Muito Além de Mim escrita por Mi Freire


Capítulo 30
Passar a noite...




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Mamãe me levou até sua pequena casinha no final da rua.

Eu estava tão impressionada com tudo: com seu cabelo cacheado sedoso, seu vestido emoldurando suas curvas, seu jeito firme de andar e seus olhos cheios de brilho que não conseguia tirar meus olhos dela. Era outra pessoa. Uma nova mulher.

Sua casinha era pequena, porém muito bem cuidada e bem decorada. Tudo muito simples, mas de muito bom gosto. Cheio de vasinhos de planta e retratos da família, inclusive fotos minhas.

— E esse aqui, quem é? – Me referia a um homem que ela estava abraçada em uma das fotos com olhar de apaixonada.

— Esse é o Gilberto. Meu namorado. – Disse ela, contente. — Não se preocupe. Ele é maravilhoso. Me apoia em tudo e não permite que eu faça nenhuma cagada. Está sempre de olho em mim.

Diferente dos outros caras com quem ela se relacionava antigamente, que batiam nela, a tratavam muito mal e usavam drogas com ela por todos os cantos da casa sem se importar com a minha presença. Inclusive, alguns, me trancavam no quarto para ter mais liberdade e privacidade com ela.

— Quero que você o conheça mais tarde. Se você quiser, é claro.

— Eu adoraria. – Sorri, depositando de volta o porta-retratos no lugar onde encontrei.

Analisei os mínimos detalhes da casa, adorando tudo.

— Eu tenho bolo na geladeira que eu comprei no mercado, até porque sou um desastre na cozinha. Jamais faria algo tão delicioso. Você aceita um pedaço?

Eu aceitei.

Sentamo-nos juntas no sofá.

— O que achou daqui?

— Eu adorei. Muito melhor do que eu esperava.

— Que bom que gostou. – Ela sorriu.

— Há quanto tempo você mora aqui?

— Menos de um ano.

— Você e o Gilberto moram juntos aqui?

— Não. Ainda nem conversamos sobre isso.

— Porque não?

— Para ser sincera, eu não sei. Mas acho que tem algo a ver com a minha recuperação. Pela primeira vez, sinto que devo fazer isso sozinha. Sentir que sou capaz de me virar e fazer o certo.

— Desculpa perguntar, mas... há quanto tempo você está assim?

— Boa, você quer dizer?

Assenti, receosa por ter perguntando.

— Lembra quando liguei para você, pedindo para você voltar? Implorando por mais uma chance para me reconciliar com você? E você desligou na minha cara sem conseguir entender o porquê depois de todo esse tempo e de tudo que eu fiz você passar?

Assenti novamente.

— Eu fiquei despedaçada, mas eu super entendia o seu lado. O fato de você não conseguir me perdoar. Era injusto pedir todas aquelas coisas, ainda mais quando você estava vivendo um dos momentos mais preciosas da sua vida. Foi um erro meu, eu sei. Naquela época eu tinha acabado de sair da clínica de recuperação do meu tratamento e eu estava desesperada para recomeçar, mas sabia que faltava agora: eu precisava de você.

— Mãe, eu...

— Não precisa dizer nada, Nina. Eu entendia você. Eu entendo você. – Ela me olhou nos olhos. — E você ter me ignorado, foi o suficiente para eu entender que eu precisava ficar boa, não só por você ou pelos meus pais, mas por mim. Principalmente por mim. E foi aí que eu caí na real do quanto eu precisava fazer aquilo sozinha. Precisava dar um jeito na minha vida, precisava recomeçar. E levou um tempão, estou me recuperando aos poucos desde então. Não vou dizer que é fácil, as vezes penso em muitas coisas ruins que me deixam maluca. Mas tenho orgulho de dizer, que ainda não tive nenhuma recaída. Estou lutando todos os dias um pouco mais para isso não acontecer. E faço terapia toda semana. Não quero mais aquela vida. Não quero.

Acho que nunca senti tanto orgulho da minha mãe, tanta admiração e vontade de abraça-la e dizer que eu amava.

Mas ainda não estava pronta para isso. Poderia levar um tempo, mas quem sabe um dia pudéssemos ter um tipo de relação que nunca tivemos, mas que eu, particularmente, sempre quis.

Quem não quer?

— Eu consegui um trabalho, depois de um tempo consegui essa casa, melhorei meu relacionamento com meus pais, fiz novos amigos que só querem o melhor para mim e conheci o Gilberto e tenho uma vida praticamente perfeita, com problemas normais que todos têm, mas não é completo e sabe porque, querida?

Ela colocou meu prato vazio de lado e segurou minhas duas mãos.

— Faltava você. Só você. Eu pensei em ligar muitas vezes, saber de você, mas eu pensava melhor e sempre desistia, dando espaço e tempo a você. Sabia que no momento certo nós nos acertaríamos e aí tudo ficaria completo e melhor.

Fechei os olhos e deixei as lágrimas escorrerem por meu rosto, sentindo que algumas cicatrizes do meu coração estava se curando.

— Mas não vamos perder tempo falando só de mim... – Ela limpou as minhas lágrimas. — Me fale de você: como foi a sua viagem, quando você voltou e cadê aquele seu namorado perfeito?

Levou muitas horas até eu conseguir contar a ela tudo que tinha acontecido na minha vida nos últimos anos: o intercambio, minha amizade com Eliezer, ter conhecido o Andrew, meu trabalho na Austrália, as novas amizades que fiz por lá, o momento em que decidi viver lá com o homem da minha vida, a morte inesperada dele em um acidente de trabalho, a decisão de voltar ao Brasil e ir morar com a família dele no interior, num lugar lindo e mágico.

Ela sorriu comigo nos momentos certos, rimos com os momentos engraçados e choramos juntas com as coisas ruins que tinham acontecido comigo e que foram inevitáveis e imprevisíveis.

—  E como está sua vida agora? Como é a relação entre você e sua nova família? Você se apaixonou novamente?

Foi fácil contar a verdade: do quanto Célia era boa para mim, a mãe que nunca tive. No quanto eu sentia falta de Eliezer, mas estava feliz por ele ter encontrado alguém para amar. No quanto Catarina e eu nos relacionávamos bem, quase como irmãs. E como eu tinha aprendido a ter uma relação melhor com crianças por causa da adorável Isabeli que era uma criança maravilhosa. 

Falei também como demorei a descobrir sobre a minha gravidez e no quanto ela estava sendo fácil, que eu não tive muito enjoos e ainda não tive muito desejos, mas que as vezes eu me sentia bem desconfortável com o peso e os pés inchados.

— E você já sabe o sexo do bebê?

— Eu optei por não saber até o nascimento.

— Eu não sei como você consegue! – Ela riu. — Assim que descobri que estava grávida de você, eu já queria saber o sexo para escolher um nome e comprar as roupinhas e brinquedos.

Sorri.

— Só quero que seja uma surpresa, o que tiver que ser, me fará a mulher mais feliz do mundo. Não há dúvidas.

Ela pousou a mão na minha barriga.

— Estou tão feliz por você. É um momento precioso. Mas, você havia comentando que Andrew tinha um irmão e você não falou muito dele. Porque? Vocês não se dão muito bem?

— Na verdade – Suspirei. — É bem mais complicado que isso. No início, eu não ia com a cara dele. Ele não é o tipo de pessoa que a gente se encanta à primeira vista. Mas o tempo passou, a gente foi ficando próximo e bons amigos, até que... BUM! Eu me apaixonei por ele. O que é terrível. A gente até se beijou e foi bom e incrível, pelo menos para mim. Mas ele deixou claro que foi um erro estupido do qual ele se arrependerá pelo resto da vida. Então, não sei mais...

Mamãe parecia bem impressionada. Exatamente o tipo de expressão que se espera de alguém que ouve outra pessoa falar que se apaixonou pelo irmão do cara por quem você era apaixonada.

— Não me olhe assim...

— Não, não é isso. É só que pelo jeito como você fala dele, você parece realmente muito apaixonada e também muito magoada. Sabe, eu não sou a pessoa que vai dizer o que é certo ou errado, mas eu acho vale a pena persistir nesse sentimento.

— O que você quer dizer com isso?

— Por tudo que passei, acho que sou plenamente capaz de dizer que por mais que as coisas sejam difíceis e pareçam impossíveis e erradas, você não deve desistir. Deve ir atrás do que quer, mesmo que com calma e devagar. Uma hora vai acontecer.

Eu estava prestes a agradecer pelas sábias palavras, quando um homem muito alto entrou e nos olhou, curioso.

— Gil! – Mamãe correu para abraça-lo. — Você não vai acreditar! Adivinhe quem está aqui? Olhe só para ela. Minha menininha...

Eu e ele nos olhamos.

— Oi, Nina. Que bom finalmente te conhecer.

Eu estendi a mão a ele para um cumprimento, mas ele foi mais rápido e me puxou para um abraço, como se fôssemos velhos conhecidos. Não tive dúvidas de que ele era um cara bom, principalmente pela forma amorosa que ele tratava ela.

Gilberto cozinhou o jantar para nós. Enquanto ele se movia com agilidade pela cozinha, mamãe e eu ficamos sentadas na mesa, admiradas. Gilberto me contou que trabalha num restaurante famoso da cidade especializado em comida italiana. Ele me falou também sobre o bom relacionamento que tinha com a ex-esposa e falou cheio de admiração sobre seu filho de 14 anos, Pietro.

Após lavar as mãos no banheiro antes do jantar, resolvi dar uma olhada no meu celular. Havia mais ligações de Max. O que diabos ele poderia querer comigo justamente quando estávamos brigados? E todo o resto me mandou mensagens carinhosas, me desejando sorte e esperando que eu voltasse logo para casa.

Tivemos um jantar agradável lá fora, no quintal.

Mais tarde, mamãe e Gilberto se ofereceram para pegar minhas coisas na casa dos meus avós, já que eu tinha decidido passar a noite aqui, no quarto extra.

Fiquei vendo TV, enquanto aguardava.

Alguém bateu na porta.

Fiquei com receio de abrir a porta para um desconhecido, afinal eu não conhecia muita gente por aqui. E se fosse a mamãe, ela não teria batido, teria entrado, afinal a casa é dela.

Tentei olhar pela janela, mas não consegui ver ninguém.

— Max?

Ele não estava com um cara muito boa.

— Posso entrar?

— Não! Não pode!

Eu estava bem, até ele aparecer.

Fechei a porta atrás de mim.

— Pelo amor de Deus, Max! O que você está fazendo aqui? E como me encontrou?

— Minha mãe tinha o endereço dos seus avós. Eu fui até lá, mas eles disseram quem provavelmente você estaria na casa da sua mãe. E que você tinha sumido o dia todo. Resolvi verificar. Estava preocupado! Até porque você nem se incomodou de me dizer que estava vindo para cá tentar se resolver com a sua família.

— E porque eu diria alguma coisa? Você me pediu para esquecer aquilo tudo, que foi um erro terrível, lembra? Você disse também que continuar nossa amizade estava fora de cogitação!

— Não foi isso que eu disse...

— Não com essas palavras...

— E porque você nem atendeu minhas ligações?

— Eu não queria falar com você!

— E nem me dizer que estava indo embora.

— Eu não estava indo embora. Não para valer!

— Então, porque não me disse? Porque não me avisou? Eu poderia ter vindo com você. Eu poderia ter estado ao seu lado...

— Max – Revirei os olhos. — Eu não sou uma donzela em perigo. Essa é a minha vida, minha família, meus problemas.

Minhas palavras pareceram ter o atingido de alguma forma.

— Tudo bem, então. Foi um erro. Me desculpe.

Ele virou as costas, acho que pronto para ir embora. Mas foi exatamente nesse momento que minha mãe apareceu com Gilberto e minha mochila e pegou a gente ali, num momento difícil.

— Bom, você deve ser o Max. – Ela sorria para ele.

— Oi, senhora...

— Pode me chamar de Jussara, querido.

Eles apertam a mão um do outro.

— É um prazer, Jussara.

— O prazer é todo meu.

Sem nem disfarçar, mamãe fica olhando para Max, sorrindo muito, provavelmente impressionada com sua beleza exótica.

Acho que nunca vi Max tão desconfortável.

— Bom, gente, Max já estava mesmo de saída.

— O quê? Não. Mas a gente só se conheceu agora. – Protestou, mamãe.

— Mãe, haverá outras oportunidades.

— Eu posso fazer um café. – Sugeriu Gilberto, olhando para todos. — Max, você gosta de café?

Max pensou um pouco, mas aceitou. Ele nem se quer olhou para mim para ver se eu concordava com essa invasão toda dele na minha vida. E eu jurava que depois da nossa pequena discussão, as coisas entre nós nunca mais seriam as mesmas.

**

Eu não estava acreditando na cara de pau dele.

Ele ficou na casa da minha mãe, agindo como se fosse de casa. Como se sempre tivesse feito parte disso. Ele tomou café, comeu tortinhas, conversou com a minha mãe, fez amizade com Gilberto e quase nem olhou na minha cara, como se eu nem estivesse ali. 

— Bom, está tudo muito bom, mas eu preciso ir agora. Está ficando um pouquinho tarde para mim. – Ele se levantou.

— Você vai embora? – Perguntou minha mãe, espantada. — Essa hora? Nem pensar. Está muito  tarde. É perigoso...

— Eu já estou acostumado...

— Eu não vou deixar...

Pelo amor de Deus, mãe. Deixa ele ir!

— Mãe, está tudo bem. Max é adulto.

— Fica para dormir, cara. – Sugeriu Gilberto. — Nós temos um colchão. Você pode ficar na sala e partir amanhã bem cedo.

— Gente, não é necessário. – Eu quis gritar.

Max olhou feio para mim.

— Pensando melhor, acho que vou aceitar a oferta.

Só pode ser sacanagem.

Ele está me tirando do sério e de propósito.

— Nós vamos pegar as coisas.

Mamãe e Gilberto se retiraram, indo na direção dos quartos.

— Você é um estupido! – Virei para ele, brava.

— Porque? Só porque resolvi aceitar uma oferta tentadora?

— Você poderia muito bem ter ido para casa.

— Não sem você.

— Você nem sabe se eu vou voltar.

— Por isso estou aqui. Para garantir que volte.

Bufei.

— Eu não sei porque você faz tanta questão que eu volte, sendo que vai me tratar do mesmo jeito idiotia de sempre: como se eu fosse uma criminosa por ter roubado seu coração.

— É mais ou menos isso. – Ele sorriu.

Eu quis socar aquele sorriso e quebrar todos os dentes.

— Eu te odeio!

— Eu também não sou muito seu fã. – Rebateu ele.

— Não é o que está parecendo.

Antes que pudéssemos continuar nos atacando, mamãe apareceu com Gilberto com um colchão, travesseiro e um lençol.

— Sinta-se à vontade, Max.

Fui para o meu quarto, tentando não parecer tão desestabilizada. Max estava estragando o meu momento com a minha mãe. Era para ser um momento de aproximação só nosso. Sem interferências, aí ele resolveu aparecer e acabou com tudo.

— Não fique brava, querida. Eu só estava tentando ajudar. – Disse ela, quando minutos depois entrou no quarto.

— Tudo bem. – Respirei fundo. — Vai passar. Eu só preciso dormir. Aconteceram coisas maravilhosas hoje. Não quero estragar isso por tão pouco. – Deitei-me na cama e ela se aproximou.

— Tente ser boazinha com ele. Ele gosta de você.

— Como você sabe? Ele mal me olhou a noite inteira!

— Ele olhou sim, mas só quando você não estava olhando. – Ela passou a mão em meus cachos. — E pelo jeito como ele olhou, é evidente que ele se importa e se preocupa com você. Caso contrário, ele não estaria aqui nesse momento.

Ela me deu um beijo e se foi, desejando-me uma boa noite.

Acordei no outro dia me sentindo bem melhor. Todos já estavam acordados, tomando café da manhã. Inclusive Max.

Resolvi ignora-lo.

— Hoje eu estou de folga, poderíamos sair para fazer alguma coisa especial. O que vocês acham? – Perguntou minha mãe.

Todos nós concordamos que seria legal fazer algo diferente, todos juntos. Eu não fazia muita questão que Max participasse, mas ele não foi embora e eu ia fingir que isso não me afetava.

Queria ser indiferente a tudo isso.

Primeira parada: cinema. Mamãe e eu nos sentamos no meio juntas e os homens cada um em uma ponta. Quando o filme terminou, nós fomos tomar um sorvete. Mamãe me mostrou suas lojas favoritas, inclusive a perfumaria onde ela trabalhava como atendente. Ela me contou também as coisas que ela mais gostava de fazer no tempo livre. E os homens ficaram para trás o tempo todo, fofocando sobre coisas das quais eles mais gostavam.

Nós almoçamos num famoso Fast Food e mais tarde seguimos para um parque, onde ficamos caminhando e batendo papo.

Nem dava para acreditar que durante muito tempo eu desejei exatamente isso... Coisas simples como observar um lago de mãos dadas com a minha mãe. E muito tempo depois, quando eu finalmente resolvi me permitir dar uma chance a isso, olha só onde nós estamos e juntas, em total sintonia, como uma família.

Sei que para muitas pessoas que têm problemas com os pais, as coisas nem sempre são fáceis como está sendo para mim agora. Mas eu me sinto agradecida por tudo ter dado certo, no momento em que eu estava precisando muito sentir todas essas coisas.

— Que horas você quer ir embora? – Perguntou Max, quando nós afastamos para comprar uma água geladinha.

Fazia muito calor.

— Eu ainda não sei, Max. Se quiser, você pode ir...

— Vou esperar.

Quando me aproximei do banco onde minha mãe estava sentada sozinha, resolvi falar sobre algumas coisas que ainda não tínhamos acertado. Mas que pelo visto, já estava na hora de tocar no assunto.

— Max quer ir embora.

— E o que você quer? – Perguntou ela.

— Eu não sei o que eu quero, mas sinto que devo ir embora com ele... voltar para casa, para o meu lar, onde está a minha nova família que me acolheu com tanto amor e carinho. Não posso deixá-los assim, depois de tudo que eles fizeram por mim.

— E eu nem te peço que faça isso. – Ela apertou a minha mãe de leve. — Seria muito rude da minha parte exigir isso de você.

— Mas e agora, o que vai ser da gente? Nós estamos bem, não estamos? Nós finalmente nos acertando e eu.. eu...

Eu já estava quase chorando de novo.

— Não chore, querida. Está tudo bem. Você já sabe onde eu moro. Você pode me encontrar sempre que quiser.  E um dia, quem sabe, poderei conhecer a sua família... eles parecem ser incríveis.

— Eles são! E eu adoraria que você os conhecesse mais.

— Vamos combinar um dia, então.

Eu a abracei.

— Não vai ficar chateada se eu for embora?

— Não, desde que você não fique mais chateada comigo por tudo que eu te fiz passar. Espero que tenha me perdoado e que a gente possa finalmente recomeçar com nossas vidas novas.

— Eu te perdoo! Você sempre será a minha mãezinha...

Ela beija a minha testa.

— Tenha cuidado. – Ela passa a mão na minha barriga. — E me ligue sempre que quiser. Vamos manter contato, ta?

— O.K...

Nos abraçamos por uma ultima vez.

— Obrigada por ter um coração tão enorme, capaz de perdoar as pessoas e dar a elas uma segunda chance.

— Obrigada por ter mudado e se tornado uma mulher melhor. Estou orgulhosa de você!

Voltamos para casa só para pegar minhas coisas. E dei uma rápida passada na casa dos meus avós para me despedir, só para eles não pensarem que eu era ingrata depois de tudo que fizeram por mim na infância e adolescência.

Max e eu pegamos a estrada no finalzinho da tarde.

— Chegaremos em casa de madrugada. – Foi tudo que ele disse o caminho todo.

Eu também não estava afim de brigar sobre os nossos mal-entendidos. Só queria relaxar e pensar na minha mãe, na conversa que tivemos e nos inúmeros abraços e beijos que nós demos.

Eu estava cochilando quando o carro começou a fazer uns ruídos estranhos.

Pela cara do Max não parecia ser boa coisa.

— Vou encostar e ver o que é.

Ele desceu no carro e olhou cada lado com atenção.

— Não são os pneus. Deve ser outra coisa. Mas está escuro, eu quase não vejo nada. Melhor paramos e procurar um lugar.

— Não vai ter nenhum lugar aberto essas horas que conserte carros.

— O que você quer, então? Que eu continuei dirigindo mesmo sabendo que tem alguma coisa estranha?

— Não. Tudo bem. Vamos procurar um lugar e parar. Não quero que nada aconteça com o meu bebê.

Levou mais ou menos uns cinco minutos para acharmos um mecânico, mas que estava fechado. Mesmo assim, Max resolveu arriscar e ligar no número do dono que estava na placa.

 — Sem chance. Ele só abre amanhã as oito horas.

— E agora? – Perguntei, aflita.

— Eu vi um hotel não muito longe daqui. Vamos deixar o carro aqui e prosseguir a pé. Procurar um lugar para passar a noite.

Uau. Que maravilha. Parece até cena de filme.


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