Por qual motivo escrever? escrita por 0 Ilimitado


Capítulo 1
POR QUAL MOTIVO VOCÊ ESCREVE?




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Confesso ter pensado começar essa prosa poética com o famoso – calamitoso – “eu sou”, porém não posso mais me concluir, estou na era de pensar se até os meus princípios mais fieis são fidedignos.

“Vejo-me”, soa melhor, soa menos conclusivo e mais opinião do que certeza.

Vejo-me como uma congregação de mistérios esmeros, ordenados através duma anarquia, são discrepâncias insones que me fazem passar noites em claro, e como um fiel apreciador da insanidade humana, reconheço que só vivendo poderei rasurar os princípios inatos... Talvez por isso recuso-me a dormir; tomo do abajur e imagino estrelas no teto, penso em quantos moradores de rua entrarão em óbito no frio, vagueio entre os bordéis e esquinas, contando entre os pais de família os assumidos e os hipócritas.

Incrível que por mais singela que seja a resposta para o tanto que escrevo, costumeiramente permiti-me a perguntar. É um apelo esfomeado da mais pura luz que me habita, por um ato esforçado, para que os outros vejam o mundo através dos meus olhos? Apresento tanto desilusão e loucura para que meu modo lunático espante a beleza nos olhares da escuridão? Quero endeusar o mal?

Fico abaixo da janela do meu quarto, acouto-me entre os 3 cobertores (primeiro tremo bastante, mesmo aquecido, não consigo aceitar que eu esteja com tantas camadas contra o frio e um bastardo lá fora cobre-se com papelão duma caixa de televisão), fico ouvindo as conversas daqueles que passam ocasionalmente na madrugada... A maioria conversa sozinha, vê na noite uma ótima conselheira e confidente, respondo-os em pensamento, gosto da sensação de que falam para mim, a sensação de estar em todo lugar e ser consumido por confissões dolorosas, de velhas mancas, de novos punks.

É o som do violino quebrado: melodia tão horrenda e ensurdecedora, no entanto, no cerne dos acordes emanados, ressoa a saudade do bom tom que remete as lembranças do tempo em que o instrumento estava intacto, com o seu silêncio digno.

Durmo e vejo pessoas colhendo “frutos” de árvores secas. Acordo e vejo almas varrendo o chão, catam sucata e trocam por centavos. Gaia! Como é difícil fugir disso! Desperto ou adormecido, rebobino a realidade, mesmo que visitado por Morfeu, vendo o chão no céu e o céu no chão, são adaptações da matrix para que eu não perceba o fluxo vicioso, a história cíclica, o pobre sendo reposto pelo pobre e o burguês inocente, de tanto chamar-se de inocente, transformou-se em um, com o bolso cheio de escaravelhos.

“Cair no amor” é uma expressão que gosto, e pensei em terminar com ela, pois, no âmago da minha subjetividade, este sou eu: tentando morrer por algo que valha a pena, mesmo que seja caindo. Acho que trocarei meus cobertores para poder me cobrir com as palavras – para sempre.

FIM

17/06/16


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