Sinais escrita por Pietro


Capítulo 3
Capítulo 3




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─ O-oi, eu sou a Mary Jane e eu vim aqui, ã... Para pedir ajuda.
  A voz de Mary sumiu naquele momento. Sua vontade era de dizer apenas aquilo e não continuar com o roteiro que havia recebido naquela manhã. Olhando para os homens mascarados à sua frente ─ um deles com uma arma na mão ─ ela se sentiu desolada.
─ Para escolher o melhor vestido. ─ Disse antes de uma lágrima escorrer por seu rosto deixando um rastro por causa do rímel.
─ Não, não, não. Você acha que temos o dia todo?! ─ Disse o homem que estava encarregado de segurar a câmera. Eles estavam gravando no jardim da casa de Mary, coisa que ela havia feito inúmeras vezes. Fora uma decisão complicada para saber se não correriam nenhum risco levando-a para fora de casa. O jardim era grande e coberto por árvores. Um muro maior havia sido construído na época em que a fama chegou e Mary se tornou uma pessoa pública. Buscando privacidade ela optou por uma casa mais segura ─ o que com certeza ajudava em seu cárcere privado.
─ Comece de novo.

Mary respirou fundo e tentou ao máximo pensar em algo que a fizesse feliz; os biscoitos de sua mãe, o jeito bem humorado de Matt, as piadas sem graça de Josh. Qualquer coisa que lhe trouxesse um sentimento de paz por menor que seja para que ela pudesse acabar com aquilo logo.
─ Oi, eu sou a... ─ Mary não conseguia se concentrar e seu olhar sempre desviava para eles. Cada vez que olhava para aquelas máscaras não conseguia evitar imaginar o olhar psicótico por trás delas.
─ Esqueceu seu nome?
  Mary sentia como se fosse cair no chão, estava tonta pois eles a fizeram gravar sem ela ter comido antes.
─ Eu falei com você. ─ Disse o homem que se aproximou dela. ─ A vadia ficou surda?
  Mary sentia repulsa daquele que estava bem à sua frente. Ele era o que mais dialogava com ela embora sempre fora ríspido. Seu tom de voz sempre parecia querer deixar claro de que ele não tinha remorso em machucar quem quer que fosse. Em um ato de raiva ela cuspiu no rosto dele. O homem colocou a mão atrás da cabeça de Mary puxando seu cabelo com força e a fazendo dar um grito de dor.
  Uma tosse forçada fez com que ele virasse para trás. O homem que até então não havia emitido um som se quer balançava a cabeça de forma negativa. Ele era o único que apenas observava tudo e usava perfume. Era instigante o fato de que ele havia chegado há pouco mas parecia ter um certo poder sobre os demais.
─ Faça a droga do vídeo. ─ Disse antes de soltar o cabelo de Mary.
Mary se posicionou novamente tentando conter as lágrimas e o medo que crescia dentro dela.
─ Oi, eu sou a Mary Jane e estou aqui para pedir sua ajuda. Hm, para escolher qual desses ─ ela ergueu os vestidos para a câmera ─ é melhor. Vocês podem votar usando a hashtag "verde" ou "azul". Mary cumpriu o roteiro e tentou ao máximo não agir de forma estranha enquanto falava.
─ Feito. ─ Disse o homem por trás da câmera.
─ Vamos, vou te levar. ─ Disse o que estava com a arma.
─ Pode deixar comigo. Eu levo ela hoje.
  Mary estremeceu ao perceber que quem havia dito aquilo era aquele em quem ela havia cuspido.

Ao chegar no porão o homem logo empurrou Mary contra a parede.
─ Você pensou que tinha acabado, não pensou?!
  Mary conseguiu sentir o hálito daquele que estava cada prendia seu corpo como uma cobra prende sua presa, a deixando imobilizada.
─ Me desculpe, e-eu não queria ter feito aquilo, eu...
─ Mentirosa! ─ Ele disse a cortando. A raiva sendo exposta a cada palavra. ─ Você é uma vadia mentirosa e patética. ─ Ele aproximou sua boca do ouvido de Mary: ─ Mas é gostosa.
  Com uma mão livre ele começou a abrir o zíper de sua calça jeans e Mary entrou em desespero.
─ Socorro! ─ Ela gritou o mais alto que conseguira. ─ Me ajudem!
─ Ninguém vai te ouvir. ─ Ele disse e Mary quase pôde ver o sorriso de vitória se formando no rosto dele.
  Mary continuou gritando em meio às lágrimas enquanto ele abaixava a calças. Até que de repente ele a soltou e começou a rir.
─ Seu desespero já compensa. ─ Ele disse puxando as calças e fechando seu zíper. ─ Sua sorte é que tenho ordens à seguir. ─ Comentou antes de sair.
  Mary permaneceu em choque, sentando-se e abraçando os joelhos. Ficou naquela posição chorando silenciosamente até pegar no sono.
 

 

A porta se abriu abruptamente e Mary acordou assustada, com a roupa grudando na pele por conta do suor. Um dos homens entrou parecendo agitado e Mary se esgueirou contra a parede sem saber o que ele queria ali. Olhou para a pequena janela e avistou um céu azul límpido, era dia provavelmente.
─ Você tem que subir.
Pela voz não era o mesmo homem da noite anterior.
─ Mas hoje? Por quê? ─ Ela estava confusa e com medo após o ataque que sofrera.
─ Seu namorado está vindo. ─ Disse o homem parecendo prever o efeito que aquelas palavras fariam com Mary que caiu ajoelhada, os olhos se enchendo de água.
─ Matt?! ─ Sussurrou para si mesma enquanto tentava lembrar do toque do amado.
─ O-onde ele está? O que vocês fizeram com ele? ─ Mary havia entrado em desespero após o breve momento de conforto lembrando que sua casa havia sido invadida por sequestradores e eles poderiam fazer algo contra Matt.
─ Ele não chegou ainda por isso você tem que subir. Receberá instruções do que fazer para que ele saia daqui... Vivo. ─ As palavras doeram como um soco no estômago. Eles poderiam estarem planejando fazer algo com Matt. A incerteza e dúvidas fizeram Mary tomar uma coragem que ela havia esquecido que tinha dentro dela.
─ Não. ─ Respondeu confiante. ─ Não saio daqui sem antes me dizerem o que disseram para ele. Por que só agora?
  O homem expirou impaciente.
─ Você tem certeza que quer fazer isso do jeito mais difícil?
  Mary estava se sentido encurralada tentando achar uma alternativa segura para Matt. Tampouco se preocupava consigo mesma, estava decidida a livrar Matt de qualquer perigo futuro.
─ Ok. ─ Ela respondeu após refletir.
  O-homem-que-não-falava ─ como Mary passou a rotulá-lo ─ estava em pé do outro lado da sala olhando pela janela. O outro que ela não conseguia nem ao menos olhar nos olhos ─ embora ela continuasse com a máscara de palhaço ─ estava sentado no sofá esfregando as mãos. O clima era um misto de desconforto com perigo eminente. Mary só não sabia se o perigo era Matt ou eles.
─ Vamos, sente-se aqui. ─ Disse o homem que havia a buscado no porão apontando para o sofá em frente daquele que ela estava enojada.
─ Não. ─ Respondeu Mary virando o rosto.
─ Você está querendo bancar a difícil hoje, é? ─ Perguntou a pegando pelo pulso ─ Eu não tenho tempo para seus joguinhos de menina mimada.
  Mary estava prestes a chorar.
─ Eu não vou sentar ali... perto dele. ─ Ela disse olhando para o chão. As cenas da noite anterior no porão passou em sua cabeça e ela sentiu o medo de novo o medo de ter sido violentada.
─ Por que não?
  Mary estava fraca, seu corpo parecia um castelo de cartas prestes a desmoronar com o sofro do vento. Ela precisava se alimentar.
─ Por quê? O que ele fez? ─ Perguntou em voz alta fazendo a cabeça de Mary girar. Ela teve forças para dar dois passos à frente e se segurar no sofá antes de sua visão embaçar e ela cair desmaiada.

As pálpebras de Mary se abriram lentamente e por um momento ela se sentiu em um circo dos horrores rodeada por aquelas máscaras estranhas. Tentou se mover mas suas mãos estavam amarradas.
─ Acho que você está pensando que está sob controle da situação. Talvez pense que estamos sob sua disposição. Bem, é o seguinte, da próxima vez que você se fingir de morta não irá mais acordar.
  Mary continuava um pouco zonza, não conseguia unir forças nem para responder às ameaças.
─ Eu preciso... ─ Ela disse o mais alto que conseguira. ─ Comer. ─ Completou.

Mary fora alimentada com cereais e frutas na boca ainda presa antes de ir para o banheiro. Os homens ficaram na porta.
Seu reflexo parecia o de uma garota de rua. Os cabelos loiros estavam despenteados e não tinham mais o mesmo brilho de antes, o rosto estava sujo assim como suas roupas. Ela tentou ao máximo segurar as lágrimas pois não aguentava mais chorar. Se essas fosse ser sua vida agora ela precisava ser forte para aguentar o que estava por vir.
Se despiu e entrou para baixo da água quente que descia feito uma correnteza. Os seus pensamentos estavam focados em Matt e ela lembrou-se de um dos melhores momentos que tiveram juntos na época em que ela era uma pessoa comum e não a Mary Jane do canal no you tube.
  Era pouco mais da meia noite e Mary havia ido à festa da fraternidade de Matt a convite do mesmo. Os dois saíram da casa quando Mary reclamou sobre estar sentido frio, abraçando a si mesma.
─ Você quer a minha jaqueta? ─ Ofereceu Matt já abrindo o zíper da sua jaqueta do colegial de cor azul e branco.
─ Que cavalheiro. ─ Brincou Mary. ─ Ou seria um efeito do álcool?
─ Nada disso, eu nem bebi. ─ Ele respondeu já com a jaqueta em mãos entregando à Mary.
─ O casal mais lindo de toda a faculdade! ─ Gritou um amigo de Matt da janela, muito bêbado.
  Mary riu e Matt segurou sua mão a levando para longe dali. O céu negro era coberto por estrelas e a música estava cada vez mais distante enquanto eles caminhavam na calçada.
─ Eu não sei qual a graça dessas festas. ─ Comentou Mary.
─ O quê? Você estava esse todo tempo fingindo que estava se divertindo na pista de dança?
─ Eu precisava mostrar para uma pessoa que eu sou descolada.
─ Descolada? ─ Matt riu. ─ Essa palavra ainda existe? ─ Mary deu um soco de leve no braço dele que fingiu um grito de dor exagerado.
─ Mas sério, você não gostou? ─ Ele perguntou.
─ Gostei mas eu prefiro outro tipo de música.
─ Que tipo?
─ Sei lá. Algo que exponha sentimentos.
─ Você é do tipo romântica então.
─ Pode-se dizer que sim.
  Matt atravessou a rua segurando a mão de Mary e os dois sentaram em um banco.
─ Eu vou te mostrar uma das minhas músicas favoritas. ─ Disse ele puxando o celular do bolso da calça ─ Você me diz se ela "faz seu tipo". Ele olhou sua playlist e clicou em play. Logo a música Heaven de Bryan Adams começou a soar em meio ao silêncio da noite. Mary fechou os olhos e tentou sentir a melodia, o que aquela letra queria dizer. Quando chegou ao fim assim que abriu os olhos ela se inclinou e beijou Matt. Aquele seria o primeiro de muitos beijos.

 


  Mary saiu do banheiro usando um vestido branco de renda e o cabelo preso. Sua aparência estava muito melhor do que antes.
─ Você precisa começar a tomar banhos mais rápidos. ─ Disse aquele em quem ela havia cuspido. ─ Caso contrário terei que entrar no banheiro com você.
─ Eu prefiro morrer. ─ Disse Mary com uma fúria na voz.
Todos direcionaram seus olhares nela que começou a sentir medo do que ousou dizer.
─ O que está acontecendo aqui? ─ Perguntou o outro homem, enquanto o homem-que-não-falava se aproximava com curiosidade.
─ Nada.
  Os outros assentiram e já estavam se retirando do quarto quando Mary disse:
─ Ele tentou abusar de mim.
  As palavras de Mary pousaram no silêncio como uma bomba. Enfurecido o homem acusado puxou seu revólver e apontou para Mary.
─ Sua vadia mentirosa!
  Antes de carregar a arma o homem-que-não-falava saltou em cima dele e pegou a arma de suas mãos. A luta durou pouco tempo e logo que estava de pé, o-homem-que-não-falava mirou arma para o outro que permanecia no chão atirando uma, duas, três, quatro, cinco vezes.
  Mary ficou em estado de choque e colocou as mãos no rosto tentando evitar a imagem do homem morto à poucos passos de onde ela estava.
─ Cara, o que você fez? ─ Perguntou o outro homem que estava agitado.
O-homem-que-não-falava mirou a arma para ele e atirou novamente. Quatro tiros.
  Mary apertou as mãos contra o rosto com ainda mais força se proibindo de abrir os olhos. O silêncio após os tiros tomou conta do lugar. Mary tremia e não conseguia pensar no que fazer. Ela foi pega de surpresa quando sentiu mãos segurando seus pulsos e os puxando para baixo. A imagem à sua frente não seria esquecida tão facilmente: dois corpos sem vida caídos em poças de sangue.
─ Acabou. ─ Disse aquele que Mary pensava ser mudo. ─ Eles não vão mais nos atrapalhar.
O coração de Mary parou ao reconhecer aquela voz.
─ R-R-Ricky? ─ Gaguejou Mary olhando dentro dos olhos dele.
  Ricky soltou as mãos de Mary e levou as suas mãos ao próprio rosto puxando a máscara com cautela. Mary gelou; o rosto à sua frente era e alguém que ela não apenas conhecia mas também havia amado.
─ Sou eu, querida. ─ Ricky disse usando as mesmas palavras que usava quando namorou com Mary, há 3 anos atrás.


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