Deep Six - Novos Horizontes escrita por Gothic Princess


Capítulo 14
Capítulo XIV - Hora da decisão


Notas iniciais do capítulo

Hello, heroes!! Geralmente eu uso essas notas para me desculpar por estar atrasada com as postagens, mas pela primeira vez na vida não estou!!

Entãoooo aproveitem esse capítulo novo :3



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— E o que sente quando faço isso? — a cientista aproximou o teaser de baixa voltagem contra o braço de Kevin.

Ele havia acordado há menos de cinco minutos e aquela mulher estranha já havia perguntado mais sobre ele do que ele pensou ser possível. Agora ela estava usando aquele taeser em várias partes do corpo dele e perguntando a reação em cada local, tendo sempre a mesma resposta.

— Se o choque for leve, não sinto nada além de formigamento, já disse.

— Certo! — ela anotou algo em um papel em sua prancheta e voltou-se para ele. — Você sente cócegas?

Ao ouvir a pergunta, o herói congelou. Se ele dissesse que sim, ela faria cócegas nele, se dissesse que não, ela tentaria até conseguir, e a única pessoa que conseguia fazer cócegas nele era o seu pai. Sinceramente tinha medo do que aquela mulher faria para tentar lhe fazer cócegas. Ele não tinha saída daquilo, a não ser mudar de assunto.

— Quem disse que era mesmo?

— Doutora Lilian Ming. Você está no STAR Labs de Central City, e seus amigos me pediram para ficar de olho em você — a oriental sorriu e voltou a escrever em seu papel. — Acho que já está forte o suficiente para sair sozinho, mas se quiser esperar por eles…

— Acho que já vou, então — Kevin se levantou da maca em que estava.

Já estava se sentindo muito melhor, a dor em sua cabeça havia passado, conseguia respirar novamente e não estava mais destruindo tudo em seu caminho por acidente. Além de querer correr daquela mulher estranha, queria saber se seus amigos estavam bem, saber o motivo para terem ido embora do laboratório tão apressadamente e saber se já haviam conseguido trazer Apolo de volta.

— Obrigado pela ajuda — ele sorriu para ela e estendeu a mão para apertá-la, e Ming o fez.

— Se fosse inteiramente kryptoniano, poderia ter morrido. Mesmo assim precisa tomar cuidado, ouviu? — ela ficou séria quando disse isso e Kev quase se lembrou de quando sua mãe lhe dava uma bronca por voar alto demais quando era criança.

— Sim, senhora — ele assentiu com a cabeça e se virou para sair.

Parou no lugar no momento em que viu seu pai parado de pé na porta de entrada do escritório de Ming. Ele tinha os braços cruzados e tinha uma expressão neutra no rosto, apesar de seus olhos indicarem vários sentimentos ao mesmo tempo. Preocupação, irritação, alívio e um pouco mais de irritação.

A única coisa que lhe veio à cabeça foram seus amigos e Kevin sentiu algo pesar em seu peito.

— Eles estão…

— Vivos? Sim — a resposta quase o deixou aliviado. Vivos, não “bem”, o que indicava que algo havia acontecido. — Vamos para a Metro Torre. Consegue voar?

— Sim.

— Vou explicar tudo no caminho — Superman fez sinal com a cabeça para o filho ir na frente e Kevin o fez.

— Te vejo outro dia! — Ming falou, acenando para ele quando o jovem deixou seu escritório.

O voo até a base da Liga da Justiça em Metrópolis foi extremamente desconfortável, com ele sabendo que seu pai estava aborrecido e imaginando que já soubesse sobre a história da kryptonita. O que ouviu do herói mais velho, porém, o deixou extremamente surpreso. Provavelmente um dos motivos para ele estar irritado era que os heróis do DS havia acabado trancados dentro de uma penitenciária e quase haviam sido mortos por criminosos. E ainda tinha a história de ele e Apolo, controlado por Cypher, terem destruído uma boa parte de Gateway City. Talvez eles merecessem uma bronca.

Quando chegaram à base da Liga, Kevin não precisava nem que Clark lhe dissesse o que pensava, era óbvio que estava preocupado como nunca quando foi encontrá-lo e agora não havia lhe dito uma palavra além do que precisava saber sobre os ocorridos do dia que ele perdeu. Ele preferia que seu pai gritasse com ele do que receber um silêncio tão desconfortável como aquele.

No momento em que entraram, Kev conseguiu ouvir as várias conversas que estavam acontecendo ao mesmo tempo em pontos diferentes do local.

— Você perdeu eles! — ele ouviu Batman dizer em um tom baixo, porém irritado. — Como isso aconteceu e como você só percebeu agora, Damian?

— Estava meio ocupado! E eu tenho quase certeza de que ninguém tocou no meu cinto durante nenhuma luta — o jovem respondeu, quase tão irritado quanto o pai.

— Realmente, não notar que todos os seus batarangues sumiram é estranho pra você — ele olhou na direção deles e viu Cassy e Mel ao lado do irmão.

Kev continuou a seguir seu pai, percebendo que estavam indo para a sala de reuniões. Olhou para o outro lado e viu que o Arqueiro Verde conversava com Kate e que a loira olhava para o chão enquanto ele falava. Sentiu um impulso de ir até ela quando viu que sua perna estava enfaixada, porém pensou que faria isso depois de ouvir o que o seu pai tinha a dizer.

— Onde o Apolo está? — ele perguntou quando entraram na sala de reuniões.

— Ele ficou muito tempo sob o controle de Cypher, Batman achou melhor que J’onn examinasse sua mente para garantir que não haviam sequelas. Estamos preocupados porque ele ainda não acordou, mas a Yuki sim.

— Posso falar com os meus amigos antes dessa conversa? Quero saber como estão.

— Vai poder falar com eles mais tarde — Superman gesticulou quase imperceptivelmente na direção de uma das cadeiras ao redor da mesa e Kev se sentou.

Um minuto depois, Batman e Mulher-Maravilha entraram na sala e ele percebeu que receberia uma bronca coletiva, pra variar um pouco. Eles se sentaram nas cadeiras opostas à que Kev estava, Superman ficando entre os outros dois e frente a frente com o filho.

— Os outros nos contaram tudo o que aconteceu desde que nos vimos pela última vez no Festival de Metrópolis há três dias, e eu te coloquei a par dos detalhes que não presenciou nesta tarde — o kryptoniano foi o primeiro a falar. — Por que não nos chamaram quando Damian sumiu?

— Achamos que podíamos dar conta. E dois dias depois ele apareceu sozinho.

— E quanto ao Apolo ter sido controlado por um criminoso chamado Cypher? Também acharam que poderiam dar conta dessa situação? — Diana cruzou os braços. Ela estava com raiva como toda mãe ficaria depois de ver o filho em algo semelhante a um coma.

— Quando soube, já era tarde demais. Tentei impedi-lo e até mandei esse Cypher soltá-lo e me controlar.

— Você é o mais forte da equipe, por que faria essa burrice?

— Porque também sou o mais fácil de ser parado caso seja necessário. Você mais do que ninguém deveria saber disso, Bruce — essa era a primeira vez que ele estava tendo uma discussão com o Batman, então medir suas palavras era crucial, pois só de receber aquele olhar frio já ficava inquieto.

— E você foi parado, quase sendo morto — Clark, porém, estava mais irritado que o Morcego. — Tem sorte por ser parte humano, senão estaria morto no momento em que a kryptonita entrasse em seu corpo. Precisa entender que, na sua idade, você ainda não absorveu radiação do Sol suficiente para sair ileso de um ataque daqueles.

— O que me lembra que esse carro que vocês construíram sem o nosso conhecimento vai ficar na batcaverna a partir de agora. E nenhum de vocês terá acesso a ele — Batman falou.

Melissa não ficaria feliz com essa notícia, mas o carro era o menor dos problemas deles.

— Finalizamos com o que aconteceu em Belle Reve está tarde. Kate e Cassandra foram feridas, Grace foi congelada e, depois que a tiramos do gelo, vimos que ela tinha cortes no pescoço e o nariz quebrado. Apolo está inconsciente há horas, Natasha precisou ir para a emergência e dois detentos escaparam — a amazona colocou os cotovelos sobre a mesa e se inclinou levemente para frente. — Conseguiram dar conta disso?

Ele ficou em silêncio, sabendo que a resposta era não.

— Deveriam reportar todas as missões que decidissem fazer e esperar pela aprovação da Liga. Esse era o combinado, e vocês o ignoraram por completo — Clark não escondeu uma certa decepção em sua voz.

— Tudo aconteceu muito rápido. Se esperássemos demais, não sabíamos o que fariam com Apolo! — Kev exclamou.

— Vocês são muito novos para estarem lidando com esse tipo de coisa, deveriam ter nos chamado quando as coisas saíram de controle — Batman disse.

Houve silêncio por um tempo, com Kev pensando que teria sido uma boa ideia chamar a Liga no final. Mesmo assim, ele tinha certeza de que sua equipe conseguiria lidar com tudo aquilo.

— Os eventos de hoje nos fizeram perceber que a existência do Deep Six pode trazer mais danos do que benefícios, principalmente para vocês. Estão se colocando em situações de alto risco, agindo de forma irresponsável e descontrolada, o que já era de se esperar por serem jovens e inexperientes — Batman disse, deixando Kevin com medo do que diria a seguir. — Achamos que o melhor a se fazer, seria acabar com a equipe.

— Não podem fazer isso! — o jovem quase falou alto demais, conseguindo controlar seu tom no último segundo.

— E não vamos, — Superman continuou. — Mas é um fato que as coisas não podem continuar como estão. Discutimos isso com o resto da Liga e decidimos que seria melhor que o DS tirasse férias por um tempo.

— Um tempo ainda indeterminado — Diana acrescentou. — Entendemos que querem ajudar quem precisa, nos orgulhamos por termos filhos tão corajosos  e altruístas. Não queremos, no entanto, que se machuquem, e a única coisa que estão conseguindo é se colocar em perigo.

— Tivemos muitas missões bem sucedidas — Kev argumentou.

— Todas com pelo menos um membro da Liga nela. As missões que fizeram sozinhos, pelo menos depois do ocorrido com o soro de Talia, foram desastrosas.

Batman estava certo, ele pensou, mas até parece que todos ali haviam ido muito bem em tudo quando começaram com a vida de heróis.

— Cometemos alguns erros, sempre tentamos não repetí-los. Não é motivo para nos forçarem a tirar férias.

— Não estamos proibindo vocês de agirem como heróis durante esse tempo, é só que causam muito mais estragos para a população e para vocês mesmos quando estão juntos. São desorganizados, ainda não conhecem a total extensão dos seus poderes e não estão preparados para lidarem com o tipo de inimigo que nós lidamos — Diana falou.

— Por que nunca vejo vocês tendo esse tipo de conversa com nenhuma outra equipe? O Stormwatch, a Liga da Justiça Sombria… Nenhum deles parece fazer nada de errado aos seus olhos, só nós.

— Zatanna e Constantine lidam com a LJS, enquanto o Stormwatch existe há mais tempo do que super heróis existem no mundo. Vocês são nossos filhos, nos preocupamos com vocês.

— Nos tratando como crianças? Tenho quase dezenove anos, Mel, Kate, Tony e Damian são maiores de idade e a mais nova na equipe tem dezesseis anos! Não precisamos de vocês na nossa sombra como bebês precisam — Kev geralmente não fala com seu pai daquela forma, eles raramente discutiam, mas agora sentia que ele e a Liga estavam passando dos limites.

— Acho que não estamos sendo claros o suficiente, — Batman se levantou. — Se insistirem em continuar com essa equipe do jeito que está, seremos obrigados a tomar medidas mais drásticas.

— Tipo nos prender?

— Kevin — Superman advertiu quando o tom do filho deu uma leve inclinada para o sarcasmo.

O jovem olhou brevemente para o pai e depois desviou o olhar para a mesa.

— E por que o resto da equipe não está aqui para ouvir isso?

— Queríamos evitar uma discussão maior. Você é o líder, está encarregado de dizer o que lhe falamos para os membros da equipe e também garantir que vão fazer o que pedimos — Diana também se levantou. — Apolo vai voltar para Themyscira e Scott para Atlantis. Arthur vai chegar logo para levá-lo.

— E se eles não aceitarem isso? Conhece sua filha, Bruce, ela odeia que a Liga ou você dê ordens para ela.

— Deixe que eu me preocupo com ela. O resto de vocês vão voltar para suas respectivas cidades até a segunda ordem.

Dizendo isso, Batman deixou a sala e Diana o seguiu.

Kevin sabia que depois de tudo o que havia acontecido, eles não tinham muito com o que argumentar. A luta dele contra Apolo havia destruído boa parte de Gateway City, o desastre em Belle Reve havia terminado com quase todos da equipe feridos e dois detentos altamente perigosos soltos. Mesmo assim, sentir que a Liga os controlava era sufocante, agora entendia porque Melissa queria zero contato entre o DS e eles.

Ele saiu de seus pensamentos quando sentiu uma mão em seu ombro e olhou para o lado, vendo seu pai de pé ali.

— Não estou acostumado a ficar preocupado com você, nunca se meteu em problemas até aquele dia no porto de Happy Harbor em que o navio explodiu com você dentro — Clark suspirou, parecendo cansado. Não fisicamente, mas psicologicamente. — Me desculpe se passei dos limites, mas um dia você vai ter filhos e vai ver que fará de tudo para protegê-los. Estou fazendo isso porque te amo, filho, e se algo acontecesse com você eu não sei o que eu faria.

Kevin sabia disso, e queria dizer que também amava o pai e que tentaria não se colocar em situações fatais no futuro. Ele, porém, estava estressado e com raiva por ter que dar a notícia de que a equipe entraria de férias, possivelmente permanentes se dependesse de seus pais, para seus amigos. O mais novo apenas se levantou e andou na direção da porta.

— Vou falar com eles. Te vejo no final de semana — falou e em seguida deixou que a porta se fechasse atrás de si.

No final de semana, quando era seu aniversário e sua família estaria reunida. Perfeito, ele provavelmente passaria sua festa inteira pensando nisso e tendo raiva do pai. Sentia que aquele dia não poderia piorar.

Foi direto para a enfermaria e viu que todos estavam ali, exceto por Natasha e Tony. Assim que entrou, viu Kate ir em sua direção e o abraçar com força. Ele fez o mesmo, precisando se controlar para não machucá-la, mas sentindo um enorme peso sair de seus ombros só por tê-la em seus braços.

— Nunca mais me assusta daquele jeito de novo — ela sussurrou para ele, ainda não o soltando.

— Não vai se livrar de mim tão facilmente — ele sorriu levemente e os dois se afastaram depois de alguns segundos.

— Kev, você tá bem! — ele ouviu Grace gritar. A velocista estava coberta com mais de três cobertores e estava debaixo de um tipo de lâmpada que deveria transmitir calor. — Eu te abraçaria, mas tá muito gostosinho aqui dentro.

A loira sorriu e espirrou logo depois, colocando um dedinho para fora do casulo de cobertores para pegar um lencinho que Scott lhe ofereceu.

— Como você está, Speedy? — o líder perguntou, sabendo que ela havia.

— Tô melhor. Ah, e se o Batman falar que vai colocar seu nariz no lugar, não deixa, porque dói muito! — o nariz dela já estava praticamente curado, mas a sensação era pra sempre.

— E vocês duas? — ele olhou para Cassy e Yuki, que estavam sentadas na mesma maca.

— Tudo ok, só fiquei com o cabelo ferrado depois dos choques e quase cuspi sangue até morrer — Cassandra deu de ombros e continuou a mexer em seu celular. — Pelo menos estamos todos vivos.

— Estou com uma dor de cabeça terrível, mas é só isso — a oriental tinha uma toalha com água quente pressionada contra sua testa.

— Apolo está lá em cima com o Caçador de Marte — Melissa disse, chamando a atenção dos outros. Ela esteve calada desde que haviam chegado. — Ele ainda não acordou.

— Vai acordar, essa é a boa notícia — ele ouviram Tony dizer, e o detetive apareceu ao lado de Kevin. — Acabei de olhar os arquivos do Cypher no computador da Liga e descobri que o Batman e a Katana já foram controlados por ele uma vez. O que ele fala sobre arrancar os fios causar danos cerebrais é um blefe, Apolo vai ficar bem.

— Qual é a má notícia? — Scott perguntou, arqueando uma sobrancelha.

— Quanto mais tempo a vítima fica sob o controle, mais chances existem de resíduos serem deixados para trás. J’onn está examinando a mente dele pra ter certeza de que Cypher não deixou nada na cabeça dele, e pode ter acontecido.

— E se houverem esses tais resíduos…? — Kevin o viu dar de ombros.

— Deve haver uma forma de tirá-los sem danificar o cérebro dele, não sei. Batman e Katana só ficaram sob o controle dele por alguns minutos, não várias horas.

— Pelo menos agora sabemos como lidar com ele, antes estávamos completamente no escuro — Yuki disse e o detetive virou o rosto na direção dela.

— Precisamos conversar.

— Na verdade eu preciso conversar com todos vocês — Kev o interrompeu.

— Não vai demorar — Tony acenou com a cabeça para ela vir com ele até o lado de fora.

Cassy não foi a única a olhar para Damian quando Yuki retirou a toalha quente de sua testa e saiu da maca, seguindo o detetive. Ninguém ficou surpreso ao ver o olhar nada contente dele na direção dos dois.

— Se acalma, é só uma conversa — Cassy cutucou o irmão de pé ao seu lado. — Homens são tão inseguros.

A Yamashiro já tinha uma noção do que ele queria falar com ela, afinal sabia que ele odiaria sua ideia no momento em que tomou a decisão de pular pela janela e entrar na frente do cabo de controle mental de Cypher.

— Como sabia que eu era o alvo dele? — Tony perguntou, indo direto ao ponto.

— Ouvi aquela garota das espadas de luz falando com ele, foi ela quem o mandou atrás de você.

Ao ouvir que Janessa havia sido a responsável por isso, o moreno precisou respirar fundo para conter sua raiva.

— Então você entrou no caminho de propósito?

— Obviamente. Se for ficar bravo, lembra que salvei seu traseiro.

Ele ficou encarando a jovem por algum tempo sob a máscara, tentando entender como ela conseguia ficar tão calma depois de tudo pelo que haviam passado, depois que ela teve que enfrentar a própria prima e depois de ter a mente invadida por um estranho. Yuki apenas inclinou levemente a cabeça para o lado, esperando para ouvir o que ele tinha a dizer.

— Yuki, nós somos parceiros. Com certeza vamos acabar em situações nada favoráveis no futuro, mas preciso deixar algo bem claro — ela nem precisava ver o rosto dele pra saber que o detetive estava extremamente sério. — Vamos concordar em não fazer coisas estúpidas um pelo outro, tipo se jogar na frente de um psicopata cibernético pra não deixar ele me pegar.

— Você sabe mais informações sobre todos do DS e da Liga do que eu! Era a coisa lógica a se fazer, e tive que pensar rápido, não é algo que planejei — Yuki pôs ambas as mãos na cintura. — Não sou como o Apolo, sabia que seria mais fácil para vocês me derrubarem!

— Bom, não foi fácil pra mim! — o detetive falou mais alto do que pretendia e ela arregalou levemente os olhos, surpresa.

— Precisa entender que sempre vou escolher meus amigos antes de mim mesma, então pode só me agradecer por salvar você, idiota!

— Ok, obrigado! Agora, o que você diria se eu tivesse feito o mesmo por você?

— Eu te daria um soco — ela disse, quase sem pensar. — Um soco fraco, mas um soco.

— Então vamos evitar o drama e concordar e nunca mais fazer isso de novo?

— Vou concordar porque sei que nenhum de nós vai lembrar disso quando o outro estiver em perigo. O DS é a minha família agora, eu sei que fariam qualquer coisa por mim, e eu por vocês. Então, se isso te deixa mais confortável, eu vou concordar. Só vou avisando que provavelmente vai acontecer de novo, já que, como você mesmo disso, nosso ramo é cheio de situações nada favoráveis — ela deu um leve sorriso para o maior. — Mas obrigada por se importar, significa muito para mim.

E então ela o abraçou.

O ato foi tão repentino que Tony congelou. Ficou estático por um momento, não conseguindo pensar na última vez em que alguém o havia abraçado. Ele hesitou, mas também a abraçou, pelo menos por dois segundos antes de dar duas batidinhas nas costas dela e se afastar.

— Acho melhor a gente… — ele apontou na direção da enfermaria e só entrou, sem esperar por ela.

Yuki conteve uma risada e o seguiu, voltando a se sentar ao lado de Cassy na maca. Viu que a Wayne estava no telefone e parecia tentar falar, porém a pessoa do outro lado da linha não a deixava nem terminar a frase.

— Calma, você não… Não foi culpa nossa! — ela gritou a última parte. — Ok, vou te colocar… Espera, droga! Gente, o Greg quer falar com vocês.

Ela colocou o celular no viva voz

Tem ideia do que fizeram?! — a voz do Dent ecoou pela sala.

— Todos insistem em nos lembrar, então sim, temos uma vaga ideia — Grace disse.

— Greg… — Kevin tentou falar, porém o outro o interrompeu.

Não, vocês não fazem a mínima ideia do que fizeram! A Waller tá no meu pescoço agora por causa de vocês e eu preciso encontrar esses dois detentos fugitivos antes que ela decida que vocês são inimigos dela.

— Hum… Kev? — o jovem olhou para a namorada ao seu lado. — O Rusty acabou de falar comigo pelo comunicador, o pessoal do Stormwatch não tá muito contente com a gente por causa do que houve com a Nat.

— Não foi nossa culpa! — Scott defendeu.

— Mais pessoas para nos odiarem além dos nossos pais? — Damian cruzou os braços e desviou o olhar, indiferente.

— Nossos pais não nos odeiam! — Cassy retrucou.

— Se faz você se sentir melhor, Damian, eu te odeio — Tony deu uma risada quando o Wayne lhe mostrou o dedo do meio.

— O Rusty disse, e vou repetir: Quando pegarem alguém da nossa equipe emprestado, tentem devolvê-lo inteiro — Kate falou.

— Isso, aparentemente, não vai mais ser um problema — Kevin não pretendia que todos o ouvissem, já que estavam imersos em suas próprias discussões sobre o quão idiota aquela mensagem era. Porém quando todos pararam de falar e se viraram para ele, percebeu que havia dito aquilo em voz alta.

— O que isso quer dizer? — Melissa questionou.

O líder da equipe passou os olhos por todos os heróis ali presentes, pensando em uma maneira menos dolorosa de dar a notícia.

— Nossos pais decidiram que precisamos colocar o DS de férias por tempo indeterminado. O time vai ficar separado enquanto isso e eles foram muito sérios dessa vez.

— O quê?! — Grace gritou, pulando para fora dos seus cobertores.

— Isso é idiotice! Eles não podem fazer isso! — Cassandra também seguiu a deixa da velocista.

— Desde quando eles mandam na nossa equipe?! — Scott questionou, frustrado.

Eu acho uma excelente ideia — Greg disse pelo telefone. — Assim vocês param de me ferrar.

— Gregory Dent, se você ficar do lado dos nossos pais eu vou te chutar! — Cassy vociferou e desligou o telefone.

— Kev, isso é maluquice, não podemos acabar com o DS — Kate olhava para ele como se o Kent fosse o responsável por tomar aquela decisão.

— Concordo, mas erramos feio hoje. Foi muito desastre acumulado para um dia só, precisamos esperar isso passar.

— E se a gente falar que não vai tirar férias? Me recuso a sair da base como protesto! — Grace bufou e franziu o cenho.

— Eles disseram que todos vão voltar para suas respectivas cidades. Scott volta para Atlantis e Apolo para Themyscira — Kevin ouviu o atlante rir.

— Não vou mesmo, não podem me obrigar.

— Seu pai está vindo.

— Ah… Então acho que podem — a expressão dele caiu para uma de leve tristeza.

— Não posso não ser uma heroína, vou morrer de tédio! — a velocista choramingou e se jogou em uma das macas, balançando as pernas tão rápido que só conseguiam ver um borrão vermelho no local onde elas estariam. — Quero um advogado!

— Não é assim que funciona — Damian falou.

— Talvez seja mais seguro desse jeito, afinal esse novo time de vilões tá atrás do DS. Se estivermos de férias eles vão parar de nos perseguir, certo? — Cassy tentou ver o lado positivo.  

— Não necessariamente, só significa que vão ter um alvo mais difícil de se acertar. Ou mais fácil, isso varia — Tony respondeu.

— O que achei estranho foi a falta de uma pessoa reclamando — Scott olhou na direção de Melissa, que estava sentada em uma das cadeiras e esfregava os olhos, agora que havia removido sua máscara.

— Mel, diz pra eles que é burrice separar a gente! — Grace se colocou de pé novamente e olhou esperançosa na direção da Wayne.

— Ele não disse acabar com a equipe, só férias, então tanto faz.

— O quê?! E quanto ao fato de que o seu namorado vai ser mandado de volta para uma Ilha no meio do nada? Você quer isso?

— O que eu quero é dormir! Hoje foi o segundo pior dia da minha vida, logo depois do dia em que descobri quem era a minha mãe biológica, então se me dão licença, eu vou para casa — dizendo isso, Melissa se levantou e andou na direção da saída. — Acho que vejo vocês por aí.

Todos ficaram em silêncio depois que ela saiu, não entendendo a atitude da amiga. Claro, todos ali estavam estressados e sobrecarregados com os acontecimentos, mas a frieza dela foi desconcertante, principalmente quando ela era a primeira a mandar a Liga para o inferno sempre que tentavam mandar nela.

— O que vamos fazer? — Kate perguntou para o namorado, e ele queria mesmo ter uma resposta boa.

— Acho que precisamos concordar com eles, por hora. Esperar a poeira baixar e então vou falar com eles de novo. Fora isso, não tem muito o que podemos fazer contra os nossos próprios pais.

— Na verdade…

— Damian! Não! Feio! — Cassy sabia que seu irmão iria sugerir algo nada legal e logo o cortou, dando três tapinhas em seu ombro e o fazendo revirar os olhos.

— Era só isso o que queria dizer? — Tony perguntou e Kev assentiu com a cabeça. — Ok, eu preciso ir agora. Pelo visto eu ainda faço parte da Liga e preciso organizar um milhão de arquivos de novos heróis e criminosos que surgiram enquanto estive fora.

O detetive acenou para eles e se retirou da sala.

— Ainda não aceitei isso! Peixinho, não me deixa! — Grace abraçou Scott, que afagou a cabeça dela.

— Também não tô aceitando, mas concordo com o Kev, pelo menos por hora é melhor a gente fazer o que eles querem. Dá uma semana e vão estar implorando pela nossa ajuda de novo — ele se afastou dela e lhe deu um sorriso para assegurá-la do que dizia. — E você pode ir me visitar quando quiser.

Grace concordou com a cabeça, ainda que com um bico.

Kevin sentiu seu peito pesar ainda mais agora que havia dito aquilo. Olhou na direção da namorada, que estava dando a notícia para Rusty e os outros Stormwatch. Quando ela terminou, foi até ele e lhe deu um beijo suave nos lábios, precisando ficar na ponta dos pés para fazê-lo.

— Quer que eu te leve em casa? — ele perguntou depois que se separaram, ainda bem perto um do outro.

— Só se você prometer voar devagar para eu te curtir mais um pouco, antes que tenha que voltar para cá — a loira sorriu antes de dar um selinho nele e segurar sua mão.

— Awwn, ver esses dois juntos até me deixou de bom humor de novo! — Grace falou alto o suficiente para eles ouvirem. — Se casem!

— Arruinou o momento, parabéns — Scott bateu palmas duas vezes para ela.

O casal não conseguiu conter um sorriso diante das palavras de ambos os heróis, e então deixaram a enfermaria antes que Grace pudesse retrucar o atlante, mandando que ele fosse logo para Atlantis antes que ela batesse nele.

§

Melissa foi teletransportada para a base mais rápido do que geralmente era, o que mostrava que o teletransporte da Liga era bem mais potente que o que eles tinham. Chegando lá, viu Ethan se virar de onde estava sentado para olhar para ela.

— Como foi…?

— Pergunta pro Kevin. Estou saindo — ela foi na direção de sua sala e trocou de roupa, pegando alguns equipamentos que queria levar para casa e os colocando dentro de uma bolsa para depois começar a andar na direção do elevador.

— Estão todos bem? — o Palmer tentou de novo, estranhando o comportamento da morena.

— Sim. O DS está de férias, então pode ir pra casa, ninguém vai voltar aqui por um tempo — ela soltou essa bomba e simplesmente apertou o botão para subir, deixando um Ethan extremamente confuso na sala de comando.

Ela não mentiu quando disse que só queria dormir. Desde que começaram a procurar por Damian, ela só havia conseguido dormir por meia hora antes de ser chamada para ajudar no caso de Apolo. Precisava descansar antes que seu mau humor a fizesse esfaquear alguém. O problema é que ela não se lembrava de onde havia estacionado sua moto no dia anterior, só sabia que não a havia deixado no hangar da base.

A Wayne começou a andar pelas ruas, olhando todos os becos que encontrava e xingando baixinho tudo e todos que a haviam feito passar por tudo aquilo mais cedo. Quando passou por uma rua há três quarteirões de distância, viu sua moto estacionada ao lado de um prédio na esquina da mesma. Só então ela se lembrou de que havia parado ali na noite anterior, quando foi checar os esgotos com Cassandra para ver se seu irmão estaria ali.

Ela respirou fundo e seguiu a caminho da moto, quando passou por uma cafeteria extremamente clara e acabou olhando para o lado de dentro. Seus olhos recaíram sobre uma figura familiar sentada perto da janela enquanto bebia uma xícara grande de café e lia um livro. Reparou que ele havia cortado o cabelo e que aparentava estar um pouco mais velho, estava diferente do que ela se lembrava ter visto três anos antes, quando haviam se falado pela última vez.

Não percebeu que havia ficado parada ali o encarando até ele levantar os olhos do livro e acenar para ela com um sorriso. O mesmo sorriso que a fazia corar quando tinha dezoito anos. Talvez ele não tivesse mudado por completo no final.

Ele fez sinal para ela entrasse, apontando para a cadeira vaga na frente dele e Melissa deu uma última olhada na direção de sua moto, pensando se deveria. Estava curiosa para saber o que ele estava fazendo ali e o que ele vinha fazendo nos últimos anos, então mordeu levemente o lábio inferior antes de dar meia volta e entrar na cafeteria.

— Não esperava te ver por aqui, ainda mais a essa hora — ele disse, colocando o livro sobre a mesa e se levantando. — Faz tanto tempo que não te vejo. Está linda, como sempre, Mel.

— Valeu. Você também está ótimo, Jeff — ela lhe deu um sorriso fraco, ainda muito cansada para fingir simpatia.

— Quer se juntar a mim? Colocar o papo em dia? Adorava as conversas que costumávamos ter — o Crane olhou para ela como se, por algum acaso ela dissesse não, ele fosse ficar tão triste que iria para casa arrasado e deprimido.

Ela queria dizer que “não”, e sua cabeça balançou em um sinal claro de “sim”.

— Excelente, — ele sorriu abertamente e voltou a se sentar. — Vou fazer o seu tempo valer a pena. Ainda gosta de café puro com nozes?

A morena franziu o cenho e inclinou a cabeça para o lado, respirando fundo e pressionando os lábios em uma linha reta.

— Tô brincando, sei que tem alergia — Jeffrey se levantou. — Cappuccino de baunilha com o dobro de cafeína, certo?

— Se puder fazer triplo, eu agradeço.

Não demorou para ele voltar com a bebida dela e sentar-se em seu lugar novamente.

— Então, o que tem feito ultimamente? — ela bebeu um gole generoso do seu cappuccino, não tirando os olhos dele.

— Nada demais, é uma história bem curta e nem um pouco empolgante.

— A minha já é bem longa.

— Pode começar então. Gosto de histórias longas, e ainda posso te ajudar com o que está te aborrecendo — ele se inclinou sobre a mesa, chegando mais perto da Wayne.

Ele sabia mesmo ler as pessoas, pois viu que ela estava mais tensa do que uma rocha. E com o histórico dela com ele como psicólogo, Melissa tinha que admitir que ele era muito bom.

— Nem sei por onde começar — ela se endireitou em sua cadeira e olhou pela janela.

— Pode ser depois do dia em que terminamos há três anos atrás. Temos bastante tempo, e a consulta é de graça — ele piscou para ela antes de beber um gole do seu café.


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Notas finais do capítulo

Esse capítulo foi cheio de interações e conversas, depois dos últimos mais focados em lutas. E um pouco emocional também, né?? Porque ninguém é de pedra e eu amo momentos assim *-*

E agora o DS vai se separar… Quem mais acha que isso vai dar merda?? o/

Enfim, eu tô tentando acelerar com as postagens, então vou estar colocando um cronograma de postagens: Segundas e Quintas vão ser os dias em que pretendo postar novos capítulos. Se não der certo, vou escolher outros dois dias, mas vão ser sempre dois dias na semana.

Obrigada por lerem, e até a próxima, mis amores :*