War of Hearts escrita por Himiko


Capítulo 4
Capítulo IV — Um recomeço sombrio


Notas iniciais do capítulo

Oi oi, chuchus!
Eu sei que demorei pra postar, mas eu precisei dessa vez. Juro que o cap. cinco eu posto no sábado, prometo!

Bem, boa leitura.



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Não me movi.

Não ouvi.

Não chorei.

O choque tomava conta de cada membro do meu corpo. A dor da perda era excruciante. A culpa me apunhalava a cada dez segundos.

Minha culpa. Ela se fora, e a cruz pesada era minha.

Sam me ajudou a levantar. Continuei encarando a cama onde ela estava, totalmente sem reação além do ódio e do choque. As mãos dele seguravam meus cotovelos e eu podia ouvir sua voz, entretanto ela soava fraca e distante, como se me chamasse de outro cômodo. Meus olhos estavam marejados, mas as lágrimas se recusavam a descer. Minha visão estava cravada no móvel onde ela passava todos os dias.

Meus sentidos pareceram triplicar sua eficiência. Conseguia sentir o cheiro naturalmente doce que ela tinha. Ainda podia sentir a aura animada que ela sempre esforçava-se para ter impregnada nas paredes. Mais do que nunca, aquele lugar era ela. Como um santuário. A ligação entre meus olhos e a cama fora cortada quando Samuel — é a única opção plausível para ser seu nome completo — colocou-se a minha frente; as ondas de calor que suas mãos proporcionavam subiram por meus braços e alcançaram minha cabeça, me trazendo de volta ao mundo real. Estava tão chocado quanto eu. Pude senti-lo me sacudir, chamar novamente pelo meu nome, tentar atrair minha atenção. Eu apenas conseguia encará-lo, sem saber como agir diante daquilo.

Ela se fora.

Ele a levou.

A culpa é toda minha

Sam me puxou para um abraço apertado, envolvendo meu pescoço com seus braços enquanto meu queixo apoiava-se com dificuldade em seu ombro. Ele murmurava coisas que não pude ouvir, mas sei que eram sinceras. Talvez fossem palavras de consolo, mas não prestei atenção; continuei encarando o nada, esperando que tudo aquilo não tivesse passado de uma brincadeira e mamãe sairia detrás da porta gritando "surpresa!". Fui capaz de escutar meu coração se rachando dentro do peito. Caindo aos pedaços, espatifando-se contra meu âmago. A ficha não caia. Ela não podia estar morta, não podia. E a promessa que eu a fizera? E quanto a sua cura?

Levei meus braços em direção aos ombros de Sam e afundei-me em seu tórax. Deixei que me abraçasse apertado, numa tentativa falha de descobrir que tudo aquilo era um pesadelo. Minha lugubridade chegara a níveis tão profundos que eu não conseguia derramar uma única lágrima. Eu não conseguia acreditar que ela estava morta. Que Joyce Rider Mills não estava mais ao meu lado. Que ela não me daria mais beijos de boa noite, nem que não conversaríamos mais sobre os garotos com quem eu saía nas festas da irmandade. Nada daquilo me parecia real. 

E então eu soltei uma risada vazia e sem humor. Sam me soltou devagar e me encarou penosamente confuso, ainda segurando meus ombros. Me chegava a ser engraçado. Engraçado como o universo me fazia de idiota.

— Isso só pode ser uma piada. Uma piada cruel, desumana e doentia. Não pode ser real.

— Hayden...

— Não, isso é falso. Tem de ser falso. Órion, apareça! Acabe com essa merda! — berrei em fúria, cerrando os punhos com tanta força que as unhas compridas começaram a machucar minhas palmas — TRAGA ELA DE VOLTA!

O silêncio fora minha única resposta. O Winchester voltou a pousar suas mãos em meus ombros, e por mais suaves que elas estivessem ali, seu peso fora o suficiente para me lançar ao chão mais uma vez. Meus joelhos fraquejaram, o ar me faltou, e a única coisa que pensava agora era que precisava sair daquele lugar imediatamente. Queria sair e nunca mais voltar.

— Eu quero ir embora. — murmurei, tão baixo que mal pude ouvir a mim mesma — Me leve embora daqui, Sam. Por favor, pra qualquer lugar.

Somente me tire daqui.

{...}

Enfiei a última peça de roupa dentro da mala e a fechei. Olhei com carinho, dor e arrependimento uma última vez para meu quarto, memorizando cada espaço daquele local que eu tanto amava. O ambiente que levei anos para arrumar até ficar do jeito que eu gostava. Imediatamente, levei uma de minhas mãos até o colar em meu pescoço, onde uma foto minha e de minha mãe na Estátua da Liberdade descansava, dentro do pingente no formato de um relógio. Aquela era a última lembrança física que eu planejava levar comigo.

Deixei o lugar antes que desistisse de ir embora. Caminhei a passos pesados até a sala, onde Samuel me esperava, sentado no sofá com as mãos entre os joelhos, enquanto estes davam apoio aos seus cotovelos. Sabia que ele estava surpreso pelo fato de eu não ter chorado. Mas não conseguia; não conseguia chorar pela morte injusta e cruel que Joyce tivera. Só iria chorar quando visse seu túmulo, e tivesse a certeza de que ela se fora. O que eu mais queria no momento era encontrar aquele filho da mãe desgraçado e matá-lo com minhas próprias mãos. A raiva me consumia tanto quanto a tristeza.

— Quero ir com você. — declarei, de pé diante do caçador. Ele ergueu a cabeça, confuso — Quero aprender a caçar.

— Hayden, não acho que seja...

— Não vou me acovardar, Sam. Órion está por aí, a solta, e disse que vai trazer o Apocalipse bíblico. Eu não posso deixá-lo fazer isso. Destruir mais famílias como ele fizera com a minha. Meu pai impediu dois Armagedons. Quero dar continuidade a tradição da família. — me sentei ao seu lado, cansada — Por favor, Winchester. Eu preciso disso. É uma questão de honra.

Assisti seus ombros caírem, e ele assentiu com a cabeça. Não tinha força alguma para sorrir, mas lhe direcionei um olhar agradecido. Levei os olhos até a janela, vendo o céu noturno da cidade estender-se em direção ao horizonte. Um sentimento diferente apoderou-se de mim. E se aquilo tivesse acontecido por um propósito? E se minha mãe tivesse... Morrido para que eu pudesse ser uma verdadeira guerreira de Deus? Um raio cruzou o céu, como se me respondesse. Talvez eu fosse a escolhida.

Mas talvez não fosse capaz de cumprir a missão.

— Tudo bem. Meu irmão está em Bellaire, em Ohio. — Samuel me trouxe de volta ao mundo com sua voz — Nós estávamos no meio de um caso de vampiros quando eu saí, e supondo que ele ainda esteja dormindo, não irá me matar se chegarmos antes do Sol nascer.

— Ainda são onze horas. — declarei, olhando o relógio em formato de gato que pendurava-se na parede da sala — Se sairmos agora, talvez consigamos chegar lá a tempo.

— Você tem certeza disso, Mills? Essa vida não é fácil. Uma vez dentro, você não consegue mais sair.

O sentimento estranho preencheu meu peito novamente. Me levantei, segurando a alça da mochila que carregava com força, e levei um olhar decidido até o moreno. Pude então reconhecer o que sentia. Determinação.

— Eu quero acabar com aquele son of a bitch com minhas próprias mãos. 

O Chevy Impala de mil novecentos e sessenta e sete zunia veloz pela estrada, enquanto lutávamos contra o tempo para cumprir as seis horas de viagem o mais rápido que pudéssemos. Sam corria tanto que conseguira economizar uma hora, e agora, as quatro e meia da manhã, a placa de "Bem vindo a Bellaire" surgia diante de nossos olhos, e a cidade iluminada crescia por cima do horizonte.

Durante todo esse tempo, a única coisa que conversamos fora sobre o que estava acontecendo naquela cidade. Ele me deixou a par de tudo o que seria feito, e disse que eu estaria segura. Seu irmão Dean provavelmente ainda estaria dormindo, então teríamos alguma vantagem. O resto do trajeto fora dominado pelo silêncio arrebatador. Não fui capaz de pregar os olhos, por mais cansada que tivesse. Eu não queria dormir e entrar num pesadelo com minha mãe. Sam parecia tão inquieto quanto. Me ofereci para dirigir, mas ele recusou. Aquilo, mesmo que parecesse bobagem, me deixou arreliada.

— Sam, a culpa não foi sua. — minhas palavras pareceram atingi-lo exatamente onde ele mais protegia — Eu lhe pedi por ajuda. Eu fui a tola. Não precisa se culpar ou sentir-se responsável por toda essa merda. A culpa é toda minha.

— Não. Bobby lhe disse para confiar em mim. A culpa pode não ser minha, mas o descuido foi meu. Me desculpe por isso, Hay. Me desculpe por sua mãe.

Me conformei, suspirando. Assim como dizer que a culpa não era minha não iria mudar minha mente, o mesmo jogo não funcionaria com ele. Atravessamos a cidade — vazia às quatro da manhã — em alguns poucos minutos, e logo o The Bowery Hotel surgia diante de nós. O lugar era até aconchegante, apesar de parecer muito pacato e sem vida. O Winchester estacionou o Impala numa vaga qualquer, e logo desci, vendo-o me acompanhar. A única mala que trouxe agora parecia pesar, graças ao cansaço que tomava conta de cada músculo do meu corpo. O mais alto se ofereceu para que levasse a mochila, mas neguei com a cabeça; ele estava tão cansado quanto eu, não merecia passar por carregador.

Passamos pela recepção vazia, e Sam alcançou uma das chaves com o braço comprido, inclinando-se sobre o balcão. Seguimos a passos largos na direção do quarto em que ele estava hospedado, e quando a porta se abriu, havia um homem sentado numa cadeira.

Seus cabelos eram arrumados num quase topete dourado, quase em um tom arenoso. A pele oliva era tão puxada para o bronze quanto a do mais alto, e escondia-se atrás de uma camisa cinza e uma blusa social jogada pelos ombros largos. O maxilar denunciava um pouco de barba que crescia em sua pele e ele não parecia se incomodar com aquilo. Os lábios eram rosados num tom claro e levemente cheios, seguindo o formato de um nariz um tanto arrebitado. Ele encarava o outro homem com uma expressão brevemente irritada que destacava suas feições, pondo à mostra o cenho franzido. As sobrancelhas finas se curvaram, e quando seus olhos seguiram caminho até encontrarem os meus, elas se ergueram imediatamente. E seus olhos... Uau, eu nunca havia visto coisa mais bonita. E falo sério. Eram de um verde vivo e de fácil leitura. E eles claramente diziam que raios você está fazendo aqui?

— Sammy, você enlouqueceu?! — exclamou, erguendo-se da cadeira onde se encontrava e caminhando até o mais alto — Podia ter pelo menos deixado um bilhete!

— Foi mal, Dean. De verdade.

— E quem é você?

Não lhe respondi; eu apenas puxei a carta de Bobby da mochila e entreguei em suas mãos. Estava tão cansada, eu não estava com a menor vontade de falar ou explicar alguma coisa. O loiro leu com atenção, os mesmos sentimentos de saudade e tristeza preenchendo seus lumes verdes enquanto os mesmos passeavam pela superfície do papel. Baixou a carta, voltando a me entregar, e me olhou surpreso.

— Bobby nunca nos disse que tinha uma filha. — ele deu um sorriso fraco, claramente doloroso — Velho maluco. Sou Dean Winchester.

— Hayden Mills.

Ei, Dean, Sam já chegou?

A porta por onde havíamos passado abriu-se novamente. E quando levei meus olhos até a mesma, o mundo e todos os seus problemas me pareceram muito, muito pequenos.

Um homem entrara no quarto. Seus cabelos eram negros como a noite, estavam bagunçados de forma casual e lhe davam um ar juvenil, apesar de aparentar ter por volta dos trinta anos. Uma barba rala descia seu maxilar, rodeando sua boca rosada de lábios levemente cheios. Sua pele oliva era bem mais bronzeada que a minha, visto que eu era branca feito papel. Dava um belo contraste em relação à camisa branca e a gravata azul que usava. Seus pés estavam cobertos por sapatos de couro reluzentes e usava calças sociais, além do longo sobretudo caramelo que descansava sobre seus ombros. Seus olhos eram realmente encantadores... Um azul tão profundo e puro que facilmente leriam minha alma como um livro de história. Suas órbitas eram expressivas, e naquele momento, revelavam todos os sentimentos que ele exalava; surpresa, curiosidade e confusão. Ele entortou a cabeça ao me ver, e pareceu tão estático quanto eu. Me peguei sem palavras.

Aquele era possivelmente o homem mais bonito que eu já poderia ter visto e me lembrado na vida.

— Acabou de chegar, Cas. — o recém-chegado se aproximou — Hayden, este é Castiel. Cas, esta é Hayden, filha... Filha do Bobby.

O homem acenou abobalhadamente, os lábios meio entreabertos, e um minúsculo e frágil sorriso surgiu em meu rosto. Senti uma leve pontada de dor em meu pescoço, onde Órion apertara, e passei a mão pelo mesmo, sentindo o incômodo se aliviar, mesmo que pouco. Dean me ofereceu sua cama, mas recusei prontamente, aceitando um travesseiro extra e um edredom fino que Sam me trouxera. Logo o Sol iria nascer e eu precisava descansar, por mais que o medo dominasse minha mente. Desejei-lhes boa noite, e senti meu rosto esquentar quando Castiel me deu um sorriso, apesar de puro, cheio de intenções.

Me deitei no sofá do quarto, enrolei-me o máximo que pude, e decidi mergulhar no mundo dos sonhos. O recomeço de uma nova vida estava apenas no início. 


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Notas finais do capítulo

E aí? Gostaram? Vejo vocês nos comentários!

Até o próximo ♥



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