Sinais escrita por Pietro


Capítulo 1
Capítulo 1




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 O relógio na mesa de cabeceira marcava 9h15. Os números vermelhos pulsando estavam a deixando nervosa. Respirou fundo antes de levantar a tampa do notebook mais uma vez. Em seguida ligou a webcam.
— Olá, pessoal. Eu sou a Mary e no vídeo de hoje...
— Olá, pessoal. Eu sou a Mary e blá blá blá.
 Disse uma voz a interrompendo.
— Josh! — Mary advertiu para seu irmão mais velho que entrou em seu quarto e se jogou na cama que ela havia acabado de arrumar.
— Você pode fazer isso outra hora. — Josh disse despreocupado.
— Não, eu tenho que postar isso ainda hoje. — Ela diz virando-se para encarar a câmera novamente.
— Me desculpe por querer vir me despedir da minha irmãzinha.
— Você já está indo? — Ela perguntou virando-se para ele.
— Estou. — Responde Josh. — Algumas pessoas tem uma profissão de verdade.
 Mary revirou os olhos.
— Eu tenho uma profissão de verdade.
— Fazer vídeos para adolescentes mimadas?! — Diz Josh em tom de gozação. — Você sabe que estou brincando. Bem, tenho que ir. Até breve!
— Você quer dizer até amanhã! — Mary diz quando ele atravessa pela porta. Josh morava em uma cidade vizinha à dela mas sempre aparecia para lhe visitar. Ao mesmo tempo que era bom, Mary sentia como se ele quisesse a vigiar e não confiasse que ela pudesse morar sozinha.
 Mary prendeu os cabelos em um rabo de cavalo antes de dar início à gravação. Ela usava uma blusa azul e shorts jeans e sentia-se em casa — literalmente. Se tivesse um emprego real, como havia sugerido seu irmão, a esta hora estaria com outro tipo de roupa e correndo atrás de um táxi. Pensar nisso a motivava a seguir com a vida de youtuber.
 Mary havia começado a postar seus vídeos há quase dois anos. Seu canal chamado Glam hour já ultrapassava a marca de 1 milhão de inscritos e seus vídeos eram sobre looks fashion e há pouco começara a dar dicas do que fazer quando seu namorado termina com você. A ideia surgiu quando uma de suas amigas pediu para ela mandar vídeos do look que iria para a faculdade no dia seguinte. Sua amiga mandou esse vídeo para uma amiga que mandou para uma amiga e logo a faculdade já conhecia Mary Jane. No início foi um pouco constrangedor mas assim que ela viu o número de likes e comentários positivos se sentiu confiante e em pouco tempo ela já estava acostumada com a vida de youtuber. Alguns meses depois ela decidiu que não iria continuar fazendo faculdade e passou a dedicar seu tempo para o seu canal e os seus fãs que sempre estavam ávidos por novidades.
 Assim que terminou de gravar o vídeo e salvá-lo para editar e postá-lo mais tarde, Mary levantou-se e foi ao banheiro. Aproximou-se do espelho e encarou seu reflexo. Os cabelos loiros e a pele branca que parecia nunca ter visto a luz do sol, as faziam sentir como se fosse uma boneca Barbie. Seus olhos azuis haviam sido realçados por um lápis preto. Embora poucas vezes admitisse, Mary sentia-se bonita. Mas o mais importante para ela era se sentir confiante e passar isso para as meninas que se inspiravam nela. Ela era uma inspiração para milhares de jovens e isso era soava surreal.
 Seu celular tocou e Mary se apressou em atendê-lo. Era sua mãe, Shelby.
— Oi, mãe. — Ela disse assim que atendeu.
— Oi, filha. Como estão as coisas? Josh está aí?
 Assim era sua mãe: mal acabara de fazer uma pergunta e já emendava em outra.
— Não, ele já foi embora.
— Eu tentei ligar para ele mas ninguém atende.
— Ele saiu não faz muito tempo.
— Fico mais aliviada. — Diz Shelby. — Mas como estão as coisas com você? O que fará hoje?
— Está tudo bem. Estou indo encontrar o Matt.
— Faz tempo que não o vejo. Ele continua na faculdade?
— Sim. — Respondeu Mary prevendo o que viria a seguir.
— Fico feliz, uma pena ele não ter convencido você a fazer o mesmo.
 Shelby ainda não havia aceitado o fato de que ela havia desistido da vaga na NYU para se tornar uma "garota que faz vídeos" — como sua própria mãe a chamava.
— Vai mesmo tocar nesse assunto?
— Não está mais aqui quem falou.
— Ok. Eu tenho que ir, ligo para você mais tarde.
— Tudo bem.
 Mary se despediu e desligou a ligação, pronta para começar a se arrumar.

 

— Eu já estava pensando que você me daria um bolo e eu descobriria o porquê no seu próximo vídeo. — Disse Matt quando Mary se aproximou da mesa em que ele parecia estar sentado há horas.
— Háhá. Muito engraçado. — Ela disse largando sua bolsa e sentando-se em sua frente. As piadas com a vida de youtuber de Mary eram constante. "Se tal coisa acontece você fará vídeo" era o que diziam para ela o tempo todo!
— Como você está?
— Bem. Um pouco cansada. Ontem à noite eu fiz um Q&A.
— Interessante. Eu passei a noite lendo sobre leis e mais leis. — Diz Matt como se aquilo não importasse.
— Oh! Não tenho culpa se você optou pela profissão mais complicada que existe.
 Matt finge estar ofendido.
— O que você tem contra advogados, garota?! — Os dois riem e ela se inclina para beijá-lo. O gosto de cappuccino entrega Matt imediatamente.
— Então você se adiantou e tomou seu café sem mim?!
 Matt sorri maliciosamente sabendo que Mary não ligava para aquilo como tentou fazer parecer. E era exatamente isso, essa simplicidade e dificuldade de tirá-la do sério que fez ele se apaixonar por essa garota que muitos classificam como patricinha no dia em que se conheceram na faculdade.
 A tarde dos dois fora agradável como de costume. Matt contou à Mary sobre como estavam as coisas na faculdade e ela comentou sobre não ter aprendido a fazer panquecas — pois evitava falar sobre seus vídeos ou o sucesso de seu canal para não parecer egocêntrica — enquanto eles bebiam café e comiam donuts.
— Eu te dou uma carona! — Disse Matt quando eles saíam do café, pouco antes das sete horas.
— Não, você já fez muito por ter vindo até aqui. Vá para casa e descanse. — Diz Mary .
— Mas eu não quero você andando sozinha e...
 Mary o cortou levando seus lábios de encontro aos dele.
— Isso não é justo. — Reclamou Matt sorrindo.
— Vá para casa. Por favor.
 Matt olhou dentro dos olhos azuis de Mary e naquele momento ele se sentiu quase hipnotizado por sua beleza. Ela era linda.
— Você venceu. — Ele diz finalmente.
— Eu sempre venço.
 Matt dá um sorriso e vai em direção ao seu carro que estava estacionado do outro lado da rua. Mary o observa enquanto ele passa por ela e desaparece ao virar a esquina. Uma fã abordou Mary e pediu que tirasse uma foto com ela.

 
 Chegando em casa, vinte minutos depois, Mary se atirou em sua cama. O trajeto a pé havia acabado com suas energias e tudo o que ela queria era tomar um longo e bom banho e depois assistir algo na Netflix. Porém ela tinha um vídeo para postar. Antes de levantar ela respondeu a mensagem que Matt mandado há dez minutos atrás.

Acabo de chegar em casa.

Cheguei agora. - Enviou Mary em resposta.

 Parecia que Matt não responderia tão cedo então ela foi adiante com seus planos para a noite. Ligou seu notebook e o colocou em seu colo. A edição do vídeo lhe tomou quinze minutos e agora ela estava faminta. Postou o vídeo em seu canal e foi até a cozinha onde encontrou a metade de um hambúrguer na geladeira e deu uma mordida, se satisfazendo de imediato. A campainha tocou e Mary colocou o hambúrguer sobre a bancada e limpou a boca enquanto caminha até à porta. Ao abri-la ela sentiu um grito sair de sua boca quando um homem mascarado invadiu sua casa e logo outro apareceu cobrindo sua boca com um pano e segurando seus braços com força. Ela tentou gritar e se debater até que foi ficando sonolenta e apagou.

 

 As pálpebras de Mary pareciam pesadas quando ela acordou. O choque ao perceber que estava no porão de sua casa, amarrada em uma cadeira e amordaçada, foi imediato.
 Ela tentou gritar desesperada mas era inútil; ela estava presa e impotente àquela situação. As luzes do porão estavam apagadas e a única iluminação vinha da pequena janela do teto. Todo seu corpo tremia e ela se perguntava o que estava acontecendo. Será que havia pegado no sono no instante que deitou na cama e isso era um pesadelo. Tudo parecia muito real.
 A porta se abriu lentamente e um homem alto e corpulento entrou vestindo roupas pretas e uma máscara de palhaço. Mary começou a gritar e a se contorcer na cadeira a cada passo que ele dava em sua direção. O homem colocou a mão por trás do pescoço dela e arrancou a mordaça. Mary gritou o mais alto que conseguira.
— Cale a boca! — O homem disse, parecendo impaciente.
— Me tirem daqui! Socorro! — Mary gritou em meios às lágrimas.
— Se você não calar a boca será tudo muito pior. — ele disse ameaçando-a.
— Socorro! — Ela gritou novamente.
 O homem puxou o cabelo de Mary com força o que a fez soltar um grito de dor.
— Está sentindo isso? Vai ser muito mais doloroso se você não ficar quieta!
Mary entendeu a ameaça e não abriu mais a boca. Ela não conseguia parar de chorar e tremer e seu corpo doía preso à cadeira.
— O-o que você quer? — Mary conseguiu perguntar após alguns minutos de silêncio. Sua voz estava fraca por conta dos gritos.
 O homem riu.
— Você vai ver. Muito em breve. — Ele respondeu e voltou a amordaçar Mary antes de sair.
 Ela estava em pânico. Sentia como se pudesse sentir sua morte se aproximando, tocando-lhe a face, sussurrando em seu ouvido. Medo não era nada perto do que ela estava sentido.


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