Sinais escrita por Pietro


Capítulo 2
Capítulo 2




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Um, dois, três, quatro, cinco. Mary já não sabia exatamente quantos dias estava vivendo naquela situação. Só tinha certeza de que haviam se passado três dias.
 No primeiro dia o terror era constante. Ela ficava imaginando quem eram os responsáveis por tudo aquilo e o que eles queriam com ela. Amarrada à mesma cadeira, eles davam comida em sua boca. No primeiro dia ela recusou, mas no dia seguinte foi obrigada a aceitar pois a fome estava lhe deixando fraca.
 No segundo dia eles a desamarraram mas antes limparam o porão. Tiraram qualquer coisa que ela pudesse usar para quebrar as paredes ou tentar subir para alcançar a única janela que ficava no alto. No mesmo dia eles lhe deram um pequeno colchão e algumas roupas. Um balde pequeno havia sido entregue com o comunicado: "esse é seu banheiro agora".
 Durante todo o tempo que se seguiu ela ficava deitada no colchão posicionado bem abaixo da minúscula janela para olhar a mudança do céu. O azul ao amanhecer; o laranja ao entardecer; o preto ao anoitecer. Tentara dormir mas era impossível. Não se sentia segura para isso e tampouco confortável.
 Perdendo a noção do tempo, Mary andava de um lado para o outro. Nunca havia percebido como o porão era pequeno. A sensação claustrofóbica a deixava desnorteada.
 Mary estava olhando pela janela quando a porta se abriu. Um homem desceu as escadas carregando uma bandeja. Nela havia um copo com leite, pão com manteiga e fatias de mamão.
— Não queremos que você morra de fome. — Ele disse como se estivesse falando com seu animal de estimação. Mary correu para pegar a bandeja e rapidamente colocou o pão e algumas fatias de mamão na boca. O gosto preencheu sua boca e ela ingeriu com satisfação. Parecia que nunca havia comido aquilo antes — estava mais saboroso, a fruta era mais suculenta. Bebeu todo o leite do copo sem fazer pausas e respirou fundo. O homem ficou todo o tempo na mesma posição e depois pegou a bandeja. Mary já havia notado a diferença entre os dois homens que a mantinham presa já que seus rosto eram coberto por máscaras. Um era alto, musculoso e vestia roupas pretas. Ele fora quem a colocou ali no primeiro dia. Sua voz era mais grave e ele parecia sempre impaciente. Este que estava presente era mais baixo, porém tão musculoso quanto o outro e sua voz também era decidida; ele podia ser mais calmo mas ela não queria testar sua paciência. Vestia uma camisa azul marinho lisa e calças jeans e ela podia ver metade da tatuagem que escapava por debaixo da manga da camisa em seu braço direito.
— Hora de fazer vídeo! — Ele disse pegando Mary de surpresa.
— C-como? — Mary tentou dizer, sua voz embargada pelo medo que crescia dentro dela.
— Vídeos. Não é isso que você faz?
Ela assentiu com dificuldade.
— Vou levar você lá para cima mas antes vamos às regras: Se você gritar, morre. Se tentar fugir, correr ou até mesmo se esconder, prenderei você de cabeça para baixo com a cabeça dentro de um balde cheio de água. Ou seja: você morre. — Disse com a mesma naturalidade que uma criança pede um doce em uma loja.
 Aquelas palavras deixaram Mary assustada. Ela acabara de conhecer o homem por trás da máscara — e ele mais cruel do que imaginara. Mary já havia trassado um plano do que faria caso tivesse a chance de escapar do porão mas agora estava tão assustada que desconsiderou. Não teria chance contra ele e sabe-se lá se a casa não estaria cheia de armadilhas.
— Agora seja uma boa menina. — Ele disse com uma voz menos amedrontadora, liberando o caminho para que ela passasse.
 Mary subiu as escadas em silêncio enquanto ele andava atrás dela. Pensar em qualquer plano de fuga agora seria estupidez. Com seus pés descalços ela pisou novamente em sua casa, no piso gelado. A sensação de que estava segura novamente logo a tomou — mas a deixou logo em seguida.
 Um homem apareceu fazendo o coração de Mary acelerar. Ela não havia o visto até aquele momento.
— Está tudo bem. — O que a acompanhava disse para o recém chegado que não tirava os olhos de Mary. Diferente dos outros dois, ele usava uma máscara sinistra de caveira e não de palhaço. Suas roupas pareciam velhas e seu coturno estava sujo de barro.


 Eles deixaram Mary comer o quanto quisesse. "Não podemos deixar sinais de que ela passa fome" sussurrou um dos homens. Após comer eles decidiram que ela iria tomar banho. Ela relutou quando eles disseram que entrariam no banheiro com ela e quase gritou naquele momento. O homem que chegara recentemente ergueu sua mão fazendo os demais ficarem em silêncio.
— Ok. — O outro disse após o gesto do parceiro. — Você pode tomar banho sozinha.
 O recém chegado ficou o tempo todo de braços cruzados encostado na parede observando tudo. Pelo respeito que os outros pareciam ter com ele, Mary deduziu que ele era o chefe e que talvez fosse mudo. Ao passar por ele, Mary sentiu um calafrio e algo chamou sua atenção. Era como se ela já houvesse cruzado com ele antes. Pensou que os dias presa estavam mexendo com sua cabeça.

 
  Mary foi foi ao seu quarto e pegou o que precisava — uma toalha limpa, roupas íntimas, uma blusa e calças. A temperatura havia caído durante a madrugada e ela estava começando a sentir frio. Foi em direção ao banheiro enquanto os homens andavam atrás dela. Ela demorou um segundo parada na porta imaginando que aquilo tudo podia ser uma armadilha. Talvez estavam esperando ela entrar e ficar nua para abusarem dela.
— Ande logo! — Um deles disse.
 Mary então seguiu andando com os passos arrastados até entrar no banheiro. Logo a porta se fechou atrás dela e ela pôde ouvir a chave entrando na fechadura. Estava presa no banheiro. Precisou respirar fundo para controlar o pânico que crescia dentro dela. Eles poderiam ter a trancado ali dentro para colocar fogo na casa. "Se o plano fosse matar você, teriam feito isso no primeiro dia" — ela pensou.
 Quando entrou para baixo da água quente, Mary sentiu uma sensação de alívio como há dias não sentia. A água escorria pelo seu corpo e ficava preta por conta da sujeira e poeira que esteve exposta. Mary tomou um longo banho e nenhuma voz surgiu para apressá-la. Desligou o chuveiro e vestiu a blusa de cor azul turquesa e a calça.
— Estou pronta. — Ela disse aproximando-se da porta que se abriu segundos depois.
— Uau! — Um deles disse. — Você deveria gravar outro tipo de vídeo.
Mary quase vomitou ao ouvir aquilo. Ela percebeu que ele estava segurando uma câmera — que não era sua.
— Podemos começar? — Ele perguntou. Mary fez que sim com a cabeça.
— Querem que eu fale sobre o quê? — Ela perguntou mesmo não sabendo se perguntas eram uma boa ideia.
— Qualquer coisa. Só precisamos que você apareça e mostre que está tudo normal. Não queremos que ninguém sinta sua falta. Mary assentiu. Não podia negar que era um bom plano. — Só seja você. Seja o mais normal possível.
 Após gravar um vídeo como outro qualquer cujo o assunto era moda, eles mandaram ela anotar a senha de todas as suas redes sociais e a fizeram ficar ao lado deles enquanto acessavam para ter certeza de que ela não havia mentido.
 O celular de Mary tocou no outro cômodo deixando todos alarmados.
— Vai. — Disse um deles para o outro que levantou e foi buscar o celular. A música da banda The Smiths ecoava pela casa.
— Josh. — Disse ao entregar o celular para seu parceiro.
— Josh Dylan Clarkson. Nasceu no dia 8 de agosto de 1993. Atualmente mora sozinho em um apartamento na West Village em Nova Iorque.
 Mary ficou espantada com o conhecimento que aquele homem tinha sobre seu irmão.
— Entendeu? Se você fizer qualquer tipo de gracinha, não é só você que irá pagar. Pense na pobre Shelby, perdendo os dois filhos ao mesmo tempo.
Mary engoliu em seco. O homem atendeu a chamada e colocou em viva voz, e em seguida entregou o celular para Mary.
— Que demora! Ocupada? — Josh perguntou.
— O-oi, Josh. Eu-eu estava no... Ãn... Estava no banho.
— Mary, você está bem?
 Por um segundo ela sentiu vontade de gritar "me ajude" mas logo pensou na frieza com que aqueles homens agiam. Não poupariam Josh caso ela tentasse algo.
— Estou sim. Só... hm... Um pouco resfriada. — Inventou e rapidamente tossiu de um jeito tão forçado que não convenceu nem a si mesma.
— Quer que eu passe aí? — Josh perguntou como o irmão preocupado que sempre fora.
— Não! — Ela disse um pouco alto demais. Os homens se entre olharam e ela imaginou o que aquilo lhe causaria.
— Tem certeza? Posso passar na farmácia, levar alguns remédios.
— Não precisa. Eu-eu vou deitar. Só estou um pouco... Fraca. — Mary tinha dificuldade em inventar mentiras. Nunca fora boa e por isso sempre preferiu dizer a verdade — mesmo que isso lhe causasse problemas.
— Tudo bem então. Nos vemos em breve.
 Josh desligou e Mary fechou os olhos esperando o que aconteceria. Seu corpo todo tremia, como se estivesse caminhando em meio à neve.
— Bom trabalho. — Um deles disse tomando o celular de suas mãos. — Mas da próxima vez tente ser mais convincente. — completou.
 Mary assentiu enquanto uma lágrima escorria em seu rosto. Ela não conseguia acreditar que tudo aquilo estava acontecendo com ela. Parecia que a qualquer momento iria abrir os olhos e acordar em sua cama. O edredom cor de rosa choque cobrindo seu corpo enquanto ela se espreguiça e levanta. Sua mãe estará na cozinha e sorrirá para ela ao dizer que fez waffles para o café da manhã. E logo Matt cruzaria a porta, indo direto até ela e a beijando. Porém foi só ela ter sido jogada no porão novamente que a realidade despencou sobre seus ombros.

 


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Notas finais do capítulo

A princípio o próximo capítulo não será postado semana que vem. Caso não seja, será postado muito em breve. Aguardem!



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