A Redenção do Tordo escrita por IsabelaThorntonDarcyMellark


Capítulo 49
Propósito


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoal!
Recebi muitos pedidos de hots mais hots!
Eu juro que estou tentando... XD

Boa leitura!



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Por Katniss

Os olhos de Peeta vão se fechando, à medida que o barulho da chuva lá fora vai rareando. Sua respiração é calma e cadenciada.

Mesmo estando deitado de lado apenas sobre o tapete da sala, o que não é nada cômodo, Peeta parece relaxado agora. A última semana foi extenuante para ele e eu fui a principal causa disso.

Que desperdício de tempo esses dias em que me distanciei dele! Eu sofri e ele sofreu mais ainda, por ter que ser forte por nós dois.

A intensidade das labaredas crepitando na lareira diminui. Eu pego uma das cobertas que Peeta trouxe para a sala e nos cubro com ela, para nos manter mais aquecidos, quando me deito de frente para ele.

Delineio seus traços com a ponta dos dedos e afundo minhas mãos em seus cachos macios, enquanto ele emite sons suaves, típicos de quem dorme placidamente.

Meu lindo amor, meu melhor amigo, minha perfeita metade.

Cantarolo em tom baixo para embalar seu sono.

Reflito sobre tudo o que vivemos e sobre o que Peeta significa pra mim. Perco a noção de quanto tempo fico cantando e olhando para ele adormecido, enquanto ressona serenamente e resmunga de vez em quando, de um jeito gostoso de ouvir. Até que ele sorri.

Espera um momento… Sorri?

Vagarosamente, aproximo meu nariz do seu pescoço, aspirando seu aroma, enquanto sussurro:

— Abra os olhos, Peeta. Eu sei que você está acordado. – Noto que suas feições se aguçam, mas seus olhos permanecem fechados.

Afasto meu corpo apenas para ver Peeta sacudir a cabeça em negativa. Ele não move as pálpebras, porém sua mão encontra o meu rosto e acaricia minha testa, deslizando até o meu queixo.

— Acorda. Eu preciso contar algo importante – digo em um murmúrio e ele me puxa para si, tocando levemente seus lábios onde seus dedos estavam antes.

— E eu quero recuperar o tempo perdido! – Peeta sorri de modo travesso, evidenciando a covinha do seu queixo, onde deposito um beijo.

Ele finalmente abre os olhos e meu pulso se acelera quando me vejo refletida neles.

Corro a palma da mão por seu braço e seu ombro, empurrando-o de leve para que Peeta deite de costas no chão, antes de me posicionar sobre ele, que me beija apaixonadamente. Correspondo com a mesma vontade.

Simplesmente agarro tudo nele que minhas mãos alcançam e o puxo para mais junto de mim.

Nossos dedos percorrem o corpo um do outro, territórios conhecidos, mas ainda cheios de descobertas maravilhosas, avivadas pela saudade de tê-lo comigo e em mim.

— Eu estava fazendo o jogo que você ensinou… Pensando em você— confesso.

— E conseguiu pensar em alguma coisa boa que eu fiz?

— Estava observando você dormir por algumas horas e ainda não havia terminado de pensar em coisas boas a seu respeito.

— Será que eu consigo acrescentar algo mais a essa lista? Afinal, só algumas horas… Isso é pouco para quem pretende passar o resto da vida do seu lado.

— Faça tudo com calma – falo baixinho, enquanto Peeta retira algumas mechas do meu rosto, para em seguida pressionar os dedos em meu couro cabeludo numa deliciosa massagem. — Use o tempo que for necessário para aumentar a sua lista.

Ele analisa meu rosto com tamanha adoração, que sinto como se eu fosse a única pessoa no mundo.

— Eu preciso tanto desse mar de águas calmas que são seus olhos. – Encosto minha testa na dele, mas me afasto um pouco, quando inspiro profundamente ao sentir suas mãos correndo por minhas costas.

— E eu precisava tanto, tanto ver isso nos seus olhos de novo. Esse rio caudaloso de desejo… – Ele abaixa o olhar e balança ligeiramente a cabeça, como se tivesse falado alguma bobagem, e fita profundamente meus olhos, alternando entre um e outro. — Não é só desejo no sentido carnal. Desejo de viver mesmo.

— Desejo de viver, de respirar… E de você, meu mar azul. Eu sou o seu rio cinzento.

— Sabia que lá no Distrito 4 há um estuário onde as águas do mar se encontram com as águas do rio? – Peeta aproxima sua face da minha, com os olhos fixos nos meus lábios. — Mas agora esse fenômeno da natureza vai acontecer aqui, comigo e com você.

Quando começo a me inclinar para beijá-lo mais uma vez, fortes batidas na porta nos fazem sobressaltar e meu primeiro ímpeto é o de erguer meu tronco.

— Peeta! Katniss! – Haymitch chama do lado de fora, quando para de socar a superfície de madeira.

— Estamos aqui, Haymitch! Está tudo bem? – Peeta pergunta em voz alta, depois de se sentar ao meu lado.

O barulho da chave na fechadura me induz a agarrar o braço de Peeta.

— Ele vai entrar aqui! – cochicho aflita, recolhendo algumas roupas de modo atrapalhado e me cobrindo como posso com a manta que está sobre nós. — Não deixe o Haymitch entrar aqui!

No entanto, em vez de impedir qualquer coisa, logo que ouvimos os passos de Haymitch, Peeta apenas pergunta preocupado:

— Haymitch? Aconteceu alguma coisa?

— Eu é que pergunto! – retruca ele antes de entrar na sala e pousar os olhos em nós, sentados no chão em frente à lareira, ao lado de nossas roupas amontoadas. — Ah! Aí estão vocês! E não preciso nem repetir sua pergunta, garoto. Com certeza, estava acontecendo alguma coisa aqui…

— Haymitch, a que devemos a honra da visita numa hora tão inapropriada? – Peeta indaga bem-humorado.

— Eu vi você sair antes do temporal, mas não vi quando chegaram. Faltou energia em todo o distrito, porém, pelo visto, vocês nem se deram conta disso, não é? Effie só conseguiu dormir agora e, assim, vim checar como vocês estão. – Haymitch aponta sobre nós a lanterna acesa que ele traz.

— Que susto que você nos deu! – Peeta continua conversando, como se não estivéssemos na situação mais embaraçosa que existe.

— Eu estava mesmo preocupado. Sei que os últimos dias foram, no mínimo, difíceis. – Haymitch diminui o volume de sua voz, mas logo depois me lança um olhar matreiro. — Ei, lindinha, bom ver você mais… animada!

Escondo meu rosto atrás das costas de Peeta e balanço a cabeça, sem conseguir dizer uma palavra.

— Ah! Preciso avisar também que eu e Effie vamos à Capital em breve. Ela prefere fazer todo o acompanhamento da gravidez lá, com os médicos de confiança dela – comunica ele. — Então, eu pensei que talvez fosse interessante para vocês se consultarem pessoalmente com o Dr. Aurelius, depois do que aconteceu.

Peeta gira o corpo para trás para olhar pra mim e, por sua expressão, percebo que concorda com Haymitch. Suas palavras seguintes confirmam isso.

— Acho uma boa ideia. Falar apenas ao telefone não tem o mesmo efeito.

— Eu não sei se me faria bem ir à Capital. Só de pensar em revisitar certos lugares… – Aperto meus olhos e um calafrio percorre minha espinha ao imaginar os locais que atravessei até alcançar a mansão presidencial, recordando-me de todas as pessoas das quais tive que me despedir de modo forçado e de como elas se foram de maneiras tão dolorosas.

— Eu entendo. – Peeta passa o braço por meus ombros e me ajuda a acomodar minha cabeça em seu peito. — Mas podemos evitar passar por esses lugares.

— Você já conseguiu voltar à floresta, queridinha? – Haymitch me interroga.

— Ainda não. – Um nó se forma em minha garganta. — Não sabia que você havia notado essa minha dificuldade.

— Apesar de você não estar muito disposta a conversar ultimamente, isso não significa que eu tenha deixado de ficar de olho no que acontece. No caso, no que não acontece… – Haymitch enfatiza as últimas palavras. — Na minha humilde opinião, é preciso investigar mais a fundo esse bloqueio.

— E tenho mesmo que fazer um exame médico completo de tempos em tempos – complementa Peeta.

— Então, docinho? O que me diz?

— Bom… – A vibração do som que emito arranha minha garganta ainda apertada e eu falo com dificuldade. — Eu vou para a Capital – aceito finalmente e recebo um afago de Peeta em meus cabelos.

— Vou avisar à Effie que teremos companhia. Nós nos falamos depois, garotos.

Encontro o olhar de Haymitch e seu sorriso genuíno toca seus olhos. Não é um sorriso malicioso, mas tranquilo e agradecido. Então, ele acena um adeus e vai em direção à porta.

— Onde nós estávamos mesmo? Eu era o mar e você era o rio… – Peeta comenta num fio de voz, pois talvez Haymitch ainda possa nos ouvir.

— Haymitch conseguiu fazer secar o estuário – sussurro em resposta, para provocá-lo.

— Não! Não é possível. – Ele se levanta e me puxa no mesmo impulso, segurando minhas mãos de modo carinhoso.

A coberta desliza até o chão. Só então escutamos a porta se fechando e sendo trancada por Haymitch.

Rapidamente, Peeta me sustenta pelos quadris e me leva até a escada, grudando nossos lábios num beijo urgente.

Outra vez, pancadas na porta fazem Peeta paralisar nos degraus.

— Oh, não! – reclamo, desesperada por não ter com o que me esconder no momento, antes de ouvir a risada de Haymitch do lado de fora.

— Só brincando dessa vez, pombinhos! Não vou atrapalhar de novo. – Ele continua gargalhando e sua diversão contagia Peeta, que, aos risos, termina de subir a escada comigo.

— Acho que vou incluir uns pontos negativos na sua lista – ameaço, quando ele cruza o umbral do nosso quarto. — Você dá muita confiança para o Haymitch.

— Pronto. Parei. – Ele junta seus lábios com força, mas seu sorriso logo desmancha a tentativa de ficar sério.

— Seu sorriso é tão lindo. Pode deixar que sua lista está intacta. – Estico minhas mãos até sua nuca e deixo ali leves carícias.

— Não, não está. Ainda falta adicionar muitas coisas nela! – Peeta conclui sua frase com uma mordida em meu pescoço e nos conduz à cama.

Peeta me reclina devagar para trás sobre o colchão, até que eu esteja deitada com ele sobre mim. Seu peito faz pressão contra o meu e firmo minhas unhas em suas costas e meus pés em seus quadris, sentindo o contorno do seu físico e sua inegável masculinidade.

O som rouco que ele faz em resposta faz vibrar todo meu corpo.

A fina camada de suor que se forma sobre nossa pele diminui o atrito dos nossos movimentos e Peeta desliza facilmente seus dedos pelas laterais do meu tronco.

Ele repousa sua mão em minha bochecha e acaricia meus lábios de um lado a outro com o polegar. Peeta lentamente elimina a distância entre nossas bocas, que se unem como se fossem uma só.

Eu esqueço o que se passou, meus horríveis pesadelos, os Jogos, o telessequestro, a rebelião. Eu me concentro neste momento, em que os lábios dele guiam os meus em um beijo profundo. Ele começa devagar, mantendo meu corpo bem perto do dele, de modo que posso sentir cada lugar em que nos tocamos, cada respiração que compartilhamos, dividindo o mesmo ar.

Há apenas o corpo dele cobrindo o meu, a sua boca dominando a minha, o seu toque afetuoso incendiando cada partícula do meu ser.

Seus lábios desprendem um calor tão único, tão especial, que tenho vontade de dizer para nunca separá-los da minha boca, mas ele leva esse ardor para outras partes e não protesto por isso.

Peeta toma meus seios com lábios macios e dentes gentis, enviando tremores que atravessam meus músculos, fazendo-me querer mais.

Solto um gemido e isso parece animá-lo, pois ele segue uma trilha descendente. Baixa até meu abdômen e o beija. Volta aos meus lábios e, de repente, para.

Franzo o cenho por causa dessa interrupção inesperada. Peeta se distancia minimamente do meu rosto.

— Eu amo você. Eu preciso de você – declara ele num sussurro e, em seguida, beija minha orelha. — Eu adoro você. Não fique mais longe de mim, nunca mais.

— Peeta… – Seu nome pra mim é sinônimo de tudo o que há de mais puro e amoroso no mundo e eu o pronuncio com tanta ternura que ele sorri. — Nunca mais, meu amor.

Envolvo seu pescoço com as duas mãos, puxando sua boca para junto da minha. Prendo seu lábio inferior entre meus dentes, para depois usar a língua para explorar seu maxilar.

Sinto cada nervo do meu corpo pulsar de deleite, quando Peeta se encaixa em mim.

Acompanho seus movimentos, inicialmente lentos e inebriantes, e observo seus olhos cintilando com as emoções que somente eu divido com ele.

Quando suas investidas se intensificam, demora um pouco para eu recobrar os meus sentidos.

E, quando isso acontece, eu redescubro que importa respirar e viver nosso amor. Viver este instante que começa no bombeamento de sangue do meu coração descompassado, continua no arfar dos pulmões em busca de ar e prossegue no êxtase de me unir a ele cada vez mais.

Vivemos um no outro, respiramos um para o outro. Experimentamos o prazer do encontro das águas do mar que se misturam com as águas do rio. Não há como separá-las. Não há mais como conter o seu fluxo.

Meu corpo se contrai junto ao dele e jazemos abraçados, deixando pouco a pouco que o sono se apodere de nós.

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Pela manhã, no dia seguinte, acordo com o aroma de café e de pão assado. Tomo um banho rápido e repito o ritual de todos os dias anteriores. Eu me preparo para ir à floresta, desta vez, com Peeta.

Infelizmente, não consigo afastar de meus pensamentos os momentos terríveis que vivenciamos no meu antigo e precioso refúgio.

Desço as escadas e a imagem de Peeta amarrando seus calçados, dando dois nós em seus cadarços para me acompanhar à floresta, ao contrário de me tranquilizar, só faz aumentar o aperto em meu coração. A sensação que tenho é quase a mesma de quando soube que seria novamente enviada para uma arena.

— Bom dia! – exclama ele entusiasmado, mas ergue as sobrancelhas ao ver que não estou refletindo esse mesmo sentimento.

— Peeta, não adianta… Não vou conseguir! – Eu me queixo, desfazendo a minha trança de modo impaciente. — A floresta vai ser sempre o lugar em que não consegui proteger você, em que vi você machucado e sangrando, por minha culpa.

Peeta não diz nada. Apenas se aproxima e mantém os lábios pressionados em minha têmpora. Meu peito oscila com minha respiração irregular e eu afundo o rosto em seu pescoço. Ele me estreita mais em seu abraço e me deixa chorar.

Apesar de não existir quase nenhum espaço entre nós, eu preciso que Peeta se aproxime ainda mais. Amarroto sua camisa, quando agarro o tecido com força para apertá-lo contra meu corpo trêmulo. Peeta aceita sem hesitar.

Ele me guarda em seus braços pelo tempo que eu preciso e me permite ficar presa nele até meu pranto cessar.

Peeta segura o meu rosto e me faz olhar pra ele.

— Nós vamos mudar isso, mas sem apressar nada, sem cobranças. – Suas mãos descem até meus ombros. — Teremos a ajuda profissional do Dr. Aurelius. Além disso, você tem muita força de vontade e eu estarei aqui do seu lado, sempre.

Concordo com a cabeça, limpando o rosto com o dorso das mãos.

— E você fica linda de cabelos soltos. – Peeta ajeita algumas mechas bagunçadas e me faz sorrir. — Já que não vamos à floresta, eu vou à padaria, tudo bem? Preciso adiantar alguns pedidos, pois não sei quanto tempo ficaremos fora do Distrito.

— Tudo bem. Vou arrumar as nossas malas.

Peeta prepara a mesa para tomarmos café da manhã juntos e, logo depois que terminamos e ele sai, o Dr. Aurelius telefona. Eu lhe informo sobre nossa ida à Capital e ele avisa que estará nos aguardando.

Aproveito o ensejo para ligar para minha mãe. Ela soube por Peeta do ataque que nós sofremos e, desde aquela época, eu não falava com ela.

Conto a ela sobre os planos de ir à Capital e minha mãe reafirma que uma entrevista pessoal com o Dr. Aurelius terá um resultado positivo.

Aos poucos, vou me acostumando à ideia, porém ainda tenho alguns receios.

No fim da manhã, batidas insistentes na porta indicam que Effie veio me fazer uma visita.

— Olá, olá! – Ela me cumprimenta efusivamente.

— Oi, Effie – balbucio.

— Mas que apatia é essa? Onde está a animação com a nossa viagem?

Torço o nariz, ao mesmo tempo em que sacudo os braços no ar, fingindo muito mal uma euforia inexistente.

— Acho que isso é o máximo que consigo de você mesmo… – Ela gesticula, dispensando minha manifestação anterior, e segue falando: — Vim ajudar você a escolher os figurinos certos para a temporada e para os eventos oficiais dos quais vamos participar, com toda certeza!

— Ah… Preciso fazer isso também?

— Sua visita à Capital não vai passar despercebida, Katniss.

Effie me puxa escada acima e, em menos de meia hora, eu e Peeta já temos duas malas cada um, cheias de roupas e acessórios.

— Você e Peeta podem ficar no meu apartamento – oferece ela. — Fica até mais fácil para controlar nossos horários.

— Obrigada, Effie – agradeço, mesmo sem ter certeza se isso é mesmo algo bom.

— Agora eu vou me encontrar com a Delly – avisa Effie. — Ela tem várias encomendas para trazermos da Capital para a casa nova e para a festa de casamento!

— Boa sorte… – murmuro e ela me interroga com os olhos. — Para Delly, é claro!

— Oh, Katniss, sempre tão espirituosa! – Ela pisca algumas vezes, olhando para mim, e sai esbaforida, quando vê Delly na porta da antiga casa de Peeta, de saída para a cidade. — Katniss, o aerodeslizador sai amanhã cedo, às sete! Sem atrasos, por favor!

Faço as refeições seguintes sozinha. Peeta demora a retornar e, quando chega, já estou me preparando para dormir.

— Muito trabalho? – questiono.

— Bastante. Tenho que contratar alguém para darmos conta de tudo. Violet andou perdendo algumas aulas para não deixar os rapazes tão enrolados.

— Já tem ideia de quem será?

— A Violet indicou uma pessoa que estuda algumas matérias com ela.

— Uma pessoa? – Estreito meus olhos para ele. — Homem? Mulher? Idade? Estado civil?

— Isso tudo é curiosidade? – Peeta ri e enlaça minha cintura.

— Também.

— Eu só sei que o nome dela é Amelie. E imagino que seja jovem. – Ele beija o meu pescoço e me vira para me abraçar por trás. — Você fica uma graça com ciúme…

Sem motivos! - imito sua voz grave. — É o que você já ia dizendo, não é?

— Exatamente – confirma Peeta.

Caminho com ele até a nossa cama e aponto para nossa bagagem no canto do quarto.

— Effie arrumou as nossas malas. Duas pra mim e duas pra você.

— Só isso? Esperava mais dela – brinca ele. — Agora, vou deixar você dormir, pois amanhã é um grande, grande, grande dia!

— Boa noite – falo e recebo seus lábios em minha testa.

— Já, já estarei aqui – promete Peeta e cumpre a tempo, pois seus braços seguros e fortes me rodeiam no instante em que começo a me afligir com um pesadelo que tinha como cenário a Capital da época da rebelião e milhares de olhares de ódio em minha direção.

¸.•*'¨'*•.¸¸.•*'¨'*•.¸¸.•*'¨'*•.¸

Quando o dia amanhece, iniciamos os preparativos para a nossa partida e chegamos ao local onde a aeronave está pousada antes do horário marcado.

— Acho que só haverá espaço para as nossas malas no apartamento da Effie – observa Peeta, ao ver a quantidade de volumes que Haymitch está carregando.

— Isso é porque metade das roupas dela não está mais servindo. – Ele respira, exausto pelo peso em seus braços, mas sorri para Effie, que está usando um vestido que evidencia o pequeno volume que se forma em seu ventre.

— Vou ter que renovar o guarda-roupa e comprar o enxoval do bebê… Conto com a sua ajuda, Katniss! – Effie me intima e Haymitch sorri de lado pra mim. — E com a sua ajuda também, Haymitch.

Ele murcha com a notícia e Peeta apoia a mão num de seus ombros.

— Não se preocupe, Effie. Katniss e Haymitch nasceram para fazer isso… juntos! – Peeta responde por nós, enquanto subimos no aerodeslizador.

O percurso até a Capital é tranquilo na maior parte do tempo. O único contratempo é o enjoo constante de Effie.

Na estação de pouso, um grande carro oficial nos aguarda. Effie e Haymitch vão direto para a clínica médica, para a consulta marcada com antecedência, mas nos deixam antes no apartamento dela.

Assim que o veículo estaciona em frente ao edifício, um funcionário do prédio traz um carrinho de bagagem para nos ajudar a subir com tantas malas.

— Katniss, aqui está a chave reserva. O apartamento é o 1204 e vocês podem se instalar no último quarto do corredor. Antes de subirem, vocês podem, por favor, pegar minhas correspondências?

— Sim, Effie. Até logo! – digo antes de sair do carro.

— Vemos vocês mais tarde! – Peeta também se despede.

Entramos no belo saguão e me dirijo à portaria para atender ao pedido de Effie.

— Enquanto você pega as correspondências, vou esperar o elevador – avisa Peeta e caminha com o carrinho de bagagem até o hall de elevadores.

Termino de recolher as cartas que o porteiro me oferece e me encaminho até onde está Peeta. O elevador chega. Ele olha para trás e vê que já estou me aproximando.

Assim, Peeta segura a porta para que eu entre, mas, antes que eu consiga fazer isso, duas mulheres exuberantes, de cabelos coloridos e vestidas de modo provocante, colocam-se entre nós. Vestidas é um modo de dizer, pois suas roupas curtas e justíssimas deixam pouco trabalho para a imaginação.

Elas entram no elevador antes de mim e não me veem. Ou fingem que não.

— Ora, ora. Eu sabia que sermos vizinhas da Effie Trinket nos traria alguma vantagem. Olha quem está aqui! Peeta Mellark! – A mulher de cabelos muito longos e roxos dá um passo à frente, enquanto uma de suas mãos se embrenha nos cabelos de Peeta. — Você é muito mais bonito pessoalmente.

— Ah… Obrigado. – Ele desvia a cabeça discretamente, mas isso só faz com que os dedos dela escorreguem por seu rosto. — Qual o andar de vocês?

— Nós vamos para onde você for. Sempre quisemos conhecer melhor alguns vitoriosos. – A outra, loira platinada com alguns cachos coloridos que apenas sobrepassam seus ombros, arrasta suas enormes garras pintadas de azul pelo braço dele.

Reviro os olhos e faço um careta de desgosto.

— Vocês… têm certeza? – Peeta tartamudeia, porém parece se divertir com a situação, especialmente com a minha reação.

Eu me aproximo do painel e aperto o botão do andar.

— Eu e Peeta vamos para o décimo segundo – rosno atrás delas. — Hoje vocês têm muito o que comemorar. Afinal, são dois vitoriosos para vocês conhecerem melhor. Eu adoraria mostrar, de forma bem realista, algumas táticas de sobrevivência que usei nas arenas.

Para a sorte de ambas, as duas recolhem suas mãos ao ouvirem meu tom nada amistoso e dão as costas para Peeta, passando a me encarar. Elas não escondem a decepção por me verem no elevador.

— Eu me confundi. O nosso é o décimo andar – diz a loira e ambas se atrapalham para apertar o botão ao mesmo tempo.

Logo me arrependo de ter sido tão rude, pois o modo como as mulheres olham pra mim agora me causa um pouco de pavor. São os olhares que eu tenho receio de encontrar em todas as pessoas da Capital.

Felizmente, o elevador logo alcança o décimo andar, as portas se abrem e elas se espremem, disputando quem sai primeiro.

— Esses elevadores da Capital! – resmungo quando eu e Peeta ficamos sozinhos e ele ri.

Em seguida, descemos no piso em que fica o apartamento de Effie. Abro a porta depressa e Peeta descarrega as malas na sala de estar.

Sento-me no sofá e começo a tirar um dos meus sapatos com a ajuda de um pé e repito a ação, descalçando o outro.

Peeta se prepara para voltar ao corredor, com a intenção de devolver o carrinho de bagagem.

— Hey! Você não vai sozinho a lugar nenhum! – ordeno, quando ele abre a porta e desliza o carrinho para fora. — Ainda mais nesses elevadores!

— Eu não tenho culpa se me dou bem com as mulheres em geral… Exceto a minha mãe, talvez – pondera ele.

— Humm… Sei – murmuro, enquanto me recosto na porta e levanto os pés alternadamente para calçar sapatilhas mais confortáveis, que estavam numa mala próxima.

— Quer ver só? Delly, Prim, Effie, Portia, Johanna, Annie, Dra. Ceres, Greasy Sae, Daisy, sua mãe… Esqueci alguém? – Ele aperta os olhos, colocando a mão no queixo. — Ah! Claro… Eu ainda conquistei a mais difícil de todas!

— Você vai ver quem é difícil. – Saio pisando duro, depois de trancar a fechadura, e passo por Peeta sem olhar pra ele.

Eu não posso vê-lo, mas Peeta solta o carrinho que está empurrando e me dá um abraço pelas minhas costas. Um abraço reconfortante, que me desarma por completo.

Giro meu corpo para ficar na ponta dos pés e capturo seus lábios com os meus.

— É verdade, conquistador, você se dá bem até com a mais difícil de todas!

— Principalmente com ela! – Ele beija a ponta do meu nariz e dá alguns passos para trás para pegar o carrinho novamente.

Nós descemos num elevador vazio desta vez. No entanto, muitos rostos se voltam para nós ao cruzarmos o saguão de entrada. Peeta entrega o carrinho a um funcionário do prédio.

— Quer dar uma volta? Que tal procurarmos um lugar para fazer um lanche? – sugere ele e eu aceito.

Andamos pela ampla calçada de mãos dadas. Eu me mantenho de cabeça baixa, evitando atrair olhares.

Nossa aparência simples ainda contrasta muito com o visual multicolorido da maioria dos transeuntes e, também por isso, chamamos muita atenção.

Apesar de o céu estar ensolarado, o clima está frio. Então, Peeta se despe do seu casaco para colocá-lo em meus ombros.

Posso distinguir perfeitamente vários sons de exclamação ao nosso redor quando Peeta faz isso.

"Como ele é gentil!; "São eles?; "Katniss e Peeta?; "Os amantes desafortunados!

Vagarosamente, desprendo meus olhos do chão e lá estão eles. Olhares de admiração, olhares curiosos, olhares indiferentes, olhares calorosos, olhares frios como o gelo.

A sensação de pânico me invade e começo a suar frio. Esse é mais um transtorno que tenho que tratar aqui na Capital.

Peeta reconhece os sinais do meu mal estar e reduz a velocidade de seus passos até parar de frente para mim, segurando minhas mãos.

— Se preferir, podemos voltar – diz ele, para me tranquilizar.

— Acho melhor mesmo. Estou me sentindo meio desnorteada aqui.

Seu braço cobre a parte superior das minhas costas e eu me aferro ao seu tronco para fazermos o caminho de volta.

Minha respiração se regulariza apenas quando coloco os pés dentro do apartamento de Effie.

— Eu sei como você se sente. Tive uma crise de medo quando saí pela primeira vez do quarto do hospital, na época em que fiquei internado aqui. Isso vai passar! – Peeta me garante.

— Dr. Aurelius vai ter trabalho comigo… Porém não mais do que você tem, não é? – Devolvo o casaco a ele, que me olha intrigado, antes de erguer nossas malas para levá-las ao quarto no fim do corredor. — Peeta… – Eu o sigo e fecho a porta atrás de mim. — Eu sei que me comportei como uma estranha desde o episódio na floresta e ainda não pedi as devidas desculpas.

— Não fique remoendo isso. – Ele deixa as malas no chão e se aproxima para emoldurar minha face com suas mãos. — Já passou.

— Sinto muito por não ter ficado ao seu lado, quando estava precisando de ajuda tanto quanto eu. – Repouso minha cabeça em seu ombro e fico ali, sentindo seu calor e seu cheiro.

Seus dedos encontram a barra da minha blusa e suas mãos mornas passeiam por sobre a pele das minhas costas e me transmitem calma e paz.

Quero me sentir segura nos seus braços pra sempre, mas eu não posso. Não é justo exigir tanto dele.

É assim que, por ele, assumo comigo mesma o compromisso de não mais me entregar à desesperança, de me reinventar diante de cada perda, de me reerguer depois das minhas quedas.

Peeta leva minha mão à sua boca e deposita leves beijos na minha palma e, por fim, encosta seus lábios em meu pescoço demoradamente.

A tranquilidade do momento é interrompida pelas inconvenientes batidas na porta, seguidas dos berros de Haymitch.

— Peeta! Katniss!

— Aconteceu alguma coisa, Haymitch? – Peeta indaga e, dessa vez, até eu acho graça da situação.

— Aconteceu sim. Venham para a sala.

Saímos do quarto mais que depressa e, aparentemente, ele e Effie estão bem. Ambos parecem muito felizes até. Quando se entreolham, enormes sorrisos tomam conta de seus semblantes.

— Eu gostaria de parabenizá-los por estarem certos. – Haymitch começa a falar, mas não conclui o raciocínio.

Ele vai até Effie e apoia o queixo no ombro dela e as mãos em sua barriga.

— Conta logo pra eles, Haymitch! – Effie implora.

— Como eu disse, vocês estavam certos… Nós estamos esperando dois bebês! – vibra ele e Peeta corre para abraçá-los.

Contemplo a cena por alguns segundos antes de me juntar à comemoração.

Recomeçar nunca é simples. Tentar superar meu passado conturbado poderá ser desgastante. No entanto, desistir não é uma opção.

Agora, tenho mais dois motivos para fazer valer esse meu propósito.

 


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Notas finais do capítulo

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Oi de novo!

Gostaria de agradecer às ideias que recebi e o carinho que tantos têm pela fic!

Consegui incluir nesse capítulo as cenas de ciúme da Katniss (sugestão da Annie) e a ida deles à Capital, ajudando-se mutuamente (ideia que a beatriztix me deu há um tempão. Não esqueci, viu?).

Pra terminar: lembram daquela fic que eu estava traduzindo, chamada "No caminho"? A tradução já está completa no meu perfil do Wattpad e acho que vale a pena a leitura.

Beijos!
Isabela