Entre vãos escrita por Miss Birth


Capítulo 3
Uma bela noite


Notas iniciais do capítulo

Acredito que vocês já assistiram Homem de Ferro 2 (2010). Esse capítulo faz algumas referências a ele, já que a história como um todo narra os eventos que ocorreram na vida do Tony entre os filmes do Universo Cinematográfico da Marvel. Boa leitura!



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—“Jarvis? Acordado?”, disse Tony, ao entrar na mansão.

—“Ah, boa tarde, senhor. Estava acompanhando os noticiários.”, respondeu Jarvis, o amigo virtual de Tony.

—“Sério? O que tá pegando?”, perguntou.

—“Receio que revelar ao mundo a respeito da armadura tenha sido um tanto prematuro, senhor.”, disse Jarvis.

—“Já virou notícia, é? A imprensa não perde tempo mesmo.”, disse Tony, indo em direção a sala, onde Pepper estava concentrada nos documentos que preenchia.

—“Talvez se o senhor mantivesse a sutileza, não seria o assunto preferido da mídia mundial. A propósito, o senhor deve estar ciente das consequências de suas palavras...”, mencionou Jarvis, sendo interrompido pelo chefe.

—“A gente continua essa DR depois, amor. Prepare sua mente, porque já tenho novos projetos e preciso de sua total dedicação. Me espere na oficina.”, disse Tony.

—“Como quiser, senhor.”, respondeu Jarvis.

Tony sentou na poltrona que ficava em frente ao sofá onde Pepper trabalhava. A TV estava ligada e, como se esperava, em todos os canais repetia-se exaustivamente a coletiva de mais cedo, onde Tony entregou a identidade do Homem de ferro.

Eu sou o Homem de ferro!

—“Não gostei do ângulo dessa câmera! Deixa meu rosto rechonchudo! ”, disse ele.

Pepper levantou os olhos e suspirou.

—“O que você está fazendo, Tony? ”, perguntou ela, demonstrando a frustração em seu rosto alvo.

—“Por que vocês não entendem? Agora a América e o mundo podem contar com alguém para combater seus problemas e restaurar a paz. Há algo de errado nisso? ”, disse Tony, num tom meio irritado.

—“Certamente não há nada de errado. Mas o anonimato tem muitas vantagens. Acho que não percebeu. ”, disse ela.

—“Talvez. Mas isso não faz meu estilo. Uma hora ou outra saberiam a verdade. Só fiz a gentileza de contar essa verdade antes que surgissem especulações ridículas. ”, disse Tony. “Sabe o que me veio em mente agora? Por que não falam do Obadiah nos noticiários? ”

—“Phil vai cuidar disso, então não precisa se preocupar. Pelo menos essa parte do álibi que te arrumamos vai servir para alguma coisa. ”, respondeu Pepper.

—“Já estão íntimos assim, é? Phil! É agente Coulson, srta. Potts.”, resmungou Tony.

—“É apenas um cara legal que fazia o trabalho dele e que, para fins de registro, nos ajudou bastante. Isso é ciúme, chefe? Não fique nervoso. Odeio procurar emprego, então não vai se livrar de mim tão cedo.”, disse Pepper, segurando o riso.

—“Duvido que outro trabalho lhe traga tanta satisfação como esse, srta. Potts. E também a S. H. I. E. L. D. não lhe pagaria como merece. ”, disse ele.

—“Nem tenho vocação para ser agente secreta, Tony.”, respondeu.

—“Ficaria linda naqueles uniformes coladinhos...”, sussurrou Tony, em volume suficiente para ser ouvido por ela.

Pepper simplesmente fingiu que não ouviu o que ele disse e continuou lendo a papelada.

—“Ainda sobre o Obadiah: você não acha que vai ser mais simples se eu disser que ele era um canalha que fez negócios por debaixo dos panos, tentou me matar duas vezes, destruiu meu reator arc e ainda tentou se livrar de você? Era um covarde! ”, disse Tony.

—“Deixe isso com o pessoal da S. H. I. E. L. D. Eles sabem o que fazer. Agora, se me der licença, preciso terminar esse trabalho antes das sete da noite. Jarvis o espera na oficina.”, respondeu Pepper.

—“Não se atrase para o jantar, srta. Potts. Teremos uma longa noite!”, disse Tony, indo em direção à oficina.

—“Nossa, mal posso esperar!”, pensou ela.

Tony rapidamente trocou de roupa e começou a organizar ideias em sua mente.

—“Estou aqui, Jarvis. Pronto para mais uma magnifica proposta?”, disse ele.

—“Sempre ansioso, senhor.”, respondeu Jarvis. “Aliás, como o senhor pretende fornecer energia para a sede de Los Angeles após a destruição do reator arc?”

—“Vejo isso depois, Jarvis. Tenho coisas mais urgentes para resolver. Crie uma nova pasta no meu servidor pessoal e intitule “Expo Stark”. Depois, procure tudo a respeito da feira de 74 e me avise quando terminar.”, pediu Tony.

—“Tudo bem, senhor. Iniciando pesquisa nos servidores conhecidos.”, respondeu Jarvis.

Enquanto Jarvis pesquisava, Tony decidiu verificar suas armaduras.

—“Onde foi que parei...? Ah, Mark III. Bem, é hora de criar especificações para a Mark IV. Jarvis, coloque o projeto da Mark IV em segundo plano. Aceito sugestões, mas não seja exagerado. Agora tenho que cuidar da minha imagem, afinal sou o Homem de ferro.”, disse ele.

—“O aconselho a manter a discrição, senhor.”, respondeu Jarvis.

—“Claro. E como está a pesquisa?”, perguntou.

—“Promissora, senhor. Estará concluída em dois minutos.”

—“Muito bom! Vou buscar um drink. Já volto, filho.”, disse Tony, andando para a pequena cozinha que tinha na oficina. Assim não precisava subir e nem atrapalhar Pepper para conseguir comidas e bebidas.

Após pegar o drink, Tony sentou numa poltrona e ligou a TV. Deparou-se com um dos correspondentes das Indústrias Stark falando sobre o desaparecimento de Obadiah.

As autoridades confirmaram o trágico acidente envolvendo o jato particular de Obadiah Stane, um importante executivo das Indústrias Stark. Infelizmente, ninguém sobreviveu.

—“Muito clichê, até mesmo pra filmes. Deveriam ter me deixado falar, assim teria alguma graça.”, disse Tony.

—“Pesquisa concluída, senhor. Devo expor os arquivos agora? ”, perguntou Jarvis.

—“Quer saber? Deixe isso pra mais tarde, Jarvis. Já são quase sete horas e logo o Rhodes vai chegar. Não quero nenhum abelhudo aqui embaixo. Ainda é muito cedo pra alguém saber a respeito dos meus planos pros próximos meses. ”, decidiu Tony.

—“Como quiser, senhor. Deseja mais alguma coisa? ”

—“Isso é tudo. Tire uma folga, Jarvis. Até mais. ”

Tony saiu da oficina, passando sorrateiramente pela sala, para não ser visto por Pepper. Ela estava tão concentrada no que fazia que realmente não percebeu quando ele passou na sua frente. Ao subir a escada, Tony parou. Por alguns minutos, a observou ali. Tão serena...! Enxergava nela o que nunca viu em nenhuma outra mulher. Por algum motivo, sentia algo. E era mais do que um simples desejo ou admiração. Por mais bonita que fosse, isso não era o seu principal atrativo. Estava convencido de que descobriria mais a seu respeito. Talvez essa noite guardasse uma ótima oportunidade para isso. Devia começar a se arrumar, então foi ao quarto para tomar uma ducha.

Pepper foi avisada por Jarvis de que já eram sete horas. Felizmente, conseguiu terminar o preenchimento dos relatórios a tempo. Subiria ao quarto de hóspedes, onde guardava alguns itens de emergência e rapidamente se arrumaria para o jantar. Não estava muito animada para jantar ali, pois estava estressada com o que aconteceu nos últimos dias, porém Tony insistiu e Rhodes também viria. Para não dar desfeita, aceitou acompanhá-los, mas ainda planejando voltar para seu apartamento quando acabassem. Precisava de um bom descanso. Tomou um banho rápido e secou os longos cabelos. Por sorte, havia deixado ali um traje adequado para o jantar: um vestido vermelho, de saia rodada, na altura dos joelhos. Era simples, mas lhe caía perfeitamente. Escolheu um par de sapatos com saltos médios e uma maquiagem suave. Para quê chamar atenção? Era apenas um jantar com o chefe. Não queria ser alvo das cantadas de Tony, então achou que estava bem arrumada. Rhodes logo chegaria e, por isso, não demorou no quarto.

Desceu a escada com calma, percebendo que a lareira estava acesa e uma música alegre quebrava o silêncio do ambiente. Também podia sentir um cheiro delicioso no ar; o jantar estava caprichado. Tony não havia descido e Rhodes estava a caminho. Decidiu ir na sacada da sala de jantar para tomar ar fresco.

Era uma noite fria e estrelada. Dali podia sentir a brisa vinda do oceano pacífico e pensar na própria vida. Como havia parado ali, naquele lugar? Embora desde criança sonhasse com uma vida bem-sucedida e independente, gostava do que possuía. Trabalhar com Anthony Stark era desafiador, mas o passar dos anos lhe deixou experiente no que fazia. Viu Tony passar por tantas coisas, que por várias vezes analisou se suportaria lidar com aquilo. Foi perseverante em todas elas – a prova disso é que estava ali e não se imaginava em nenhum outro lugar. Não se importava se isso envolvia sacrifícios até mesmo na vida pessoal. Na realidade, tinha um carinho especial por ele. Nunca alimentou o que sentia, até porque não achava que ele se atentaria exclusivamente a ela quando podia ter a mulher que desejasse. Contudo, as coisas pareciam estar diferentes agora. Tony havia optado por um novo caminho na vida, abrindo mão de tudo o que lhe era habitual. Quem sabe finalmente estaria pronto para vê-la como alguém importante e assim tornasse as coisas melhores para eles. Só o tempo responderia suas dúvidas. Por enquanto, queria ser útil como funcionária e o resto aconteceria naturalmente.

—“É uma bela noite, não?”, perguntou Tony, que entrou na sacada e tirou Pepper de seus pensamentos.

—“Ah... É sim!”, respondeu ela, um tanto surpresa com a sua presença. “Um bom lugar para pensar.”

—“Quer dizer que atrapalhei alguma coisa? No que pensava, srta. Potts?”, disse ele, aproximando-se de Pepper, que estava atenta a tudo o que acontecia ali.

—“Não foi nada, Tony. Estava apenas aproveitando a brisa e observando as ondas. Rhodes já chegou?”, respondeu.

—“Ele me disse que está perto. Deve estar preso em algum congestionamento. É bom que assim ganhamos tempo.”, disse Tony, olhando-a com uma intensidade que apenas seus olhos possuíam.

Pepper podia perceber com rapidez quando Tony tentava provocá-la. Isso lhe era uma vantagem quando se tratava de arranjar desculpas para driblar seus galanteios.  

—“Pra quê? O jantar já está pronto, então podemos preparar alguns drinks. O que acha?”, sugeriu.

Pepper virou de costas, caminhando de volta para a sala de visitas, quando sentiu que Tony havia segurado sua mão.

—“Dessa vez, é você que está querendo fugir de mim e ainda por cima usando meu truque barato de pegar bebida. Garota esperta!”, disse ele.

—“Então admite que fugiu?”, provocou ela.

—“Você não me deixou terminar de explicar no carro. Saiu correndo como se tivesse visto um fantasma.”

—“Eu tinha pressa. Viu a quantidade de documentos que tive que analisar?”, respondeu, tentando se justificar.

—“Admiro sua competência, Pepper. E não é só isso.”, disse Tony.

—“Muito obrigada, chefe. Estava tudo no currículo, portanto não deveria se surpreender.”

—“No seu currículo não dizia que você tem belos olhos. Muito menos o quanto está linda neste vestido.”.

Pepper ficou sem graça com tantos elogios e por um momento esqueceu o escudo defensivo que usava ao conversar com Tony. Estava se perdendo no fundo daqueles olhos castanhos e misteriosos. Os olhares se encontraram mais uma vez; a última ocasião em que isso aconteceu foi no baile beneficente em que dançaram juntos e quase se beijaram. Pepper terminou a noite plantada, esperando por Tony, que havia saído para buscar um Martini. Agora, porém, estavam sozinhos ali, naquela noite deliciosa. O que poderia interrompê-los novamente?

—“Senhor, o Cel. James Rhodes o espera na sala de visitas.”, disse Jarvis.

—“Um verdadeiro estraga-prazeres.”, disse Tony.

Pepper riu discretamente.

—“É melhor irmos para lá, antes que ele se junte a nós aqui fora. Está ficando frio.”, disse Pepper, soltando a mão de Tony.

—“Mas Pepper...”, insistiu ele.

—“Vamos, Tony. Se continuar aqui, vai acabar ficando resfriado.”, respondeu ela, voltando para dentro da mansão.

—“Tudo bem...”, disse Tony, suspirando.

Parecia que o destino sempre pregava peças. Mas Tony não pensava em desistir da mulher que queria tanto. Não conseguiria segurar para sempre a vontade de dizer a Pepper o que sentia e o que estava disposto a fazer por ela. A hora certa chegaria; era a única certeza que tinha naquele momento.

A noite estava apenas começando para os três. Mesmo que estivesse com a agenda lotada, Tony sempre fez questão de jantar em casa, acompanhado por Rhodes, Pepper e até mesmo Happy. Eram sua família. Depois de um delicioso jantar, beberam um bom vinho e ouviram pela milésima vez as histórias de Rhodes sobre suas missões na Força Aérea. As horas avançavam e apenas Tony ainda bebia.

—“Já está tarde, Tony. É melhor irmos embora. E você precisa descansar. Sabe que teremos muito trabalho pela frente.”, disse Pepper.

—“Mas você ainda não fez a dancinha...”, respondeu Tony, mostrando que já não estava em si.

—“É, amigo. Pepper tem razão. É melhor ir pra cama. Dá o copo pra mim.”, pediu Rhodes, pegando o copo da mão de Tony.

—“Você fica com o copo e eu vou levar a Pepper em casa, ok?”, respondeu ele.

—“Nem pensar! Você não está em condições de dirigir. Eu mesmo a levo. Fica tranquilo e vá dormir.”, disse Rhodes.

—“É, tem razão. Na verdade, acho que não consigo nem ir pro quarto. Pepper?”

—“Estou aqui. O que quer agora?”, respondeu ela.

—“Enquanto o Rhodes esquenta o motor, preciso que me ajude a chegar no quarto.”

—“Até a porta, somente. Não tente nenhuma gracinha, hein!”, advertiu.

—“Tô indo ligar o carro, Pepper. Até mais, Tony. Boa noite e se cuida.”, disse Rhodes, se despedindo.

—“Boa noite, amigo. Cuide bem da minha Pepper.”, disse Tony. “Vamos, ruivinha, ou vou acabar dormindo no sofá.”

Pepper pacientemente seguiu Tony até o quarto.

—“Pronto. Está são e salvo. Siga por essa porta e durma bem.”, disse ela.

—“O que seria de mim sem você, hein Pepper? Mas seu trabalho ainda não acabou. Tem que me ajudar a vestir o pijaminha, escovar meu lindo sorriso e dar um beijo de boa noite.”

—“Ah, Tony. Ninguém merece...”, respondeu Pepper.

—“Podemos pular direto pro beijo, se quiser. Eu não me importo.”, disse ele, com um enorme sorriso no rosto.

—“Boa noite, sr. Stark. Nos vemos amanhã.”, disse ela, fechando a porta rapidamente.

Pepper desceu as escadas e se despediu de Jarvis. Rhodes a esperava logo na entrada.

—“Muito trabalho lá em cima?”, perguntou ele.

—“O de sempre. Vamos?”, respondeu.

—“Como quiser, srta. Potts. Esse Tony é uma figura!”, disse Rhodes, rindo e saindo pelo portão da mansão. “Tem algum palpite do que ele planeja para as Indústrias Stark já que fechou o setor de produção de armamentos?”

—“Não faço ideia, Rod. E isso me preocupa. Tá ficando cada vez mais difícil entender o que o Tony pensa.”, respondeu Pepper.

—“E já foi fácil alguma vez? Você é a única que ainda consegue mantê-lo razoavelmente controlado. ”

—“Imagine se estivesse descontrolado...”, disse ela.

Os dois começaram a rir. Quando se tratava de Tony, sempre havia um misto de preocupações e incertezas. Ainda assim riam da situação.

—“Aliás, Rhodes. Agora que as Indústrias Stark pararam de fornecer armas ao governo, quem vai fazer isso? Você sabe?”, perguntou Pepper, apenas por curiosidade.

—“Não é oficial, mas ouvi falar sobre as Indústrias Hammer.”, respondeu Rhodes.

—“Hammer?”, disse Pepper, num tom de espanto.

—“Pois é. Não há muitas opções, então... Parece ser o mais aceitável.”

—“Não é por nada. É que sempre achei Justin Hammer meio maluco.”, disse ela.

—“Nem me diga! Bom, chegamos!”, avisou ele.

—“Muito obrigada, Rhodes. Até logo. Apareça na mansão quando puder. Acho que Tony não deve ficar sozinho no estado em que está.”

—“Vou fazer o possível. Boa noite, Pepper.”

Pepper morava sozinha num belo apartamento em Santa Mônica, um bairro famoso de Los Angeles. Quase não percebia que estava só, pois a rotina era agitada e em casa tinha tempo apenas para dormir. Tudo o que queria após aquele longo dia era um banho quente e sua cama.

Quando finalmente deitou sobre o travesseiro e ajeitou as cobertas, pôde fechar os olhos. Estava cansada demais para pensar em qualquer coisa, mas isso não apagava o último pensamento do dia. Olhos castanhos e marcantes, um sorriso maroto e hipnotizante.

—“Boa noite, sr. Stark.”, disse ela, em sua mente.


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Notas finais do capítulo

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