War of Hearts escrita por Himiko


Capítulo 5
Capítulo V — Espinhos


Notas iniciais do capítulo

Olááááá, meus amores!
Mil desculpas por não postar ontem como prometido, tive um imprevisto, mas aqui estou eu! Minha designer ainda não conseguiu fazer o banner deste capítulo, mas assim que ela fizer, estarei atualizando o capítulo com o mesmo.
Uma novidade: eu postei um vídeo Castiel x Hayden! Então, para aqueles que disseram, siiiiim, o par da Hay é o Cas! O link está nas notas da história.
Aliás, perceberam o novo design da fic? Obrigada a Milly pela capa linda!

Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/701299/chapter/5

No fim das contas, não consegui dormir. 

O sofá não era o problema; era confortável, macio, e fornecia o calor que eu precisava graças a chuva que começara a cair do lado de fora do hotel. O que me mantivera acordada fora o medo dos sonhos ruins, e a raiva misturada ao desejo de retaliação. 

Queria destroçar Órion com minhas unhas. Queria forçá-lo a devolver a alma de minha mãe, e de todas as possíveis outras que ele roubara, na marra. Queria colocá-lo de joelhos diante de Deus e fazê-lo confessar todos os seus pecados. Eu precisava fazer justiça. E não consegui ficar com a cabeça deitada no travesseiro pensando que aquele bastardo ainda estava livre, a solta pelos quatro cantos do planeta. 

O quarto em que estávamos era um pequeno apartamento, de modo que pude ir até a cozinha e preparar uma xícara de café sem maiores problemas. Antes de decidir permanecer acordada, eu havia trocado de roupa, deixando a calça, a camisa, a jaqueta e as botas para trás, e agora usava um blusão de algodão azul marinho e um short curto. Também tinha mudado a aparência do meu cabelo umas dez vezes seguidas. Eu estava mesmo uma pilha de nervos. 

Foi quando me lembrei do motivo pelo qual Sam e seu irmão estavam aqui. Um ninho de vampiros, o Winchester comentara. Aquela era minha chance de ingressar de vez no mundo do meu pai. Claro, eu estava ciente de que os meninos iriam negar firmemente, mas eu não iria desistir. Eu estava dentro. 

Apoiei-me na bancada americana que a cozinha possuía e observei o outro lado do quarto; as três camas ficavam contra a parede, de modo que pudesse ter uma visão privilegiada de quem dormia. Sam e Dean pareciam estátuas deitadas sobre os móveis, totalmente desmaiados em cima dos lençóis. A terceira cama, entretanto, estava vazia. Levei a xícara de café aos lábios e soltei um muxoxo ao ver que o líquido quente havia acabado. Eu estava mesmo no automático, exatamente como quando precisava terminar algum TCC para a faculdade. Virei-me na direção da pia para fazer um pouco mais quando dei de cara com Castiel, trombando em seu peito e por pouco não me lançando ao chão. Suspirei, apoiando-me contra o balcão atrás de mim. Ele arregalou os olhos com leveza, assustado, e suas mãos voaram até meus braços para me ajudar a não cair. 

E, há, adivinhe só? A imbecil aqui sentiu suas bochechas entrarem em chamas.

— Você está bem? Desculpe-me, eu não tive a intenção de derrubá-la.

— Tudo bem, Cas. — passei uma mecha que caíra em meu rosto pela orelha, afastando-a de meus olhos. Ergui a xícara branca que segurava na sua direção — Quer um pouco?

Ele meneou a cabeça por alguns segundos, como um cãozinho perdido, e logo assentiu positivamente. Dei um sorriso sem mostrar os dentes e virei-me para a cafeteira, colocando o pó de café dentro da máquina. Voltei a olhar para o homem; havia deixado seu sobretudo de lado, assim como os sapatos, estando apenas de calça preta e uma camisa social branca. Castiel tinha a expressão neutra, apesar de seu olhar esconder algo que eu simplesmente não era capaz de identificar. Ele também estava acima de todos os caras cujos quais eu havia saído na vida, fosse em comportamento ou, principalmente, aparência. Sarah iria a loucura caso o visse, e esse pensamento me fez dar uma risada.

Eu sentiria falta dela, pois sabia que não poderia mais voltar a minha antiga vida.

E foi aí que a risada morreu em minha garganta. Minha vida antiga envolvia minha mãe, em todos os sentidos possíveis. Ela era minha companheira, minha melhor amiga, minha maior confidente. Nós ríamos de tudo, falávamos sobre tudo, não haviam segredos entre nós duas. Quando tinha idade suficiente para saber o que era adoção, ela imediatamente me disse que eu era adotada e que não conhecia meus pais biológicos. Eu lembro de ter começado a chorar, mas ela logo me acalmou com sua voz doce e transbordante de amor que ela naturalmente tinha, dizendo que eu sempre teria a ela.

Agora, Joyce se fora. E a maldita culpa era minha.

Tentei encaixar uma expressão melhor em meu rosto, visto que Castiel demonstrava confusão, mas agradeci mentalmente ao fato de ele aparentar ter vergonha demais para perguntar alguma coisa. Eu não tinha a menor das condições para falar sobre aquilo. O moreno sacudiu o rosto, e levou suas órbitas azuis até mim novamente. Lembrei então de que Sam e Dean eram irmãos, e fiquei curiosa. O homem a minha frente também seria um Winchester?

— Você também é caçador? — minhas papas da língua não eram conhecidas por serem obedientes, então as palavras simplesmente saltaram da minha boca antes mesmo que meu cérebro pudesse processá-las.

— Sim. De fato, este não seria exatamente o termo correto, mas... Faço o que posso. — reprimi uma risada diante da sua formalidade, enquanto ele fazia uma careta.

— Termo correto?

— Eu sou um anjo do Senhor, mas perdi minha Graça e ganhei a mortalidade. Agora sou carregado de um lado para o outro com os Winchester.

— Bem, posso entrar no grupo?

Ele sorriu, baixando a cabeça e novamente a sacudindo. Não tive outra reação senão acompanhar seu gesto, e depois virar-me de volta para a cafeteira afim de encher minha xícara. Quis perguntar mais sobre o assunto, quais seriam as razões que haviam levado os outros anjos a caçá-lo e tudo mais, mas da mesma maneira que não me sentia a vontade falando sobre minha mãe, levei em conta de que talvez ele não quisesse compartilhar aquilo. Levei o copo até os lábios, aspirando um pouco da fumaça que subia, e tomei um gole, encarando a janela diante da cozinha com o olhar pesado. Eu estava cansada, meus músculos gritavam por descanso, mas minha mente recusava-se a relaxar. A cafeína também não estava ajudando, mas parecia ser minha única resposta por agora.

Eu não conseguia acreditar que Órion me enganara tão facilmente. Caíra no seu truque como um rato na ratoeira. A aparência e a lábia perfeita haviam me ganhado. Estava odiando a mim mesma por ter sido tão idiota, e tudo o que mais queria era ver aquele verme morto, ou tendo o destino que merece. Mais do que tudo, eu queria vingança.

Castiel desejou-me boa noite e, com um brevíssimo sorriso, voltou para sua cama. Caminhei até o sofá e vasculhei minha mochila para encontrar o que seria meu guia a partir de agora; o diário de Robert Singer. Folheei-o, a procura das páginas sobre vampiros, e quando a encontrei, voltei para a cozinha para poder começar o estudo. Ainda era apenas cinco da manhã, e por mais que tivesse parecido uma eternidade, eu ainda tinha tempo para me preparar e reunir o máximo de informações possíveis sobre o nosso alvo. Não tinha a opção de estragar tudo logo de primeira; eu tinha de começar impecável e provar aos garotos que era capaz de fazer aquilo.

A leitura fácil que o diário proporcionava encurtara meu caminho. É claro que fiquei surpresa e um pouco desacreditada com certas coisas, mas tinha de tê-las em mente do mesmo jeito. Talvez meu único problema fosse com a parte da matança, não teria coragem de simplesmente decapitar um ser vivo, pouco me importa se fosse um sanguessuga de dentes de piranha. E, segundo o diário, ninhos costumavam ter por volta de dez a quinze vampiros. Não poderia largar o trabalho nas mãos de Sam, Dean e Castiel. Precisava cumprir minha parte. Já tinha alguma experiência com armas brancas e de fogo, graças ao meu padrasto, mas meus movimentos sempre foram muito imprecisos e errôneos. Animais fugiam da minha mira com facilidade, mas sempre tinha Hopper para me defender. Desta vez, os outros caçadores estariam tão ocupados quanto a mim, e eu não teria margem para erros. Uma falha e bye bye, Hayden.

Estava na hora de virar uma caçadora de verdade.  

{...}

Uma mão calejada sacudiu meu ombro com leveza, mas foi o suficiente para eu me por de pé imediatamente, sacar o canivete que havia escondido em minha cintura e tentar desferir um golpe em quem fosse lá que me acordara. Por sorte, Dean era um pouco mais veloz e bem mais experiente que eu, de modo que ele facilmente desviara da lâmina curta e a tomara de meus dedos. Ele parecia impressionado, me deixando um pouco sem reação, fora, claro, a vergonha dele ter me visto apagada em cima do diário de meu pai, sentada na bancada da cozinha.

— Uau, esses sim são bons reflexos.

— 'Tá brincando? Eu perdi o canivete em menos de dois segundos.

— Posso ajudá-la com isso mais tarde.

Uma gargalhada escapou dos meus lábios e precisei crispar os mesmos para evitar rir ainda mais. O loiro franziu o cenho, claramente confuso.

— Eu realmente espero que tenha percebido o quanto isso soou como um flerte. — ele rolou os olhos verdes, enquanto esquadrinhei o quarto após o balcão a procura dos outros dois companheiros — Onde estão Sam e Cas?

— Eles foram comprar café da manhã. — voltei a me sentar na banqueta alta da cozinha, e o caçador fora direto até a geladeira, abrindo a mesma e pegando uma garrafa de cerveja — Ei, eu... Sinto muito pela sua mãe. Eu precisava saber o porquê de Sam ter saído no meio da noite e voltado com uma garota e ele acabou me contando.

— Não quero falar sobre isso, ok? — cortei o assunto, direcionando o olhar para qualquer outro lugar que não fosse o rosto do Winchester — Quando vamos até o ninho?

Dean lentamente baixou a garrafa de vidro em suas mãos, olhando para mim como se eu tivesse acabado de dizer que meu sobrenome era Hitler. A incredulidade estava estampada em seu rosto, mas sustentei seu olhar com a cabeça erguida numa expressão de desdém, praticamente repetindo a pergunta. Sua reação era um tanto óbvia, visto que, para ele, eu era uma recém-chegada ao mundo dos caçadores que provavelmente não saberia nada sobre o tema. Entretanto, eu me preparara. Devo ter caído no sono por volta das sete da manhã, e como estava lendo desde as cinco, foram longas e com muitas xícaras de café duas horas de estudo. Eu tinha certeza de que era capaz de fazer aquilo.

Mas, talvez, para eles, eu fosse nova demais para isso. Ou que eu não tivesse estômago para fazer o necessário. Só que eu tinha. Não iria dar pra trás se precisasse matar. Estava pronta para fazer aquilo.

— Por acaso perdeu a cabeça?! Você definitivamente não está vindo com a gente, Hayden. Você mesma acabou de me dizer que está sendo desarmada muito rápido. Vampiros não usam apenas as presas para matar.

— Dean, eu posso fazer isso.

— Não estou dizendo que você é incapaz. Estou dizendo que é inexperiente. E mortes fáceis acontecem quando não se tem experiência. — ele deu mais um gole em sua cerveja — Você não vem com a gente.

Fiquei irritada. Eu saltei do banco e caminhei a passos firmes até minha mochila. Saquei a única coisa que tinha em minha casa que servia como uma arma — um facão de caça que Rick havia me dado quando fiz dezesseis anos — e desferi um golpe violento contra uma velha latinha de refrigerante que estava jogada em cima da mesa de madeira. O corte fora tão preciso que partiu o metal em dois, fazendo a parte de cima ir na direção do chão. Dean me olhou assustado, e não consegui conter o olhar de superioridade, muito menos o sorriso, que praticamente vazou do meu rosto.

— Eu posso até ser inexperiente, mas não sou indefesa, Dean. Na verdade, eu estou bem longe disso. — voltei a encaixar o facão em sua bainha, pousando-o em cima da bolsa — Quando é que nós saímos?

Sam e Castiel chegaram alguns segundos depois da minha apresentação de "trabalho". Pareciam extremamente surpresos com a arma em minha mochila, mas apenas continuei dando de ombros, sem me importar com suas expressões. Pesquei um par de roupas novas e minha necessaire na bolsa, e caminhei rapidamente até o banheiro, cruzando o olhar com o ex-anjo antes de alcançar o cômodo.

Tranquei a porta, tirando as mudas que estavam em meu corpo e jogando-as de qualquer forma pelo chão frio de mármore. Meus membros, de repente, pareceram pesados. A realidade estava se tornando mais perceptível enquanto eu entrava no box de vidro escuro e ligava o chuveiro elétrico, sentindo as gotas quentes pingarem contra minha pele gelada. Passei as mãos pelos cabelos e pelo rosto, e era como se as fichas do jogo cruel da vida começassem a desabar sobre minha cabeça.

Mamãe estava morta. Fora literalmente desalmada. Nunca mais a veria novamente. Eu não iria mais para a Marymount, não veria mais Sarah, nem nenhum dos meus amigos. Não teria mais problemas simples como trabalhos, ou perder a hora para acordar de manhã. Tudo aquilo caiu como uma rocha sobre a minha cabeça, pesada o suficiente para me fazer desmaiar. E foi então que eu as senti.

Deslizando pelo meu rosto, mais quentes e mais salgadas do que a água do chuveiro, as lágrimas de pura dor escorriam pelas minhas bochechas. Depois de quase quinze horas, eu estava chorando pela morte da minha mãe. Os soluços escalavam minha garganta como gigantes caídos do Monte Olimpo, e eu já começava a ter falta de ar. Os gemidos do choro ecoavam pelo banheiro. Esperava que nenhum dos meninos fossem capazes de ouvir, mas nem morta que iria deixar transpassar que eu havia me derramado em lágrimas. Seria apenas mais uma desculpa para Dean de que eu não deveria ir com eles; que eu não estava emocionalmente instável para prosseguir com o plano.

Mas tinha o direito de chorar pela minha dor.

Decidi sair do banho antes que continuasse ali, feito uma babaca, fazendo os garotos desperdiçarem mais luz do Sol. Enxuguei meu corpo com a toalha e sacudi os cabelos, ainda os deixando levemente molhados. Vesti as roupas com rapidez e tratei de correr com meu rosto, pescando a base cor de pele que sempre carregava ali para emergências — porque, sim, eu sou uma pessoa incrivelmente prática, porém vaidosa. Uma vez que eu não parecia mais um tomate, penteei meus fios castanhos e chequei-me uma última vez no espelho, tentando convencer a mim mesma com um falso sorriso. Quem tivesse olhos veria que eu estava quebrada por dentro.

Nunca gostei de prolongar a dor. De passar dias de luto, sofrendo, pedindo de volta um ente querido que, infelizmente, nunca mais voltaria. Gostava de me manter distraída, e totalmente focada em outra coisa. Quando Rick morrera, meu foco era cuidar de Joyce e do nosso pequeno apartamento.

Agora que ela se foi, meu alvo é um ninho de vampiros.

Quando retornei a sala, os Winchester e Castiel já estavam prontos. Armas, bolsas, garrafas com sangue de homem morto — eu nem me atrevo a saber onde eles conseguiram aquilo —, e principalmente facões. Três, na verdade, já que eu tinha meu próprio. Dean sorriu para mim, mas seus olhos verde-floresta deixavam bem claro que era totalmente contra minha ida naquele caso. Sorri de volta, também tentando deixar bem claro minha opinião: "eu não me importo com sua oposição".

— O Sol está alto agora. — Sam declarou, enquanto Castiel entregava-me um sanduíche natural que havia trazido — Temos que correr e acabar com o ninho o mais rápido possível. Eles planejam atacar o Road Kill essa noite.

— E o que é que estamos esperando? — sorri, encaixando a bainha do facão em minha cintura — Vamos acabar com uns sanguessugas.

O carro freou suavemente na encosta da pequena colina. Um muro de concreto — a única coisa moderna no meio daquele mato — escondia o Impala, mas buracos no cimento de sabe-se-lá quantos anos de existência permitiam nossa visão até o casebre velho de madeira que atraíra nossa atenção.

Um formigamento estranho parecia rugir no pé do meu estômago. Não sabia se era animação, empolgação ou receio. Deus, que porra eu estava prestes a fazer? Mergulhar de cabeça no ninho de criaturas que até os dez anos de idade me davam nos nervos só de pensar? Somente agora eu percebia o quanto a ideia me parecia insana, afinal eu era mesmo um rato da cidade. Não conseguia matar nem sequer uma mosca.

Apertei os dedos uns contra os outros, e espalmei a coxa para limpar o suor que se acumulava em meus poros. Me sentia como se estivesse prestes a apresentar minha primeira reportagem para a reitora da universidade. Quando Castiel se aproximou, tratei de esconder o nervosismo da maneira mais tosca e improvisada possível; comecei a murmurar uma música qualquer que surgira em minha cabeça e foquei os olhos castanhos num dos buracos do muro cinzento. Ao parar ao meu lado, o ex-serafim meneou a cabeça, confuso.

— Está tudo bem?

— O que? Oh, hey, Cas. — fingi estar avoada, e voltei-me na sua direção com um sorriso franzino — Tudo bem, sim. Quando vamos entrar?

— Agora. — Sam encaixou um facão em sua cintura, e virou-se na minha direção — Tudo pronto?

Assenti com a cabeça, sem confiar nem um pouquinho em minha voz. Dean marchou na frente, Samuel vinha atrás, seguido por Castiel e eu. Contornamos a casa velha, e rapidamente avistei uma janela quebrada coberta por lonas pretas, na tentativa de manter a luz solar o mais longe possível. Soltei um muxoxo, cutucando o moreno a minha frente com a unha do indicador e logo levando o dedo até a abertura. Ele passou a informação adiante. Eu era a menor do grupo, e consequentemente mais veloz. Assim, saí correndo na direção da janela, e no último segundo, rolei pelo chão, caindo justamente ao lado da mesma. Virei-me para os três, e suas expressões eram, no mínimo, divertidas. A incredulidade, irritabilidade e senso de responsabilidade por mim fazia casa em suas testas, olhos e bochechas.

Quando o resto da matilha se aproximou, me esgueirei pela lona, espiando o lugar lá dentro; poeira, sangue, garrafas vazias, camisinhas usadas e um líquido branco viscoso que todo ser em sã consciência sabe muito bem o que é desenhavam a aparência da casa. O primeiro vampiro que avistei era um homem de cabelos castanhos, barba rala e peito nu, usando uma bermuda jeans. Ele dormia e roncava como um porco, com a aparência tão despreocupada que faltavam apenas um chapéu de palha e um trigo em seus lábios para ele parecer um velho fazendeiro dormindo em sua cadeira de balanço.

— Ele está dormindo. — sussurrei para os outros, para ninguém em específico — Devemos entrar?

A resposta de Dean fora passar a minha frente e pular janela a dentro. Dando de ombros, eu o segui, e assim que meus coturnos de couro pisaram no fétido e empoeirado piso de madeira, eu instintivamente puxei meu facão, fazendo o menor ruído que pude. Sam e Cas vieram logo atrás, e passamos a explorar o casebre, claro, a procura do resto do bando. Ficaria responsável por acabar com o fazendeiro, mas enquanto procurávamos pelos outros, eu o deixei continuar sua última soneca.

Erro terrível.

Eu devia ter cortado a garganta dele quando eu tive a chance.

Castiel tropeçou em uma garrafa de vidro quebrada, fazendo-a se rachar ainda mais. O som ecoado pela sala pareceu estar em um megafone, soou tão alto que levei as mãos aos ouvidos, tapando-os como se uma bomba fosse explodir a qualquer momento. Bom, a bomba com caninos super afiados estourou quando eu menos precisava.

O homem saltou do puff velho e desbotado em que dormia, seus olhos azuis escuros cintilando numa luz sombria, determinado a fazer picadinho da primeira pessoa que estivesse a sua frente. Que no desagradável caso, era eu. Girei para o lado quando ele tentou agarrar meus ombros, aproveitando-se da situação para acertar um chute em suas costas. O imbecil sedento de sangue bateu contra uma parede embolorada, abrindo uma rachadura considerável na mesma, e virou-se pra mim com suas presas horríveis a mostra. Precisei segurar o sanduíche natural que Cas havia me dado no estômago e evitar vomitar ao ver a transformação dele. Dentes pontiagudos saltavam de suas gengivas, vindos de todos os lados livres de sua boca. O bafo de cerveja e carne podre chegou as minhas narinas e senti minha barriga rodopiar, minha língua repuxava sua pele inferior na necessidade de colocar tudo pra fora.

O homem me atacou novamente, e agora todo o mundo ao nosso redor havia desaparecido. Ele investiu contra mim, conseguindo me arranhar no supercílio com uma das unhas sujas e compridas. O líquido escarlate escorreu pelo meu rosto, e aquilo me deixou furiosa. Segurei o facão pelo punho e pela lâmina, o colocando diante de mim e deixando o pescoço a mostra. Quando o vampiro tentou me morder, eu o virei contra a parede e encaixei minha arma em sua garganta, pressionando a placa de metal o mais forte que conseguia contra sua pele. O som de engasgos, em conjunto a violência a qual o homem se movia, quase me fizera deixá-lo partir, mas sabia que precisava seguir em frente.

Algo quente e com cheiro de ferro começou a manchar minhas bochechas e escorrer pelos meus dedos. Dedos estes que estavam trêmulos de tanto apertar o facão. Quando a parte afiada cravou-se fundo na madeira, eu me segurei para não gritar em pânico ao ver a cabeça do homem cair em meus pés. O corpo desabou, ainda se contorcendo, e o mundo ao meu redor entrou em silêncio por alguns segundos, com apenas minha respiração forte ecoando em minha cabeça. Meus olhos focaram-se na mancha de sangue diante de mim, e os sons do ambiente atingiram-me com tudo; os ruídos da batalha, Sam gritando para que Dean se abaixasse, e Castiel lidando com uma vampira.

Um homem enorme viera na minha direção. Antes paralisada, agora meus músculos pareciam se mover sozinhos: ergui os dois braços, passei o punho do facão para a mão esquerda, e desferi um golpe de dentro para fora, certeiro, que rasgou a garganta do vampiro num único movimento. Ele agarrou seu pescoço, engasgado, e quando caiu no chão, tratei de terminar seu sofrimento com um ataque fatal. Meus sentidos desfaleceram, e um cansaço extremo me atingiu. Precisei me apoiar num dos caixotes podres que estavam empilhados ali e ergui os olhos até o massacre dentro do casarão.

Haviam oito mortos no total, o que me deixou um pouco surpresa. Eu havia matado dois, então Castiel, Sam e Dean deveriam ter acabado com a mesma quantidade que eu. Estávamos todos encharcados de vermelho, ofegantes e machucados. O Winchester mais velho tinha um corte considerável em seu ombro esquerdo, enquanto seu irmão tinha um rasgo na lateral do rosto. O outro moreno tinha suas bochechas livres de ferimentos, mas pela maneira como segurava sua barriga, parecia tão machucado quanto o resto.

De repente, palmas quebraram o clima de tensão que pairava sobre nós. Me virei, vendo um homem de cinquenta anos, com bochechas rosadas, lábios finos e barba grisalha sorrindo em nossa direção. Seus olhos castanhos me fitavam curioso. Ele usava roupas pretas, e um sobretudo igualmente negro tremulava diante de suas pernas. Baixinho, ele não era tão intimidador como queria parecer, mas eu ainda estava tomada pela adrenalina da batalha, e instintivamente ergui o facão, na defensiva. Ele gargalhou.

— Queridinha, não aponte sua faca de manteiga para mim. É deselegante. — o estranho então levou seus lumes para os homens atrás de mim — Olá garotos. 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E então? Gostaram? Vejo vocês nos comentários!
Até o próximo ♥



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "War of Hearts" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.