The Game of Life escrita por anabfernandes8


Capítulo 6
Capítulo 5 - Os treinadores especiais


Notas iniciais do capítulo

Olá a todos que leem ^.^ Desculpem a demora, estive enrolada com umas coisinhas no carnaval. Desde já agradeço a todos que acompanham e espero que aproveitem este capítulo tanto quanto eu. Até as notas finais. :*



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Sim. Era exatamente assim que uma noite de sono deveria ser. Relaxante e confortável. Tudo graças à Shizune. Sim, estou nomeando-a em minha mente. Apesar de não merecer, a ajuda para dormir realmente a fez ganhar pontos comigo. Não sei bem o que houve, só sei que ela tocou minha cabeça e voilá, noite de sono boa.

Assim que estava pronta, e vestida numa roupa que me deixou bem com o dia, sai para o refeitório. Fiquei um pouco desconfiada, achando estranho o fato de que nada ruim tinha acontecido. Ainda. Isso podia muito bem ser uma calmaria antes da tempestade. Kami, por favor, deixe este dia continuar bom.

Cheguei junto com cabelos loiros versão masculina, e ele me deu um pequeno sorriso tímido. Acenei, incerta sobre o que fazer em relação a ele. Dar um chocolate não muda em nada nossa relação, certo? Quer dizer, nem tínhamos uma relação, para começar.

Peguei minha comida, e ele também, e caminhamos juntos para a mesa. Palavras não eram necessárias entre nós. Mas é claro que essa regra não se aplicava a cabelos marrons versão feminina.

— Bom dia, Ino. - Ela gritou ao me ver chegar, estendendo os braços para mim. Fiz uma careta e ela recuou, nem um pouco abalada. Nada abalava essa garota exceto mexerem com sua comida? Estranha! - Esqueci que você não gosta de contato físico. Tudo bem para mim. Bom dia, Narutinho. - Ela se jogou em cima do homem de cabelos loiros, que rapidamente ficou vermelho como um pimentão.

— Bom dia, Mitsashi-sama. - A bandeja parecia prestes a cair quando a morena o soltou.

— Vou pegar mais comida. - E saiu, saltitante. Kami. Ela era impossível.

— Estou começando a achar que ela tem um buraco negro no lugar do estômago. - Nara balançou a cabeça, com uma expressão descrente no rosto. - Pensei em dizer bom dia, mas pela sua cara você não gosta disso. Então, sem cumprimentos para nós. - Sim, alguém me entendia. Ele ganhou mais pontos comigo ao dizer isso. Sorri discretamente e me sentei. - Bom dia, Uzumaki.

— Bom dia, Nara-Sama. - Ele sentou-se silenciosamente, e começou a comer de cabeça baixa. Kami, tínhamos opostos aqui. Cabelos marrons gritava o tempo todo, e cabelos loiros mal abria a boca. Isso era bem confuso, com certeza.

— Oe, Mitsashi, você vai comer por todos nós? Agradeço o gentil gesto, mas deveria lhe informar que todos temos bocas aqui, sabe. - Olhei a mulher voltar com a bandeja cheia, e balancei a cabeça. Como essas coisas todas cabiam nela?

— Cuide da sua própria vida, Nara. - Ela pareceu contrariada, mas assim que começou a comer sua expressão mudou para uma radiante. - Kami, essa comida é tão boa. Eu não consigo parar.

— Percebe-se. - Comentei, baixinho, torcendo para que ela não me escutasse. Se soubesse que eu estava simpatizando com ela, provavelmente partiria para um abraço. O Nara me enviou um pequeno sorriso cúmplice, mostrando que me ouvira.

— Ei, Ino. - A comedora que não consegue parar virou-se para mim, e a olhei por meio segundo, para mostrar que eu estava prestando atenção. - Eu sei que isso pode soar meio perturbador, mas qual é o lance com o branquela?

— Como assim? - Continuei comendo, tentando pensar em algo que desse sentido às suas palavras.

— Ali. - E apontou seu dedo magro para um homem sentado na outra ponta da mesa. - Aquele cara ali está te olhando desde a noite do Jantar de Boas Vindas.

Olhei para o homem, e percebi ele me encarando sem nenhuma vergonha, uma intensidade desconhecida brilhando em seus olhos. Kami, o que temos aqui? Mais um moreno agindo de forma estranha com relação à minha pessoa?

— Como você sabe? - Nara se intrometeu, apontando o garfo para a companheira. - Você ficou olhando para ele?

— Quê? Ele é bonito. Nem venha me julgar. Olhar não é proibido.

— Eu não me importo. - Disse, continuando a comer, começando a ficar inquieta com toda aquela falta de ação. - Como você disse, olhar não é proibido. Deixa o cara.

— Bom dia participantes. - Levantei o rosto e avistei cabelos cinzas parado perto da porta. Sim. Sim. Graças a Kami teremos alguma ação. Timing perfeito, como sempre. - Hoje é o primeiro dia de treino. Com estes treinadores especiais aqui. Não vejo necessidade de apresentá-los, já que cada um pode conhecer o seu individualmente. Sei que vocês devem estar se perguntando qual a função de treinarem individualmente e não em grupo. Irei explicar, mesmo que a resposta, para mim, seja óbvia. Como pessoas diferentes, de clãs diferentes, vocês têm habilidades diferentes. E mesmo que sejam do mesmo clã, como os irmãos Sabaku No e os primos Hyuuga, cada um de vocês têm suas peculiaridades. É nosso dever como tradição abranger todas essas peculiaridades, sem nenhuma distinção ou preferência. Dessa forma, os treinadores foram escolhidos a dedo, de modo a oferecer o treinamento adequado para cada um presente. Assim, espero que tenham um bom dia e um bom treino. - Então ele saiu e nomes começaram a ser chamados.

— Yamanaka Ino. - Não. O dia estava tão bom, e agora isso. Esse sobrenome estragando tudo de novo. Levantei-me, dando um aceno ao Nara e seus amigos, e andei até o meu treinador, instrutor ou sei lá o que ele era. Não guardei seus cabelos marrons como característica principal, suspirando ao perceber que era mais um marrom (Kami, pra que tantos marrons?). Guardei apenas seu rosto, não o rosto em si, mas o que estava pintado nele, pinturas estranhas e simétricas em tom roxo vivo. Já que tinha tantos cabelos de cores iguais, eu precisava arrumar uma forma de diferenciá-los.

— Ouça, você pode me chamar de Ino. Só Ino. Nada de sobrenomes para mim. - Ele arqueou as sobrancelhas e me encarou de uma forma esquisita.

— Tudo bem. Eu sou... Essa coisa de nada de sobrenomes também serve para mim? - Dei de ombros, indiferente.

— Faça como quiser.

— Eu sou Sabaku no Kankuro. - Cabelos vermelhos passou ao nosso lado e recebeu uns tapinhas nas costas do meu treinador. - Fala, Gaara.

— Oi, Kankuro. - O outro disse, numa voz arrastada, e então saiu com seu próprio instrutor, sem ao menos jogar um olhar em minha direção. Bom! Certas pessoas sabiam como se comportar aqui, sem ter que ficar o tempo todo olhando, tocando ou tentando se intrometer. Olhei para cabelos marrons, esperando informações sobre o treino.

— Ele é meu irmão. - Explicou, voltando sua atenção para mim.

— Eu não perguntei. - Cruzei os braços, já ficando sem paciência. - Então, vamos treinar ou o quê?

— Vamos lá, por aqui. - Ele saiu na frente e segui-o de perto. Conforme fomos andando, um zumbido foi penetrando minha mente, aumentando junto com meus passos. Parei, levando minhas mãos à minha cabeça. De onde vinha aquele maldito som? Kami! Ofeguei, fechando os olhos e sendo instantaneamente sugada da realidade.

— Garota! Um trem passou em cima de você ou algo assim? Olhe para esses olhos puxados, um mais aberto que o outro, essas bochechas amassadas, esse cabelo...

— Não enche, Itachi. - Suspirei, me sentando. - Eu estou ridícula com essa roupa, não estou?!

— Pff. - Itachi bufou, e o encarei ofendida. Ele teve a decência de corar levemente. - Quero dizer, olhe para todos nós. Querida, estamos todos com a mesma roupa se não percebeu. Então nem se preocupe.

— Mas isso está enorme em mim. - Abri meus braços, para provar meu ponto.

— Olha aquela garota ali. - Ele apontou para uma garota de cabelos azuis, que estava praticamente sendo engolida por aquele trapo azul.

— Tem razão. Estou reclamando sem motivo.

— Ino? - Abri meus olhos de repente, e percebi que meu instrutor me segurava pelos ombros. - Você está bem?

— Eu só preciso sair daqui. - Sussurrei, livrando-me de seus braços.

Comecei a andar sem sentido, indo por qualquer corredor que diminuísse aquela dor de cabeça. Mais alguns passos e saímos em um lugar aberto. Muito verde, muito ar fresco, muito sol. Respirei fundo. Sim, isso era tudo o que eu precisava no momento.

— Nós podemos treinar aqui. Não tem ninguém e é bem espaçoso.

— Tudo bem. - Ele concordou, indo se sentar em uma pedra. - Me mostra o que você sabe.

— O que você quer dizer? - Gelei, tendo uma pequena noção do que ele queria. Não, Kami. Por que o dia não podia continuar bom?

— Suas habilidades. Seu estilo de luta. Os jutsus. Essas coisas.

— Eu... - Sussurrei, abaixando a cabeça. Certo, jutsus. Eu podia me lembrar de algum. Sim, qualquer um servia. Kami, minha mente estava em branco. Não, por favor, não. 

Eu sabia que esse dia chegaria. Como uma pessoa que morou durante anos no Mercado Inferior, eu achei que era bem óbvio pensarem que eu não sabia mais nada sobre estilos de luta e golpes. E por quê? Porque de onde eu venho, não há nada como uma Academia Ninja. Não há necessidade de uma de qualquer forma. As pessoas que vivem ali não fazem entrar na Arena seu objetivo de vida. Todos ali só estão ali para trabalhar ou viver suas vidas tranquilamente sem qualquer presença do Estado. E eu nunca me imaginei entrando nessa maldita tradição em que é matar ou morrer, então não vi nenhuma necessidade de preservar todo o conhecimento que aprendi quando eu morava em um clã. Eu nunca precisaria daquilo. Bem, eu achei que nunca precisaria. Infelizmente, o destino tinha uma opinião diferente da minha a respeito.

— Ino? Está tudo bem? O que aconteceu lá atrás...

— Não foi nada. Lá atrás não foi nada. Esqueça aquilo.

— Como quiser. E então?

— Ouça. - Levantei minha cabeça, encontrando seus olhos. Minha voz estava tremendo, mas não me importei. - Eu... Eu não sei. Eu morei cinco anos no Mercado Inferior. E eu... Eu não faço ideia de como mostrar a você qualquer coisa.

— Você não sabe nada? - Sua voz estava soando meio estrangulada e seus olhos ficaram assustadores. - O que está me dizendo?

— Eu passei cinco anos sem colocar os pés na Academia Ninja. Eu achei que nunca mais precisaria disso, então eu me esforcei para esquecer tudo sobre...

— Porra, Ino! Você esqueceu tudo sobre lutar? - Seu grito me fez pular e tremer ainda mais. Ele levantou e aproximou-se de mim, chegando bem mais perto do que eu normalmente permitiria se não estivesse tão assustada. - Você sabe o que isso significa?

Me encolhi, sem saber como lidar com isso. Eu queria apenas ficar minúscula e desaparecer para... Espere! Não, não, não. Desde quando eu sou esse tipo de pessoa que se encolhe e abaixa a cabeça perante qualquer um? Não mesmo. Por Kami, não. Não sou obrigada a escutar isso.

— Foda-se - Berrei, pegando-o de surpresa momentaneamente. - Não me importa o que você pensa. Eu não sabia que iria vir para o The Game. Não sou obrigada a lembrar disso só porque você quer.

— Você não entende? - Nós dois estávamos exaltados, mas a essa altura do campeonato, não estávamos nem aí para isso. - Você pode morrer aqui dentro.

— Isso é problema meu!

— Eu não vou deixar. - Ele agarrou meus ombros, olhos nos olhos. Seu olhar se suavizou e se moveu para a minha boca, e então de volta aos meus olhos. Que diabos...

— Me solta. - Livrei-me abruptamente de seu agarre, e saí correndo sem olhar para trás. Enfermaria. Shizune. Eu precisava chegar lá. Percorri os corredores, começando a me familiarizar com eles. Eu não sei o que havia mudado, só sabia que toda vez que as coisas ficavam difíceis, eu tinha uma necessidade louca de correr para lá.

Cheguei como um raio, escancarando a porta sem um pingo de delicadeza. Não, não, não. Ela não estava aqui. Suspirei alto, sentando na maca para me acalmar.

— Ino. - Cabelos marrons entrou e virei o rosto imediatamente.

— Saia. - Rosnei, tentando controlar a minha raiva. Se esse idiota estava achando que ia continuar gritando comigo, ele estava redondamente enganado. Pode ter me pegado desprevenida na primeira vez, mas agora era diferente.

— Nós precisamos conversar...

— Uma ova. - Estourei, lágrimas pesadas caindo dos meus olhos. Fazia tempo que não chorava. Mas também, minha vida nunca fora tão difícil como estava sendo agora. - Eu estou tão cansada. Minha vida já é uma droga o suficiente sem alguém como você gritando comigo por coisas que não são do meu controle. Então apenas saia. Por favor.

— Eu sinto muito. - Sussurrou, e abracei minhas pernas, apoiando o queixo nos joelhos, enquanto as lágrimas continuavam caindo. - Eu realmente sinto muito. Eu só... Eu não quero que você morra, Ino. E com essa postura... Sinceramente, assim você será a primeira a ir.

— Eu. Não. Me. Importo. Achei que isso tivesse ficado claro.

— Mas eu sim. Eu me importo. - Olhei-o, curiosa, e ele deu de ombros. - Alguém tinha que se importar. Eu fiquei exaltado e... Mas você precisa entender o meu lado. Eu estou aqui para me certificar de que você está pronta para ganhar e você me diz que não sabe nada. Desculpe, mas isso me deixou furioso.

— E que direito você acha que tem de ficar furioso? Eu é quem devia estar assim, não você. Eu tinha uma vida ótima, e agora estou aqui, com os dias contados, tendo os piores dias da minha vida.

— Eu entendo. Acredite ou não, eu entendo completamente. - Rosto pintado chegou perto da maca onde eu estava e estendeu uma mão na direção do meu rosto. No entanto, levantei-me, evitando um possível contato. O que tinha de errado com esse cara? Por que ele queria ficar me tocando o tempo todo?

— Não, você não entende. Confie em mim, ninguém entende. - Ele suspirou ruidosamente, como se tivesse certeza de que eu estava completamente errado e que ele entendia muito bem o que eu estava falando.

— Vamos fazer assim: Que tal eu ensinar o básico hoje? Provavelmente teremos um outro treino. Ai eu iria mostrar a teoria a você. É arriscado, já que você teria que praticar nas lutas, o que é praticamente um suicídio. Mas, é o melhor que posso oferecer. Então...

— Tudo bem. - Suspirei. Naquele ponto, eu não tinha muita escolha mesmo. Era morrer ou morrer.

Kami... No que a minha vida se transformou?

***

Estiquei meu corpo, enrolando a toalha em torno de mim, e caminhei para o quarto. Kami, como estava dolorida! Cara pintada falou como se fosse fácil, mas reaprender taijutsu não foi uma das melhores opções do dia. O conhecimento estava aprisionado em algum lugar da minha mente, e não fui capaz de acessá-lo. Passamos toda a tarde treinando, uma tarde cansativa e dolorosa, e eu não aprendi nem metade do que devia saber. Kami! Que vida!

Todo o meu corpo estava pintado com contusões engraçadas devido ao esforço extremo. Manchas roxas e azuis distribuíam-se de forma desigual pelos meus braços, pernas e barriga. Acho que a única área intacta era o meu rosto.

Vesti-me sem pressa com uma roupa que julguei confortável, e sai do quarto disposta a tornar essa uma noite boa.

— Hmm... Ino? - Uma voz atrás de mim me fez virar. Franzi a testa, confusa e desconfiada ao mesmo tempo. Quem era esse agora, meu Kami? E por que ele tinha que ter cabelos marrons? Por que quase todo mundo neste lugar tinha a mesma cor de cabelo? Eu já estava ficando sem critérios de diferenciação. Escolhi seus olhos perolados como principal característica. Certo, isso devia bastar.

— Quem é você? - Examinei-o melhor e percebi que era o homem do café da manhã. Aquele que ficou me encarando sem nenhuma vergonha. Aquele que estava me olhando desde... Desde o que mesmo? Tentei me lembrar da fala de cabelos marrons versão feminina, mas falhei. Bem, foda-se. Isso era totalmente não importante.

— Eu sou Hyuuga Neji. Nós... Nós éramos amigos. Você não se lembra?

— Não, eu não me lembro. Já acabou? - Voltei a caminhar, não esperando qualquer resposta e ignorando-o. Se isso fosse algo a mais para trazer memórias dolorosas, então eu estava totalmente fora. Logo senti passos ao meu lado. Droga.

— Não se lembra mesmo? Um rosto como o meu não é algo facilmente esquecível. - Parei e revirei os olhos. Olhos perolados parou ao meu lado. Kami, não. Tudo o que eu menos precisava no momento era de um convencido.

— Olha. - Passei as mãos pelo rosto, cansada. Mais um dia infinito na minha vida. - Eu tive um dia de merda. E eu tenho paciência zero para pessoas como você. Você é bonito. Tá, todos sabemos disso. Todos têm olhos aqui caso não tenha percebido. Então, sem ficar se achando.

— Você me acha bonito? - Um sorriso arrogante brotou em sua boca, e suspirei ruidosamente. A vontade de revirar os olhos perto dessa pessoa era inevitável.

— Foi uma pergunta idiota. Assim como você, pelo que vejo. Você já sabe a resposta.

— Uau. É realmente você, Ino?

Revirei os olhos, novamente, voltando a caminhar. Não sou obrigada a isso. Não mesmo.

—Sério, uau. Você mudou muito.

— Você vai continuar falando? Nós éramos amigos, segundo você. Éramos do verbo um dia fomos e hoje não somos mais.

— Deixe-me ajudá-la. Você está mancando. - Seus braços sustentaram meu corpo, uma das mãos na minha cintura e a outra no meu ombro. Livrei-me dele bruscamente, e ficamos frente a frente.

— Não me toque. Qual é o problema de vocês, pessoas que moram em clãs? Por que tem que ficar tocando toda hora?

— É... Me desculpe. Eu só queria ajudar.

— Já ajuda saindo da minha frente. E não me siga.

— Mas estamos indo para o mesmo lugar.

— Não to nem ai. - Continuei minha trajetória, ignorando o som dos passos dele atrás de mim. Kami, por que isso? Por que agora? Pra que? Suspirei. Eu devia saber que o dia estava bom demais para ser verdade.

Entrei no salão para jantar, já avistando cabelos marrons versão feminina na mesa pegando comida. Kami, não sei porque ainda me dava o trabalho de ficar surpresa ao ver essa cena. Era mais fácil só aceitar o fato de que ela tem um buraco negro no lugar do estômago.

—Oi.

—Hey, Ino. Você quer um abraço? - Ela estendeu os braços, mas assim que notou minha careta, recolheu-os, inabalada. - Desculpe, piada sem graça.

—Tudo bem. - Hoje. Só hoje vou relevar essa gracinha sem sentido da parte dela. Peguei um prato, olhando as variedades do jantar. Hum, eu estava com um pouco de fome.

— Ah, olha o seu cara aí. - E apontou para alguém atrás de mim. - Oi, você deve ser o Neji. Eu sou Tenten, é um prazer conhecê-lo.

Oi? Prazer em conhecer alguém assim? Kami, essa mulher era pior do que eu pensava.

— Oi Tenten. - Virei-me a tempo de ver os dois se abraçando. Quer dizer, ela se jogando nele, uma atitude muito típica dessa pessoa com todo mundo.  Até que os dois formavam uma dupla bem engraçada. Ele era bem maior que ela, bem maior mesmo. — É um prazer.

Eu nunca tinha parado para realmente reparar em como a garota a minha frente era pequena. Seus traços eram leves e delicados, apesar de não ter nada leve e delicado em sua personalidade. Ela era escandalosa e aparentemente não se importava com o fato. Reparando agora, ela era até mesmo menor do que eu. E não pouco menor e sim um tanto considerável menor. 

Eu não era alta daquelas que você olha e diz "Nossa, que pessoa alta". Acho que eu posso ter parado em 1,70 e poucos desde que havia parado de crescer. Medindo mais ou menos com os olhos, eu suponho que ela deve ter no máximo 1,55, e que o moreno conversando com ela deva ter quase 1,80, o que não o torna muito maior que eu, mas vamos lá, dez centímetros são uma coisa difícil de ignorar.

—Você é muito bonito. - Disse a comedora, soltando-se dele. Revirei os olhos para aquela fala patética.

— Ele já sabe disso. - Murmurei, suspirando de frustração. Pior do que um cara com ego do tamanho do mundo era encontrar alguém que esteja disposto a alimentar esse ego. Ela apenas deu de ombros para a minha fala, como se isso não fizesse a mínima diferença. Kami, ela não enxergava? Era como colocar mais gasolina no fogo.

— Obrigado, Tenten. Nossa conversa está muito boa, sério, eu adorei, mas será que você podia me deixar a sós com a Ino? - E então o complô estava formado. Como a traidora que era, ela não pensaria duas vezes em me deixar sozinha com esse idiota. E foi exatamente o que aconteceu.

— É claro que sim. Vou terminar de pegar minha comida. - Claro. Comida. Tudo o que importava para ela. E saiu toda saltitante, sem ao menos notar a careta de desgosto que fiz direcionada totalmente a ela.

— Ino... - Ele começou, mas já impaciente, cortei-o.

— Um minuto. Eu vou te dar um minuto e nada mais. Fale e dê o fora.

— Mas...

— O tempo está correndo.

— Tudo bem. - Seus olhos encontraram os meus, uma intensidade estranha brilhando nos dele. - Ouça, nós éramos amigos e eu sinto muito a sua falta. Muito mesmo. Então, por favor, volte a falar comigo.

— Qual a minha cor favorita? - Perguntei, mordendo o lábio para conter um pouco da raiva. Odiava perder meu tempo com coisas inúteis como essa.

— Q-Quê? É roxo.

— O que mais gosto de fazer?

— Eu não sei bem, mas... - Ele franziu o cenho, provavelmente se perguntando a finalidade daquilo. Então, vendo minha expressão nada boa, endireitou-se e coçou a garganta. - Passar a tarde com seus amigos, pelo que eu me lembro. 

E então a pergunta decisiva:

— Qual o meu sobrenome?

— Yamanaka, é claro. - Os cantos da sua boca se ergueram em um sorriso convencido, o que só aumentou ainda mais minha raiva perante a situação. Ino do passado, o que você esteve fazendo para a eu de agora ter que aguentar todas essas situações estressantes e desnecessárias?

Contive um gemido de indignação e levantei meu dedo indicador para seu peito.

— Minha cor favorita é cinza; o que mais gosto de fazer é ficar na minha, sozinha; e eu não tenho um sobrenome. Está vendo? Você não sabe nada sobre mim, nem as coisas mais básicas. E não me olhe assim, porque não tenho culpa nenhuma para sentir dessa cara de cachorro abandonado. - E então levantei o dedo para o seu rosto. - Você era amigo de uma Ino que morreu. E esta aqui não quer papo com você. E só para que saiba, eu perdi a memória. Eu não me lembro de você, e, acredite em mim, nem quero lembrar. Então, que tal largar do meu pé?

Sua expressão chocada foi minha deixa para sair dali. Servi-me rapidamente, não tendo muita paciência nem para isso, e fui sentar na mesa ao lado do Nara.

— Você parece com raiva. - Ele comentou assim que comecei a comer. Não, Nara, por favor, não vá por esse caminho. Você estava com tantos pontos positivos comigo.

— Me deixa. - E suspirei, inconformada com o fato de que o meu dia tinha ido do céu ao inferno em um instante. Será que Kami me odiava?

— Você pode dividir comigo. Estou bem curioso com essa novela. - E deu uma risadinha sem graça.

— Eu não quero falar sobre isso. Quer saber, eu vou para o meu quarto. - Levantei-me e sai, deixando a comida no prato. Estava com fome sim, mas foda-se, não sou obrigada.

Cabelos amarelos versão masculina passou ao meu lado, cumprimentando-me, mas o ignorei totalmente. Ele não tinha culpa de nada, mas não me importei.

Quer saber, chega desse dia.


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Notas finais do capítulo

E ai? Gostou? Não gostou? Se se sentir confortável, deixe um comentário com sua opinião. Espero que a resposta seja que gostou, mas se não for, aceito sugestões para melhorar. Obrigada a todos e até o próximo capítulo.



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