A Redenção do Tordo escrita por IsabelaThorntonDarcyMellark


Capítulo 37
Preparativos


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoal!

Como havia avisado anteriormente, chegou o dia do aniversário do Peeta e do casamento Peetniss (um pouco diferente, com algumas boas surpresas, mas, ainda assim, um casamento!).

Porém , só consegui terminar a primeira parte desse acontecimento tão especial.

Confesso que estou aliviada de ter chegado até aqui, nesse momento de felicidade para nossos heróis tão sofridos.

Então, nada melhor que uma data festiva como essa para exercer um pouco de gratidão!

Gostaria de agradecer nominalmente (ao menos, com o username) a todas as pessoas que, de alguma forma, participaram da caminhada até aqui, favoritando, comentando, acompanhando, enviando mensagens privadas, dando sugestões (ainda não tenho nenhuma recomendação, mas não perco as esperanças)!

Tenho um carinho imenso por todos os leitores, mas muitos permanecem quietinhos, de modo que não pude incluí-los na lista abaixo (utilizei os usernames que aparecem nas minhas notificações... aparentemente, o Nyah! não disponibiliza todos os perfis de quem acompanha e, por isso, não consegui relacionar todos aqui, mas vocês moram no meu coração também):

AnnieWalker
Ba
BabsMiranda
Brenda
Carol Mellark
CHALOM
Colin ODonodomeuser
Delirium Arkham
Dreamy Girl
Elo
EverMellark
Evy Bianchi
Fernanda G
H94
Hannah Montana
HayffieMica
helena94
Jade
Karol Books
Luana Pires Nascimento
Luna
Malu Péres
Miss Snow
Mochileira Anônima
MoonGobletOUAT
Paty Everllark
Paulinha
Psylocke
Quinn
RaynaMellark Jackson
Rebeca Woset
Samara Máximo
SelRegina
shadowhunter
Solzinhoruh
Thais Costa
Theobella
Tributo com Jujuba
Yasmin
Yêda
Zaheria

Sou muito grata!!!

Ao capítulo!



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Por Katniss

Acordo sozinha em meu quarto. Sento-me na cama e olho em volta. Não há sinal do meu futuro marido, nem mesmo de Buttercup, o que é muito estranho.

Mesmo nas vezes em que Peeta me deixa dormir um pouco mais para preparar nosso café da manhã, Buttercup geralmente fica aconchegado perto de mim, mantendo-se aquecido.

— Peeta! – chamo e ele não atende.

Esfrego os olhos, ainda sonolenta, e tento ver as horas no relógio que está na cômoda. Não é mais tão cedo e, num dia normal, Peeta já teria trazido alguma coisa para eu comer.

Para me certificar de que a noite passada, em que ajudei nos retoques finais do bolo de aniversário de Peeta – na verdade, o nosso bolo de casamento –, não foi apenas um sonho, procuro em minha mão o meu anel de noivado.

O desespero toma conta de mim. A aliança não está no meu dedo anelar direito.

Desperto completamente com o susto. Meu coração desacelera somente quando me lembro de que, ontem, Peeta voltou a guardar os anéis de seus pais no cofre, pois ele encomendou alianças novas para trocarmos nessa noite, durante o ritual com os pães.

Quase ninguém sabe da nossa decisão de nos casarmos hoje. Apenas minha mãe, que não me deu certeza de que compareceria à festa, pois uma das pessoas a quem ela dá assistência no Distrito 4 está com a saúde muito debilitada. Ao menos, foi a justificativa dela.

Balanço a cabeça para afastar qualquer pensamento negativo nesse dia tão especial… O aniversário de Peeta e o nosso casamento.

Além das pessoas do Distrito 12, ele convidou quase todos os vitoriosos e os amigos que fez na Capital e no Distrito 4. O hotel do nosso distrito foi praticamente todo reservado para eles. Por esse motivo e em razão de uma futura parceria que se desenha entre a padaria e a administração do hotel, é lá que acontecerá a festa.

Boa parte da comida e o bolo estão a cargo de Peeta, porém a administradora do hotel se prontificou a decorar e organizar a recepção, bem como a disponibilizar uma equipe para atuar na cozinha, o que alivia bastante as responsabilidades de Peeta como anfitrião.

Foi um belo presente de aniversário da administração do hotel, que reservou uma área externa e arborizada para a festa.

Isso é importante, pois Peeta quer fazer o anúncio do casamento durante o pôr do sol. Como ainda é verão no hemisfério norte e o sol se põe bem mais tarde que durante as outras estações do ano, todos os convidados devem chegar a tempo de ouvir a novidade.

Algumas poucas pessoas se hospedarão na Aldeia dos Vitoriosos. Annie e o bebê ficarão na casa de Peeta e Johanna e o noivo, na casa de Haymitch. Effie conseguiu alguns dias de folga e também estará aqui no Distrito 12.

Respiro fundo, pensando em tudo o que me reserva essa data. Porém, nesse exato momento, continuo intrigada com o silêncio da casa.

Com a pulsação mais controlada, eu cuidadosamente deslizo para fora da cama, deixando de lado os chinelos, para evitar produzir qualquer ruído. Abro a porta do quarto e fico à espreita. Não ouço nada.

— Peeta? – repito e a preocupação atinge níveis altíssimos quando não obtenho nenhuma resposta.

Desço as escadas devagar e, na cozinha, reparo que ele já havia misturado os ingredientes para alguma receita. No entanto, deixou tudo sobre a pia, sem terminar o que havia começado. Não há nenhum bilhete à vista.

Começo a distinguir sons de vozes do lado de fora da casa. Será que os convidados dos outros distritos e da Capital já chegaram e vieram nos visitar? A pergunta é respondida quando a porta da sala é aberta de supetão.

Venia, Flavius e Octavia. Minha equipe de preparação invade a casa sem cerimônias, seguida por Delly, que traz Buttercup no colo.

— Nós arrancamos o Peeta da cozinha e já o expulsamos daqui! – Venia esclarece o motivo do sumiço dele e, depois, aponta para Buttercup. — Esse gatinho valente foi atrás de nós para defendê-lo!

Os três carregam suas malas com seus milagrosos instrumentos de tortura e já se aproximam de mim com mãos ávidas e olhos atentos, apertando, puxando e avaliando todas as imperfeições que devem ser corrigidas.

— O que significa isso? – pergunto. — Vocês não estão aqui a trabalho! São apenas nossos convidados, quer dizer, convidados do Peeta para o aniversário dele.

Todos me encaram com ar travesso, exceto Delly, que me observa mortificada.

— Katniss, eu não sabia sobre a história do vestido que Cinna fez pra você. Venia me perguntou o que você usaria na festa e eu contei… Achei que não fosse segredo. Então, ela cismou que você e o Peeta pretendem se casar hoje, porque ela tem certeza de que seu novo vestido é, na verdade, um vestido de noiva! – Delly parece ainda mais confusa por eu não desmentir imediatamente a descoberta sagaz de Venia. — Você não está negando… Então, é verdade?

— Sim – confirmo hesitante, mas abro um pequeno sorriso ao vislumbrar o semblante alegre de Delly. — Eu e Peeta estávamos planejando contar durante a festa.

— E o melhor é que Peeta não sabe que nós sabemos! Para todos os efeitos, estamos aqui para arrumá-la para a festa de aniversário! – Octavia fala animada, mas logo torce o nariz ao segurar minhas mãos e ver o estado das minhas unhas.

— Nós prometemos sigilo total! – Flavius garante. — O importante é que você vai ser arrumada para o seu casamento pela sua equipe de preparação, justamente como deve ser.

Delly se espanta ao ver o arsenal de objetos esquisitos que eles retiram de suas maletas.

— Não se preocupe, Delly. Eu posso lidar com eles – resmungo entre um meio sorriso e ela põe Buttercup no chão, fazendo menção de se retirar. — Só que você vai lidar com eles também… Tudo bem pra vocês? – pergunto para a minha equipe de preparação.

Seguro a mão de Delly, que sorri amarelo, sem saber se fica feliz ou preocupada com a minha proposta.

— Tudo ótimo! – Venia exclama, já repetindo em Delly a análise minuciosa que estava fazendo em mim.

— Então, ao trabalho! – Octavia brada.

— E que trabalho! Repararam nessas unhas e nesses cabelos? – Flavius assume um ar dramático.

— Eu só tenho uma condição – exijo e os olhares de todos se voltam para mim. — Cabelo e maquiagem devem ficar do jeito que eu quero. Nada de exageros.

— E desde quando somos exagerados? – Octavia põe a mão no peito, ofendida.

— Apenas para os padrões simples do Distrito 12, pois vocês são muito talentosos. – Delly ameniza o clima e eu concordo, balançando afirmativamente a cabeça.

A partir de então, eu e ela estamos entregues aos cuidados dos três, que me dão um tempinho apenas para tomar café da manhã.

Depois de sessões de hidratação, manicure, pedicure, depilação e maquiagem, finalmente estou com o meu vestido branco nas mãos para vesti-lo. A minha querida equipe de preparação fez, como eu pedi, uma pintura simples no rosto, embora ainda estejam relutantes em fazer apenas uma trança em meus cabelos.

— Nós três vamos lá fora colher algumas flores, que servirão para o buquê e para adornar sua trança – anuncia Venia.

Delly também está quase pronta e escolhe um dos meus vestidos, feitos para a Turnê da Vitória, para usar na festa.

Eu cuidadosamente deslizo a seda do vestido pelo meu corpo e Delly me ajuda, fechando o zíper na parte de trás. Caminho até o espelho de corpo inteiro que há no canto do quarto e franzo a testa para mim mesma. Nunca fico muito confortável em mostrar a minha pele e este vestido mostra muito dela.

— Você está linda, Katniss! – Delly se aproxima e vejo seu reflexo atrás de mim no espelho.

— E olhe só para você! – Noto como ela ficou bonita no vestido bem marcado. — Acho que o Thom não vai hesitar em pedi-la em casamento também.

Ouço passos subindo a escada e penso que Venia, Octavia e Flavius foram muito eficientes na colheita das flores, já que estamos no meio do verão e não está tão fácil encontrá-las. Viro-me para a porta do quarto em expectativa.

No entanto, quem surge no batente é a minha mãe. Ela segura uma caixa de presente em suas mãos.

— Mãe! – exclamo ao mesmo tempo em que congelo no lugar, sem reação.

Olhar para ela, depois de tanto tempo, é como ver as feições da minha irmã. Posso perceber também, através de sua expressão, todo o sofrimento que vem enfrentando desde que perdemos Prim.

— Filha… – Ela dá alguns passos, põe a caixa nas mãos de Delly, que a cumprimenta rapidamente, e vira-se em minha direção, mas titubeia antes de verdadeiramente se aproximar. — Eu… eu não tenho palavras.

— Não precisa dizer nada. – Corro até ela para estreitá-la em meus braços e assim ficamos por um longo intervalo.

— Eu sinto muito. Por tudo. – Minha mãe tateia o meu rosto com as mãos trêmulas, quando enfim nos separamos. — Por tudo o que aconteceu. Tudo o que fiz e, principalmente, o que eu não fiz por você.

— Você veio, mãe. Isso significa muito.

— Eu devo isso ao seu pai e à Primrose. Eu devo isso a você. – Ela suspira. – Minha menina vai se casar… O que está faltando pra você ficar pronta?

— A equipe de preparação está na dúvida sobre o que fazer com o meu cabelo.

— Deixe-me ajudar, então – oferece ela e eu permito que ela me penteie.

O trabalho de suas mãos hábeis já foi apreciado por Cinna, com o penteado que fez em mim antes da primeira colheita.

Eu me sento em frente à penteadeira e ela tece uma trança lateral bem mais elaborada do que a que eu mesma faria. Quando minha mãe termina, faz um gesto para Delly se acercar de nós com o presente que trouxe do Distrito 4.

Delly deposita a caixa à minha frente e minha mãe me incentiva a abri-la. Dentro dela, há uma camisola branca, longa e delicada, feita de um tecido fino e com alguns detalhes em renda, que faz conjunto com duas peças de roupas de baixo. Ruborizo imediatamente ao deduzir o significado do presente.

— É tudo muito bonito, mãe. Mas agora sou eu que estou sem palavras. – Olho pra baixo e me arrependo de não ter deixado minha mãe conversar comigo a respeito da noite de núpcias por telefone, pois não há dúvidas de que chegou a hora.

— Vou deixá-las a sós – Delly avisa.

— Não, Delly, fique! – imploro e minha mãe dá um leve sorriso. — Delly também precisa ouvir esses conselhos, mãe – explico.

Minha mãe pega cada uma de nós pela mão e nos leva até a cama, para sentarmos juntas.

— Katniss, você cresceu acompanhando a vida de casada que eu tive com o seu pai. Nosso lar era uma casa em que um homem e uma mulher se amavam e se respeitavam, dividindo suas dores e alegrias. Acho que essa foi a maior lição que eu poderia ter ensinado a você. – Minha mãe me fita e, depois, dirige-se à Delly. — Espero que você também tenha tido esse privilégio.

Delly assente e minha mãe prossegue:

— Uma das consequências do casamento é a união mais íntima do casal. – Ela aperta suavemente os dedos em torno de nossas mãos. — Essa maior intimidade entre duas pessoas que se amam é uma experiência física, mas, acima de tudo, é um ato de generosidade, de entrega mútua, de cumplicidade, que guarda uma força vital, a força de gerar outro ser a partir dessa união.

Os olhos de Delly se enchem de lágrimas:

— Sra. Everdeen, isso é tão lindo…

Um sorriso doce, mas também preocupado, espalha-se pelo rosto da minha mãe.

— Filha, eu sinto muito que, em nossa antiga realidade, o sexo fosse associado a algo que nos traria miséria e tristeza, pois significava ter filhos para que, no futuro, temêssemos que morressem de fome ou que fossem levados na colheita. – Nesse momento, minha mãe olha diretamente para mim. — Depois de tudo o que aconteceu em Panem, você ao menos pode substituir aquela triste visão pelo verdadeiro significado de ter filhos. Eles são a concretização do amor de um casal. Você é um fruto do amor que seu pai e eu tínhamos um pelo outro…

Minha mãe ainda teria outras coisas para dizer, mas o momento de pura emoção é cortado pelas vozes que vêm do andar de baixo.

— Katniss e Delly, já estão vestidas? Venham até aqui, por favor – chama Flavius. — Trouxemos as flores! E Peeta mandou um cesto de pães para nosso lanche!

Calçamos os pares de sandálias que vamos usar na festa e descemos as escadas.

— Meninas, vocês estão magníficas! Cinna sempre nos surpreende… – Venia reconhece, sem esconder a saudade.

— Minha mãe trançou o meu cabelo – informo e aponto para ela, que nos segue pelos degraus, guardando certa distância.

— Sra. Everdeen! – Octavia se emociona ao vê-la. — A enfermeira mais cuidadosa do Distrito 13… ao lado de Primrose.

Agora é a vez de a minha mãe sorrir saudosamente. Flavius estende um cesto de pães para mim.

— Peeta pediu para dizer que, antes da festa, só podemos comer esses aqui. – Ele indica os pães de queijo. — Este outro deve ficar guardado para depois… Seja lá o que isso signifique!

Minha mãe e eu olhamos para o pão que ficará reservado para o ritual e tenho certeza de que trouxe a ela a mesma lembrança que estou tendo. É um pão idêntico ao que Peeta queimou de propósito para me entregar anos atrás, quando eu, ela e Prim estávamos famintas.

Em seguida, ela me observa intensamente e assim continua, enquanto todos comemos o lanche que Peeta nos mandou.

— Não podemos nem mesmo provar deste aqui? – Flavius faz cara de desolação ao olhar o pão ainda intacto.

— Esse será tostado por Peeta e Katniss durante o ritual de mais tarde – explana Delly.

— Você tem certeza de que o casamento de vocês será apenas isso? – Octavia reclama.

Apenas isso… Esses não são os termos ideais para descrever nosso ritual, que é bem bonito – defende minha mãe. Porém, entendo o que você quer dizer, Octavia. Acho que todos os convidados ficariam felizes de participar de uma grande celebração com você e Peeta, Katniss.

— Estou com algumas ideias. Preciso apenas de reforços – afirma Venia e vai em direção à rua, seguida por Flavius e Octavia.

— Ninguém vai me dizer que ideias são essas ou pedir a minha opinião a respeito? – pergunto.

— Já temos o apoio da Sra. Everdeen! – Venia grita de volta, já do lado de fora.

— Filha, eu posso retirar o que eu disse! Não quero que nada fuja dos seus planos… – Minha mãe se levanta da mesa nervosamente.

— Pode ficar tranquila, mãe. Vamos primeiro saber o que eles estão aprontando – comento, sorrindo calmamente.

Minha mãe, então, sorri de volta, pega um pouco das flores colhidas e, com uma faca, começa a cortar um pedaço dos caules. Em seguida, ela e Delly se revezam para adornar minha trança com as flores. Dentes-de-leão, de um amarelo vívido que se harmoniza com o tom suave das prímulas noturnas, passam a enfeitar os meus cabelos.

— Você está tão parecida com seu pai, filha. Esse brilho em seus olhos… – Minha mãe segura meu queixo, examinando meu rosto e o resultado final do seu trabalho em meu penteado.

Estou pronta! A cada hora, estou mais apreensiva. Ao mesmo tempo, ansiosa e feliz.

— Como está o coração, Katniss? – Delly indaga.

— Eu me sinto como aquela garotinha que levantou a mão no primeiro dia de aula pra cantar a canção do Vale.

— Isso é porque aquela garotinha sempre esteve aí dentro de você – diz minha mãe.

— Isso me deu uma ideia… – Delly balbucia, com a mão sob o queixo.

— O que você está maquinando, Delly?

— Quem sabe? – Ela dá de ombros, com ar misterioso.

Minha mãe reúne mais algumas flores em sua mão, mantendo os caules compridos dessa vez.

— Vou lá em cima procurar uma fita amarela para prender esse buquê – avisa ela, sem esperar resposta, e vejo que caminha até o quarto de Prim depois que sobe as escadas. Espero que ela fique bem.

Delly ajeita ainda algumas flores em minha trança e me leva até o grande espelho da sala.

— Você gosta do que vê?

Eu assinto. Peeta sempre faz com que eu me sinta linda. No entanto, pela primeira vez em muito tempo, eu realmente me enxergo assim.

Ainda estou admirando minha imagem no espelho, quando Effie e Haymitch passam pela porta da sala, trazidos por Venia.

— Olha como Katniss está linda, Haymitch! Vestida como uma… noiva?! Explique-se, mocinha! – Effie demanda.

Eu e Delly nos entreolhamos. Haymitch percebe e decifra todo o mistério em questão de segundos.

— Quer dizer que você e Peeta estão querendo se casar em segredo? Hoje?

Eu já estava pronta para esclarecer tudo, mas Delly se adianta.

— Pelo visto, não é mais segredo – diz ela e, depois, põe a mão sobre a boca ao ver o meu olhar de desespero em sua direção.

— Calma, docinho. Não vou espalhar a novidade pra todo mundo, não. Só pra algumas pessoas…

— Nós da equipe de preparação já estamos sabendo! – Venia comunica. — Trouxe vocês dois aqui para saber se deduziriam também os planos dos amantes desafortunados e se me ajudariam a fazer Katniss mudar de ideia sobre se casar em segredo.

— Não seria em segredo! Haymitch, Effie… Eu e Peeta não tínhamos a intenção de esconder de vocês. Só queríamos viver esse momento sem nenhuma intervenção da imprensa – esclareço.

— Acho que não há mais esse perigo. Nem que se esforçassem muito, os repórteres da Capital não chegariam a tempo de estragar nada – pontua Haymitch.

— Então, vamos fazer isso do jeito certo. – Effie assume num instante a postura de organizadora de eventos. — Haymitch, você vai conduzi-la até o noivo. Vocês dois ficarão aqui dentro de casa até segunda ordem. Delly, você vai até a casa do Haymitch para telefonar para o Timothy e avisá-lo de que ele celebrará um casamento hoje. Eu vou até o hotel explicar sobre a necessidade de reorganizar as cadeiras e mesas e falar com os músicos para se prepararem para a entrada triunfal da noiva mais encantadora que eu já vi…

Effie se aproxima e toca em meu rosto, em meu cabelo e em meu vestido, consertando pequenos detalhes e tentando disfarçar os olhos lacrimejantes.

— Estou tão feliz por vocês e por poder ajudar nesta grande, grande, grande celebração! – Ela suspira e continua. — Temos que avisar o noivo sobre a mudança de planos! Vamos, vamos, Delly!

— Esperem um pouco! – peço antes que elas saiam. — O que vocês acham de fazermos uma surpresa para o Peeta? Ele sabe que hoje é o nosso casamento, mas ele ainda pensa que será apenas o ritual com os pães.

— Perfeito! Simplesmente perfeito! – Venia exclama e todos, inclusive Delly, concordam.

Quando Effie e Delly deixam a sala apressadas, Octavia e Flavius trazem Johanna para minha casa. Annie vem logo atrás, carregando o bebê em seus braços.

— Trouxemos mais reforços! – Octavia declara. — Onde está a sua mãe, Katniss? Precisamos arrumá-la também.

— Ela está no andar de cima, no quarto de Prim, e deve estar bastante sensível. Acho que vocês podem tentar animá-la – respondo e, logo depois, Octavia, Venia e Flavius me deixam a sós com Annie, Johanna e Haymitch.

— Ora, ora, ora! Acabamos de chegar e nos deram a notícia. Não é que a desmiolada criou juízo e resolveu dar um belo presente para o padeiro no dia do aniversário dele?! – Johanna me provoca, batendo palmas.

— Então, é verdade que você seguiu o meu conselho e pediu o Peeta em casamento? – Annie pergunta.

— Daqui a pouco, são os meus conselhos que você tem que seguir! – Johanna declara e eu duvido que a maquiagem esteja ocultando o quanto fico vermelha.

As duas se aproximam de mim e, até onde posso observar, elas estão se recuperando bem dos traumas da guerra.

— Pelo visto, vocês já estão sabendo da decisão que eu e Peeta tomamos… – Meu olhar pousa no bebê e um nó na garganta se forma ao comprovar o quanto ele se parece com o seu pai.

A dolorosa culpa pela morte de Finnick ressurge. Não consigo desviar minha atenção da criança, cujos olhos verdes estão vidrados nas flores em meu cabelo. Suas mãozinhas se esticam para alcançá-las e, por reflexo, eu estendo meus braços em sua direção para pegá-lo. Annie me entrega o filho para que eu o segure. A emoção que sinto não se pode traduzir com palavras. Beijo os cabelos ruivos do bebê e ele esboça um sorriso.

— Você e o Peeta ajudaram tanto na realização do meu casamento com o Finnick… Como posso ser útil no dia de hoje?

— Annie e Johanna podem distrair o Peeta para que ele não desconfie de nada do que está sendo preparado – sugere Haymitch.

— Essa é uma tarefa para o Finn – digo, devolvendo o menino para o aconchego do colo de Annie. — Peeta está com muita saudade dele.

— É pra já! – Johanna concorda.

— Peeta não vai nem imaginar o que está se passando, até que Katniss apareça de braços dados com Haymitch, andando em direção a ele – assegura Annie e se dirige com Finn e Johanna à casa de Peeta.

Sorrio ao antever a cena descrita por Annie, que é um dos sonhos de Peeta, como ele me confessou naquela tarde no lago. Haymitch se aproxima de mim e segura minhas mãos.

— Eu estava enganado. Você não precisou viver cem vidas para merecer o garoto, docinho. Alguma coisa boa você deve ter feito para que ele se apaixonasse por você duas vezes.

— Eu não chegaria até aqui sem a sua ajuda, Haymitch. – Eu abraço o meu mentor e tento apaziguar o fluxo de emoções que toma conta da minha mente agora.

Tudo o que acontece depois se passa com tanto alvoroço que fica em minha cabeça apenas como um borrão. Um entra e sai de gente em minha casa, passos subindo e descendo as escadas, Effie dando ordens e controlando horários.

Eu me fixo novamente na realidade apenas no momento em que minha mãe, já produzida e com um sorriso tranquilo em sua face, entrega-me o buquê de flores, enfeitado com uma antiga fita de cabelo de Prim, e afaga minhas bochechas com as pontas dos dedos.

— Estou tão feliz por você – confessa ela.

Minha mãe e a equipe de preparação deixam a Aldeia dos Vitoriosos para se encaminharem ao hotel e, finalmente, Delly surge para me buscar.

— Está tudo bem encaminhado! Timothy apenas pediu pra avisar que, para estarem casados oficialmente, você e Peeta terão que cumprir algumas formalidades depois. Mas ele vai seguir todo o protocolo – explica.

— Como está o Peeta? – indago.

— Muito preocupado, a ponto de querer vir buscar você a qualquer custo. Está difícil segurá-lo no hotel!

— Espero que ele não esteja pensando que você desistiu! – Haymitch comenta.

— Antes que eu me esqueça, Cressida pediu pra perguntar se Pollux pode filmar tudo. Não é para ser divulgado, mas somente para vocês terem as imagens de lembrança – comunica Delly.

— Por mim, tudo bem – autorizo.

— Vamos, então? – Haymitch estende o braço para mim.

— Vou indo na frente para avisar que vocês estão saindo de casa. – Delly se adianta.

O hotel fica próximo à Aldeia dos Vitoriosos. O caminho é curto, mas hoje está parecendo infinitamente mais longo.

Há uma grande movimentação de pessoas quando chego. Algumas se apressam para fechar a porta de entrada para a área externa do hotel, para que ninguém me veja.

Atrás da porta fechada, estamos apenas eu, Haymitch, Greasy Sae e Daisy, que recebe as orientações da avó para entrar comigo como minha dama de honra.

Após falar com Daisy, Greasy Sae fica de frente para mim.

— Que grande surpresa vocês prepararam! Peeta está desconfiado de que alguma coisa está acontecendo, pois está sentindo a sua falta na festa, mas acho que nem imagina o que está por trás do seu atraso.

De onde estamos, podemos ouvir a voz de Timothy ao microfone.

Gostaria de pedir aos convidados que se sentem em seus lugares, pois vamos ouvir algumas palavras do aniversariante— solicita ele e, depois de esperar alguns minutos, que parecem eternos, prossegue: — Peeta, por gentileza, você pode vir até aqui à frente?

O ruído de vozes misturadas vai diminuindo aos poucos e meu coração dispara ao ouvir a voz de Peeta.

Primeiramente, eu quero agradecer a presença de todos. – Pelo seu modo de falar, distingo toda a tensão que está sentindo. O fato de estarem aqui representa muito pra mim. Porém, o anúncio que pretendo fazer hoje somente pode acontecer quando Katniss chegar.

Novamente, Timothy se manifesta ao microfone, com a voz divertida:

Meu caro Peeta, Katniss já está aqui.


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Notas finais do capítulo

Olá de novo!

A minha ideia inicial era incluir nesse capítulo a cerimônia, a festa e o ritual dos pães.

Acontece que eu fui escrevendo e me empolgando... e o texto ficou com mais de 8 mil palavras!

Então, tive que dividi-lo em dois.

Mas isso é até bom, pois vou poder detalhar mais os acontecimentos da festa no próximo capítulo... y otras cositas más.

Beijos!

Isabela