Ressurreição escrita por Eve brt


Capítulo 2
Capítulo 2




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As risadas soavam bem aos seus ouvidos, como sempre. Sua concentração estava voltada para aquela bola de neve, errar não era uma opção, seu orgulho não permitiria. Olhou de relance para o menino escondido atrás daquele monte de neve, um sorriso travesso brotou em seus lábios. Juntou mais neve até formar uma bola espessa, pronta para destruir o forte de um certo garotinho que teve a ousadia de desafiá-lo.

“Olha a bomba!” Gritou aquele jovem pálido para todas as crianças ouvirem. Tudo o que se pôde ver foi Jamie sendo esmagado pelo amontoado de neve, seguido de intensas risadas vindas dos amigos. As gargalhadas, aquelas que enchiam todos aqueles de alegria. Mas é claro, com uma momentânea exceção.

“Jack! Não foi justo!” Disse o jovem de cabelos castanhos enquanto tentava se livrar de toda aquela neve, é claro, inutilmente. Explodindo de risadas, o albino foi voando lentamente até o amigo, seguido dos outros, com o olhar de quem tinha visto oportunidade.

“É meu caro Jamie, creio que ninguém mandou desconfiar da capacidade de Jack Frost.” Disse ele apoiando os cotovelos no garoto atolado, com seu clássico sorriso travesso. “Então, se pretende não ficar preso por... Sei lá, o resto da sua vida...” Deu uma pausa continua, observando as feições de medo de Jamie. Aquilo, para um guardião da diversão, realmente não tinha preço. “Terá que retirar cada palavra que disse a meu respeito, e incluir um pedido de desculpas ao soberano rei, mestre e deus da diversão!” Continuando com aquele ar sarcástico, parou em frente do garoto e abriu um sorriso. “De joelhos!” Completou triunfante. Foi seguido por um olhar de incredulidade de Jamie e risadas das crianças. Jack voou até ficar de cabeça para baixo, encarando o amigo. “E aí, como é que vai ser?”.

“... Tá bom.” Disse Jamie com uma profunda tristeza na alma. Vitorioso, Jack tirou o garoto da neve e sentou-se num banco perto, esperando-o cumprir o trato. De repente o chão começou a tremer, e o albino bufou já sabendo o que viria a seguir. Um buraco surgiu, seguido de três ovos de Páscoa gigantes e do guardião da esperança. Coelhão estava com um semblante impaciente, mas também uma certa tristeza no olhar que ninguém notou.

“Opa, a que devo sua presença ó grande lorde canguru?” Perguntou Jack, que se levantou apoiando-se em seu cajado. Mais risadas foram ouvidas, e ele sorriu contente para as crianças e em seguida para Coelhão, que só fez careta para ele.

“Hilário Frost, mas agora o assunto é sério.” Retrucou o guardião da Páscoa, muito abatido. Sua preocupação com algo era evidente, e Jack logo tratou de prestar mais atenção. Ele aprendeu a ser mais responsável depois que se tornou guardião, afinal, sua tarefa era proteger as crianças, mas sua essência nunca mudou. Coelhão mandou os ovos brincarem com o pessoal para distraí-los, e voltou-se para o colega.  “Recebemos uma mensagem do Homem na Lua.” Disse de uma vez. O albino arregalou os olhos, havia um ano que a figura misteriosa que o transformou em Jack Frost não aparecia, o que na verdade era um curto período de tempo comparado a 300 anos.

“E-E o que era?” Perguntou o jovem, completamente desnorteado.

As memórias de Jack nunca voltaram, e todo dia ansiava por respostas. Ao contrario dos outros guardiões, ele já foi humano. Sentiu emoções, teve uma família, um coração que costumava bater e pulmões que já funcionaram. Os restantes foram criados por uma das maiores forças existentes, a mente humana. Crianças que imaginaram seres fantásticos, inusitados e únicos que acabaram se tornando adultos, espalhando essas histórias pelo mundo e escrevendo livros para registrá-las. Eles fizeram pessoas acreditarem nesses contos, trazendo esperança, lembranças, sonhos e encanto. O Homem da Lua sempre existiu em formas diferentes pelo mundo, e ele não podia deixar que algo tão belo e puro pudesse ser esquecido. Materializou esses personagens, transformando-os em guardiões que defenderiam tudo aquilo que as pessoas passaram a acreditar.

Jack encarou o Coelhão com expectativa, o outro, incrivelmente, o olhou com compaixão.

“O North só me mandou dizer que vai ter uma reunião amanhã, no Polo ao pôr-do-sol.” O guardião da esperança começou a andar em direção às crianças, que ainda estavam brincando com os ovos de Páscoa. Parou no meio do caminho, olhando de relance para o albino. “Não se atrase, Frost... Por favor.” Sussurrou a última parte. Jack estava estático, qualquer que fosse a razão, era algo muito sério. Coelhão parecia mais descontraído brincando com as crianças, ajudando Sophie a montar num ovo. O albino não conseguiu sorrir, pois sua atenção estava completamente voltada para um assunto o qual nem sabia do que se tratava.

                                    ~~~~~ ***** ~~~~~

Jack deixava-se levar pelo vento, qualquer um que pudesse ter uma vista tão privilegiada como era a de sobrevoar uma cidade com certeza apreciaria mais aquele momento. Estava absorto em seus pensamentos. A única coisa que tinha certeza sobre o meio externo era que estava extremamente frio, como? Também não sabia, afinal não sentia temperatura, só tinha consciência disso. Ele se sentia estranho.

Estranhamente só.

Talvez só precisasse de alguém para conversar. Avistou a casa de Jamie, a companhia de um amigo lhe cairia bem. Foi até a janela do quarto do garoto, e ele estava em cima da cama, escrevendo algo no caderno. Seu olhar estava centrado e suas bochechas levemente rosadas. Jack o olhou confuso. Abriu a janela de uma vez, deixando alguns flocos de neve invadirem o aposento.

“J-Jack, fecha! Ta congelando!” Disse o garoto, e logo tratou de fazê-lo.

Jamie, muito ruborizado, escondeu o caderno por baixo do travesseiro. O albino foi até ele, encarando-o travesso, e pegou o caderno voando de cabeça para baixo.

“Hum, me deixa ver isso aqui...” Disse ele. Direcionava o olhar atenciosamente para cada verso, sim, era uma poesia. O menino tentava desesperadamente pega-lo de volta, sem sucesso. O guardião até riria disso, mas estava muito concentrado. “Jamie... Foi você quem escreveu?” Perguntou.

“Tá, fui eu! Agora devolve!” Disse o garoto totalmente vermelho.

“Então quer dizer que o galã aí está apaixonadinho, hein?” Perguntou Jack maliciosamente. Jamie só pegou o caderno de volta e foi para baixo do cobertor, e o amigo o encarou compreensivo.

“Sabe, é muito bom!” Concluiu o albino. O outro o encarou confuso, com brilho nos olhos.

“A-Acha mesmo?”

“Totalmente!” Confirmou, Jamie já havia se sentado ouvindo-o atentamente. “Meu amigo, não sabia que tinha tanto talento com as palavras.” Concluiu Jack sincero.

“Sério? Que legal! Escreverei mais poemas! Assim ela vai gostar ainda mais! E livros! De todos os tipos!” Exclamava o garoto super agitado, o guardião ria do seu entusiasmo. Crianças eram muito fáceis de serem encorajadas, assim como de terem seus sonhos “esmagados”.

“É isso aí moleque!” Disse, partindo para cima do amigo, fazendo cócegas. Após muitas gargalhadas Sophie veio ao quarto do irmão, pulando em cima do albino. Brincaram por muito tempo, até que a porta foi aberta.

“Crianças! O que estão fazendo essa hora acordados?” Chegou a mãe deles, com um semblante tanto quanto raivoso. Os irmãos trocaram sorrisos travessos.

“Brincando com o Jack Frost, ué!” Respondeu Jamie com cara de inocente. A mulher os encarou surpresa, mas depois divertida.

“Então ta, mas digam adeus pra ele e vão logo pra cama.” Disse e saiu do quarto. Os amigos começaram a rir, mas sentiram o sono chegar.

“Boa noite, Jack Frost!” Brincou Sophie, preparando-se para dormir.

“Boa noite, floquinho.” Disse ele, dando um beijo na testa da garota.

“Até mais Jack!” Exclamou Jamie. Até mais. Se dissesse sim seria uma promessa? Com certeza.

“Até!” Respondeu dando um abraço no menino.

O albino saiu pela aquela janela e, novamente, deixando o vento levá-lo. Continuou sua ronda cuidando das crianças que não conseguiam dormir, agora com pensamentos mais leves e despreocupados. Estar com aqueles amigos que acreditavam nele era incrível.

Era sua parte predileta do dia.

Quando eles o lembravam o porquê era um guardião.


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