Yulia

28/08/2016 às 00:39 • POR QUAL MOTIVO VOCÊ ESCREVE?
Li a sinopse e lembrei da vez em que decidi trocar comida por palavras: estas alimentam mais e a ideia de me nutrir de algo sublime ao invés de mundano soou graciosamente trágica, como essa melodia japonesa aquática e sofrida que casou bem com teu texto - mas no fim os lúcidos sabem: tudo é mundano porque as subjetividades todas nascem da escória mais baixa ("Encontremos todos a droga de um espelho", eu peço, desgraçada, na praça da cidade).
Lúcido também vejo a ti: questionador dos próprios atos, conhecedor das visões que são antes trôpegas que certeiras. [...] gosto da sensação de que falam para mim, a sensação de estar em todo lugar e ser consumido por confissões dolorosas, de velhas mancas, de novos punks, tu explicita a miserabilidade do mundo mas mantém uma distância quase etérea, o ponto mais brilhante é o quão sincerto tu soas, essa mescla de sincero e certo veio de um piscar de olhos etílico, cria de um descuido, mas acho que gosto - tenho já toda uma prole errada e descartada, este não entrará para o clube da rejeição. Afago meus acidentes assim como tu parece relevar os teus, que te passa? Que te faz cultuar a loucura e ainda assim se manter são o suficiente para fazer jus à tua hipergrafia?
Seria demais perguntar qual foi o filme cult que te fez escrever este? Gostaria de assisti-lo, e então lê-lo mais uma vez, e talvez encontrar empurrões e agulhas nas esquinas que agora, assim sóbria de intelectualidade elitista, não vejo - apesar de ver, sim, empurrões e agulhas. Algo me diz que há mais, e mais e mais e mais.
Agradeço por me convidar para este beco escuro e fascinante, tua escrita me faz querer te contemplar de longe, teus atos, rostos. Eu poderia até te dar um crisântemo branco.

Com carinho,

Yulia.