A Redenção do Tordo escrita por IsabelaThorntonDarcyMellark


Capítulo 48
Respirar e viver


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoal!

Esse foi um dos capítulos mais difíceis de escrever, pois demorei a encontrar o tom da Katniss nesse momento de fragilidade. Eu não queria que ninguém ficasse com raiva dela... Espero sinceramente que não fiquem.

Vamos ver se consegui essa proeza.

Beijos!

Isabela



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Por Peeta

Ainda estou em choque com a notícia que Haymitch me deu quando eu estava sendo levado para a sala de raio-X, a respeito do suicídio do Capitão Razor.

Já estou de volta ao quarto e ainda estou sem notícias de Katniss. Minhas preocupações gravitam em torno do fato de não saber se ela já acordou e da dúvida quanto ao modo como absorverá mais essa tragédia.

Minhas dores físicas estão em último plano, mas o Dr. Boneigh, integrante da equipe médica que está cuidando de mim, ignora esse detalhe.

— As radiografias não apontam fraturas. Felizmente, as pancadas não causaram dano ósseo. Os locais contundidos vão ficar bastante doloridos e vão apresentar hematomas, porém não é necessário imobilizar – explica o médico. — Está mais tranquilo?

O médico tenta me acalmar, mas isso só acontece quando vejo uma enfermeira abrir a porta e atravessar o quarto, seguida de Katniss e de Haymitch.

— Agora estou – respondo, mas não deixo de notar os passos vacilantes de Katniss e o fato de que evita me olhar nos olhos.

Aparentemente, é Haymitch quem a está conduzindo pelos ombros. Ela não parece estar no comando dos seus atos.

Observo-a com atenção e identifico apenas alguns ferimentos superficiais em suas mãos e em seu rosto. De relance, vislumbro seus olhos, que espelham um misto de tristeza, confusão e dor profundas. A vermelhidão ao redor de suas íris cinzentas apenas reforça as emoções que expressam no momento.

— Ah, chegou a enfermeira do Peeta! – O médico fala ao perceber a presença do trio no quarto.

Katniss imediatamente se vira para a profissional de saúde que entrou antes dela e de Haymitch, mas o médico a surpreende:

— Estou falando com você, Katniss, que ficará com a missão de tomar conta dele em casa. Vocês já permaneceram em observação por tempo suficiente e Peeta não precisa ficar internado. Posso confiar que você vai cuidar dele? – Ele usa um tom animador, mas a resposta dela é apática.

— S-sim. – Sua voz falha e ela não levanta os olhos.

As pessoas pensam que sofremos apenas uma emboscada de um homem transtornado, da qual escapamos quase ilesos. Isso realmente aconteceu. No entanto, o ataque psicológico sofrido por Katniss é o que mais me assusta e eu já vejo alguns sinais de que ela ficou muito abalada.

Enquanto o Dr. Boneigh instrui Katniss sobre os procedimentos acerca dos meus curativos e dos remédios que ela deve ministrar para mim, uma ambulância é preparada para nos levar à nossa casa.

Assim que a maca em que estou deitado é posicionada no interior do veículo, Katniss se senta ao meu lado, sem dar uma palavra. Tateio em busca de sua mão.

Quando eu toco sua pele, ela parece despertar do transe em que se encontra e se aproxima de mim, passando a mão livre sobre o meu rosto e meus cabelos com urgência.

— Peeta… Eu tive tanto medo.

Inevitavelmente, seus dedos se arrastam sobre alguns de meus ferimentos. Isso dói tremendamente e solto um gemido, fechando minhas mãos em punho de modo involuntário. Katniss se sobressalta com o meu gesto e se afasta mais uma vez.

— Katniss, não foi nada. Eu não estou tendo uma crise – sussurro.

— Perdão, Peeta… Isso não vai se repetir. Eu já me prometi tantas vezes que eu não iria mais machucar você, mas é só isso que eu faço. – Ela cruza os braços sobre sua barriga e vira o rosto em outra direção.

— O quê? Não… – falo confuso.

Haymitch, sentado do lado oposto, não está alheio à nossa movimentação e à nossa conversa.

— É simples, Peeta. Ela voltou a carregar todas as culpas do universo.

— Katniss… – Tento erguer meu tronco, mas a dor me impede.

— Deve haver algo mais que você considere merecer, docinho – continua Haymitch e eu estranho seu tom áspero. — Algo melhor que a morte. O fato de pensar em algo bom pra você não é absurdo, não é injusto com ninguém, e não faz de você uma pessoa horrível, insensível, ou o adjetivo com que você queira se autodepreciar.

— Não assuste o Peeta, Haymitch. – Seu modo de falar não exprime metade da energia que ela usaria, se estivesse em seu estado de espírito normal, depois de tudo o que ele disse.

— Não tem coragem de repetir para o garoto o que você falou pra mim? – Ele a instiga e parece esperar uma resposta à altura de sua provocação.

— Naquela hora, eu falei sem pensar. Até parece que você nunca buscou subterfúgios para escapar da sua realidade. – Katniss reage de forma mais impetuosa e Haymitch não esconde sua satisfação ao conseguir tirá-la da sua letargia.

— O que está acontecendo com vocês? – questiono.

Embora eu imagine o que motivou as palavras duras de Haymitch, não há mais tempo para esclarecimentos, pois a ambulância estaciona em frente à nossa casa.

O que era apenas um grande desconforto nas pernas, causado pelas contusões, transforma-se em dor intensa quando tento me levantar sozinho.

Então, um de cada lado, Katniss e Haymitch me amparam para descer da maca e entrar em casa.

Tão logo é possível, eu desabo no sofá sem me desfazer do abraço de Katniss. Ela cai junto comigo e eu acho graça da cena, apesar da dor que sinto, mas ela nem ameaça sorrir.

Greasy Sae surge na porta da cozinha, trazendo uma bandeja com duas tigelas de sopa. Seu sorriso discreto em nossa direção não esconde a preocupação e o pesar ao ver as nossas condições.

— Eu trouxe essa sopinha de legumes pra vocês. – Ela nos estende os potes fumegantes e o delicioso cheiro de comida abre o meu apetite no mesmo instante. — Quer um pouco, Haymitch?

— Não, Sae, obrigado. Vou buscar a Effie. Quando ela saiu do hospital mais cedo, disse que queria ver os garotos quando chegassem – informa ele e logo se encaminha para a porta. — Vejo vocês daqui a pouco e… Fiquem vivos. Isso não é um pedido, lindinha. É uma ordem.

Essa última frase de Haymitch deixa claro que Katniss lhe disse no hospital algo a respeito de não querer mais viver.

Katniss recebe a tigela de sopa com as mãos trêmulas e apenas sorri de maneira discreta para Greasy Sae.

— Está uma delícia! – elogio sinceramente, tentando também quebrar o silêncio.

— Eu sei que comida de hospital não é lá essas coisas… Se quiser mais, sobrou bastante na panela.

— Não tenho nem palavras para agradecer, Sae. Você é sempre tão atenciosa – digo.

— Como se vocês precisassem agradecer alguma coisa! – Greasy Sae responde ao meu comentário, porém seus olhos estão pousados em Katniss. 

Não sei o quanto ela sabe do que se passou na floresta, mas uma coisa é certa. Ela conhece Katniss e esteve com ela em seus melhores e piores momentos. Seu olhar atento já percebeu o quanto ela está fragilizada. Confio na sabedoria da velha senhora para me ajudar a animá-la.

Greasy Sae e eu nos entreolhamos. Ela consegue ler em meu semblante o pedido angustiado por ajuda e isso é o suficiente para ela sentar-se ao lado de Katniss e começar a falar:

— Vocês não sabem ainda, mas Daisy foi aceita na escola e já se destacou nas aulas de artes, justamente no dia em que a Presidente Paylor visitou o colégio. A professora disse que fará uma exposição com os quadros dela e a Presidente garantiu que levará alguns para a mansão presidencial. – Greasy Sae dá um sorriso que mistura alívio e alegria.

— Você não pode imaginar como estou contente por Daisy estar frequentando a escola! – exclamo, verdadeiramente feliz. — Isso não é ótimo, Katniss?

Ela apenas balança a cabeça, sem tirar os olhos da sua sopa.

— Daisy não havia sido acolhida nem no Distrito 13. Logo lá, em que todos tinham alguma serventia – prossegue Greasy Sae, usando um tom descontraído. — E ela, em sua inocência, vivia tentando ajudar!

— Eu também não servia para nada naquele lugar… Ou em qualquer outro – diz Katniss, amargurada, sem se voltar para nenhum de nós. — E eu sou bem consciente disso.

Em seguida, ela se ergue e leva o pote vazio até a cozinha. Greasy Sae a acompanha com o olhar e suspira frustrada.

— Esse comentário dela… Katniss parece estar tão mal quanto na época em que voltou pra cá. Achei que ela fosse gostar da notícia da Daisy, mas acabei falando demais.

— Ela gostou da notícia, Sae. Tenho certeza. Só não está conseguindo expressar isso. – Minha vontade é de ir atrás dela, porém Greasy Sae apoia a mão em meu braço quando vê o sacrifício que faço para tentar me levantar.

— Eu vou até lá. – Ela me encara com ar triste. — Não sei o que aconteceu com vocês e não é necessário me contar. Eu só sei que você vai precisar ser forte e paciente.

Balanço a cabeça em concordância e ela se dirige até onde está Katniss. Não demora muito, Greasy Sae volta e se aproxima de mim.

— Vou falar com ela em outro momento. Ela mal abriu a boca para balbuciar algumas palavras e só fez pedir desculpas e mais desculpas.

— Obrigado por tentar – agradeço.

Pouco depois que Greasy Sae deixa a casa, Haymitch e Effie entram juntos na sala.

Haymitch tenta frear o comportamento efusivo dela, mas Effie somente se contém um pouco ao ver meu estado. Ela se senta no sofá ao meu lado e olha para mim penalizada.

— O que fizeram com você, Peeta?

— Tentaram me matar, Effie. Acho que tentaram isso algumas vezes nos dois últimos anos. Nenhuma novidade – ironizo, sorrindo de lado, mas Effie não acha graça.

— Isso não é motivo para brincadeiras, Peeta! – Ela franze o cenho, mas logo sua expressão se ilumina. — Em compensação, você pode brincar à vontade com a novidade que tenho para contar! Onde está a Katniss?

— Effie, eu não acho que seja uma boa ide… – tento alertá-la, mas Katniss retorna à sala antes que eu termine de falar.

— Aí está ela! – Effie se levanta e diz animada, mesmo diante da expressão taciturna de Katniss.

— Effie, talvez hoje não seja o melhor momento – sussurra Haymitch.

— Como não? Hoje sim! – retorque ela.

— Pode falar, Effie. Você parece tão aflita… – Katniss fala baixinho, permanecendo de pé, um pouco distante de onde estamos.

— Muito bem. Eu falo. – Effie põe a mão sobre o peito de forma solene, certamente para enfatizar a relevância do assunto, e explica: — Vocês dois são um verdadeiro sucesso com as crianças, então…

— Effie… – Haymitch tenta dissuadi-la pela última vez, mas ela apenas lhe lança um olhar indignado.

— Como eu ia dizendo, meus queridos vitoriosos, pensei em fabricar bonecos de brinquedo inspirados em vocês.

Katniss põe a mão na testa quando Effie conclui a última frase e eu não sei como reagir à notícia. Effie olha de mim para Katniss e, depois, para mim de novo.

— Será um sucesso de vendas! – acrescenta ela. — Não?

Percebo que Effie começa a duvidar da genialidade da ideia.

— Eles vão analisar a proposta com carinho, certo? – Haymitch se manifesta por nós e Katniss estreita os olhos para ele.

— Ah, sim. É um projeto muito… interessante – afirmo sem muita convicção.

— Effie, eu não quero dar falsas esperanças a você. Eu não sou um bom exemplo pra ninguém, principalmente para as crianças. – Katniss não é rude ao falar, mas frustra qualquer expectativa de Effie.

— Eu pensei que… Deixa pra lá. Eu pensei errado – desiste Effie, cabisbaixa, alisando o próprio ventre. — Não será dessa vez que você terá uma boneca da tia Katniss, bebê – choraminga ela e segue em direção à saída.

— Não vá, por favor! Effie! – Katniss chama. — Espera…

No entanto, Effie fecha a porta atrás de si. Katniss evita olhar para Haymitch, que a encara irritado.

Ele aguarda tempo suficiente para que Effie se afaste, antes de falar com Katniss.

— Era mesmo necessário fazer isso, queridinha? Effie só estava tentando animar vocês e acabou saindo daqui desolada.

— É difícil dar pulos de alegria e concordar com uma ideia dessas, quando o que eu mais quero é sumir! – Katniss retruca e sai em disparada porta afora.

— Katniss! – apelo, pois sei que não poderei acompanhar seus passos, mas ela sai mesmo assim. — Haymitch, pega leve com ela! – Eu o repreendo.

— Você a trata com muito açúcar. Às vezes, é preciso jogar sal na ferida pra ver se ela acorda.

— Eu só acho que não é assim que funcionam as coisas.

Esfregar água salgada num ferimento. Já funcionou com vocês na arena, para se livrarem dos efeitos da névoa venenosa.

— Por que está sendo tão duro com ela? Desde o hospital que você está tentando tirá-la do sério.

— Eu já vi a Katniss se enterrar numa cova igual a essa e eu não fiz nada… Ou fiz muito pouco por ela. Dessa vez, eu não vou permitir isso de novo.

Então, percebo que a forma como ele a está tratando é uma tentativa desesperada de não perdê-la.

— Haymitch, o que passou… Passou. Vou pensar no que fazer. Também estou um pouco perdido. – Eu me sento e cubro meu rosto com as mãos. — Você não sabe o que aconteceu na floresta. Foi horrível. Em um momento, ela se entregou e se rendeu. Ela se ofereceu em sacrifício. Katniss achou que merecia morrer.

— Então, não podemos perdê-la de vista. – Ele se apressa em me dar suporte para me levar até o lado de fora. — Vamos procurar onde ela está.

Apesar de nossa preocupação, não é necessário ir longe. Basta atravessarmos a porta para minha apreensão sumir. Katniss está abraçada à Effie a alguns metros da casa de Haymitch.

— Peeta, Haymitch…

Ouço a voz de Delly atrás de nós.

— Chegou em boa hora, Delly. Ajude aqui a segurar o garoto – pede Haymitch e ela toma o lugar dele. — Preciso fazer as pazes com aquela cabeça dura ali.

À distância, vejo Haymitch se aproximar de Katniss e Effie e juntar-se ao abraço.

— Eu fui ao hospital saber notícias, mas vocês já haviam voltado pra casa – comenta Delly, enquanto assistimos à cena. — Vocês estão precisando de alguma ajuda?

— Eu estou precisando de muletas… E estou precisando mais ainda da minha amiga – digo e ela apoia a cabeça em meu ombro.

— Vou ficar devendo as muletas. – Ela se vira pra mim e é tão raro ver Delly sem o seu grande sorriso, que agora tenho certeza de que minha aparência deve estar péssima. — Mas a amiga está aqui… E eu ainda posso servir de apoio.

— Vamos esperar a Katniss lá dentro? Você vai ficar cansada de ficar me segurando aqui.

Delly me ajuda a caminhar para o interior da casa.

— Greasy Sae trouxe sopa pra gente. Você quer? Acho que vou comer mais um pouco.

— Ah! Eu não vou resistir – aceita Delly e me auxilia a me acomodar na cozinha.

Em seguida, enche dois pratos e os dispõe sobre a mesa.

Logo Katniss está de volta, com os olhos inchados por chorar.

— Oi, Delly – cumprimenta ela e tenta sorrir.

— Olá! Você nos acompanha? – Delly inquire.

— Não, obrigada. Quero apenas um pouco d'água.

— Alguma novidade, Dell? – pergunto enquanto Katniss enche seu copo. — Mas tem que ser uma boa notícia!

— Vamos ver se eu passo no teste dessa vez – fala Katniss, ainda de costas para nós. — Eu consegui magoar Greasy Sae e Effie em poucos minutos de conversa.

Delly olha pra mim sem jeito, mas eu gesticulo, incentivando-a a falar.

— Bom… Eu tenho algumas novidades e também um pedido para fazer – confidencia ela e continua animada. — A minha nova casa já está pronta, só falta a mobília, e já foi feita a reforma no telhado da casa do lago!

Katniss se vira para nós rapidamente ao ouvir essas informações e eu fico contente por ela se esforçar para demonstrar alegria.

— Você também falou sobre um pedido… – lembro.

— Sim. Eu e Thom já estamos pensando numa data para o casamento. – Os olhos de Delly brilham de excitação. — Só que, para isso, precisamos saber se podemos realizar a festa no salão da padaria. Afinal, é um lugar que significa muito para nós e…

Ela pousa a colher na borda do prato e eu seguro a mão dela.

— Não precisa justificar o pedido, Dell. A festa será no dia que vocês escolherem! – sentencio.

Delly aperta minha mão, remexendo-se inquieta na cadeira, e eu sei que ela quer dizer ou fazer alguma coisa ainda.

— O que foi? – pergunto.

— Eu quero dar um abraço em vocês. Posso? – Delly pede. — E você não precisa se levantar! – Ela aponta para mim e dá a volta na mesa para me abraçar por trás, enquanto permaneço ainda sentado.

Depois, ela se aproxima de Katniss, que também recebe o seu abraço.

Quando Delly se despede e sai, permaneço à mesa para terminar de comer a sopa e Katniss deixa a cozinha, dizendo que precisa arrumar algumas coisas.

Minutos se passam, até que ela surge novamente e segura minha mão. Katniss me leva ao banheiro do primeiro piso, onde consigo tomar uma ducha rápida, e depois ao quarto que existe no mesmo andar.

— É melhor você ficar por aqui até se recuperar dessas contusões. Assim, não é preciso subir as escadas. – Ela abre a porta e eu reparo que só existem pertences meus sobre a mesa de cabeceira e a cama.

— Você não vai trazer suas coisas? – indago antes de me deitar.

Ela demora um pouco a responder, pois tem o cuidado de ir até a janela para abri-la.

— Não é preciso – murmura Katniss, sem se virar para mim, e sai.

Algum tempo se passa e ela retorna para verificar os meus curativos. Posteriormente, Katniss me ajuda a tomar o analgésico e alguns dos meus antigos remédios. Buttercup entra no quarto, pois a porta está aberta. Katniss fica de pé ao lado da cama, enquanto o gato rasteja pelo colchão até perto de mim e se esfrega na lateral do meu corpo.

A intensidade da dor física diminui um pouco. No entanto, a dor no peito só faz aumentar, pois parece que quem veio para casa comigo foi apenas uma enfermeira. 
Katniss está sendo cuidadosa e eficiente, mas não é só isso que espero dela nesse momento. Ela evita me tocar além do necessário e quase não fala comigo.

Então, faço um gesto para ela se aproximar, recordando alguns momentos que vivemos antes de nosso primeiro beijo.

Abaixa aqui um minutinho – peço. Preciso dizer uma coisa. – Ela se inclina e sussurro em seu ouvido. Lembre-se: nós somos loucamente apaixonados um pelo outro, então não há problema algum em você me beijar sempre que tiver vontade.

Ela mais uma vez afasta bruscamente a cabeça, porém não sorri, como fez em nosso reencontro na arena.

Para minha infelicidade, o beijo que eu esperava não acontece.

— Você não permite que eu me esqueça disso – diz ela. Mas estou preocupada é com a sua recuperação. É bom que descanse.

— Você está tão retraída, mesmo com as pessoas próximas, mesmo comigo…

— Estou envergonhada pelo que fiz no passado e pelo que aconteceu hoje.

— Ninguém precisa saber o que houve ou o que foi dito na floresta.

— Mesmo que ninguém saiba, o fato de eu saber já é suficiente. – Ela se encaminha para a porta.

— Aonde você vai? Não quer se deitar um pouco?

— É inútil. Sei que não vou dormir e que não vou deixar você dormir. – Katniss fecha a porta com cuidado ao se retirar do quarto.

Estou devidamente vestido em um pijama quente e Katniss havia ajeitado a coberta sobre mim antes de sair. Apesar de ainda ter vontade de chamá-la mais uma vez, caio no sono quase que imediatamente.

Durante a noite, os efeitos do remédio para dor passam e não consigo segurar o som de um lamento, ao tentar mudar de posição na cama.

No mesmo instante, passos apressados se fazem ouvir e escuto a maçaneta da porta girar para Katniss entrar.

— Não conseguiu dormir? – pergunto, encarando seu semblante abatido.

— Não. Estou com medo até de fechar os olhos – responde ela em voz baixa, apertando o casaco que leva sobre a camisola e me fita com olhos tão cheios de temor e tristeza que meu ato seguinte é abrir os braços para recebê-la.

Pode ser que ela desconsidere o meu gesto e se afaste, mas ela vem até mim e me abraça forte, tentando não encostar em meus ferimentos recentes.

— Você precisa de mais analgésico. – Ela se desvencilha calmamente, apesar da minha relutância.

Tomo o medicamento que ela me entrega e é certo que ele tem um forte efeito calmante também, pois de novo a inconsciência me domina rapidamente.

Quando eu acordo, posso dizer pela luz que entra no quarto que já é início da manhã. Há um copo com água na minha mesa de cabeceira e eu bebo com sede.

Com muito esforço, alcanço a porta e, do meu ângulo de visão, posso ver que Katniss está em posição fetal na poltrona da sala, com seu arco e sua aljava de flechas ao seu alcance. De repente, ela desperta gritando em aflição e eu caminho com dificuldade para acudi-la.

E assim passamos as noites depois do incidente com o Capitão Razor.

As únicas outras visitas que recebemos desde então foram as de Gale, Cressida e Polux, além da Presidente Paylor, na véspera de sua partida para o Distrito 13.

Katniss segue cuidando de mim com zelo, mas ela se fecha gradativamente.

Eu sinto que, quanto mais Katniss reflete sobre o que aconteceu, mais ela fica fora do meu alcance. Tão perto e tão longe. São tantas feridas e tanta dor, que seus olhos se apagam e Katniss fica perdida nela mesma.

Como se não bastassem os novos traumas, o horror de seus antigos pesadelos se multiplica.

No entanto, seu maior pesadelo é não conseguir mais ir à floresta. Isso é terrível para ela.

Hoje, assim como ontem e nos dias anteriores, Katniss se apronta e, mais uma vez, aproxima-se da porta, tomando coragem para sair. E não sai.

As mãos de Katniss começam a tremer, então eu a conforto da única maneira que eu sei e do único modo em que ela ainda me permite. Eu a abraço. Ela relaxa contra o meu peito e suspira. Sua respiração vai se estabilizando aos poucos e ela afunda ainda mais a bochecha em meu peito.

— Pode chorar. Estou aqui. As lágrimas são mesmo um poderoso analgésico para a alma.

E ela chora em silêncio. Um silêncio que estou tão farto de escutar, que, quanto mais o tempo passa, mais parece um grito sem esperança em meus ouvidos.

Eu a amo e quero dizer isso a cada vez que a vejo, mas essas palavras têm atormentado Katniss nos últimos dias. 

O distanciamento dela continua. Desde o ocorrido, não sinto o gosto dos seus lábios e a falta que me faz o calor do seu corpo me envolvendo já é insuportável.

Apesar de eu nunca forçar uma reaproximação, não me privo de tentar.

Sempre que posso, inalo seu aroma, toco sua pele, acaricio seu cabelo, e sei que ela não é indiferente. Tento fazê-la saber que estou aqui por ela. Sempre.

¸.•*'¨'*•.¸¸.•*'¨'*•.¸¸.•*'¨'*•.¸

Depois de enfrentar dias e dias de dores e limitações dos meus movimentos, eu já me sinto bem o suficiente para ir à padaria. Infelizmente, Katniss não se anima a me acompanhar.

Vou até ela me despedir antes de tomar o rumo da cidade. Katniss abraça o próprio corpo, quando tento segurar a sua mão. Então, sem me dar por vencido, pouso minhas mãos sobre seus ombros para trazê-la para bem perto de mim.

— Katniss, eu sei que você não quer conversar, que você se fechou e não quer se abrir pra mim de jeito nenhum. Mas eu só vou sair por esta porta, se você me prometer que vai me avisar se houver qualquer problema… Por favor – suplico e ela apenas balança a cabeça, indicando que sim.

Katniss não se manifesta verbalmente, mas também não se afasta. Aproveito a oportunidade para perguntar:

— Diz pra mim o motivo dessa distância. Eu sou o problema?

Ela fecha os olhos e abre a boca algumas vezes, sem fazer som algum, até que fala.

— O problema sou eu. Sempre estou a ponto de estragar tudo, de machucar alguém, principalmente você.

— O que mais me machuca, de verdade, é esse afastamento. Também dói muito ver você perder sua vitalidade, seu sorriso. – Toco meus lábios em sua testa.

— Eu tenho que me conformar em perder o que eu jamais mereci ter desde que a rebelião acabou.

— Você estava com essas ideias absurdas na época em que eu cheguei aqui. Não volte a pensar assim… Ou existe algo mais?

— Sim, existe. Eu preciso lhe dizer uma coisa. E você vai me odiar por isso.

— Nunca vou…

— Peeta… – Ela me interrompe e respira fundo, como se pronunciar meu nome fosse algo doloroso. — O que eu disse sobre filhos, a respeito de tentar… Não dá mais. Eu… Eu não consigo.

— Era esse o motivo? Você estava com medo de me dizer isso? – pergunto e ela confirma. — É perfeitamente compreensível. Você viveu um grande trauma, mas é uma questão de dar tempo ao tempo e…

Katniss retira minhas mãos de seus ombros com cautela e me faz dar alguns passos para trás.

— Não, Peeta, não é questão de tempo. Você não vê? Eu não posso ter filhos, eu nunca submeteria um ser inocente a isso. Eu nunca geraria filhos. Na verdade, eu geraria alvos e eternos reféns de tudo o que eu fiz. O Capitão Razor era apenas uma das várias pessoas que me culpam por alguma tragédia em suas vidas.

Seus olhos se enchem de lágrimas quando ela lê em meu rosto a decepção que suas palavras me causam, apesar da minha vontade de escondê-la.

— Kat…

— Não precisa dizer mais nada. – Ela me corta mais uma vez e escuto seu choro quando fecha a porta entre nós. 

Encosto a testa na madeira escura.

— Pode… ir, Peeta – fala Katniss entre soluços. — Eu prometo… que aviso… se precisar de alguma… coisa.

Ainda estou na dúvida se é melhor deixá-la se acalmar ou se é arriscado deixá-la sozinha, porém a resistência dela em abrir a porta faz com que eu siga o caminho até a padaria.

O que me distrai um pouco das minhas preocupações é a pequena comemoração de boas vindas promovida pela minha querida equipe, com direito a um delicioso bolo feito por Lionel e decorado cuidadosamente por Casper.

Depois, quando reassumo algumas tarefas, não consigo me concentrar em nada e, por pouco, não erro algumas receitas de pão e de biscoitos.

Então, no início da tarde, telefono para casa, mas ninguém atende. Ligo para Haymitch e ele disse que Katniss saiu em direção à floresta.

Fico inicialmente preocupado, mas logo penso no quanto ela havia se empenhado para voltar até lá, sem sucesso, e o fato de ter conseguido sair de casa com esse propósito somente pode ser um bom sinal.

Ainda assim, antes de a tarde avançar, volto para a Aldeia dos Vitoriosos.

Entro na sala de nossa casa e o ambiente está vazio e silencioso. Há apenas um bilhete dela sobre a mesa de jantar, informando seu paradeiro.

"Fui à floresta. K.”

Corro os dedos sobre sua caligrafia e sorrio. Acendo a lareira para esperar por ela.

Fico tranquilo e feliz, por finalmente Katniss ter conseguido ultrapassar seu bloqueio, até que trovões anunciam a chegada de uma forte chuva.

As nuvens carregadas ainda estão a uma certa distância.

No entanto, passado um tempo, não hesito em ir atrás dela, pois Katniss não retorna antes de as nuvens escuras cobrirem o distrito.

Os minutos de deslocamento parecem durar uma eternidade.

Chego próximo à cerca e as gotas inicialmente fracas se tornam espessas e me deixam todo molhado. É quando a vejo, encolhida, com os dedos entrelaçados no arame, completamente encharcada.

Ela não conseguiu entrar na floresta.

Katniss havia ficado ali por horas a fio, sem ânimo para dar um passo sequer.

Eu a pego nos braços para levá-la à nossa casa. Por sorte, a lareira já está acesa e posso colocá-la num local próximo, a fim de que se aqueça.

— Você está bem? – pergunto, quando volto com toalhas e um cobertor.

— Sim. Eu acho.

— Pois eu não estou – digo rispidamente e ela arregala os olhos, que só agora estão virados em minha direção. — Eu sei que você não conseguiu atravessar a cerca por causa do trauma. Eu entendo. Mas por que você não voltou pra casa? Por que ficou nessa tempestade, colocando a sua saúde e a sua vida em risco?

— Eu não me importo. Só não queria ver a tristeza que eu causei em você com o que eu disse mais cedo.

— Eu quero proteger você o máximo possível, Katniss, até de você mesma. Eu vi você desistir de tudo, diante dos meus olhos, tantas e tantas vezes… – Passo a mão pelo meu rosto úmido, exasperado. — E imagino que dor maior que essa seja somente a de perder você. O seu sofrimento é meu também, o seu fim é meu fim também. Você não pode se entregar desse jeito. Não pode! Por mim, por você… Por nós!

— Você me desculpa? – Katniss implora e abaixa os olhos, como uma criança arrependida.

— Droga! Eu queria ser igual ao Haymitch e ficar furioso com você! Mas não consigo… – Eu me agacho perto dela, beijando levemente sua têmpora. — Eu amo você – sussurro.

— Eu amo você também – responde Katniss, depois guarda silêncio por um tempo.

Ela está focada no fogo crepitando na lareira.

— No que está pensando? – pergunto.

— Nas chamas. Elas consomem a lenha, transformam tudo em cinzas, roubam oxigênio, destroem tudo o que está em seu caminho. Sou como…

Eu a impeço de terminar a frase, colocando delicadamente meu dedo indicador em seus lábios.

— As chamas também aquecem, iluminam, assam os pães. – Seguro seu queixo para que olhe pra mim. — Assim também são as pessoas. Têm um lado negativo e um lado positivo. Vamos fazer disso um jogo? Vamos nos concentrar no lado positivo e lembrar o que fizeram de bom?

— Com algumas pessoas, é fácil demais fazer esse jogo.

— Quer começar pelas mais difíceis? É um bom exercício – proponho.

— Quem você sugere?

— Capitão Letus Razor.

Katniss se sobressalta ao ouvir este nome, mas se recompõe e me fita detidamente. Através de seus olhos, quase posso ver sua mente trabalhando.

— Ele integrou a Força de Resistência. Ele lutou por anos contra os abusos da Capital. Ele amava a irmã dele incondicionalmente – enumera ela sem interrupções e eu a observo admirado.

— Você se saiu muito bem! É esse o espírito do jogo! Agora é a minha vez – digo. — Há também as pessoas com quem convivemos pouco, mas que nos marcaram profundamente, de um jeito bom. Eu sempre me emociono ao me lembrar da morfinácea do Distrito 6, que me protegeu do ataque dos macacos. Num dia, eu mal sabia que ela era uma vitoriosa que se tornou dependente química e que gostava de fazer pinturas. Dias depois, ela estava dando a vida para me salvar.

— É uma bela lembrança – reflete Katniss, com a luz das chamas dançando em seus olhos lacrimejantes. — Mas, Peeta, você não começou o jogo pelo seu maior desafio.

— Que seria?

— Começar por mim – diz ela prontamente. — Uma assassina egoísta…

— Ei! Você não é nada disso. Você não é uma assassina. Você lutou. É diferente. Muito diferente. Foi uma guerra necessária…

— Com mortes desnecessárias. E eu causei muitas delas.

— Eu sei o porquê de ter feito tudo aquilo.

— Eu também. E não me orgulho. – Katniss faz uma pausa e esfrega os olhos, interrompendo o curso de algumas lágrimas. — Embora você insista em dizer o contrário, eu não sou perfeita, Peeta.

— Não quero que seja. É mais real assim – brinco, mas logo volto a falar seriamente. — Você não precisa ser perfeita aqui. Não precisa ser perfeita em lugar nenhum. Você só precisa se permitir respirar… viver. E isso já me faz feliz.

Ela me olha com esperança e eu a envolvo em meus braços.

Senti tanta falta de estreitá-la junto a mim. Resisto bravamente à vontade de tomar seu rosto e beijá-la agora mesmo.

— Peeta, eu quero respirar, quero viver… - Ela suspira em meu ouvido e minha determinação desaparece.

Levanto delicadamente seu queixo e encontro seus lábios. Eu a beijo com ternura e intensidade. Seus dedos passeiam pelo meu rosto e eu acaricio suas bochechas com meus polegares, enquanto meus outros dedos alcançam sua nuca e a raiz dos seus cabelos.

Eu me afasto quando sinto o gosto salgado das lágrimas dela, que escorrem por seu rosto. Eu enxugo algumas e beijo a ponta do seu nariz.

— Continuando o meu jogo… Você foi a melhor irmã do mundo, você é a pessoa mais generosa e corajosa que eu conheço, você acabou com os Jogos, você salvou tanta gente. E você é o meu tudo – listo e ela finalmente sorri, ainda que de modo tímido.

— Não exagera. – Ela empurra meu peito com o ombro e me olha nos olhos. — Eu lutei por tantas coisas, Peeta, mas ainda sinto que não lutei pelas coisas certas… No final, eu não lutei por ela.

— No final, você lutou por todos. Só quero que se lembre de que a melhor luta, em certos momentos, é buscar a paz.

Ela me abraça num quase desespero e choramos juntos lágrimas de perdão.

— Amanhã, eu me comprometo a acompanhar você até a floresta – ofereço.

Um pequeno sorriso surge em sua face, mas desaparece rapidamente.

— Eu não mereço você – afirma ela.

— Como não, se eu existo pra fazer você feliz? – rebato.

— É sério. Eu não mereço você, Peeta.

— Não fale assim.

— Até o Haymitch sabe disso.

— Haymitch não sabe de nada, Katniss. Eu é que não mereço você.

— Peeta… Talvez Haymitch, você e eu estejamos errados.

— Sim! Definitivamente, nós todos estamos errados! Eu e você merecemos um ao outro. E eu sou feliz ao seu lado, merecendo ou não – concluo.

— Assim está melhor mesmo – concorda ela e ouço a sua risada.

Esse som maravilhoso arranca do fundo do meu peito um suspiro aliviado e apaixonado.

Ela está rindo novamente. Ela está voltando a ficar bem e isso me basta.

— Agora é hora de tirarmos toda essa roupa molhada – sussurro em seu ouvido e, em seguida, fito seus olhos.

A sombra que os cobria até pouco tempo atrás deu lugar ao antigo brilho.

Katniss assente e, mantendo nosso contato visual, ela retira a própria jaqueta e o meu casaco.

Eu puxo para cima a camiseta dela, que ainda está grudada em seu corpo por causa da umidade e o destino dela é onde estão jogadas as outras peças.

E, assim, nós nos despojamos de cada um dos itens que nos cobrem.

Desmancho a trança de seu cabelo e seguro algumas mechas entre meus dedos. Ao soltá-las, acaricio lentamente seus ombros e seus braços, redescobrindo a pele da minha esposa e amante, esperando a sua entrega, a única rendição que desejo dela.

Fico satisfeito em saber que ela continua a se arrepiar quando meus lábios roçam seu pescoço e que, como antes, suas mãos ainda se enterram em meus cabelos, quando beijo seus seios.

Suas costas ainda se arqueiam ao toque da minha língua em toda a extensão do seu ventre e seus dedos também se contorcem em busca de algo em que se agarrar quando minha boca desliza por suas pernas e seus pés.

A corrente de excitação, que nos percorre quando nos atamos no mais íntimo laço entre duas pessoas que se querem, volta a nos fazer estremecer e irromper calor e alívio, complacência e paixão.

Ficamos deitados, entrelaçados, escutando a chuva bater no vidro da janela e observando as pequenas gotas d'água escorrerem rapidamente em sua superfície lisa.

É maravilhoso nos sentirmos novamente confortáveis um com o outro, novamente confortáveis com nosso silêncio, mesmo com antigas dores e novos desafios.

Nesse momento, é como se a nossa única preocupação fosse simplesmente respirar, viver e amar.


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Notas finais do capítulo

Olá, pessoal!

A vantagem de escrever a minha própria fic é que tenho a liberdade de incluir nela tudo o que eu gostaria que existisse na continuação da história.

Por isso, convido quem quiser a me enviar ideias do que gostaria que acontecesse. Se eu conseguir escrever suas sugestões nos próximos capítulos, ficarei imensamente feliz.

Até agora, as oportunidades que tive de atender aos pedidos dos leitores renderam momentos muito legais na fic.

Beijos!

Isabela