Ressurreição escrita por Eve brt


Capítulo 4
Capítulo 4




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Uma coisa era evidente: não fazia a mínima ideia de onde estava. Jack encontrava-se caído e sentia estar sobre algo frio e liso, é claro, gelo. Levantou de súbito, desconhecia aquele lugar. Não era o lago congelado no qual havia caído, disso tinha certeza, era a única lembrança que tinha. Quase caiu de novo ao reparar suas roupas, estava usando uma camisa branca surrada, uma espécie de casaco de lona marrom e calças gastas da mesma cor. Olhou ao redor e suspirou de alívio ao achar seu cajado no chão, não esperava viver aquilo novamente.

Uma sensação estranha percorreu a sua espinha, percebeu seus dentes rangerem de leve. Sim, estava sentindo um pouco de frio. Começou a andar em círculos, não podia ser, era guardião da diversão! Seu poder era de gelo! Paralisou. Tremendo, segurou seu cajado com mais firmeza e foi até uma grande pedra, tocou sua ponta nela e um desenho de gelo se formou. De novo, suspirou aliviado. Conseguiu voar, precisava de um pouco de felicidade, então foi indo alto e mais alto sem se importar com nada.

O vento o levava numa velocidade espantosa, se sentia imortal de novo e estava sorrindo naquele momento. Dessa vez valorizou mais a paisagem, se perdia naquele azul escuro sobre as nuvens, fechou os olhos e se deixou conduzir. Talvez até por isso não tenha notado que a altura caiu. Não controlava mais o vento. Ao abrir-los notou que voava entre árvores e sentiu as folhas e galhos cortarem sua pele. Seu corpo se chocou contra o chão, não gritou, mas sentiu dor, sensação qual nem lembrava que existia. Arregalou os olhos ao olhar para seu braço, sangue. Nada preocupante... Mas não podia reter a frustração que sentia, ele demorou para perceber que seus olhos estavam levemente marejados.

Arrumou forças, apoiou seus cotovelos no chão e levantou-se, algo que tinha aprendido como guardião era se manter calmo e focado em momentos de desespero, agora teria a oportunidade de colocar isso em prática. Pegou seu cajado que havia caído e começou a caminhar, fez questão de analisar bem onde estava. Notava que realmente não podia ser o local de sua memória, lembrava que tinha um inverno muito rigoroso. Estava sentindo frio, mas não achou que se comparava, nevava somente um pouco. Já que essa era a estação quando entrou no portal faria sentido que fosse a mesma do outro lado... Né? Era algo a se pensar, afinal, também estava de noite.

Jack viu uma espécie de cabana de madeira ao longe, parecia uma taberna. Sem muitas escolhas decidiu ir até lá, era bem rústica e cheirava a peixe e cerveja. Entrou e se deparou com um bando de mercadores, não fazia ideia do que pensar deles. Tinha um objetivo, devia encontrar alguém que conhecesse magia... Se é que existia nesse mundo estranho. Foi em direção ao homem atrás da bancada que limpava os panos, talvez ele tivesse uma resposta.

“Hum, licença senhor.” Disse Jack a ele. O homem se virou em sua direção, tinha um porte robusto, mas forte, cabelos ruivos longos e algumas cicatrizes. Ao ver o garoto arregalou os olhos, encarava seu cabelo.

“O que quer?” Perguntou ele. Quando Jack ia respondê-lo um homem chegou tropeçando no próprio pé, segurava várias bugigangas que o ex-guardião não sabia o que poderiam ser. Ele tinha cabelos pretos longos, mas bem esbranquiçados, e uma barba curta, usava roupas longas pretas. O homem com quem conversava bufou e voltou-se para o recém chegado. “Vicent! O que raios está fazendo aqui de novo?”

“Hã? Ah, é que eu queria guardar essas coisinhas aqui. Posso Baldur?” Perguntou ele. O outro só o olhou cansado.

“Não dá, a taberna já ta lotada. Veja se consegue espaço no armazém.” Sugeriu o ruivo.

“Com aquele sem escrúpulos? Nunca! Eu dou um jeito, obrigado amigo.” Disse saindo da cabana com um leve aceno. Jack viu um outro sujeito grande, pardo e moreno, se aproximar deles.

“Fala sério Baldur, por que você ainda tenta ajudar esse maluco?” Questionou ele.

“Vicent pode ser doido mesmo, mas não deixa de ser um gênio... Vai que faz algo da certo, quem sabe né.” Respondeu. Isso intrigou Jack, tinha que saber mais.

“Então esse homem sabe sobre tudo?” Interferiu ele. O ruivo se voltou para o garoto.

“Deve saber, sempre está criando algo novo. Mas ele também fala muito sobre magia.” Disse ele. Jack arregalou os olhos e prestou mais atenção. “Ela existe e todo mundo sabe disso, mas ninguém é mais dedicado do que esse sujeito.” Completou.

“Nossa... Interessante.” Comentou Jack, estava disposto a ir conversar com ele. “Bem, queria trocar uma ideia com alguém que entendesse desse assunto, obrigado.” Despediu-se, mas foi abordado por Baldur.

“Garoto, antes de ir tem que me explicar uma coisa...” Disse ele. Jack estremeceu, tinha que confessar que aqueles homens eram um pouco intimidadores. “Por que o seu cabelo é branco? Você parece muito jovem.” Perguntou ele. O albino suspirou aliviado.

“Hmm, deve ser de nascença.” Falou saindo de vez da taberna. Parou para pensar, nem sabia se continuava com seus poderes de gelo, não voava mais, sentia emoções e sentimentos humanos mas seu cabelo ainda estava branco? Isso também era algo para se pensar.

Olhou para os lados, viu o homem ao longe adentrar numa pequena cabana de madeira, começou a andar em sua direção. Ao chegar até ela bateu duas vezes na porta, viu uma peça de madeira deslizando para o lado e dois olhos o encararem.

“É o cobrador de impostos?” Questionou ele.

“Hã... Não.” Respondeu o albino, não era a maneira mais comum de se abortar alguém que bateu na sua porta, pelo menos não no século XXI.

“Então o que quer?” Perguntou o homem.

“Uma pessoa inteligente que entenda de magia.” Disse de imediato, sabia como atrair a atenção de alguém. Ouviu ele destrancar as fechaduras até abrir a porta.

“Sorte sua que eu sou curioso, porque eu não cedo a bajulações.” Falou abrindo passagem para o ex-guardião.

Sua casa era bem simples, tinha apenas um lampião. Jack percebia que quase tudo na casa era meio que improvisado. Havia ferramentas e todo tipo de bugigangas espalhadas pela moradia de um só cômodo, não tinham paredes para formar aposentos, mas viu que havia uma escada que levava para um abaixo deles. E livros, muitos e por toda a parte. O homem fez um sinal para ele se sentar num sofá velho posto no canto, e assim fez.

“Então.” Se pronunciou ele. “O que tem para contar?” Perguntou dando um gole em seguida do seu chá que estava posto na mesa. Jack estranhou, deixa um desconhecido entrar em sua casa e nem pergunta qual é o seu nome? Resolveu deixar quieto.

“Bem... Vai ser difícil entender sem saber tudo o que ocorreu.” Disse passando a mão pelo pescoço. Vicent deixou a xícara em cima da mesa e olhou divertido para o albino.

“Então creio que esteja com muita sorte hoje meu jovem.” Olhou para um grande relógio posto num canto e voltou a encará-lo. “Temos muito tempo sobrando e...” Fez um breve suspense sorrindo de canto. “Eu adoro ouvir histórias.”

                            ~~~~~*****~~~~~

Ninguém sabe muito bem por quanto tempo aquela conversa se estendeu, também não importava. Vicent escutava tudo com muita atenção e paciência, só fez algumas perguntas enquanto o albino falava. Ao terminá-la Jack o encarou esperançoso, aquele homem não tinha razões para acreditar nele, não sabia o que devia sentir naquele momento. O moreno olhou para as mãos e ficou esfregando uma na outra, subiu seu olhar retornando com seu sorriso.

“Que história! Essa é do tipo que não se vê todo dia!” Exclamou ele, parecia bem animado. Jack ficou surpreso e, ao mesmo tempo, aliviado.  “Um garoto salvo pelo velho Homem na Lua que se transformou num dos guardiões mágicos! Incrível!” Completou, o albino o encarou completamente confuso.

“Como assim? Você já sabia sobre ele? E todos os outros!?” Questionou. Vicent soltou uma risada.

“Mas é claro! Ouvi contos parecidos por todo lado, embora os do Homem na Lua sejam representados de várias formas diferentes pelo mundo, como também é modificada a sua própria figura.” Respondeu ele. “Mas então, me contou a sua história, o que quer de mim?” Perguntou pegando um livro do chão. 

“Não entendeu? Tenho que voltar!” Exclamou com mais desespero do que desejaria demonstrar. “Já que conhece sobre os guardiões e magia, pensei que poderia me ajudar.” Disse abaixando o olhar, estava praticamente implorando. Sentiu a mão do Vicent erguer seu queixo, fazendo-o encarar seus olhos.

“Jack, tente congelar a capa desse livro.” Disse segurando o objeto, o albino estremeceu. Pegou seu cajado e tocou sua ponta nele, sentiu que estava suando, uma flor de lis foi desenhada. Suspirou aliviado. “Creio que não pode mais voar, parece que está se tornando mais humano ao longo do tempo, mas em razão também das suas emoções.” Disse Vicent.

“Como assim?” Questionou.

“Entenda, quando voou se sentiu verdadeiramente alegre, seu coração começou a bater.” Explicou o moreno, Jack sentiu sua garganta secar, mais um ponto negativo. “Isso foi mais uma característica humana atribuída a você, que o fez perder o controle sobre seus poderes e cair. Depois sentiu dor, até sangrou! Foi uma série de acontecimentos que o instituiu a se sentir humano de novo, um segundo atrás estava suando de medo.” O albino o escutava perplexo, fazia sentido. Vicent abriu uma caixa do seu lado e pegou o que parecia um pequeno espelho, deu o objeto a ele. “Seu cabelo continua branco e seus olhos azuis, me disse que em sua memória era moreno, certo?” Perguntou e o outro acenou em concordância. “Provavelmente o tempo os trará às suas cores originas, tenho motivos para crer nisso.” Disse levando sua mão a cabeça do albino, arrancando um fio de cabelo. Entregou-o a Jack. Castanho. Parecia que a bomba de realidade caiu em cima dele para desmoroná-lo por inteiro, não sabia o que dizer.

“O que eu faço!?” Perguntou exaltado. Vicent se levantou e o encarou compreensivo.

“Agora? Nada. Descanse que amanhã vemos o que podemos fazer.” Disse indo em direção às escadas. “Tem cobertores no armário, pode sentir frio.” Completou piscando sorridente para o albino até desaparecer da sua visão. Jack ficou encarando o nada, realmente se sentia cansado. Pegou o cobertor e foi até o sofá, agora olhava o teto velho como se fosse a mais bela obra de arte, nem lembrava como se dormia. Ficou um tempo nisso até que o cansaço vencesse, mais um ponto negativo para sua lista de hoje. Fechou os olhos e se deixou levar pelo sono.

Não teve sonhos naquela noite.

Só queria acordar e descobrir que tudo não passou de um pesadelo.


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