A Redenção do Tordo escrita por IsabelaThorntonDarcyMellark


Capítulo 38
O casamento




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Por Katniss

Do outro lado da porta fechada, o burburinho das pessoas volta a preencher o local, depois que Timothy anuncia a minha presença. Haymitch põe minha mão sobre o braço dobrado dele e Greasy Sae posiciona Daisy para entrar antes de nós.

— Pronta? – Haymitch pergunta e eu aquiesço. — Então, vamos começar a contagem de sessenta segundos antes de os Jogos começarem. Eu faço a voz de locutor do Claudius Templesmith.

— Haymitch, eu já estou nervosa. Não comece com suas brincadeiras.

— A contagem não é pra você, não. É para o Peeta.

— Muito engraçado! Eu ouvi você dizer a ele que conviver comigo é igual a enfrentar uma arena por dia!

— Isso era pra ser um elogio, docinho. Nada de monotonia ao seu lado…

Antes que eu pudesse responder ao Haymitch, a música suave que marca o início da cerimônia invade os meus ouvidos. A porta de entrada para a área externa do hotel se abre vagarosamente e Daisy dá os primeiros passos, derramando pelo caminho as pétalas de flores que estão num cestinho.

Pollux está filmando ao lado de Cressida, enquanto Blaine faz algumas fotos com a câmera que Annie deu de presente a Peeta.

Enquanto Peeta não está em meu campo de visão, ainda consigo observar as pessoas reagindo à minha entrada, como se uma onda de discreta admiração percorresse o local.

No entanto, quando meus olhos alcançam os olhos dele, é como se nada mais existisse ao meu redor. Ele está impecavelmente vestido num de seus ternos claros, desenhados por Portia na época da Turnê da Vitória, com os cabelos arrumados para trás.

Da minha perspectiva, capto o exato instante em que Peeta se dá conta do que está, de fato, acontecendo. E é um momento único. 

É tudo muito rápido. Assim que me vê, o primeiro reflexo dele é o de querer andar até mim. No entanto, Timothy o retém pelo braço. O entendimento surge em seu semblante apenas no instante seguinte, quando sua atenção deixa de se fixar apenas em minha chegada e se amplia para tudo o que se desenrola diante dele. A música, Haymitch de braços dados comigo, o buquê de flores em minhas mãos, Daisy caminhando à nossa frente.

A confusão inicialmente presente em sua face vai se transformando num sorriso amplo e comovido. Ele leva as mãos ao rosto e sacode a cabeça de um lado a outro discretamente, como se não acreditasse.

Eu sorrio de volta e balanço ligeiramente a cabeça de modo afirmativo, liberando toda a tensão que me fazia apertar o buquê e o braço de Haymitch com toda a força.

Sentindo meus dedos aliviarem a pressão, Haymitch ri e põe a sua mão livre sobre a minha mão que está em seu braço.

Não posso impedir a emoção de nublar minha visão. Esse momento é infinitamente lindo, especialmente por ser um sonho de Peeta: observar-me caminhando em sua direção, vestida de noiva.

Ao ver a sua expressão maravilhada, entendo que também é um sonho meu fazer esse percurso até Peeta, para ele me receber e para eu recebê-lo… Para recebermos um ao outro em matrimônio.

O sol se pondo atrás das copas das árvores mistura as nossas cores preferidas e emoldura toda a cena.

Nossos olhos não se desgrudam, até que Peeta se abaixa para abraçar Daisy ao recepcioná-la. Quando chego ao altar improvisado, afago os cabelos da menina, em agradecimento por ter cumprido seu papel tão graciosamente. Em seguida, Haymitch beija a minha testa e o topo da cabeça de Peeta e, somente então, entrega minha mão a ele.

Antes que Peeta me leve até perto de Timothy, minha mãe estende o braço para que eu deixe o buquê de flores com ela. É a oportunidade que tenho de ver o seu sorriso, apesar de seu rosto estar banhado em lágrimas, e de receber também um beijo dela em minha testa. Percorro os olhos pelos convidados presentes e vejo em todas as faces, sejam de pessoas próximas ou não, felicidade e gratidão.

Sinto uma lágrima quente descer por meu rosto, porém não a enxugo. Peeta faz isso, com o lenço que traz em seu bolso. Seguro sua mão em minha face e, quando ele novamente se fixa em meus olhos, digo baixinho:

— Feliz aniversário, meu amor!

— Mais feliz do que você está me fazendo sentir? É impossível! – sussurra ele de volta.

Timothy pigarreia e interrompemos nossa mútua contemplação. Ele usa o microfone para se dirigir a nós dois:

— Peeta e Katniss, a trajetória de vocês é algo tão surpreendente que não é de se espantar que esta união se consolide numa cerimônia de casamento surpresa. O que seria apenas um anúncio do casamento passou a ser uma verdadeira celebração e eu me sinto muito honrado de participar desse passo tão importante de vocês. Muitas vezes, as surpresas da vida são melhores do que o que foi planejado. Espero que se sintam assim para dar o seu consentimento ao início de uma vida a dois, na presença das testemunhas aqui neste lugar.

Eu e Peeta assentimos prontamente.

— Katniss e Peeta, vocês vieram aqui para se unir em matrimônio. Por isso, eu pergunto perante todos os presentes: é de livre e espontânea vontade que o fazem?

— Sim! – respondemos juntos.

— Deem-se as mãos, por favor – pede Timothy e entrelaçamos nossos dedos. — Agora, vocês podem fazer os votos tradicionais.

Diante de mim, Peeta declama as frases tão conhecidas:

— Eu, Peeta, recebo você, Katniss, como minha esposa. Prometo ser fiel, amá-la e respeitá-la, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, por todos os dias da nossa vida.

Temo atropelar as palavras quando chega a minha vez, mas eu consigo dizer tudo:

— Eu, Katniss, recebo você, Peeta, como meu esposo. Prometo ser fiel, amá-lo e respeitá-lo, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, por todos os dias da nossa vida.

— Se vocês quiserem, podem recitar os votos que, por acaso, tenham preparado um para o outro – propõe Timothy.

Eu e Peeta nos entreolhamos alarmados, pois não redigimos nada do tipo, considerando que, até ontem, não seria necessário, já que não haveria esta cerimônia.

— Pelo visto, vocês não prepararam votos. Afinal, nem sabiam que estariam aqui nesse momento. – Timothy não se abala. — Vou sugerir a vocês uma coisa. Mas, antes, preciso contar uma história. – Ele procura a esposa com o olhar e, quando a localiza, ela consente por meio de um gesto de cabeça. — Por circunstâncias da vida, quando eu e minha mulher nos unimos, nós não pudemos declamar os nossos votos em uma cerimônia como essa, mas cotidianamente vivenciamos esses votos não professados em todos esses anos de caminhada juntos. Porém, há momentos na vida de um casal em que é preciso lembrar e dizer em voz alta os motivos de termos escolhido aquela pessoa para estar ao nosso lado. Então, sempre que possível, ou sempre que necessário, nós fazemos um exercício simples: um de nós diz uma frase que o outro deve complementar em seguida e assim sucessivamente… Vocês aceitam a minha sugestão?

A princípio, a ideia me parece encantadora. No entanto, minha timidez ainda me trava.

— Pode ser assim? – Peeta me pergunta e sua voz me transmite a segurança de que preciso.

— Pode – concordo. — Mas eu não sei como começar…

— Vocês podem trocar frases que, de preferência, têm um significado na sua história e que vocês queiram compartilhar com todos aqui.

— Eu começo, então. – Tomo coragem.

Peeta beija minha testa. Depois, corre seu dedo gentilmente por meu rosto e volta a segurar minha mão. Seus olhos estão tão brilhantes, que eu fico momentaneamente distraída. Preciso piscar algumas vezes para começar a falar.

— Meu dente-de-leão na primavera…

— …Minha flor de katniss na… Hum… Ela floresce em qual estação do ano mesmo? – pergunta ele, franzindo a testa, e eu rio discretamente de sua tentativa.

— Você é o que se sai bem com as palavras – enfatizo em tom baixo e somente Peeta e Timothy ouvem.

— Acho que consigo fazer melhor do que isso nas próximas frases – murmura Peeta, coçando a nuca. — Estou nervoso… Pode recomeçar.

— Meu garoto com o pão…

— …Minha garota em chamas.

— Meu belo padeiro…

— …Minha linda caçadora.

— Você é tão doce…

— …Você é tão corajosa.

— Peeta, eu preciso da sua bondade…

— …Eu preciso da sua força.

— Admiro sua maneira de sempre promover a paz…

— …Admiro sua maneira de proteger quem você ama, Katniss.

— Suas pinturas tocam a minha alma…

— …Sua voz faz os pássaros se calarem.

— Nós somos tão diferentes…

— …Nós fomos feitos um para o outro.

— Você me completa…

— …Eu sou todo seu.

— Minha esperança…

— …Meu amor, o amor da minha vida.

Eu suspiro profundamente, ainda surpresa pela quantidade de frases que fui capaz de falar. Timothy aproveita essa interrupção para continuar:

— Vocês estão com as alianças?

— Eu trouxe comigo, pois ia precisar delas para o ritual com os pães. – Peeta retira a pequena caixa do bolso e a abre.

— Muito bem. As alianças que agora serão trocadas traduzem a promessa recíproca de proteção, fidelidade e amor.

Depois de beijar a aliança de tamanho menor, Peeta a desliza em meu dedo anelar esquerdo:

— Katniss, receba esta aliança, em sinal do meu amor e da minha fidelidade.

Seus olhos azuis me encaram fascinados, enquanto encosta seus lábios em minha mão. Esse momento é infinitamente mais tocante do que eu jamais poderia ter imaginado.

Eu também deposito um beijo em sua aliança e minhas mãos tremem quando vou colocá-la em seu dedo, mas ele nota a dificuldade e guia meus movimentos.

— Peeta, receba esta aliança, em sinal do meu amor e da minha fidelidade.

Levo sua mão aos meus lábios também.

— Pelo poder em mim investido pelo governo de Panem, eu vos declaro marido e mulher. Você pode beijar a noi… – Peeta nem espera Timothy terminar de falar para colar sua boca na minha. – …va.

Não somos aplaudidos, como se costuma fazer. Somos mais uma vez saudados pelo assobio de quatro notas, que é reproduzido por alguns tordos que sobrevoam o local. Quando nos separamos do beijo e olhamos ao redor, todos os presentes estão com a mão esquerda erguida e com os três dedos centrais levantados.

Peeta aperta minha mão e repetimos o gesto, primeiro um para o outro e, depois, para os convidados.

Agradecemos a Timothy por ter conduzido de modo tão emocionante a cerimônia do nosso casamento.

Saio de braços dados com Peeta e Effie nos indica que devemos ir até a mesa do bolo. No entanto, antes de percorrermos o corredor até lá, eu e Peeta a envolvemos num abraço de reconhecimento por ela ter conseguido transformar o que seria um simples anúncio numa bela celebração.

— Obrigada, Effie! – digo.

— Você continua sendo a melhor escolta, a melhor organizadora de eventos e a melhor controladora de horários que existe! – Peeta exagera.

— Oh, meus queridos, parem com isso! – balbucia ela com os olhos úmidos. — Vamos logo! Já para a mesa do bolo.

Vejo o bolo e sorrio. Peeta fez mais alguns confeitos nele que eu não havia visto e que remetem a nós dois. Flores de katniss, dentes-de-leão, tordos e pérolas.

Nós pretendíamos cortá-lo de imediato, mas as crianças pediram que cantássemos ‘parabéns’ para Peeta antes disso. Então, apenas depois de fazermos a alegria dos pequenos, cortamos juntos o bolo e dividimos o primeiro pedaço, brindando com um pouco de champanhe.

Delly se aproxima de mim sorrateiramente, segredando em meu ouvido.

— Sabe aquela ideia que eu tive quando você disse que se sentia como a garotinha que ergueu o braço na aula de música no primeiro dia de aula?

Eu balanço a cabeça afirmativamente.

— Por acaso, eu colocaria minha vida em risco, se eu fizesse você cantar na frente de todas essas pessoas? – pergunta ela e agora eu imagino o que está planejando.

— Estou feliz demais pra isso, Delly!

Em seguida, ela vai até os músicos e pergunta se eles sabem tocar a Canção do Vale. Quando eles respondem que conhecem a melodia, Delly pega um microfone e fala entusiasmada:

— Queridos convidados, peço a atenção de vocês por um instante. – Delly espera que as vozes se aquietem e continua. — Vamos voltar no tempo? A um dos dias mais importantes da vida do nosso querido casal? Alguém arrisca um palpite de qual foi esse dia?

— A colheita! – Haymitch grita a certa distância.

— Esse dia foi importante também, Haymitch, mas não é dele que estou falando – prossegue Delly. — Das pessoas aqui presentes, acho que eu era a única que também estava lá. Eu mesma não me lembro muito bem, mas o Peeta guardou esse dia com carinho em sua memória e, por isso, aqui estamos nós.

Delly e Peeta se entreolham e acontece um daqueles momentos de entendimento sem palavras entre eles. Peeta abre um lindo sorriso.

— E esse dia começou mais ou menos assim: Alguém aqui conhece a Canção do Vale?

Levanto minha mão rapidamente e todos os olhares se voltam para mim. O mais perplexo deles é o do próprio Peeta.

Eu realmente não acredito que estou fazendo isso! No entanto, a vontade de ver a reação de Peeta fala mais alto.

Eu me aproximo de onde Delly está e ela me entrega o microfone. Os instrumentistas tocam os acordes da música e eu canto as primeiras estrofes. Fico muito nervosa no início e não consigo encarar ninguém à minha frente.

Fecho os meus olhos e me acalmo depois que muitas imagens vêm à minha mente. Meu pai me ensinando a letra e a melodia da Canção do Vale, eu embalando Prim ao som dessa mesma música e, finalmente, eu cantando na assembleia musical da escola.

Abro meus olhos, mantendo-os fixos no chão, até que ergo meu olhar até Peeta e fico feliz por não perder a segunda oportunidade de testemunhar seu ar admirado em minha direção ao entoar essa canção. Seus olhos azuis, iluminados pelas lágrimas, arrastam-me para outra dimensão.

Ao fim da canção, abaixo o microfone e os instrumentistas logo começam a tocar a música para o primeiro baile dos recém-casados.

Quando Peeta vem me buscar para dançar, parece que vou explodir de felicidade.

— É uma surpresa atrás da outra nesta noite – comenta ele.

— Timothy tem razão. Se tudo isso fosse planejado, não teria sido tão perfeito.

— Eu sempre desejei tanto esses momentos. – Peeta me conduz suavemente pela pista de dança.

— No fim das contas, viver tudo isso passou a ser um desejo meu também. Você consegue acreditar?

— Como Delly disse, aqui estamos nós! É real. – Peeta me estreita mais junto dele.

Após alguns minutos, eu avisto Gale caminhando até nós.

— Hey, Catnip!

— Oi, Gale – eu o saúdo de volta.

— Peeta, queria saber se eu poderia ter a honra de dançar com minha companheira de caça no dia de seu casamento.

— Honra concedida – afirma Peeta e Gale pega a minha mão, passando a guiar os movimentos da dança.

— Eu já havia percebido como você estava diferente nas vezes em que vim ao Distrito 12. Porém, hoje você está irreconhecível – confessa Gale.

— E isso é bom?

— É ótimo! Mas, pensando bem, depende do seu ponto de vista…

— Como assim?

— Se Plutarch já estava de olho no Peeta para ser um astro da TV, depois de hoje, ele vai querer lançar você ao estrelato no mundo da música.

— Ele já me fez essa proposta uma vez. – Lembro-me da nossa conversa no aerodeslizador, quando retornei ao Distrito 12.

— Tenho a impressão de que ele vai insistir com a ideia.

— E vai ouvir um sonoro… Não! - Nem termino de pronunciar a última palavra, Plutarch se materializa ao meu lado, pedindo permissão para dançar comigo.

Continuo não me sentindo à vontade quando outras pessoas me tocam e Plutarch ainda sabe disso, mantendo certa distância, como na primeira vez em que dancei com ele, na mansão de Snow.

— Eu sempre me surpreendo com a espontaneidade do Distrito 12, mas hoje vocês se superaram – afirma ele.

— Foi surpresa até para o noivo!

— E o que foi você cantando a Canção do Vale, Katniss? Você já é um sucesso! – elogia. — Não é do meu feitio desperdiçar tanto talento.

— É uma pena que seja do meu feitio deixar tudo como está.

— Não há nada que eu possa fazer a respeito?

— Nada mesmo. – Encolho os ombros.

Busco Peeta com o olhar para que venha me resgatar, mas ele está sendo parabenizado por Thom e outros rapazes da cidade.

Vejo que minha mãe está conversando com a mãe de Gale, Hazelle, e seus três outros filhos, Rory, Vicky e Posy, que estão bem crescidos desde a última vez em que os vi. Todos acenam para mim, quando percebem que estou observando-os de longe. Rory tem a idade que Prim teria, se estivesse aqui, e agora é um belo rapaz.

A música acaba e Plutarch avisa que vai se juntar a Beetee, Gale, Cressida e Pollux numa mesa próxima. Eu o acompanho e o olhar de Peeta me segue enquanto saio da pista de dança. Chegando à mesa com Plutarch, recebo as congratulações de todos.

Pollux gesticula para mim, dando a entender que ficou muito emocionado com a noite de hoje.

— As imagens ficaram espetaculares, Katniss – informa Cressida e apoia sua mão sobre o ombro de Gale, quando ele dirige a ela um olhar seguido de um sorriso.

— Se você quiser, posso interromper a programação da televisão agora mesmo e fazer uma transmissão dos melhores momentos para toda a Panem – sugere Beetee. — A Capital não ofereceria resistência dessa vez. – Ele aponta para Plutarch, que ergue a taça que acabou de pegar numa bandeja.

— Definitivamente não, Beetee! – Plutarch completa.

— Agradeço a oferta, mas eu já fui protagonista de transmissões desse tipo mais vezes do que eu gostaria.

Logo depois, minha mãe vem até mim para se despedir e, assim, recolher-se ao seu quarto no hotel.

— Filha… – Minha mãe pega uma de minhas mãos. Peeta se aproxima e ela alcança uma das mãos dele também. — Meus filhos, vocês merecem toda a felicidade estampada nesses sorrisos.

— Obrigado por ter vindo, Sra. Everdeen.

— Quando você volta para o Distrito 4, mãe?

— Amanhã à tarde – responde ela e meu coração se aperta. — Mas não vou demorar a voltar aqui.

Minha mãe me devolve o buquê de flores e, antes de sair, beija o meu rosto e o rosto de Peeta.

Annie também vem avisar que vai pra casa de Peeta em poucos minutos, pois a viagem alterou muito a rotina do bebê e já passou da hora de ele dormir.

Peeta pega o pequeno Finnick no colo e, antes de Annie sair com o filho, felizmente houve tempo suficiente para contemplar alguns momentos adoráveis de interação entre os dois, antes de Finn dar sinais de cansaço.

Assim que Annie deixa a festa, Peeta me apresenta à médica que cuidou dele na Capital e ao namorado dela, que é um dos médicos que trabalha com a minha mãe no Distrito 4.

— Katniss, melhor do que ninguém, você sabe o tesouro que tem a seu lado – reconhece a Dra. Ceres, ao me cumprimentar.

— Pelo que sua mãe conta a seu respeito, Peeta é um cara de sorte também. – Ouço o elogio do Dr. Augustus e me sinto lisonjeada e curiosa sobre os comentários da minha mãe sobre mim.

Após recebermos mais alguns cumprimentos e votos de felicidade de outros convidados, Johanna e o noivo param de dançar por uns minutos para conversarem conosco. Maximus quase esmaga Peeta num abraço, de modo que apenas estendo minha mão para ele quando somos apresentados, mas ele ignora meu gesto e faz o mesmo que fez com Peeta.

— Se você não puder ir ao nosso casamento no Distrito 4, eu e Johanna viremos nos casar aqui no Distrito 12, só pra você participar! – Ele parece falar sério.

— Que honra! – digo sem jeito.

— Eu já sei que você está pensando é no bolo de casamento que eu faria aqui… – Peeta brinca. — Mas tenho esperanças de que, em breve, Katniss poderá ir para onde quiser e eu farei o bolo de vocês, seja aqui, seja no Distrito 4.

— É assim que se fala, padeiro! – Johanna puxa Max de volta para a pista de dança.

Depois, Timothy se aproxima de nós e informa:

— Quando quiserem, eu forneço os formulários que vocês devem preencher para oficializar o casamento. Assim, você pode assumir seu novo nome, Katniss.

— Seria uma honra para mim se ela carregasse também o meu nome, mas eu prefiro que ela continue sendo Katniss Everdeen. Esse nome é muito especial, não só pra ela e pra mim, mas para toda a Panem – afirma Peeta.

— Atualmente, é possível manter o nome de solteira, se você optar por isso, Katniss – explica Timothy.

— Perfeito! Assim, nossos filhos poderão ter o sobrenome Everdeen Mellark— diz Peeta, entusiasmado, lançando uma piscadela pra mim.

— É uma ótima ideia. – Timothy demonstra seu apoio e logo se afasta, deixando-nos a sós.

Nossos filhos, Peeta?

— Você disse que eu poderia tentar convencê-la. Minhas tentativas acabaram de começar.

— Tenho que reconhecer que foi um bom começo. – Empurro seu ombro com o meu. — E já que você mencionou… Eu gostaria que o meu sobrenome fosse igual ao que você pensou para os nossos filhos. Everdeen Mellark.

Peeta arregala os olhos.

— Puxa! Eu já convenci você? Com apenas uma tentativa?

— Você me convenceu apenas a mudar meu sobrenome. Não cante vitória antes do tempo! – Eu o abraço e aperto minha cabeça em seu peito.

Ficaria junto a Peeta dessa maneira por um bom tempo, se não fosse a voz estridente de Effie chamando meu nome.

— Katniss, você se esqueceu de jogar o buquê! – ralha ela comigo. — Vou reunir as meninas. Não saia daqui!

Peeta sorri pra mim de modo compreensivo e espera Effie se afastar para dizer.

— Tive uma ideia. – Ele se coloca à minha frente, olhando para os lados, querendo ocultar o que está por fazer.

Peeta pega o buquê de minhas mãos e desamarra a fita amarela que mantém as flores unidas.

— Assim está melhor. – Ele me devolve o ramalhete e guarda a fita no bolso de sua calça sorrateiramente. — Vai sobrar um pouco do buquê pra todas as solteiras.

— Eu adorei a ideia. Mas será que Effie vai gostar disso?

— Duvido muito que ela fique chateada, se conseguir pegar alguma coisa. Mas, se ela brigar com você, pode me dedurar. – Ele me dá um beijo rápido ao ver Effie voltando, acompanhada das convidadas que estão animadas para se casar.

Viro-me de costas para elas assim que sinalizam que estão todas prontas.

— Vou contar até três! – anuncio.

Pollux está posicionado num bom ângulo para filmar, sem a ajuda de Cressida, que está atrás de mim, também esperando pegar o buquê.

— Um, dois… três!

Lanço o objeto cobiçado para o alto e uma chuva de flores, folhas e pétalas se espalha pelo ar e pelo chão. 

Como Peeta previu, todas conseguem pegar um pouco do que era o buquê: Johanna, Effie, Delly, Cressida, Violet, Dra. Ceres, Venia, Octavia… até Flavius guarda disfarçadamente alguns ramos que caíram perto dele.

Daisy, Posy e Camellia se encarregam de recolher as flores que sobraram, fazendo algazarra.

— Lindinha, você comprometeu todos os homens solteiros da festa! – Haymitch brinca.

— Você não gostou, Haymitch? – Effie pergunta, sacudindo em sua mão as flores que pegou.

— Eu gostei até demais, Effie – desconversa ele, levando-a para dançar.

Olho à minha volta e observo feliz que cada um está se divertindo à sua maneira.

Minha equipe de preparação está se deliciando com a comida. As crianças correm por toda a parte. Os casais dançam juntos.

Meus olhos param em Peeta, que me abraça pela cintura.

— Hora de ir para casa? – questiona ele com voz suave.

— Para a nossa casa.

Os antigos habitantes do Distrito 12, acompanhados dos demais convidados, caminham conosco até a entrada da Aldeia dos Vitoriosos, entoando a canção nupcial tradicional do nosso distrito, quando estamos a ponto de cruzar o limiar de nossa casa.

"A felicidade se resume em
Aprender a partilhar 
Pequenas e grandes coisas 
Com aqueles que a vida nos deu 
Para amar
Que este dia de festa seja apenas
O início de uma vida repleta
De conquistas e de alegrias
Para o casal que se completa"

 

Quando todos terminam de cantar, Haymitch dá um assobio e exclama:

— Um viva aos noivos!

— Viva! – repetem todos em coro.

Estamos em frente à escada que leva à minha casa. Agora, a nossa casa.

Antes que eu suba o primeiro degrau, Peeta me pega em seus braços e sobe comigo em seu colo.

— Foi assim que sempre sonhei – sussurra ele em meu ouvido.

— E com o que mais você sonhou? – pergunto, inspirando o perfume de seu pescoço.

— Na verdade, eu estou sonhando acordado. – Ele sorri pra mim. — Mas, respondendo à sua pergunta… É surpresa. Você vai saber já, já. Tudo o que era apenas sonho pra mim… vai se tornar realidade – promete ele, fitando meus olhos.

Peeta fecha a porta atrás de nós. Ele me deposita com suma delicadeza no chão da sala. Eu o puxo para perto e ele faz o mesmo em direção a mim.

— Você me permite? – pergunto, emaranhando meus dedos por seus cabelos perfeitamente penteados para trás e soltando um a um seus cachos, que agora caem por sua testa. — Eu prefiro assim.

— Fique à vontade. Hoje não é um bom dia para reclamar com você por bagunçar meu cabelo.

Peeta desliza seu polegar gentilmente pelo meu lábio inferior, olhando fixamente em meus olhos, até sua boca tocar a minha, num beijo caloroso. Deixo de pensar. Depois de alguns segundos, nossos lábios se abrem, nossas línguas se encontram e seus braços me levam para mais junto dele. Quando inclino minha cabeça, ele aprofunda nosso beijo e, ao fazer isso, incendeia cada centímetro do meu corpo, que clama por mais e mais desse maravilhoso contato.

Durante aquele beijo especial que trocamos na caverna da primeira arena, eu senti um frio em minha barriga pela primeira vez. Nossos beijos intensos na praia da arena-relógio apagaram da minha mente todos os momentos entre nós que não haviam significado nada ou apenas sofrimento, por serem uma encenação. Esta foi a intensidade do que senti nos braços de Peeta naquela ocasião, que agora parece tão distante, depois de tantos encontros e desencontros.

No entanto, o que está se passando agora é algo que nunca aconteceu antes comigo e vai além de qualquer coisa que eu possa descrever.

Nesse exato momento, experimento a sensação quente dentro de mim, que cresce e se espalha para fora do meu peito, descendo pelo meu corpo, ao longo dos meus braços e pernas, para as pontas do meu ser. Mas é muito mais forte, é pulsante.

Seus dedos acariciam levemente as minhas costas na parte não coberta pelo vestido, fazendo um arrepio de antecipação descer por minha espinha, já pensando em seu toque quando descobrir cada parte do meu corpo.

Peeta está plenamente no controle, o que fica evidente quando me olha de modo febril, circundando meu tronco com segurança em seus braços. Um suspiro suave escapa de mim.

Nós compartilhamos mais um beijo longo e seus lábios quentes descem por toda a extensão do meu pescoço. Sinto o desejo para o que está para acontecer me consumir por inteiro.

Tal como ocorreu na arena-relógio, em vez de me satisfazerem, os beijos de Peeta têm o efeito oposto, fazendo a minha necessidade ficar ainda maior.

Eu me solto dele e fixo meus olhos nos seus por alguns segundos, que parecem uma eternidade. Não posso mais esperar. Não preciso mais esperar. Seguro em suas mãos e o conduzo até a sala.

— Ainda temos um ritual a cumprir – recordo com carinho e me afasto para pegar o cesto com o pão.

Quando retorno, ficamos de frente um para o outro e seus dedos acariciam minha trança bagunçada, levando o tempo necessário para seguirem desde a raiz dos meus cabelos até as pontas, retirando algumas das flores que se encontram presas neles. Seus lábios umedecem meu ombro e eu estremeço.

Peeta me rodopia e me abraça por trás. Quando seu peito está em minhas costas, ele diz:

— Quer saber um segredo? – Sua voz faz nossos corpos colados vibrarem e me deixa arrepiada. — Eu também estou com medo. Eu também não sei nada. Mas é melhor estar com medo ao seu lado e aprender tudo com você.

— Juntos? – pergunto e ele não hesita em responder:

— Juntos!

 


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Notas finais do capítulo

Olá, pessoal!

O que vai acontecer no próximo capítulo, hein??? Vocês decidem!

Vou fazer uma enquete e aguardo os votos nos comentários. Essas são as duas opções:

(a) a noite de núpcias;

(b) uma passagem de tempo de cinquenta anos, pois a noite de núpcias é algo muito previsível e é bom manter a originalidade.

Brincadeirinha...

O próximo capítulo já está mais do que decidido e não deve demorar a sair!

Pode deixar que eu não me esqueci de que antes tem que acontecer o ritual com os pães...
É que tive uma ideia que funciona melhor sob o ponto de vista do Peeta, vocês vão ver só!

Beijos!

Isabela