The Game of Life escrita por anabfernandes8


Capítulo 5
Capítulo 4 - A cirurgia e as lembranças


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoas do meu coração, voltei depois de um mês auhsuahuahs. Eu sei que disse que não havia frequência de postagem, mas ultimamente percebi que ando postando um capítulo por mês. Eu sei que é ruim esperar um mês, mas estou me esforçando bastante para trazer capítulos que me dê prazer de ler e espero que dê prazer a vocês também. Ou seja, vou postar um capítulo todo final de mês. Se minha inspiração começar a aumentar, e eu conseguir escrever mais rápido, aumento a frequência, mas sem promessas. Se vocês gostaram do capítulo e estão gostando da fanfic, sintam-se a vontade para comentarem. Boa leitura a todos!!!
(Ah, e só pra lembrar, a fanfic não se passa nesse ano agora, 2017 no caso, estou apenas postando agora mas isso não quer dizer nada.)



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— Como? - Ela me encarou, surpresa, como se eu estivesse falado que a maca estava viva. - Você não... Como se chama?

— Eu me chamo Ino. Mas isso você já...

— Quantos anos tem? - Ela me interrompeu, com uma expressão estranha no rosto. Não gostei nada da atitude dela, mas não estava reclamando, já que eu costumava fazer a mesma coisa.

— Dezoito. - Uma olhada em sua prancheta, e cabelos róseos claros adquiriu um rosto pensativo.

— Na verdade, você tem dezenove. - Espera, o quê? Não, não estou acreditando. Essa mulher não está me dizendo que não sei minha idade. - O que lembra de sua última estadia aqui?

— Nunca estive aqui. - Que tipo de pergunta sem noção era aquela?

— Kami! - Ela começou a andar de um lado para o outro, nervosa. - Não se lembra de nada disso? Nem... nada?

— Eu... - Sussurrei, assustada por um momento. O que estava acontecendo aqui, por Kami? Meu filtro de palavras caiu por terra naquele momento, e soltei sem pensar. - Tive uns sonhos, mas...

— Que tipo de sonhos? - Merda. Por que fui abrir minha boca grande?

— São só sonhos. Com pessoas estranhas. Itachi ou algo assim. E Yoshino. Mas são só...

— Sonhos? - A médica me encarou, mais uma vez parecendo pensativa. O que tinha de errado com essa mulher? E o que será que ela viu de tão errado em mim? Todos os outros estavam recebendo todas essas perguntas ridículas? Eu estava parecendo uma experiência científica perante os olhos avaliativos dessa louca. - O que se lembra de quando tinha 14 anos?

— Que tipo de interrogatório é esse? - Rosnei, começando a sentir a raiva tomar conta de mim. Eu só queria ir para casa. Ou para o meu quarto. Ou para a cova. Sei lá. Qualquer coisa que acabasse com esses dias de merda que começaram desde que entrei aqui.

— Esqueça. Conversamos sobre isso depois. Sobre tudo. Mas depois. Feche os olhos. - Obedeci, ainda contrariada com o fato de que minha vida parecia um carro sem freio. Ela tocou minha testa com suas mãos, soltando uma maldição.

— O que está fazendo? - Abri os olhos, desconfiada.

— Verificando. Vamos começar os procedimentos médicos. - Enfim, o que vim fazer aqui. - É uma cirurgia bem simples e você vai dormir por algumas horas.

— Que tipo de cirurgia? - Espera. Ela disse cirurgia? Tipo cirurgia mesmo? Suspiro. Kami!

Ela me mediu com o olhar, como se eu fosse algum objeto estranho, um olhar que se tornou habitual para ela toda vez que me olhava. Parecia estar tentando desvendar um mistério. O que, eu era esse grande mistério? Que coisa mais sem sentido. Eu era um maldito livro aberto, mas aos olhos dela era um mistério?

— O que foi?

— A cirurgia tem duas etapas. A primeira etapa se baseia no combate a RN. A Rosa Nervosa é... Um sentimento, acho, que torna você fraco em um lugar como o The Game. Nossa cirurgia impede você de sentir algum tipo de afeto por qualquer outro participante. Nenhum vínculo afetivo, nenhuma piedade.... Você se torna meio imune a esse tipo de coisa. A segunda etapa é a instalação da barra de força. Ela controla sua resistência em uma luta. Se você for muito atacada e sua barra de força zerar, você perde. Uma quinta perda representa a morte. Entendido?

Meneei um aceno, começando a ter uma dor de cabeça devido a esse excesso de informação. Eu não podia apenas morrer com minha ignorância?

— Vamos começar.

***

Abri meus olhos, encarando a parede branca do teto. A confusão tomou minha mente brevemente, mas logo me lembrei de onde estava. Cirurgia. Rosa Nervosa. Barra de força. Uma louca tentando discutir comigo quem eu era.

— Quer água? - A voz da médica terminou de me situar no tempo e espaço, e suspirei, assentindo. Ela ajudou-me a sentar corretamente, e deu-me um copo. - Ouça, Ino, preciso que seja absolutamente sincera comigo.

— Tudo bem. - Tudo bem, vou ser tão sincera quanto posso; tudo bem, não faço ideia do que está acontecendo na mente dessa louca; tudo bem, minha vida está despencando e não sei como pará-la.

— Por que você chama a si mesma de Ino? - Sério? Bufei, querendo rir dessa piada de mau gosto.

— Que pergunta idiota é essa? Esse é o meu nome.

— Não, não é. Seu nome é Yamanaka Ino. - Meu rosto se contorceu novamente com a menção desse maldito sobrenome. - Mas você se apresentou apenas como Ino. Eu quero saber por quê.

— Eu moro no Mercado Inferior. - Murmurei, como se essa fosse toda a resposta. E era. Mas era toda resposta que eu era capaz de dar agora. Ainda não estava pronta para dizer que não sentia qualquer sentimento de pertencimento a esse clã estúpido, cujos membros me ignoraram durante todo o tempo que morei fora.

— Morava. - Cabelos róseos claros corrigiu-me, e revirei os olhos. Tudo bem, ela não precisava ficar me lembrando que estava em um caminho só de ida para a morte.

— Que seja.

— Certo. E por que acha que tem dezoito anos? - Fechei os olhos. Kami, esse era o interrogatório mais desnecessário do mundo.

— Por que eu tenho.

— Não tem não. Você tem dezenove.

— Está discutindo comigo minha própria idade? - Encarei-a, ofendida. Ok, isso estava indo longe demais. Quem ela pensava...

— Sim, eu estou. O Estado coloca um chip de reconhecimento em todos os bebês minutos após o nascimento. O seu chip está ativo desde 23 de setembro de 1996. O que significa que você tem dezenove anos, não dezoito. Que tal ir discutir com a calculadora?

Foda-se, ela estava passando dos limites. Como, Kami, como ela achava que eu não sabia nem a minha própria idade? Aos seus olhos, eu era algum tipo de moça ingênua ou o que?

— Ok, "você não tem dezoito anos como pensava". O que está acontecendo então? Por que não me diz você? - Perguntei. Isso não estava acontecendo. Eu tinha certeza que tinha dezoito... não tinha?

— Isso só significa uma coisa: Há um ano faltando na sua memória. E sabe qual é minha suposição? Você passou esse ano aqui. Nesse mesmo lugar onde está hoje. Você perdeu a memória, Ino. E isso é bem sério. Essas coisas que você chama de sonhos... eu acredito que sejam lembranças. Da sua última estadia aqui.

— Como pode ter tanta certeza? - Podia muito bem ser um monte de baboseira faladas por uma louca, mas eu estava começando a ficar assustada e confusa. Não que acreditasse nela, mas começar a ter esses sonhos apenas quando cheguei aqui foi um pouco coincidência demais.

— Por que eu também estava. - E então, sua forma começou a mudar. Seus cabelos, assim como seus olhos, escureceram, tornando-se ambos negros. Sua pele clareou e sua estatura diminuiu. O choque tomou conta do meu corpo e me deixou mole. Assim, cai de joelhos. Logo que meu corpo caiu, o chão sumiu e mergulhei num abismo lamacento e sufocante.

— Ei! - Reclamei, batendo de leve na mão de Itachi. Ele apenas me olhou de modo travesso, o que arrancou um sorriso de mostrar os dentes de mim. Era impossível ficar sério perto de alguém como ele. - Pare de roubar minhas uvas! Você tem as suas próprias.

— É mais divertido comer as suas. - Ri, porque ele era realmente um idiota. - Ei, o que temos aqui? - Seus olhos me atravessaram e captaram algo atrás de mim. Virei-me para ver o que havia cativado sua atenção. - Cabelos e olhos negros, pele que nunca viu um pingo de sol na vida, bochecha vermelhas que estão provavelmente assim por ter sido pega encarando, altura... Hum, você pode se levantar?

— Itachi. - Murmurei, morrendo de vergonha. Kami, ele não tinha nenhum senso de autopreservação.

— Sou Haruno Shizune. Desculpe ficar encarando. Só fiquei curiosa.

— Nomes, nomes... O que as pessoas têm com os nomes? Não estou atrás disso, moça bonita. Talvez... qual sua cor favorita? Kami, ela realmente tem umas bochechinhas apertáveis.

—Kami, você é descarado. - Murmurei, enquanto ele tomava uma inspeção minuciosa da garota, não perdendo nenhum detalhe.

—É rosa bebê.

—Escolha interessante. O que faz nas horas...

—Pare, idiota. - Ele me olhou ofendido. - Você acabou de conhecê-la. Deixa a menina respirar. - Então me virei para ela. - Perdoe o meu amigo. Ele pode ser um pouco... indiscreto assim. Ele é Uchiha Itachi, e eu sou Yamanaka Ino.

Ela deu uma risadinha, o que soou como um som melodioso e agradável aos meus ouvidos.

—Não se preocupe. É um prazer conhecê-los.

—Seria um prazer maior se você dissesse o que faz nas horas vagas! - Itachi disse, e bufei com o comentário. Bati a mão no ar, como se a atitude dele não fosse nada a ser levada a sério.

—Você se acostuma em algumas horas. - Ela sorriu, e voltei minha atenção para as minhas uvas.

 

— O que foi? - Ela me chacoalhou e a realidade voltou lentamente. - O que aconteceu?

— Qual é o seu nome? - Eu sei que parecia loucura, mas precisava confirmar que não estava delirando. Tive que controlar minhas mãos para não me dar um tapa, já que não era do meu feitio perguntar nomes. Mas eu precisava saber.

— Meu nome verdadeiro é Haruno Shizune. Mas aqui eu sou conhecida como Haruno Sayuri. - Um espasmo de reconhecimento me bateu, mas tentei ignorar. Aquilo ia passar. Tinha que passar. Kami, eu estava aterrorizada. O que estava acontecendo comigo? Por que aquilo? Por que comigo?

— Do que você se esconde? - Perguntei, tentando ignorar o leve tremor que percorreu meu corpo.

— Eu... - Ela hesitou, seu olhar revelando o quanto aquele assunto a deixava desconfortável. Foquei em minha curiosidade, ignorando o quanto minha vida estava ganhando velocidade rumo a um caminho desconhecido. - Outra hora eu te conto isso. Você ainda não está pronta.

— Eu preciso ser sincera, mas o contrário não vale?

— É um assunto delicado.

— Minha idade também não é um assunto delicado? Eu tenho esses sonhos, ou sei lá o que é isso, também não é um assunto delicado? Como eu me auto intitulo também não é delicado? Ah, acho que delicadeza depende do ponto de vista.

— Ouça. - Ela cruzou os braços e mordeu o lábio, como se isso fosse um dilema e ela tivesse que discutir algo valendo vida ou morte. - Eu sinto, tá?! Mas não está pronta. - Pronta para o que, meu Kami! Tive vontade de gritar de impaciência. - Não conte a ninguém que está tendo lembranças. Para todas as hipóteses você perdeu a memória.

— Isso soa bem para mim. - Não contar algo a alguém? Soava ótimo. Eu não precisava de mais gente se metendo na minha vida.

— Certo. Se acontecer alguma coisa, qualquer coisa, venha me procurar. Eu sei que é cedo demais para confiar em mim, mas eu preciso de faça isso. Se quiser... sei lá, me contar o que lembra... ouvirei você. Eu quero conhecê-la.

— Achei que já me conhecesse. - Minha voz saiu carregada de ironia. Eu podia até ter tido uma lembrança com ela, ou o que quer que isso fosse, mas ainda não confiava nessa pessoa. Confiança leva tempo. Um tempo que eu definitivamente não tinha.

— Você... essa não é a Ino que eu conheci. Você costumava ter orgulho do seu sobrenome, nunca era tão abertamente rude...

— Desculpe se minha desconsideração ao clã Yamanaka te ofende, mas passei alguns anos da minha vida no Mercado Inferior. Passei alguns anos não tendo ninguém do meu clã se preocupando em ao menos saber onde eu estava. Se morasse onde eu morei, com as pessoas que convivi, saberia que essa história de clã é bobagem. Tudo isso aqui é bobagem na verdade.

— Você mudou tanto. – Ela me olhou com uma expressão carregada de emoção, e comecei a me levantar, sem tempo para esse tipo de carga emocional. Deixei o copo em cima da maca, surpresa por ainda não ter tentado quebrá-lo ou algo do tipo.

— Eu preciso ir.

— Tem razão. O jantar já deve estar sendo servido. - Kami! Por quanto tempo eu dormi?

Ela me levou até a porta, e sai sem me despedir. Foi rude, mas como ela não se incomodou em falar nada, conclui que estávamos bem. Tão bem quanto duas estranhas poderiam estar.

O caminho de volta ao refeitório foi feito por mim mesma, sem qualquer ajuda externa. Eu me lembrava vagamente o caminho que tinha feito, então admito que contei com um pouco de sorte.

Assim que cheguei, cabelos amarelos e dois cabelos marrons estavam sentados na mesa e conversando animadamente. Fiz meu prato o mais devagar que pude, tentando evitar ter que ir sentar perto deles, mas não teve jeito. Encaminhei-me para a mesa, e fiquei o mais distante que pude. No entanto, logo os três presentes resolveram se juntar e mim, e suspirei, impaciente. Não estava muito para conversar depois da tarde exaustiva de hoje.

— Ei, você é a garota do suco. - A voz alta demais, animada demais e aguda demais soou ao meu lado, e contive um gemido de frustração. - Eu queria realmente expressar minha gratidão por...

— Entendi. Tudo bem. Você já me agradeceu. - Cortei-a, antes que ela se animasse ainda mais e tentasse alguma outra aproximação para agradecer com um abraço.

— E você é Yama... - Começou o homem de cabelos marrons, com uma voz suave, mais contida do que a de sua possível amiga.

— Ino. Eu sou Ino. - Mais alguém me nomeando por esse sobrenome estúpido e eu juro que sou capaz de fazer uma loucura.

— Ela é rude. - Cabelos marrons do sexo masculino disse, e olhei-o de forma chocada. Que diabos...

— Nara-Sama... - Começou o garoto loiro, todo vermelho e com uma voz meio vacilante. O que tínhamos aqui?

— O que? Essa é a verdade. Não me leve a mal, Ino, mas você sabe que é rude. Ou pelo menos, deveria saber.

— Isso não é um problema seu. - Kami, temos muitos marrons aqui, e ainda por cima marrons ousados.

— Tem razão. - Ele deu de ombros e voltou a comer calmamente. Calmo até demais. Como se não quisesse comer. Kami. Essas pessoas que crescem em clãs são realmente estranhas. - A propósito, eu sou Nara.

— Isso não é um nome. É um sobrenome.

— Quer saber meu nome? - Minha boca se curvou levemente em um pequeno sorriso. Fazia dias que não sorria, talvez meses. Mas não pude deixar de sorrir perante suas palavras. Ele me pegou em meu próprio truque.

De repente, alguém pegou minha mão esquerda com ousadia. Me virei para a pessoa, que pareceu vermelha como um pimentão.

— Um doce para um sorriso bonito. - Cabelos loiros murmurou, brincando com as pontas de seus dedos. Suas palavras me confundiram, mas então senti um peso na minha palma. Um chocolate. Kami! Fiquei boquiaberta, totalmente sem reação. Cabelos amarelos deu um chocolate. Para mim. Por que...?

— Kami, essa comida foi feita pelos céus, com certeza. - Cabelos marrons versão feminina deu um gritinho animado, e tentei conter minha risada. Kami, essa mulher não deve ter filtros em suas emoções. Pelo visto, os meus estavam sumindo. O que essas pessoas fizeram para me dar vontade de rir como se estivesse histérica? Duas vezes! Kami! Eu estava perdendo o foco. - Eu comi como uma louca, mas ainda estou com fome.

— Oe, Mitsashi. - Nara reclamou, em uma voz dura. Sim, Nara. Nada de cores de cabelo para ele. Este homem aqui conquistou meu respeito o suficiente para ser nomeado em meus pensamentos. - Dê uma folga ao seu estômago.

— Nem pensar, dobe. - Ela sussurrou, seus sentimentos feridos claramente expostos em sua face. - Você não me entende. Eu preciso experimentar tudo.

— Deixe um pouco para os outros. Não precisa comer como se o mundo fosse acabar daqui a cinco minutos.

— Pode acabar. - Dando de ombros, ela colocou mais comida na boca do que achei que fosse possível caber. - Você não sabe. Ou talvez você é um vidente e não sabemos?

Haha, ponto para ela. O sarcasmo dessa mulher, misturado com um pouco de sua personalidade marcante, estavam começando a me cativar. Ela era realmente divertida.

— Hum, eu preciso ir. - Disse, levantando-me. Quem sabe hoje pudesse ter uma noite boa de sono. Ou quem sabe, isso era só eu me iludindo de novo.

— Você já vai? - Cabelos loiros falou em uma voz tão baixa que se eu não estivesse exatamente ao seu lado, provavelmente não teria escutado. Talvez esse fosse o jeito dele de gostar das coisas: privado, sem que ninguém fique sabendo e nem se metendo. Parece que tínhamos algo em comum.

— Sim, eu devo ir. Gostaria de ter uma noite tranquila de sono.

— Boa noite. - Os três murmuraram juntos, e apenas lhes dei um aceno. Levantei-me para ir e nesse momento avistei alguns dos outros participantes chegando. Graças a Kami eu decidi ir embora. Mais um momento desconfortável com essas pessoas e eu poderia ir me matar.

Chegar ao quarto foi ao mesmo tempo um alívio e assustador. O destino poderia ter preparado qualquer coisa para hoje à noite, e essa ideia me apavorava até a morte. Tomei um banho rápido e logo me enfiei debaixo das cobertas.

Mal fechei os olhos e o vazio de sempre já me devorou. Mas daquela vez, eu estava preparada. Quer dizer, achei que estava. O que veio foi dez vezes pior do que eu esperava. Uma mão repentina se instalou em meu pescoço, limitando meu fluxo de oxigênio. Comecei a sufocar, tendo a estranha sensação de estar me afogando dentro de mim mesma.

— Você é tão idiota. - Sussurrei para Itachi, tentando me lembrar porque havia concordado com aquela coisa estúpida.

— Ei, o que está olhando? - O garoto de cabelos marrons rosnou, literalmente rosnou, seu rosto agressivo e assustador.

— Eu... eu não estou pr-pronta para morrer. - Shizune se agarrou ao meu braço como se aquilo fosse sua tábua de salvação.

— Que comecem as lutas! - Hio-Sama disse, com um sorriso estranho, o que me provocou um leve tremor. E aqui estamos. As lutas.

— Eu não sou idiota. - Meu amigo se defendeu, ofendido como sempre por nada.

Ofeguei, tentando bombear ar para os meus pulmões. Foi uma tarefa inútil, já que o aperto do desconhecido se intensificou. E então, tudo ficou branco e eu não consegui pensar em mais nada.

Ah!

Levantei-me em um pulo, respirando com dificuldade. Movi minhas mãos para o meu pescoço. Kami. Eu tinha certeza que alguém tinha tentado me matar sufocada. Mas quem? E por que? Meus olhos vasculharam cada centímetro visível do quarto, mas não encontraram nada estranho. Talvez estivesse no banheiro.

Sai da cama, tentando não entrar em pânico. Eu precisava sair dali. Ir para algum lugar. Qualquer lugar que não fosse esse maldito quarto estava bom. Shizune. Sim, eu precisava vê-la. Kami, quando eu passei a chamá-la pelo nome em minha mente? Bem, foda-se isso agora. Shizune, sim. As minhas regras de nomeação não eram importantes no momento, e sim não ter um surto. Eu precisava ser rápida. Podia pensar nas regras amanhã. Quando estivesse melhor.

Abri minha porta, tentando ser a mais silenciosa possível, mesmo com uma sensação de pressa martelando em minha mente. Achei que tinha dormido por poucos minutos, mas estava enganada. O ambiente estava mais escuro e sem nenhum ruído. Bem, tudo o que eu não precisava agora era acordar todo mundo e ser punida. Por isso, ignorei a pressa, e tentei não fazer tanto barulho.

Andei, meio correndo, às cegas, forçando minha mente a se concentrar no caminho certo para a enfermaria, apesar do pânico estar ruindo minhas cavidades internas. Kami, eu só precisava chegar lá.

Suspirei de alívio ao ver meu destino bem ali na minha frente. Kami, obrigada. E a luz da sala de Shizune estava acesa. Kami, obrigada duplamente. Aproximei-me discretamente, tentando controlar meus batimentos e respiração acelerados. Tudo bem, eu já estava aqui. Tudo iria melhorar agora. Tinha que melhorar.

Eu estava perto da porta, tão perto, quando uma voz desconhecida me fez congelar no lugar.

— E você acha que isso é um jutsu?

— Sim. Bem, eu não tenho certeza absoluta, mas é minha melhor teoria. - Era a voz de Shizune, tão baixa que tive que me esforçar para escutar claramente. Ela estava com alguém. Não, Kami, não. Por que justo agora? Justo quando eu precisava dela?

— Teoria, hein? E você sabe como reverter isso? Você é uma médica, afinal. — Uma voz masculina. Era grossa, expressando muita raiva e um pingo de ironia.

— Eu preciso pesquisar mais. É a primeira vez que vejo algo assim... - Ela soou preocupada. Eu já estava ficando impaciente. Por que essa maldita pessoa não poderia ir embora? Um gemido de frustração me escapou involuntariamente e cobri minha boca na mesma hora. Droga.

— Tem alguém aí fora. — Uma movimentação estranha ocorreu lá dentro e então a cabeça de Shizune apareceu na porta. Ela me olhou assustada e contive outro gemido insatisfeito.

— Oi. - Murmurei, inicialmente com vergonha de ter sido pega espiando. Mas logo a vergonha foi substituída por um pavor intenso, e estremeci. - Seja quem for que estiver com você aí dentro, por favor mande embora. Nós precisamos conversar.

— Quanto você ouviu? - Ela mexeu nos cabelos róseos, tentando disfarçar uma expressão preocupada com um ar distraído. Não, querida. Eu aqui surtando e ela se importando com algo que provavelmente vou esquecer depois de tomar um banho?

— Não se preocupe. Eu não entendi nada mesmo. Agora, posso entrar? Seu convidado já foi embora?

Ela olhou para trás, provavelmente conferindo, e depois me concedeu passagem.

— Ele se foi pela janela. Você pode entrar. - Não perdi tempo, andando com passos apressados e sentando-me na maca em que havia sido examinada mais cedo. Minha médica olhou para a janela com cautela e suspirei com impaciência.

— Você não me conhece mesmo, né?! Não me importa essa conversa que ouvi minutos atrás. Eu tenho a memória muito fraca. Amanhã já terei esquecido, posso te garantir. Por isso, não se preocupe.

— Tudo bem então. - Cruzou os braços e ganhei toda a sua atenção. - O que houve?

— Eu acho... - Instintivamente coloquei as mãos no meu pescoço, lembrando-me da sensação horrível de sufocar. - Eu acho que alguém tentou me matar.

— O quê? - Ela berrou, boquiaberta. Massageei o local de encontro entre minha cabeça e meus ombros, fechando os olhos.

— Eu estava dormindo. Aí senti uma mão me apertando. Comecei a ficar sem ar e então os sonhos estranhos vieram...

— São lembranças, Ino.

— Que seja. Eu vi aquele Itachi de novo, você, Hio-Sama, um garoto moreno... E nem me peça para descrever porque foi muito rápido, e também não sou de ficar prestando atenção em fisionomia. Eu só sei que ele era estranho e rude. Quer dizer... Estranho pode ter sido um elogio da minha parte. Não tenho palavras para descrever quão bizarro ele era. - Abri os olhos e massageei as têmporas. Ela abriu um sorriso pequeno e a encarei, horrorizada. - Você está rindo? Não sabe o que passei hoje, Shizune. Eu quase morri! Acha isso engraçado?

— Desculpe, eu só... eu me lembrei de uma coisa. Continue, por favor. - Suspirei, começando a pensar que tinha sido uma péssima ideia vir até aqui. - É sério, Ino. Desculpe-me. Eu só ri porque eu sei quem é o garoto estranho de quem você falou. E sua descrição foi um pouco engraçada.

— Tá, tudo bem. Depois eu tentei continuar respirando. E eu juro, por um momento tudo parou. Eu achei que tinha morrido. Então alguém ofegou ou suspirou, sei lá. Pode ter sido eu, mas agora que não estou tão assustada e parei para pensar nisso, a voz era mais grave. Pode ter sido eu, é claro, mas... sei lá. Eu quase surtei. Depois disso, eu me lembro de me sentar, e aí levantei e comecei a vir para cá.

— Deixe-me pensar. - Seus cabelos claros balançaram quando ela começou a andar de um lado para o outro, adquirindo um semblante pensativo. - Você pode me dar alguns dias? Eu acho que sei o que aconteceu, mas eu preciso ter certeza.

— Eu fiquei tão apavorada que achei que fosse ter um ataque. - Confessei, esfregando minhas bochechas. - Não sei se consigo dormir de novo.

— Eu posso te ajudar. - Ela disse suavemente, parando de tentar fazer um buraco no chão.

— Tudo bem. Eu só queria um momento de paz. Desde que cheguei aqui, minha vida tem sido um completo caos.

— Vem. Vou te levar ao seu quarto. - Levantei-me e fomos juntas ao meu quarto. A cada passo, eu me senti mais tranquila. Talvez as coisas pudessem melhorar amanhã. Ou talvez eu devesse parar de me iludir e me acostumar com esse caos.


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Notas finais do capítulo

Bom, pessoal, ai está o novo capítulo. Espero que tenham gostado e se divertido tanto quanto eu. Até o mês que vem e não desistam de mim. Beijos de luz. :*



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