Muito Além de Mim escrita por Mi Freire


Capítulo 20
Saudade de você.


Notas iniciais do capítulo

Finalmente estou de férias. Vou tentar postar com mais frequência agora.



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Antes de partimos tive que resolver todas as minhas questões burocráticas. O que não foi nada fácil, porque além de ter que finalmente me arrastar para fora da cama e sair de casa, deu a maior dor de cabeça. Essas coisas nunca são fáceis, ainda mais quando se está em péssimo estado como ainda estou. Só que eu não tinha alternativas.

Tive também que me despedir dos amigos que fiz aqui e das pessoas que me apoiaram desde o início. E a primeira delas foi o Mr. Wilson que fiz questão de agradecer demasiadamente. Por fim, pedi demissão do meu novo emprego e disse a Denise que eu sentia muito por estar a deixando na mão. Ela disse que compreendia, mas eu me sentia muito mal por estar deixando para trás a grande oportunidade que ela tinha me dado de crescer profissionalmente como secretaria em seu escritório.

— Eu nem acredito que você vai embora. – Disse Sydney, chorosa. Ela tinha preparado uma festinha surpresa lá em casa enquanto estive fora com a ajuda do resto do pessoal.

Eu a abracei, também muito emocionada. Nem tinha palavras para dizer o quanto eu tinha me apegado a ela e a todos eles, mas que o destino quis que os nossos planos fossem diferentes e mudassem de direção. No fundo, eu sabia que eles entendiam, ainda assim era muito difícil dizer adeus.

Naquela noite, tentei não pensar na tragédia que minha vida havia se tornado no último mês, apenas foquei no momento e tentei aproveitar a companhia dos meus amigos. Eu até tinha tomado um banho e colocado uma roupa legal, dei também um jeito no cabelo que parecia um ninho e passei um reboco no rosto para esconder melhor as olheiras.

— Eu gostaria que você ficasse. – Disse Josh ao se aproximar quando fui pegar uma bebida para mim. — Nós poderíamos fugir para bem longe daqui e viver um romance secreto. Eu sempre tive uma quedinha por você, sabia?

— Josh! – Eu ri e lhe dei uma tapinha. Nem conseguia me lembrar a última vez em que ri verdadeiramente. — Não diga bobagens. E além do mais, não estou em condições de pensar em romances nem tão cedo. Muito menos com você!

— Assim você me ofende, Nina.

E nós brincamos mais um pouco, depois fomos nos juntar aos outros, afinal, esse era meu grande e último momento com todos eles juntos. A festinha terminou muito tarde e eu logo fui me deitar. Deixei a bagunça para depois. Estava exausta de tudo e só queria fechar meus olhos por algumas horas.

No dia seguinte, Célia fez questão de arrumar tudo sozinha, apesar de eu insistir em ajudar. Ela alegou que eu deveria me apressar para arrumar minhas coisas dentro das malas, pois o dia da nossa partida estava cada vez mais próximo. E foi o que fiz, começando primeiro pelas roupas, depois pelos objetos pessoais e de decoração.

A parte mais difícil foi ter que me desfazer da maioria das coisas do Andrew, pois eu não tinha onde coloca-las ou porque ficar com elas. Eu ainda não tinha tocado em nada, mas não tinha mais escapatórias. Por sorte, Célia estava ao meu lado nesse momento e o apoio dela foi muito importante.

Doamos os sacos de roupas para uma caridade mais próximas e alguns dos poucos objetos e pertences dele eu resolvi ficar para mim, ou dei para a mãe dele ou resolvi que distribuiria entre os amigos dele, para sempre terem um pedacinho dele aqui na Austrália, onde era o seu lar.

Muitas pessoas me perguntaram se não haveria um velório, mas acontece que Andrew não era muito fã de velórios. Ele sempre deixou muito claro que seria um doador de órgãos e que cremássemos seus restos mortais. E foi o que aconteceu. Célia cuidou dessa parte sozinha. Pobrezinha. Eu não suportava nem imaginar em torna-lo em cinzas ou o que fosse.

Muitas vezes, eu ainda não conseguia cair na real de que ele morrera. Dentro do meu coração, ainda havia uma pequena esperança de que ele voltaria para mim a qualquer momento. Chegaria exausto do trabalho e iria direto para os meus braços e eu o abraçaria forte e ouviria ele falar tudo que acontecera e que não passara de uma grande mal-entendido.

Mason e Sydney nos levaram ao aeroporto e nos ajudaram com todas aquelas malas. Nós chegamos bem em cima da hora, então só houve tempo de fazer o check in e despachar as malas. A despedida foi breve, mas muito dolorosa. Uma parte importante minha estava ficando para trás, junto com eles.

Quem sabe um dia eu ainda voltaria aqui para revê-los ou eles poderiam me visitar no Brasil como prometeram.

Eu estava muito nervosa, muito aflita e muito chorosa mesmo antes do avião sair do chão. Célia logo tirou um remédio da bolsa e deu para eu tomar. O efeito foi imediato. Eu dormi durante toda a viagem.

Foi melhor assim.

Assim que pousamos no Brasil e fomos atrás das nossas malas, vi que no meu celular havia uma centena de ligações perdidas do Eliezer. Resolvi então ligar para ele.

— Então, você está voltando para casa?

— É, mais ou menos isso.

— Você vai morar com a Célia?

— Por enquanto, sim. Acho que será o melhor.

— Eu também acho. Ela me parece maravilhosa.

— Ela é.

Houve uma breve pausa.

— Bom, preciso te dizer que eu e o Fernando decidimos fazer uma pequena interrupção em nossa volta ao mundo. Vamos dar uma passada no Brasil em breve para te ver.

— Eli! Eu te disse que não precisava...

— Sem discussões, Nina. Já está resolvido. Eu te dei um tempo, não dei? Pare de ser infantil. Agora me deixe falar um instante com a Dona Célia. Preciso falar com ela.

Passei então o celular para ela.

Não fiz questão de ficar de butuca ouvindo o que eles conversavam e fui logo pegar nossas coisas na esteira.

— Vou ligar para o Uber. – Disse Célia enquanto nos dirigíamos a saída do aeroporto.

O dia estava cinzento e feio.

— Eu pensei que alguém da sua família viria te buscar.

— A estrada é longa e digamos que eles não sabem que estamos de chegada. Será uma grande surpresa.

— Você não os avisou que chegaríamos em breve?

— Não exatamente. – Ela piscou.

Em alguns minutos, o tal Uber chegou. O rapaz era jovem, tinha um bigodinho charmoso e olhos claros, era muito gentil e simpático. Nos ajudou com as coisas e puxou conversa durante todo o caminho. Eu não sei se o remédio ainda estava fazendo efeito ou se eu só estava de mal com a vida, mas eu acabei logo pegando no sono e não vi mais nada.

Fui acordada somente no dia seguinte, muito de manhãzinha. Nós tínhamos finalmente chegado. Perguntei a Célia quanto tempo ficamos na estrada e ela me disse que foram muitas e muitas horas e que eles pararam algumas vezes para usar o banheiro, comer e abastecer o carro, mas que eu nem dei sinal de vida e continuei capotada, babando no banco de trás com a cabeça apoiada sobre as malas.

Quando finalmente desci do carro foi que senti meu corpo doer por ter dormindo de mal jeito entre as malas. Eu me estiquei toda para ver se ajudava, mas não melhorou muito. Enquanto o motorista colocava as malas para fora do carro, eu me liguei em volta e dei uma bela conferida no lugar onde estávamos.

Era simplesmente o lugar mais lindo que eu já vi em toda vida. Logo de cara, eu podia ver uma estradinha de terra que provavelmente nos levaria até a casa. Em volta, era tudo verde. Muitas árvores altas, com troncos grossos, pareciam antigas, mas muito fortes. E flores. Muitas flores. O cheiro de flores e terra molhada estava em toda parte.

Era como viver num lindo campo florido.

— Preparada? – Célia me despertou do encanto com sua voz e seu toque em minha mão. — Vamos lá?

Eu sorri para ela e assenti.

Não sabia ao certo se estava pronta, mas eu queria tentar. Estava disposta a tentar. Era o que o Andrew gostaria. Ele gostaria que eu tentasse... Por ele e por mim.

Caminhamos juntas pela estradinha de terra até a casa que ia se aproximando aos poucos. Era toda feita de madeira, com janelas grandes. Pelo visto, a casa era a única construção ali presente. As árvores pareciam não ter fim, rodeando a casa, assim como as flores, de várias tipos, cores e perfumes.

— Ei, pessoal. – Célia gritou. — Nós chegamos!

A primeira pessoa que apareceu foi uma garotinha de mais ou menos sete anos de idade. Ela tinha cabelos compridos e lisos de um castanho escuro e uma franjinha adorável.

— Vovó! – Ela abraçou Célia com força.

Fiquei ali parada, hipnotizada com a cena.

— Tia Célia! – Ouvi então uma voz se aproximando. Uma moça jovem. Uma versão mais velha da garotinha. — Mas o quê... Meu Deus! Porque não avisou que estava chegando?

Ela tinha um sotaque adorável do interior.

— Max! – A moça gritou. — Max, venha ver quem chegou! Sua mãe! Ela está aqui... Venha ajudar com as coisas!

Max surgiu em questão de segundos.

Então eu finalmente conheceria o tal Max...

Ele usava um jeans escuro e surrado, uma camisa xadrez vermelha com preta de botões e botas. Ele tinha o cabelo um pouco menor do que imaginei, ondulado e escuro, na altura dos ombros e uma barba espessa que cobre boa parte do rosto. Seus olhos escuros muito sérios e sombrios, uma expressão de quem está constantemente mal-humorado.

Ele definitivamente se parece com um lenhador.

 Max primeiro olhou para a mãe, levemente surpreso e por fim para mim. Minha presença parece não ter agradado muito. Mas dane-se ele. Eu fui convidada por sua mãe e estou aqui por ela. Somente por ela.

A garotinha, a moça e Max levaram nossas coisas para dentro da casa, onde toda a decoração era escura e rústica. Mas não tive muito tempo de me ligar aos detalhes, pois fui logo pega de surpresa pela garotinha e sua provável mãe.

Eu não sabia que Max era casado e que já tinha uma filha.

— Oi... Ouvi falar muito de você. Eu sou Catarina e você é a Nina, certo?

— Sim, isso mesmo. – Tentei sorrir, sem jeito. — Muito prazer em conhece-la... Catarina.

— O prazer é todo meu. – Ela sorriu de volta, parecia muito verdadeira. — E essa aqui – Ela puxou a filha para mais perto. — É minha filha, Isabeli.

Olhei para a garotinha, podendo notar de perto o quanto eram parecidas. Exceto que Catarina tinha o mesmo cabelo castanho liso, só que bem mais curto, preso com uma tiara.

— Oi, Isabeli. Eu sou a Nina.

— Nina... A namorada do tio Andrew! – Isabeli praticamente deu um pulo, mas sua mãe logo tratou de contê-la com um empurrão. A garotinha olhou feio para a mãe, mas logo resolveu ignora-la. — Você vai morar aqui com a gente?

— Oh, sim. Creio que por um tempo apenas.

— Você certamente vai gostar muito desse lugar. – Foi a vez de Catarina falar. — Quer dar uma volta? Posso te mostrar tudo que quiser...

— Na verdade, eu gostaria de saber onde será o meu quarto. Eu estou tão exausta. Preciso muito de um banho.

Catarina, assim como Isabeli, pareceram levemente decepcionadas com minha falta de interesse de conhecer o lugar. Mas nós teríamos muito tempo para isso ainda.

— Claro! Vou te levar até lá em cima. Isa, querida, ajuda a mamãe a levar as coisas da Nina para o quarto...

— Não precisa, meninas...

As duas subiram na frente e eu fui logo atrás. Meu quarto ficava no final do corredor. Um lindo quarto de hospedes em tons pasteis de amarelo e cinza. Havia uma cama de casal no centro do cômodo, dois criados mudos ao lado da cama, uma cômoda para guardar as roupas e alguns quadros com paisagens nas paredes. Simples e aconchegante.

 — O banheiro é a terceira porta no corredor. – Catarina colocou minhas coisas no chão. — Quer mais alguma coisa?

— Não... Obrigada. Você foi muito gentil.

— Me chame sempre que precisar.... Estarei em total disposição para o que for. Isa, venha, vamos.

A garotinha me olhava encantada, mas quando sua mãe a chamou, ela desceu da cama toda emburrada. Acho que esperava poder ficar para conversar comigo e me conhecer melhor.

Quando elas se foram, eu me sentei um pouco na cama para recuperar o fôlego. Muita informação para um só dia e ele mal tinha começado. Olhei melhor em volta.... Nada que me remetesse ao Andrew. Melhor assim. Fui até a janela e puxei para cima para poder olhar lá fora. O sol estava ganhando o céu aos poucos. Procurei nas malas uma toalha, um sabonete, roupas limpas e uma calcinha. Fui então tomar banho.

Ao voltar para o quarto, encontrei Célia sentada a minha espera.

— Você está bem? Quer alguma coisa? Estamos preparando o café da manhã lá em baixo.

— Não... Obrigada. Estou sem fome. Apenas um pouco cansada. Esperava dormir um pouco.

— Tudo bem, então. – Ela se levantou, veio até mim e beijou de leve o meu rosto. — Descanse um pouco, querida.

E mais uma vez fiquei sozinha. Deitei-me na cama e tentei dormir, mas eu já havia dormido muito pelo caminho até aqui. Eu só estava cansada mesmo... De tudo, da vida. E nem um pouco à vontade para descer e interagir com aquela gente toda.

Mesmo sem sono, resolvi ficar no quarto. Passei o dia ali, com os olhos bem aberto. Eu ouvia quase tudo que aconteceria na casa, mesmo lá em baixo. Ouvi Célia contar sobre suas pequenas aventuras na Austrália, ouvi o barulho das coisas enquanto elas provavelmente preparavam o que comer, ouvi quando Célia disse que ia olhar suas flores, ouvi quando Isabeli saiu correndo atrás dela, ouvi Catarina suspirar. Ouvi muitas coisas... Passos, conversas, risadas, portas se abrindo e fechando, o barulho da tevê e dos pássaros lá fora. Mas não ouvi nada sobre o tal Max.

Já era noitinha quando ouvi baterem em minha porta. Eu já estava quase pegando no sono pela primeira vez.

Célia entrou com uma bandeja em mãos.

— Trouxe algo para você comer.

Ela colocou a bandeja ali.

— Obrigada, mas não precisava...

— Fiquei preocupada, você não desceu nenhuma vez para se juntar a nós. Não precisa ter medo. Agora somos a sua família.

— Eu sei... Não tenho medo de vocês. Eu só estava cansada mesmo. Me desculpem.

— Tudo bem. – Ela passou a mão de leve nos meus cabelos. — Amanhã será um novo dia.

Ela se despediu e se foi.

Eu comi um pouco, estava mesmo faminta. Só não tinha me dado conta ainda. Depois de ter comido um pouco, voltei a me deitar, pronta para ir dormir. Ao que pareciam, estavam todos indo dormir também. Os barulhos cessaram e as luzes da casa foram apagadas.

Acordei na manhã seguinte as sete horas da manhã com o canto dos pássaros entrando pela minha janela. Eu só saí do quarto quando tive certeza de que não tinha ninguém no corredor. Eu só precisava mesmo usar o banheiro.

Passei os dias trancafiada no quarto, deitada, olhando para o além, pensando em tudo e em nada ao mesmo tempo. Minha situação não mudou muito de como eu estava quando estava na Austrália. A verdade era que eu só não tinha vontade de me levantar para a nada. As pessoas estranhavam, mas parecia entender que eu precisava de tempo e espaço.

Célia me trouxe o café da manhã, verificou minha temperatura e depois se foi. Catarina voltou mais tarde, recolheu a bandeja e deixou o meu almoço. Ela não disse nada, só me olhou com bondade e sorriu. No finzinho da tarde, Isabeli surgiu com um lanchinho para mim que ela alegou ter preparado sozinha. Eu agradeci e antes de partir, ela me olhou com se implorasse internamente que eu pedisse para ela ficar. Mas isso não aconteceu.

Por muitas vezes ouvi alguma movimentação pelo corredor e cheguei até a ouvir Isabeli perguntando a mãe quando era o meu problema, porque eu não saia do quarto para nada, nem mesmo para comer ou brincar com ela. Apesar do aperto no peito que senti ao ouvir aquilo, nada mudou. Eu continuei ali como se estivesse presa a cama.

Só assim tive tempo para pensar sobre muitas coisas e foi quando cheguei a uma conclusão: mesmo rodeada de pessoas de bom coração que se preocupavam comigo o tempo todo, eu ainda me sentia muito sozinha e desamparada. 

— Eu queria pedir uma coisa a você. – Resolvi dizer algo quando Célia apareceu durante uma de suas rondas.

— Pois diga. – Ela me olhou, atentamente.

— Gostaria de saber se eu posso ficar no antigo quarto do Andrew, se é que ele ainda está disponível. – Ela me olhou sem entender nada. — Não é que esse seja ruim... Esse quarto é ótimo. É só que.... Eu sinto falta dele... Queria poder senti-lo de alguma forma, me reconectar... Eu não sei.

Eu sentia mais do que falta do Andrew, muito mais do que saudade. Por muitas vezes, eu desejei que ele aparecesse para mim para que eu pudesse olhar para ele de novo, ouvi-lo, senti-lo de alguma forma. Nem que fosse por uma última vez. Mas isso obviamente não aconteceu, porque fantasmas não existem e nem aparecem assim, como num passe de mágica. 

— Você tem certeza disso? – Ela perguntou e eu assenti, desesperada. — Então, vamos lá. Venha comigo.

Eu fiquei atrás, com o coração a mil. Eu queria muito saber como era o quarto dele quando mais jovem e quem sabe até conseguir me sentir mais próxima a ele mesmo após a sua partida, mas só a ideia de poder ver as coisas antigas dele de perto, sentir e toca-las... Era assustador demais para mim.

Talvez eu nem estivesse pronta para isso ainda.

Ela abriu a porta devagar e eu entrei primeiro.

O quarto era do jeitinho que ele tinha me contado tantas vezes, só que mais mágico. Todo em tons de cinza. Uma cama de solteiro no quarto perto da janela. Uma escrivaninha. Um guarda roupa com espelho. Prateleiras com diversos livros sobre peixes, baleias, corais, oceanos.  E dois ursinhos de pelúcia sobre uma poltrona preta: um golfinho e uma tartaruga.

Tudo limpo e organizado.

Intocado por anos.

— O cheiro dele ainda está. – Tudo em volta cheirava a mar, praia, areia e sal.

— Você quer algum tempo sozinha? – Perguntou ela.

— Mais do que isso. Será que eu poderia ficar aqui ao invés do outro quarto? Se não for pedir demais...

— Não. Claro! Você pode ficar, se é o que quer.

 E eu fiquei.

A princípio bisbilhotei tudo, toquei em tudo, cheirei tudo. Senti o Andrew em todas as partes, em cada detalhe. Imaginei nós dois ali juntos, revivendo as memórias e lembranças. Imaginei ele ali sozinho, ainda adolescente, descobrindo o mundo, explorando, tomando suas decisões sozinhos, fazendo suas pesquisas, estudando para as provas do colégio.

Parecia que eu enfim tinha encontrado meu lar... Ainda junto dele. Porque de certa forma ele ainda estava aqui, em tudo. Ele não se fora totalmente. E eu não queria perder isso por nada. Era tudo que eu tinha. Tudo que me restou. Eu não sairia daqui nunca mais, nem mesmo arrastada. Eu queria ficar aqui o tempo todo, com as coisas dele, imaginando que ele estava ali, andando de um lado para o outro com um livro de pesquisa entre os dedos, sem saber que um dia se mudaria para a Austrália, teria o trabalho dos sonhos, amigos incrível e que conheceria eu, por quem ele acabaria se apaixonando num dia qualquer num café do subúrbio na mesma intensidade em que me apaixonei por ele com um simples olhar.


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Notas finais do capítulo

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