A Redenção do Tordo escrita por IsabelaThorntonDarcyMellark


Capítulo 62
As várias formas do querer


Notas iniciais do capítulo

Olá!!! Tudo bem?

Eu não atualizo a fic há milênios, mas sempre recebo mensagens de incentivo para continuar.

É o que pretendo mesmo, apesar das dificuldades em escrever.

Então, ainda que tarde, eis mais um capítulo pra vocês!

E muito obrigada pelas mensagens!!!❤



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°•°•As várias formas do querer•°•°

 

Por Peeta

Quando eu retorno à nossa casa, depois de deixar alguns pães para Haymitch e sua família, Dandelion está rondando a porta. Talvez o gato queira sair, como sempre. No entanto, surpreendentemente, ele aceita que eu o pegue no colo.

Mas não é só isso que me espanta. Ao entrar na cozinha, sou recebido com a seguinte frase de Katniss:

— Nossa filha escolheu o nome dela, Peeta.

Franzo a testa. A confusão permeia cada traço do meu rosto no momento, enquanto a face de Katniss só demonstra divertimento.

— Como isso é possível? – questiono e ela apenas gesticula para que eu me aproxime. — Você não está fazendo muito sentido agora.

Eu caminho até onde ela está sentada e vejo um brilho de humor em seus olhos cinzentos. Katniss se levanta, dá um passo à frente e segura uma das minhas mãos para posicioná-la em sua barriga.

— Você gosta dessa música? – Katniss indaga e logo começa a cantar: — Deep in the meadow, under the willow...

Nossa filha entra em ação imediatamente, golpeando o ventre da mãe.

— Gosto muito.

— Quando eu canto, a bebê me chuta na parte que falo a palavra Willow – explica ela e eu percebo nossa menina se mexer. — Está sentindo? Chutou de novo.

Eu a encaro intrigado, mas compreendo a conclusão a que Katniss chegou. E amo a ideia.

Willow. Não há nome mais perfeito para a nossa pequena.

— Eu vou lhe dar alguns minutos para pensar sobre isso – avisa ela e, em seguida, passa por mim em direção à sala de estar, não sem antes pegar o gato, que se aninha preguiçosamente em seus braços.

— Pensar sobre o quê? – indago, fazendo-me de desentendido, e ela apenas se vira para mim, dando de ombros.

— Sobre o que acabou de acontecer.

— Não preciso pensar, Katniss. O nome já está escolhido! E, o que é mais incrível, pela própria... Willow.

Katniss balança a cabeça afirmativamente e eu sorrio, emocionado por poder pronunciar o nome da nossa filha pela primeira vez.

Corro até minha esposa e me ajoelho diante dela, repetindo a palavra Willlow para sentir a reação agitada da nossa bebê.

Apenas confirmo que a declaração de Katniss faz todo o sentido, apesar de haver dito exatamente o contrário quando cheguei.

— Filha, você escolheu seu nome!

Eu me ergo novamente e seguro o rosto de Katniss entre minhas mãos. Ela deposita um beijo suave em meus lábios e é quase inacreditável vivenciar tamanha felicidade ao lado dela.

— É lindo. É perfeito. E tem um significado pra nós! – exclamo, retribuindo seu beijo a cada frase. — Outro dia, quero ir com você até a Campina.

— O que pretende?

— Fazer umas fotos suas em seu salgueiro favorito.

— Será que podemos ir agora? Preciso sair um pouco de casa.

— Como sua mãe não poderá ir à floresta hoje, Elliot e Maysilee se ofereceram para acompanhar você.

— Ah, que ótimo! Já estava sentindo falta, mas fico feliz que minha mãe esteja trabalhando com o que tanto ama – Katniss se refere ao fato de sua mãe já ter conseguido uma vaga no hospital do Distrito 12.

— Eu também.

Vou até o quintal pegar as botas de caça e ela me acompanha. Depois, ajeita algumas almofadas e senta-se numa das cadeiras, para que eu a auxilie a colocar os calçados. Seus pés ainda não estão inchados a ponto de impedir que fiquem confortáveis em sapatos fechados e as botas são mesmo mais seguras para as incursões na floresta.

— O que acha de contar a novidade para as crianças? – questiona Katniss.

— Se já está difícil que elas guardem o segredo de que é uma menina...

— É verdade – concorda ela, pensativa. — E isso é fundamental pra adiar a tal entrevista que Plutarch insiste tanto em realizar.

— Você não acha que, agora que já sabemos o nome da nossa filha, podemos conversar com Plutarch a respeito? Não há mais o risco de fazerem uma enquete para escolherem o nome dela.

— Temos mesmo que fazer essa entrevista?

— Já nos livramos de algumas roubadas televisivas... Elas sempre sobram pro Haymitch, pois Effie adora participar! Mas acho que não conseguiremos nos esquivar dessa vez, pois somos nós que estamos grávidos.

— Será que há alguma chance de Effie engravidar antes do nascimento da Willow? – graceja ela.

— A chance existe, mas... Quer contar pra mim o real motivo de tanta resistência?

A face sorridente de Katniss dá lugar a um rosto preocupado.

— Não gosto nada da ideia de me ver de novo num palco de entrevistas. E, o que é pior, na Capital. Seria como reviver a véspera dos Jogos.

— Eu entendo. Também estava lá – atesto, terminando de pôr as botas em seus pés.

— E, no meu estágio atual, esse tipo de emoção negativa não afeta só a mim. Afeta a nossa filha também. Além disso, eu não teria o Cinna pra me ajudar – afirma Katniss, consternada.

— Também sinto falta da Portia.

— Quando eu respondia às perguntas nas duas entrevistas, eu me dirigia ao Cinna na plateia, da maneira mais honesta possível. Foi assim que consegui suportar – recorda ela, com ar triste e saudoso.

— Você não precisa fazer isso novamente, se não quiser. – Eu apoio minha mão na dela.

— No fundo, eu não quero. Mas eu sei que você não gostaria de voltar atrás, porque demos nossa palavra a Plutarch.

— Sim, nós nos comprometemos. Só que nada pra mim importa mais do que o seu bem-estar e a segurança da Willow. Talvez eles aceitem que apenas eu seja entrevistado.

— Não! Não vou deixá-lo sozinho. Também seria difícil relembrar aquelas entrevistas horríveis da época em que você era refém da Capital.

Aperto a mão dela, ressentindo-me com a lembrança desagradável. No entanto, logo ponho em prática o jogo que nós inventamos, de enumerar os pontos positivos das nossas experiências.

— Minha última entrevista na Capital serviu para que eu avisasse sobre o bombardeio no Distrito 13 – declaro e Katniss pisca algumas vezes, confusa. — Talvez funcione se a gente se lembrar que conseguimos algumas coisas boas naquelas entrevistas.

Ela assente com a cabeça.

— É um plano. Ou, pelo menos, é algo a se tentar.

— Foi na primeira entrevista que declarei que havia uma garota no Distrito 12 por quem eu era apaixonado desde sempre.

Lembro-me do choque dela ao me ouvir confessar meu amor na frente de Panem inteira.

— E foi depois dessa entrevista que eu ataquei você, enfurecida! – Katniss joga algumas almofadas em minha direção.

— Estou tentando focar nos pontos positivos! – Não revido as almofadadas, apenas tento segurar as mãos dela e, quando consigo, eu a encaro em silêncio por alguns segundos.

— O que foi? – indaga Katniss.

— Minha maior motivação para essa entrevista é a imagem que está diante de mim agora. É a mensagem que ela passa. Porque diz mais do que qualquer um dos muitos discursos motivacionais que fiz para a população de Panem desde o fim da rebelião – explico, enquanto vejo seu rosto ficar ligeiramente rosado. — Katniss... Você grávida é a personificação da esperança.

Minha intenção não era convencê-la a nada, somente expressar minha sincera opinião. No entanto, seu semblante de dúvida se suaviza pouco a pouco.

— E você, Peeta, como pai da nossa filha, é a personificação da perseverança.

— Da insistência, você quer dizer...

— Isso também!

— E então?

— Vou pensar sobre participar da entrevista.

¸.•*'¨'*•.¸¸.•*'¨'*•.¸¸.•*'¨'*•.¸

Depois que Katniss sai ao encontro dos filhos de Effie e Haymitch para irem juntos à floresta, reúno o material necessário para concluir a pintura no quarto da nossa filha, incluindo o nome dela.

Misturo as cores, avalio as tonalidades e escolho o matiz perfeito para completar a obra já iniciada. No entanto, antes que eu dê início aos trabalhos, o telefone toca.

Desço as escadas a tempo de atender, mas sequer consigo terminar a saudação, pois Plutarch me interrompe, entusiasmado.

Peeta! Acabei de me reunir com minha equipe e já está tudo encaminhado para finalmente realizarmos a grande entrevista com você e Katniss.

— Ah... Plutarch? Tudo bem?

Tudo ótimo, meu caro! Só preciso comunicar a vocês nossos próximos passos, pois chegamos à solução perfeita para revelar a Panem todos os detalhes dessa gravidez tão esperada. E, quando eu digo todos, serão todos mesmo.

— Não é tão simples assim, Plutarch.

De fato, nenhuma das minhas produções é simples, mas fazer tudo acontecer é encargo meu e da minha equipe. E todas as providências já foram tomadas. Transporte e hospedagem da equipe no Distrito 12. Equipe médica a postos.

— Equipe médica? Aqui no Distrito 12? 

Estou planejando uma ultrassonografia ao vivo. 

— Não, não... Isso jamais.

Ora, vamos lá, Peeta... Não seria perfeito captar as emoções do exato momento em que descobrem o sexo do bebê?

Preciso pensar rápido e opto por esclarecer tudo de uma vez.

— Nós já sabemos. Descobrimos há pouco tempo.

Ah!— exclama ele e fico na dúvida se considera que a notícia é boa ou ruim. — Melhor ainda! Não há mais motivos para adiar. E não preciso mobilizar a equipe médica ou preparar tudo no Distrito 12.

Não posso deixar escapar essa oportunidade inesperada de, pelo menos, evitar a ida à Capital.

— Eu achei uma boa ideia fazer aqui no Distrito 12. Katniss não está em casa agora, mas vou confirmar com ela quando seria possível agendar uma data.

Se for no Distrito 12, nós não temos tempo de agendar nada. Levaremos a entrevista até vocês, apenas se acontecer nesse fim de semana – Plutarch enfatiza as últimas palavras.

Ele não joga pra perder. Já que me dispus a barganhar, Plutarch não quer desperdiçar a chance de concretizar logo seu objetivo.

— Não posso mesmo esperar a Katniss chegar em casa?

Não. Sua resposta deve ser dada imediatamente. Preciso confirmar as reservas no hotel e, agora, solicitar o uso do centro de convenções para montar toda a estrutura.

— Mesmo aqui no Distrito 12, a entrevista será num palco, com plateia?

Exatamente. Não espere menos que isso. E então?

— Tudo bem. Eu só tenho uma exigência.

Qual?

— Que a plateia seja formada também pelas pessoas do Distrito 12.

Sem problemas! Eu adoro a espontaneidade da sua gente. Logo, logo algumas pessoas da produção chegarão aí. Vejo você em poucos dias, Peeta!— despede-se o antigo idealizador dos Jogos, muito animado.

— Até breve, Plutarch.

Desligo o telefone com uma sensação estranha. Não sei se estou aliviado por ter conseguido escapar da viagem à Capital ou apavorado por ter marcado a entrevista sem a concordância da Katniss. Daqui a dois dias.

Para que esse conflito interno não me consuma, decido prosseguir com meu plano inicial de terminar a pintura no quarto da nossa menina.

¸.•*'¨'*•.¸¸.•*'¨'*•.¸¸.•*'¨'*•.¸

W.I.L.L.O.W.

Termino de pintar a última letra do nome da minha filha na parede do quarto dela, nome que, como disse Katniss e como pude comprovar, a própria Willow elegeu, com os golpes que dava a cada vez que a mãe cantava a estrofe da canção de ninar.

Eu e Katniss apenas concordamos com ela.

Nossa Willow, nosso pequeno salgueiro, que chegará no outono.

Suspiro profundamente e olho ao meu redor, admirando cada recanto do cômodo, cada pedacinho planejado com carinho para o conforto e segurança da nossa menina. 

O som de passos apressados nos degraus da escada me deixa alerta. Tenho certeza de que não são de Katniss, pois subir escadas em velocidade é algo inimaginável para ela no atual estágio da gravidez. 

As risadas sincronizadas já denunciam quem são meus visitantes. Por isso, não me espanto quando Maysilee e Elliot entram no quarto, quase atropelando um ao outro.

— Tio Peeta, trouxemos a tia Katniss sã e salva da floresta – conta o menino, ainda ofegante pela subida apressada.

— Mas foi por pouco! O Elliot teimou que queria entrar por um lugar diferente da cerca e a tia Katniss quase ficou agarrada no arame com o barrigão dela – delata Maysilee.

Enquanto eles falam, esperam uma reação minha ao relato empolgado, porém permaneço imóvel, tentando bloquear a visão deles da pintura atrás de mim. Afinal, eu e Katniss concordamos em ainda não revelar o nome escolhido a ninguém.

Por mais que eu tente disfarçar, é claro que os dois percebem meu comportamento estático.

— O que está escondendo aí? – pergunta Elliot.

— É o nome da bebê! – deduz Maysilee, inclinando a cabeça para obter um bom ângulo de visão. — Willow!

Deixo meus ombros caírem, derrotado.

— O nome dela é Willow mesmo. Como na canção de ninar – confirmo.

— É tão delicado! – A menina leva as mãos ao peito, comovida, depois se anima num rompante, quando o irmão a rodopia, de mãos dadas com ela.

— Eu vou proteger a Willow de todos os perigos! – brada Elliot.

— Já eu vou apertar muito as bochechas da Willow! E você, Elliot, ainda terá que me dar cinco moedas!

Ele para de girar subitamente.

— Eu havia esquecido nossa aposta de que ela teria nome de planta – revela o menino.

— Ora, ora... A Maysilee apostou que seria nome de planta. E você, Elliot? Qual foi a sua aposta? – pergunto.

— Já que você tem o nome que parece o daquele pão pita, pensei que poderia ser o nome de algum doce da padaria... Candy, Lolly, Cookie.

— Eu vou deixar essas opções pra quando você tiver uma filha, Elli – dispenso as sugestões dele e ambos voltam a rir.

Maysilee se acerca da cômoda e encontra o livro de memórias. Sobre o móvel também estão algumas fotos capturadas na última ultrassonografia da bebê.

— Estou pensando em escrever um capítulo sobre a Willow, usando essas imagens. Vocês gostariam de ajudar? – proponho e os dois logo se unem para colar as fotografias no livro.

Enquanto dou os últimos retoques na pintura mais recente na parede, eles desenham molduras para as fotos nas páginas em branco.

Maysilee escreve uma frase na folha seguinte e a lê em voz alta:

— Era uma vez uma menina chamada Willow, que está chegando para escrever sua própria história.

Não há sorrisos suficientes para expressar a felicidade de ter os gêmeos – que vi nascer e que se transformaram em pessoas incríveis – participando da chegada da minha filha.

Porém, o encanto do momento não me distrai do fato de que tenho que pedir a eles o máximo de discrição possível.

— E era uma vez Maysilee e Elliot... Os irmãos que não devem divulgar o nome da Willow. – Nem termino de falar e eles já parecem decepcionados. — Pra ninguém.

— Nem pra mamãe e pro papai? – questiona a menina.

— Será por pouco tempo. A entrevista em que vamos contar pra todo mundo será em poucos dias.

— Vou confessar, tio Peeta. Eu consigo guardar o segredo. Mas a May não vai aguentar – acusa Elliot.

— Até parece! É você quem vai tentar incluir a palavra Willow em cada frase que disser...

— Acalmem-se, crianças. Eu confio em vocês. – Envolvo a ambos pelos ombros, um em cada braço. — Venham. Vamos chamar a tia Katniss para ver a pintura do quarto.

Quando descemos as escadas, encontramos Katniss desmaiada no sofá e Dandelion aninhado em seu colo.

As crianças fazem sinal de silêncio e acenam em despedida, indo em direção à porta. Eu acompanho os dois até lá.

Antes de saírem, porém, Maysilee se vira para perguntar, num sussurro:

— Não podemos contar mesmo? Nem para a mamãe?

Aperto os lábios e encaro seus semblantes que imploram por uma autorização. Desisto.

— Tá bom. Vocês podem dizer a seus pais, mas peçam segredo também.

Ambos saem correndo, esquecendo-se do silêncio que estavam preocupados em preservar e eu sorrio, mesmo sabendo que a sorte tem que estar a meu favor para que a notícia não se espalhe.

Retorno para a sala, onde está... Minha família

Descanso meus olhos em Katniss por alguns minutos, mas nunca é tempo suficiente. Admiro como seu ventre toma uma forma cada vez maior tão rápido!

Não existe curva mais bela e perfeita quanto a barriga de uma futura mamãe.

O som de um aerodeslizador sobrevoando o Distrito interrompe minha contemplação e perturba um pouco o sono de Katniss. Ela cobre sua barriga de modo protetor, mesmo que não esteja completamente acordada.

Penteio o cabelo de sua testa com as pontas dos dedos e deixo um beijo ali. Então, coço a cabeça de Dandelion. Os dois despertam ligeiramente e me olham de soslaio.

— Oi. – Katniss sorri, esticando os braços.

— Olá, dorminhoca. Como foi o seu dia?

— As idas à floresta têm sido cada vez mais exaustivas. E o seu?

— O meu foi... Mmm, interessante.

Por que estou tão nervoso em dizer a ela que já conversei com Plutarch sobre a entrevista? Eu tenho um medo irracional de que ela fique irada ou algo assim, e que isso afete a gestação.

Os dias para uma mulher grávida não são parecidos, eu aprendi na prática.

Katniss sempre teve uma personalidade bem definida. Agora eu nunca sei exatamente o que esperar.

Num momento, está taciturna. Em outro, está ativa. E, na maior parte do tempo, seus olhos cinzentos imaginam e planejam coisas sem fim.

Eu me preocupo com sua falta de descanso, com suas dores físicas e, principalmente, com tudo o que aflige sua alma.

Gravidez não é doença, mas exige cuidados, atenção, consultas, exames... e mais cuidados e mais consultas e mais exames. 

Não pode isso, não pode aquilo, tem que descansar e se alimentar direito, mudar hábitos e – o que parece ser o pior para Katniss – é preciso se limitar. 

Não pode ficar nervosa, não pode se estressar, mesmo com uma bomba hormonal dentro dela, a ponto de explodir a cada minuto.

Estou acostumado a não dormir mais de três horas seguidas e, para meu pesar, ela passa pela mesma dificuldade. No entanto, agora não é apenas por despertar assustada com pesadelos. São também as cãibras, o desconforto, o movimento incessante da bebê. Às vezes, até mesmo minha respiração chega a ser motivo de cara amarrada.

Uma noite inteira de sono? Nunca foi fácil, mas agora está pior, pois ela precisa levantar para ir ao banheiro toda hora, precisa encontrar uma posição confortável, precisa tentar dormir com a neném virando cambalhotas dentro dela. 

Mesmo quando ela consegue driblar tudo isso, ainda precisa se desligar dos medos, das dúvidas, das inseguranças, das preocupações.

Gostaria apenas de um fim de tarde tranquilo, desfrutando da sua companhia. Eu sei que não teremos muitos mais destes dias no futuro, principalmente nos primeiros meses depois que nossa bebê nascer.

— Interessante como? – questiona Katniss.

— Eu terminei de pintar o nome da Willow no quarto dela e... 

Não continuo imediatamente a frase e Katniss franze as sobrancelhas.

— E?

— Mais cedo, recebi um telefonema da Capital.

— Plutarch?

— Ele mesmo. – Sento-me do outro lado do sofá, para manter os pés dela sobre minha perna.

Katniss se acomoda melhor, movendo Dandelion para cima de uma almofada.

— Vocês conversaram sobre a nossa entrevista?

— Sim, finalmente.

Respiro fundo, pronto para revelar todas as informações.

No entanto, Dandelion ronrona, voltando para o colo de Katniss, e desvia a atenção dela da nossa conversa.

Ela fica imóvel para prestar atenção em algo que não posso ver ou ouvir. Só pode ser nossa menina inquieta em seu ventre. Em seguida, Katniss olha pra mim e sorri.

— A Willow consegue chutar exatamente o local onde Dandelion se deitou.

Nossa bebê ainda nem nasceu e já participa ativamente de todos os nossos momentos.

É Katniss quem sente os movimentos, mas eu percebo quando o pelo do gato se eriça. Dandelion lança um olhar desconfiado para ela e pateia sua barriga volumosa, devolvendo os pontapés da nossa filha.

Gentilmente, Katniss afasta o bichano para se erguer. Ele solta um chiado, parecendo contrariado.

— Eu sei que não foi você que começou, Dandelion, mas quem está presa no meio das disputas entre uma bebê agitada e um gato arisco sou eu. E não estou gostando nada de ser golpeada por ambos os lados – murmura ela, fazendo-me dar risada.

De repente, há uma batida na porta. Nós nos encaramos intrigados.

— Está esperando visitas? – pergunto e Katniss balança a cabeça em negativa.

— Ninguém além da minha mãe, mas ela disse que viria somente à noite – explica ela e me levanto para atender a porta.

Katniss me segue, um pouco mais lentamente do que sei que gostaria, já que seu ventre protuberante atrapalha sua agilidade.

Agradeço mentalmente por essa interrupção me dar mais alguns minutos antes de contar a ela todas as novidades sobre a entrevista marcada.

Sou surpreendido ao abrir a porta e ver quem está na soleira.

— Gale! – exclama Katniss, atrás de mim.

— Seja bem-vindo! – cumprimento.

Ele ri e deixa no chão diversas sacolas, para apertar minha mão e abrir os braços para receber Katniss entre eles, num abraço tão carinhoso quanto desajeitado, em razão do ventre ressaltado dela.

Gale se afasta e torna a pegar os pacotes.

— Estava faltando sua visita a ela— afirma Katniss, afagando sua barriga, gesto que imito logo após, mantendo minha mão ali.

— Ela? – Gale nos pergunta.

— Descobrimos há algumas semanas. – Katniss coloca as mãos sobre a minha.

— É uma menina – afirmo.

Sinto minha filha entrar em ação nesse exato instante, como se soubesse que estamos falando a seu respeito. Eu e Katniss nos entreolhamos e, depois, fitamos sua barriga ao mesmo tempo.

— E ela está animada com a surpresa de ter você por aqui. Quer comprovar? – propõe Katniss.

Abro espaço para Gale estender a mão e tocar no estômago protuberante de Katniss, sorrindo ao perceber os movimentos da bebê.

— Eu me lembro de fazer isso com minha mãe, quando ela estava grávida dos meus irmãos. Eram bons momentos, naqueles tempos difíceis. – Seu sorriso esmorece ligeiramente e a ruga que se forma entre suas sobrancelhas transparece algumas poucas mudanças em sua fisionomia, passados tantos anos, mas seu rosto se ilumina logo depois, antes de dizer: — Com todo o respeito, Peeta... Katniss está absolutamente linda.

— Eu sei. Digo isso a ela a todo instante.

Katniss oferece um pequeno sorriso, sem saber o que dizer e sem nos encarar.

— Em algum momento desses nove meses, eu tinha que vir aqui ver vocês – continua Gale.

— Precisava ver para crer? – Katniss indaga, divertida.

— Pois é. Nada é impossível mesmo! – Gale exclama, erguendo as mãos, novamente ocupadas pelas bolsas que trouxe. — Trago presentes de um monte de gente.

Nós três nos encaminhamos para o interior da sala de estar e Katniss e Gale se acomodam no sofá. Enquanto ele entrega a ela os presentes, indicando de quem é cada embrulho, vou até a cozinha preparar algo para servir ao nosso amigo.

Quando retorno com uma bandeja com suco de amoras e biscoitos, o diálogo entre ambos não me escapa.

— E você está feliz? – indaga Gale, quando Katniss já tem consigo todas as caixas que ele carregava ao chegar.

Ela abaixa o rosto, fixando sua atenção no papel de presente colorido do embrulho em suas mãos, que Dandelion ameaça rasgar.

— Muito feliz... Mas não estou tranquila.

Gale alterna o olhar entre mim e Katniss. Por sua expressão descontraída, percebo que não deixará o comentário dela pesar o ambiente.

— E quando você foi tranquila, Catnip?

Noto que ela força um sorriso, que não aconteceria naturalmente.

— Acho que nunca... Obrigada pelas palavras calmantes, Gale.

— Estou mentindo?

— Não. Não está.

— Então, não sabote as suas chances de felicidade. Aproveite com tranquilidade esse momento único na vida de vocês.

— Peeta já me submeteu a um tratamento de choque no dia em que eu senti a bebê se mexer pela primeira vez. – Katniss sorrateiramente ergue os olhos para mim e vê que estou sorrindo.

Agora o sorriso dela não é forçado e ela me acompanha, com uma risada genuína.

Depois que cada um pega um copo de suco, Gale pergunta:

— Tudo certo para a entrevista? Vocês concordaram mesmo que seja tão em cima da hora, como Cressida me falou? Mal pude acreditar.

Katniss arregala os olhos e interrompe o movimento de levar o copo à sua boca, virando-se imediatamente na minha direção. Eu também me sobressalto com o questionamento, mas tento responder com naturalidade: 

— T-tudo certo, Gale.

— Ah, que bom! Cressida está comandando a equipe de produção ao lado de Plutarch e eles estão trabalhando a todo vapor.

Katniss continua me encarando, congelada na mesma posição. Só então Gale percebe que algo não está fluindo bem.

— Está tudo bem, Catnip?

— Está sim, eu... – Katniss responde, pálida e meio aérea. — Eu só preciso... preciso ir ao... Você sabe.

Eu me aproximo dela rapidamente, no intuito de ampará-la, pois, ao contrário do que disse, ela não parece nada bem. No entanto, ela dispensa minha ajuda com um aceno de mão.

— Não é nada, Peeta. É apenas a pressão na bexiga, como sempre. Fique aqui com o Gale – ordena ela e sai em direção ao banheiro.

Gale percebe o quanto fico dividido entre ir atrás dela ou permanecer na sala, como Katniss havia indicado.

— Não se preocupe comigo. É melhor checar como ela está – sugere Gale. — Já estou de saída mesmo.

— Eu estou bem! – Katniss grita através da porta fechada.

Gale prende os lábios para não emitir o som de sua risada e sacode a cabeça.

— Ela não muda... E já vou mesmo. Depois venho aqui com mais calma.

— Está cedo ainda. Não quer ficar para o jantar? – insisto.

— Eu agradeço o convite, mas preciso ajudar Cressida com os equipamentos.

Gale devolve o copo para a bandeja e se ergue da poltrona. O silêncio no restante da casa me preocupa. O que está acontecendo com Katniss?

De qualquer modo, eu levo Gale até a porta. Já do lado de fora, ele me estende a mão, que aperto em seguida.

— Acho que falei demais. A entrevista seria uma surpresa pra Katniss?

— Não. Eu estava a ponto de contar a ela o que ficou combinado. Mas, com certeza, Katniss não estava esperando a entrevista para daqui a dois dias. E você a conhece, sabe como ela funciona.

— Sim, teimosa e geniosa. Não tenho inveja de você, por ter que lidar com o mau humor dela agora.

— É preciso relevar! Afinal, ela está grávida e... – interrompo a frase quando vejo o sorriso astuto de Gale. — Ok, tudo bem, não posso mentir que é teimosa e geniosa, mas eu não perderia nem um milésimo de segundo ao lado dela. Na verdade, é um privilégio.

— Eu sei disso – afirma ele, batendo em meu ombro. — Então... uma menina? Uma pequena versão da mãe dela, já imaginou? 

— É ou não é um privilégio? – questiono.

— Sem dúvidas, meu amigo! – Gale ergue os braços, para reforçar sua concordância. — Agora vai lá se explicar pra ela. Tenho certeza de que você aceitou fazer a entrevista agora por um bom motivo e Katniss vai entender.

— Assim espero.

Eu o observo se afastar e respiro fundo antes de entrar novamente. Vamos ver o quanto me sentirei privilegiado nos próximos minutos.

Fecho a porta atrás de mim e Katniss já está de volta à sala, andando de um lado a outro, mas interrompe seus passos quando percebe que estou próximo a ela.

Eu quase posso ouvir sua ira se construindo e me encolho, esperando sua insatisfação no meu ouvido. Mas não ouço uma única palavra.

— Katniss, sobre a entrevista...

— Achei que esse assunto dissesse respeito a mim também. Mas aposto que você está se roendo pra contar pra todo mundo.

— Como eu disse, eu andei conversando com o Plutarch hoje...

— Que ótimo! – Katniss me corta mais uma vez, com os braços já cruzados sobre a barriga. — Só não imaginava que já agendariam uma data sem me consultar.

Apesar de sua expressão fechada, sua voz não se altera. Eu nem sei se isso pode ser chamado de discussão. Ainda.

Ela sabe que não abri o jogo completamente. Fecho os olhos.

— Daqui a dois dias – balbucio.

Ela silencia. Assim, eu me apresso para acrescentar:

— Mas foi por um bom motivo. Acredite em mim, por favor – imploro.

Novamente, nenhuma palavra é proferida por ela, porém noto os cantos de sua boca resistirem a um sorriso.

— Ainda estou esperando uma explosão sua, Katniss – brinco.

— Meu pavio é longo.

— Desde quando? Ou devo perguntar: até quando?

— Não queira me ver explodir, Peeta Mellark. – Katniss empurra o dedo indicador em meu peito de modo desafiador, mas não é um gesto agressivo.

Seguro seus dedos com carinho contra minha camisa.

— Então, não fique soltando faíscas.

— Eu ainda sou a garota em chamas. Estou apenas aguardando uma explicação. Não me provoque...

— Eu estaria provocando você, se dissesse que sondei Plutarch sobre fazer a entrevista aqui no Distrito 12?

Katniss reflete por alguns segundos.

— Não precisamos ir à Capital?

— Não, se a entrevista for daqui a dois dias.

— Depois de amanhã, então? Aqui no Distrito 12? – Katniss indaga e espero as palavras de objeção em meu ouvido, mas nada disso acontece. — Certo.

— Certo, então? – pergunto, arregalando os olhos.

Ela confirma com a cabeça, porém fico aguardando um complemento à sua frase. Uma reclamação, melhor dizendo.

Katniss pende a cabeça para o lado, tentando entender a pausa em nosso diálogo.

— Algo errado?

— O que você quer dizer com "certo"? – questiono finalmente, soltando sua mão.

Katniss se afasta um pouco, com os braços estendidos e os ombros retos.

— Significa que você tem razão, claro – explica ela. — Temos que cumprir o trato e ir a essa entrevista. É importante. E se é essa a oportunidade para que seja em nosso Distrito, parece ótimo!

Eu me inclino para frente, meio confuso, meio admirado, enquanto penso em algo adequado para dizer. Mas de nada adianta pensar.

— Que mudança drástica é essa? – pergunto.

Katniss encurta o espaço entre nós e escora suas mãos carinhosamente em meus ombros.

— Eu acho que tem a ver com o fato de você ser a melhor pessoa que já conheci. A que mais se esforça para acertar. E a mais gentil de todas – enumera ela calmamente. — E porque eu sei que você não está se aguentando de vontade de gritar para toda a Panem que será pai de uma menina.

— E que o nome dela é Willow! – completo.

Ela joga seus braços em volta do meu pescoço, demonstrando sua concordância.

Definitivamente não é a reação que eu estava esperando. É a melhor possível.

— Eu vou subir para ver o quarto da Willow. – Katniss toca suavemente seus lábios nos meus.

Nem me ofereço para acompanhá-la, pois minhas pernas ainda estão bambas, tamanha a minha incredulidade com relação a esse desfecho.

Jogo meu corpo pesadamente no sofá onde está Dandelion, para grande desgosto do gato.

— Ela aceitou – murmuro, enquanto ele pula do sofá, lançando-me um olhar ressentido antes de se acomodar na poltrona vazia no canto. — Ah, não seja tão ranzinza, Dandelion. Temos que comemorar!

¸.•*'¨'*•.¸¸.•*'¨'*•.¸¸.•*'¨'*•.¸

Depois do jantar, pego um cobertor e levo Katniss para junto da lareira comigo. Aproximo uma poltrona do fogo e ambos nos enroscamos diante das chamas.

Coloco o cobertor ao redor de nós dois. Está frio, mas o calor dela e do fogo o torna suportável. Confortável, até.

Faz tempo que eu não vejo Katniss tão em paz quanto aqui, ouvindo os sons da madeira queimando. Ela olha para o fogo com o respeito que merece.

— Peeta, eu amo como você conduz as coisas da melhor forma. E parece ter todas as respostas para todas as perguntas do mundo.

— Eu?

— Sim. Você tem resposta mesmo para as perguntas mais difíceis – sussurra ela. — Estou pensando aqui que eu não preciso ter tanto medo da entrevista, já que você estará comigo todo o tempo.

— Eu também fico mais tranquilo, sabendo que você estará do meu lado. Afinal, nós protegemos um ao outro. E, agora, a Willow.

Eu a trago ainda mais para perto, passando um braço à sua volta, enquanto ela descansa a cabeça em meu ombro.

Depois de alguns minutos de silêncio, Katniss se remexe em meu colo, buscando uma posição mais cômoda.

— Que noite perfeita – sussurra ela, preguiçosamente.

Eu sorrio. Gosto que uma noite perfeita para Katniss inclua a mim e a ela, gestando nossa filha.

Às vezes, olho para Katniss e sinto uma admiração tão avassaladora. É a melhor das sensações. As duas são a melhor coisa que já me aconteceu.

É engraçado como posso ser tão feliz e amá-las tanto, a ponto de criar em mim um sentimento subjacente de medo que nunca conheci antes. O medo de perdê-las. O medo de se machucarem.

Tenho consciência de que esse temor sempre existiu em relação à Katniss, mas se intensificou com a chegada da Willow.

É provavelmente o tipo de amor mais incrível que se pode conhecer, mas também é o mais aterrorizante.

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Na manhã seguinte, acordo com um lamento.

— Você tem muita energia mesmo – Katniss geme, enquanto rola para longe de mim. — Imagino quando estiver andando pela casa.

— Hã? Mas eu não estou andando – começo, ainda sonolento, porém ela me interrompe, em meio a uma risada.

— Eu não estava falando com você, mas com essa menininha que não para quieta na minha barriga – resmunga Katniss, antes de se levantar da cama com um pouco de dificuldade.

Seu estômago já bastante arredondado fica em seu caminho cada vez mais.

— Você estava mesmo bem inquieta na noite passada – relembro.

— Eu não estava conseguindo dormir – reconhece ela. — A Willow não para e não me deixa pegar no sono também.

Eu encaixo minha prótese, para me levantar e caminhar até ela. Eu coloco minha mão sobre sua barriga e sinto os pequenos empurrões de nossa filha contra meus dedos. Eu me agacho diante de Katniss.

— Calma, filha. A mamãe precisa descansar – digo, entre bocejos.

— Dorme mais um pouco, vai.

— E você?

— Não consigo mais ficar deitada – responde Katniss, já se dirigindo ao banheiro.

Eu me deito novamente e cochilo mais alguns minutos, até ouvir os passos dela em direção ao armário.

Ergo os olhos para vê-la enrolada numa toalha, esfregando a mão sobre sua lombar, e eu me espreguiço, já desperto.

Assim, eu me levanto definitivamente, pronto para começar o dia.

Quando saio do banho e volto para o quarto, Katniss está diante do espelho.

Sua barriga estica a parte frontal de um de seus antigos vestidos e o fecho atrás está aberto. Eu prendo uma risada e sacudo a cabeça.

Dandelion está esparramado em nossa cama, sob a luz do sol que vaza através das cortinas.

— O que está fazendo? – indago.

— Preciso ver que roupas ainda posso usar nos próximos dias, já que devemos receber mais visitas durante os preparativos para a entrevista.

— Acho que passou da hora de você se render às roupas de maternidade – constato. — Você está maior até que as minhas camisas. O que dirá nesses vestidos?

Ela gira seu corpo e me encara por entre as pálpebras semicerradas.

— O que você quer dizer com isso? – Katniss questiona e eu dou um passo para trás, tentando sair da linha de fogo.

Dandelion salta da cama e corre para fora do quarto. Basta esse momento para eu ter certeza de que o gato é mais esperto do que eu.

— Não quis dizer nada.

— Acho bom, porque, se há uma coisa que não se faz, é reclamar da aparência da mulher que carrega a sua filha e não vai ficar menor que isso por um bom tempo. Muito pelo contrário!

— Você sabe que eu não diria isso – reafirmo. — Eu só estou dizendo que, quanto maior a nossa menina fica, mais difícil vai ser para caber nas suas roupas. E nas minhas também. Então, chegou a hora de começar a buscar algumas peças que vão servir um pouco melhor.

Ela balança a cabeça e vai para o armário, voltando com a grande mala que Effie me entregou há alguns dias.

Eu ainda não havia lhe mostrado, mas, pelo visto, o volume dentro do guarda-roupa não passou despercebido.

— Você acha que eu não sabia da existência dessa mala? E que eu não desconfiava da sua conspiração com a Effie?

— Não é conspiração. É para o seu bem!

— Eu não quero me vestir como a Effie. – Katniss quase choraminga.

— Nem eu quero isso! – rebato, segurando o riso.

Eu gentilmente tomo a mala da sua mão e constato que ela continua mais forte do que parece, simplesmente por ter conseguido erguer a bolsa pesada.

— O que está guardado aqui, então? – pergunta ela.

— Roupas de grávida, não para a Effie, mas para você— respondo. — Effie apenas trouxe da última viagem dela à Capital. Mas Octavia e Venia é que ajudaram a escolher.

— Eu acho que elas pensam que vou ficar grávida pelos próximos cinco anos, e não por apenas alguns meses.

— Elas tiveram uma ótima ideia... Cinco bebês. Um por ano. Que tal?

Olho para a mala fechada, para evitar a expressão indignada da minha esposa.

— Alguma vez você já abriu? – indaga ela.

— Não, desde que Effie deu para mim – digo.

— Por que não me mostrou antes?

— Preferi aguardar que você chegasse ao limite. Era uma maneira de adiar as acusações que acabou de fazer contra mim e que são totalmente inverídicas, porque, quanto maior está sua barriga, mais linda você fica.

Katniss não oculta seu sorriso, ainda que tímido.

Eu abro a mala e encontro praticamente tudo o que ela precisa, cuidadosamente dobrado em pilhas de blusas, vestidos, calças, saias e macacões. Pego um vestido e desdobro.

Não é grande, mas feito para caber frouxamente em torno do abdômen. Por isso, não ficará largo demais em algumas partes, nem estreito sobre seu ventre de gestante. Eu estendo a peça para ela.

— Tente este – sugiro. — É da minha cor favorita.

Katniss levanta uma sobrancelha, mas não parece pensar em começar uma discussão comigo. Ela, então, estende a mão e pega a peça de roupa.

Katniss se esforça um pouco para tirar o outro vestido apertado de si mesma, mas não me atrevo a tentar ajudá-la. Não quero arriscar arruinar seu quase bom humor.

Ela tem ficado irritadiça quando faço de tudo para poupá-la de qualquer esforço ultimamente e eu não quero ser o gatilho, caso alguma frustração entre em erupção justo agora.

Quando ela enfim termina de se despir, eu a observo admirado.

Jamais me incomodou a nudez, nem em mim, – como é prova a vez em que ela se ofereceu para lavar minhas roupas nos primeiros Jogos –, muito menos nela. Inclusive, creio que está mais perfeita devido à maravilha que cresce em seu corpo.

Em seguida, ela facilmente desliza o tecido laranja por seu tronco. O vestido se encaixa perfeitamente nela, com espaço de sobra para a bebê.

Ela olha para baixo e suspira.

— Devo admitir que você estava certo – diz ela.

— E você adora admitir isso, né?

— Ah, como adoro! – Katniss revira os olhos.

Apenas sorrio para ela e a levo mais uma vez até o espelho. Abraçando-a por trás, coloco minhas mãos em sua barriga, enquanto nossa criança chuta.

Eu beijo seu pescoço e sua pele se arrepia.

— Você pensou que teria mais tempo antes de realmente precisar dessas roupas, não é? – suponho.

— É que tudo está passando tão depressa.

— E é bom lembrar que usar roupas apertadas não ajuda o tempo a ir mais devagar.

Katniss deixa escapar uma pequena risada. Eu sinto-a entrelaçando nossos dedos e ela olha para mim, pelo reflexo no espelho.

— Acho que vou gostar mesmo de usar esses vestidos.

— E eu vou adorar ver você neles – revelo, ao mesmo tempo em que deslizo por seus ombros as alças do que ela acabou de vestir. — Ops! A alça escorregou... E a outra também! Pensando bem, prefiro assim, quando você deixa de usar esses vestidos.

Katniss cora no mesmo instante e desvia o olhar para a roupa abandonada no chão. No entanto, nossos olhares voltam a se encontrar, quando começo a desprender delicadamente seus cabelos.

Nem tento ocultar o que não se pode mais. Minha adoração por ela como mãe e meu desejo por ela como mulher. As várias formas do querer.

Tudo o que enxergo é a sua beleza, com um ventre lindo e curvas divinas.

Seu corpo se transformou muito e adotou essa forma acolhedora e cuidadosa, para guardar e gerar nossa menina.

E, às vezes, parece que Katniss continua sem saber o efeito que causa.

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Notas finais do capítulo

Oi, gente!

Muita coisa aconteceu neste último ano sem postagens e tudo e mais um pouco ainda está acontecendo.

Por isso, continuará difícil de atualizar a fic...

Mas vou me esforçar para concluí-la!

Obrigada por tudo, pessoal!

Beijos,

Isabela



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