainda parecia desconfiada. É claro que sim. Aquela mulher conseguia lê-lo como um livro aberto. Se Erwin estava planejando mentir para ela teria de se esforçar um pouco mais. – Eu estou bem, amor. É só cansaço. As meninas acreditam em mim, não é? – As duas balançaram a cabeça positivamente. – Viu?

—Elas não contam. – Hanji reclamou. – Diriam qualquer coisa que você pedisse.

—Não é verdade.

            Aquela pequena discussão iria longe. Era típico dos quatro ter esse tipo de conversa ao menos uma vez por dia.

            Hanji o tirava do sério. O que não era necessariamente ruim. Ela, e aquela personalidade estranha, acalmavam seu coração e sua mente turbulentos de uma forma inexplicável.

E isso torna Hanji um dos pontos mais fracos que Erwin carrega no coração. O amor que tem pela professora universitária é quase uma cicatriz em seu ser. Uma cicatriz que doí e não se sente, pois ele está sempre muito ocupado admirando-a para sentir qualquer coisa que não seja felicidade.

...

            Levi pendurou a bolsa no cabideiro da sala de estar e se jogou no sofá esfregando os olhos pesados de sono. Ele só podia pensar no quão aliviado estava por aquele dia infernal finalmente estar chegando ao fim e também por saber que sua mãe estava bem.

            A maioria de seus colegas de turma, que o viam como a personificação da frieza, jamais imaginariam ver o inabalável Levi naquela situação, sentado no sofá, com as mãos cobrindo os olhos, completamente exausto, mas ainda assim esboçando um mínimo sorriso. Porque apesar de tudo, ele tinha motivos mais do que suficientes para justificar sua felicidade. A pessoa que mais amava nesse mundo estava bem. Ao menos por enquanto ele podia permitir-se o pequeno luxo de se sentir feliz, de sorrir.


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