Já teve a sensação de que um caminho se tornou mais longo de repente? Era assim que Jack se sentia. Voava por cima das nuvens rosadas, que indicavam o fim do pôr do sol. Estava completamente perdido em pensamentos, o que era raro de se ver naquele garoto que sempre agia por impulso. Nem notou quando chegou diante da construção tão rústica e delicada ao mesmo tempo feita pelo Papai Noel, a Fábrica de Brinquedos. Olhou com receio para o grande portão, mas bateu na porta com três socos e um daqueles elfos rabugentos apareceu. Ele encarou o guardião com indiferença e abriu-lhe a passagem, voltando a dormir na vigia.

Não era a primeira vez que Jack pisava ali, mas não podia deixar de se impressionar com o lugar. Qualquer um podia ver sem esforço o encanto por toda a parte, rodeava os brinquedos, yetis e até aqueles elfos chatos. Remetia a uma magnífica construção e, ao mesmo tempo, a uma simples casa de madeira aconchegante. Caminhou até o ciclo dos guardiões, onde todos estavam a sua espera. North estava muito atento a um livro, usava um pijama de sinos, o que Jack não conseguiu compreender muito bem, parecia ansioso. Coelhão brincava com seus bumerangues, esparramado no sofá. Fada olhava fixamente o vitral do Homem da Lua, voando como um beija-flor. Sandman foi o único que notou sua chegada, cumprimentando-o. O guardião dos sonhos tentava chamar a atenção dos companheiros sem sucesso, Jack soltou uma leve risada e resolveu o problema.

“CHEGUEI!” Berrou ele, todos os guardiões pararam o que estavam fazendo e o encararam. Não foi a reação que esperava causar, ninguém se assustou ou se pronunciou até que North pareceu voltar à realidade.

“Jack! Meu garoto! Pelo jeito nunca vai aprender a cumprir horários, não é?” Riu alto.

“O que posso fazer? Está no meu cerne.” Respondeu seguido de um sorriso maroto. Os guardiões se juntaram no grande ciclo. “Mas então, o que é tão importante?” Perguntou. Antes que qualquer um pudesse se pronunciar aquele clarão branco invadiu o lugar, e viam claramente a Lua pela janela, que parecia mais brilhante naquela noite. North a encarou com um olhar melancólico e se voltou para o guardião da diversão.

“Jack... Alguma de suas memórias voltou após o incidente?” Questionou ele. O albino petrificou. Não. Essa era a resposta. Aquela imagem do gelo quebrando sobre seus pés e o rosto horrorizado da sua irmã foram as únicas lembranças de sua vida passada, a qual todo dia esperava poder esquecer que existiu, talvez desse jeito fosse menos doloroso.

“Não.” Disse curto. “Mas importa!? Não quero saber de mais nada, 300 anos de expectativa foram o suficiente, não acha?” Completou e bufou descontente. Ele mentia muito e o tempo todo, claro que ansiava pelas respostas as quais muitas vezes acreditava que nunca viriam. Fada encarou-o compreensiva.

 “Sabemos o quanto está frustrado, todos nós...” Disse ela com ênfase na última frase. Jack a olhou confuso e Fada se voltou para a Lua, com o mesmo olhar de North.

“O Homem na Lua? O que tem ele?” Perguntou o albino. Não conseguia definir quais eram as sensações que sentia, nem notou quando Coelhão se aproximou e tocou em seu ombro.

“Frost, você derrotou o Breu e salvou as crianças, seremos eternamente gratos a isso.” Disse ele. Jack piscou algumas vezes, se guardiões aparecessem em câmeras com certeza ele daria um jeito de filmar aquilo. Mas também não entendeu o porquê, francamente, estava cansado de não entender nada do que se passava.

“Dá pra alguém ir direto ao ponto!?” Perguntou exaltado. Todos se assustaram, e North foi paciente até ele, olhando-o nos olhos.

“Jack, você vai ter a sua vida de volta.”

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Se já estava perdido, agora estava ainda mais. O albino encarou-o abismado, merecia mais explicações.

“O Homem na Lua acha que seu trabalho aqui já acabou, derrotou as sombras e quer devolver-lhe a vida como recompensa.” Se pronunciou North.

“Fala sério!” Se exaltou Jack de novo. “Então o cara me traz pra ficar centenas de anos esperando o bicho papão atacar para poder derrotá-lo!? Por que não me deixou no fundo do lago de uma vez?”

“Para, Jack!” Dessa vez se exaltou North. “Ele te escolheu para algo maior, talvez não achasse que você devia morrer ou...”

“Muita gente não merecia morrer...” Não sabia o porquê, mas dizer aquilo lhe trouxe um pressentimento estranho. “Fui escolhido como guardião e assim que vai ser! Só queria respostas, saber quem eu era... Não isso aí! Acho que o papo encerrado.” O albino estava saindo, mas parou ao ouvir a voz de Coelhão.

“Não está entendendo, não é como se você tivesse escolha.” Disse ele com aspecto triste. Jack o encarou confuso e viu que todos os guardiões também estavam assim. A luz branca foi voltada para um dos globos de neve do Papai Noel, ele brilhou e adquiriu um tom de azul marinho, de repente, caiu no chão.

“Jack, o Homem na Lua sempre faz o que acaba sendo melhor pra todo muito, pode parecer confuso mas...” North falava, mas foi interrompido de novo.

“Mas nada, agora que descobri o meu cerne tira de mim o que eu procurei por tanto tempo! Qual o sentido disso!?” Não soube mais no que pensar, só conseguiu ouvir os soluços da Fada e o som de um vento forte. Aquele globo se transformou num portal, que estava puxando o albino.

“Tenho certeza que vai encontrar o que precisa... Adeus Jack, sempre iremos acreditar em você” Disse North. Jack não pôde fazer mais nada. Foi vendo os guardiões de cada vez mais longe.

Somente um garoto e seu cajado.

Pois é, parece que vai começar de novo.