Iminente destino escrita por AsgardianSoul


Capítulo 7
Capítulo 6 — Angst


Notas iniciais do capítulo

Hellooo from the other side...
Pois é, guys, demorei um pouco para postar, mals. Mas compensei, porque este foi o melhor capítulo que eu já escrevi. Sério, me senti muito empolgada escrevendo. Agora as coisas vão começar a se complicar para nossos personagens.
Boa leitura!



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I can smell your fear, the only reason that I’m here

Is to wreak havoc

Everybody prayin' that I’ll change, yeah

Maybe one day, but tomorrow I’ll be back at it

https://youtu.be/E1mFLiZ0t6c

Os dedos de Bob movimentavam-se agilmente pelo teclado; os olhos sequer se desviavam da tela, apenas os orbes vacilavam por um breve segundo, até focarem-se em outra informação. Apesar de hipnotizado pelo enxame de informações que piscavam na tela, ele se sentia mais vivo do que nunca. Amava tudo que envolvia informática, especialmente códigos e programação. Gostava de imaginar-se como um cirurgião, operando as intricadas e frágeis sequências do software. O corte sofrido anteriormente na cabeça foi tratado por Natasha e não incomodava mais.

A russa acompanhava todo o trabalho atenta, sentada sobre a mesa. O cubículo, que chamava de apartamento, uma moradia provisória que conseguiu em Nova York, estava quente àquela hora da tarde. Pequenos feixes da luz do sol transpassavam as persianas, depois eram entrecortados pelo ventilador barulhento fixado acima na parede. Além disso, os ruídos exteriores pareciam serpentear pela estrutura do prédio e explodir justamente onde estavam, por isso Bob usava headphones. Ela não se importava, podia manter a concentração em qualquer ambiente. Mordiscava uma maça, com um braço apoiado no outro.

Natasha permaneceu praticamente inativa depois da conversa com Tony Stark no hospital. Seus movimentos foram limitados, pois estava sendo caçada por uma força tarefa especial, com membros escolhidos a dedo pelo agente Ross. Até mesmo trazer Bob para seu esconderijo foi executado com cautela. Contando com este endereço, já era o quarto lugar onde se refugiava. Voltou à Mãe Rússia, porém, não aguentou ficar lá por muito tempo. Sua segunda vida a chamava para a ativa, além do mais depois de ter descoberto certas coisas. Por mais difícil que fosse agora, simplesmente não poderia deixar passar.

Bob arrancou os headphones e elevou os braços. Ela foi até ele. Cinco horas após ter começado, finalmente conseguiu quebrar o código de acesso. Ela não esboçou reação. Reparou nos olhos vidrados do garoto, semelhante aos de dependentes químicos, todavia, brilhavam como os de uma criança que acabara de ganhar um novo brinquedo. A ruiva arrastou a cadeira dele para longe e mandou que fosse tomar um ar, desde que longe das janelas.

— Tomar um ar? — repetiu Bob, quase escandalosamente. — Isso é alguma expressão russa para parabenizar um cara que trabalhou cinco horas para quebrar um código de acesso demoníaco? Porque se for, você precisa melhorar muito.

— Não, isso é um claro e audível “afaste-se, porque é coisa para gente grande” — retrucou, sem dirigir-lhe o olhar.

 O hacker levantou-se da cadeira, crispou os lábios e resmungou algo como “decepcionante”, em seguida foi para a cozinha.

Os arquivos do microchip estavam todos acessíveis. O coração da ruiva diminuiu no peito. Se a informação que extraiu de uma fonte inimiga em Moscou estiver certa, ela terá que embarcar em uma das missões mais difíceis da sua vida. Tanto em periculosidade quanto em questão pessoal. As pastas estavam ordenadas por tamanho. Clicou na primeira delas. A tela mudou e mostrou vários documentos, quase todos relatórios de tecnologias antigas, umas finalizadas, outras canceladas.

Voltou à pasta principal. Clicou numa pasta que continha apenas arquivos multimídia. Visualizou centenas de fotos. Corpos mutilados, entranhas expostas, membros mecânicos, órgãos artificiais, soldados em suspensão animada, cientistas fazendo anotações, entre outras bizarrices científicas. As imagens a deixaram nauseada por alguns segundos. Em uma subpasta encontrou três vídeos. Pareciam ter sido gravados às escondidas, pois a imagem estava fora de foco e tremiam. Cada um tinha poucos segundos. O primeiro mostrava homens seminus agonizando enquanto cientistas injetavam-lhes um líquido amarelo; o segundo também mostrava homens, só que dessa vez uniformizados e treinando em um ambiente fechado. Natasha estremeceu. Eles estavam treinando na Sala Vermelha.

O último vídeo tinha a qualidade um pouco melhor, durava quase um minuto e foi inteiramente focado em um tipo de procedimento desconhecido para ela. Havia um homem atado à um leito e vários cientistas ao redor. Eles estavam acoplando peças de uma armadura ao próprio corpo do paciente. Ele se contorcia a cada peça aderida. Seu rosto transformou-se numa máscara aterrorizante de sofrimento.

Antes que ela terminasse de verificar todos os arquivos do microchip, uma janela abriu-se sem ser solicitada. Tratava-se de uma gravação, focada em apenas um ponto: a cabeça de um ser coberta por uma espécie de elmo, onde três esferas vermelhas despontavam na parte superior. O material que o cobria era de tom cinza escuro e aparentava ser bastante resistente. Só se podia afirmar que a forma por baixo daquele aparato era humana porque boca, nariz e olhos estavam à mostra. Natasha interpretou aquilo como resultado do experimento visto anteriormente.

A mistura de máquina e homem tinha a expressão facial carregada de puro ódio, fazendo com que os instintos de Natasha disparassem. Não estava certo. Aquilo não devia estar ali. Tentou fechar a janela, mas o sistema travou. O ser começou a falar em tom gutural:

— O caçador voltou. Agora vamos reconstruir Leviatã dos ossos e, mais uma vez, o mundo vai tremer.

Ela deu um salto para trás e abafou um grito com a mão. Foi com terror que viu a tela escurecer e letras vermelhas subirem em loop:

LEVIATHAN IS COMING

Cambaleou até a cozinha com urgência e encontrou Bob terminando um pote de dois litros de sorvete. Ele a encarou com olhos culpados. Antes que pudesse se justificar, ela adiantou, quase gritando:

— Obrigada pelos seus serviços, Huggins. Isso é tudo. Agora suma daqui, para bem longe, o mais rápido possível!

Após o pronunciamento, Natasha atravessou a cozinha à passos duros e desapareceu pela escada de incêndio. Bob ficou parado por mais um instante, com a colher parada no caminho entre o pote e a boca, para depois revirar os olhos e abocanhá-la como se nada tivesse acontecido. A russa era perigosa e havia lhe dado uma ordem. Poderia se dar mal se não obedecesse. Mas chegou à um ponto em que o perigo não fazia mais o sentido.

* * *

As horas se arrastavam até se contabilizarem em dias para Lea. Não havia mais local público na Resistência que não conhecesse. Sempre parava para refletir sua situação. Cada vez mais via o quão inútil estava perante seu dilema. Ela tinha visões, fato, mas como usá-las para executar sua cruzada particular? Mesmo se tivesse um plano traçado, coisas podiam dar errado e acabar se dando mal. Ainda assim, não desistiria. Afinal, se não pode salvar o mundo, salvaria o cara que pode.

A morena caminhou pela base, vagando pelo seu quarto, sala de reunião, centro médico... nunca deixando de andar. Agora entendia o motivo dos heróis passarem mais tempo lá fora, mesmo sendo mais arriscado. Por ser uma base subterrânea, não tinha contato com a luz diurna, então perdia-se facilmente a noção de tempo. E isso a atormentava. Por mais que conhecesse o lugar, havia um local que quase não frequentava, pois julgava ser intromissão demais. Apesar de muito improvisada, eles mantinham uma sala de treinamento. Algo para os heróis manter a forma ou extravasar.

Aos poucos foi se aproximando de lá, movida por uma curiosidade quase mórbida. Estancou ao chegar na entrada e ver que a sala estava ocupada. Uma mulher de longos cabelos negros lutava com maestria, movimentando seu corpo esbelto de um lado para outro. Usava um traje justo púrpura, e encerrava cada movimento com um golpe bem colocado. Lea permaneceu parada, hipnotizada por tanta habilidade. Não focou o rosto dela, mas tinha certeza de que nunca a viu. Subitamente a mulher finalizou a luta. A observadora estremeceu ao pensar que foi descoberta. Recuou, só que era tarde demais.

— Não quer se juntar a mim? — perguntou a lutadora. Sua voz soou convidativa. Lea parou. — Vamos, pode entrar, sem problema.

Movida pelo tom agradável do convite, ela entrou na sala. A mulher de fios lisos ficava mais alta conforme Lea se aproximava. Ela tinha um rosto quase triangular que contrastava com olhos arredondados. Parecia ser uma pessoa reclusa que se esforçava para soar amigável.

— Desculpe, eu não queria interromper seu treino — começou, coçando a nuca. — Meu nome é Lea.

— Kate Bishop. — Saudou com a cabeça, exibindo um sorriso torto. — Você é a garota das visões.

A garota das visões não evitou achar graça de como a estavam chamando agora. Kate interpretou o riso como um sinal positivo de aproximação. Estava cansada de afastar as pessoas com seu jeito ranzinza.

— Você luta muito bem — elogiou Lea, sincera. — Eu queria saber lutar assim.

— Queria, no sentido de não quer mais?

— Não, no sentido de que nunca chegarei no seu nível, lógico. — Bufou, maneando a cabeça.

— Deixa disso, ninguém nasce sabendo — reagiu a outra. — Meu negócio são flechas, mas sei ser bastante eclética. Venha, vou te ensinar alguns golpes.

Lea não teve tempo de elaborar uma negativa, pois logo foi guiada por Kate até o centro da sala, onde uma luz mais potente pendia do teto. A mais velha parecia estar quase tão entediada quanto ela, para sair arrastando uma desconhecida e tentar ensina-la a lutar...

— Vou te ensinar o básico do boxe — começou Kate. — Gosta de boxe?

— Hum... — Refletiu por um instante. — Quando eu morava na rua dormi umas vezes próximo a um ex-boxeador senil que ficava repetindo táticas de nocaute a noite toda. Acho que consegui me apegar um pouco ao esporte.

Kate ficou sem reação depois de ouvir a sentença. Olhou para o lado, ficando presa entre dizer um “sinto muito” e parecer sentimental ou ignorar e parecer insensível.

— Bom, já é um começo — disse finalmente, dando de ombros. Levantou os punhos na altura do queixo, sacudindo o esquerdo. — Este é o jab. Como ele você pode dar golpes de longo alcance, só que fracos. O direto é com o punho direito, esse é o que nocauteia. Mantenha o pé esquerdo à frente e o direito levemente aberto e alinhe-os com seu quadril.

Como um reflexo no espelho, Lea imitou a posição de sua instrutora. Elas não dispunham de espelho para analisar a postura. A iniciante agradeceu por isso, pois não queria ter a certeza de que estava realmente ridícula naquela posição.

— Muito bem — reforçou Kate. — Agora vamos tentar uma sequência. Não tenho material especializado, então pega leve, Muhammad Ali. — A outra assentiu, mesmo não entendendo a referência. — São três golpes: jab, jab, direto. Entendeu? — Assentiu novamente.

A sequência curta foi bem executada, para uma iniciante. Kate não se deu por satisfeita e continuou ensinando sequências mais complexas, sempre dando dicas de postura e corrigindo falhas. As duas pareciam ter encontrado uma maneira muito proveitosa para matar o tempo. Aos poucos, gotículas de suor brotavam da testa de Lea e desciam para os olhos. Piscou com mais frequência, sempre atenta ao treino. Kate reparou no resultado do esforço de sua inusitada aluna e deu uma pausa.

Sem cerimônia, Lea desabou no chão, com os braços e pernas estirados, ofegante. Seu corpo estava formigando, menos os punhos, que ardiam levemente. Inclinou o rosto para olhar Kate. Quase surpreendeu-se ao vê-la fresca, como se estivesse passeando no parque.

— Então o seu poder é não se cansar? — brincou Lea.

— Não tenho poderes. Isso é treino — retrucou, sem ser rude. Estendeu a mão para levantá-la. — Se continuar vindo aqui, logo ganhará resistência.

— Claro, isso se eu sobreviver à hoje — treplicou, já de pé, limpando o suor da testa.

Kate deu uma breve risada enquanto se hidratava. O som do riso dela era agradável de se ouvir. Por algumas horas Lea conseguiu esquecer da ansiedade e da sensação claustrofóbica que a atormentava. Sem nenhum aviso, sua mente divagou. O cenário policromático da sala de treinamento se desmanchou diante das pupilas trêmulas da jovem, dando lugar a uma imagem esbranquiçada. Estava acontecendo novamente e não podia controlar. A paisagem era de uma alvura quase ofuscante. Sentiu os pés congelarem. Abaixou o olhar para vê-los cobertos de neve. Ao lado percebeu duas trilhas de pegadas que iam até onde a vista alcançava. Um rastro de sangue acompanhava uma delas.

Não entendeu o que estava presenciando, nem de quem pertencia as pegadas ou o sangue. Sentiu-se sozinha no deserto branco e gélido, depois uma agonia crescente. Era quase como se seu coração estivesse sendo dilacerado. Abiu a boca e deu vazão a toda aflição. Não soube por quanto tempo gritou, só se deu conta de ter retornado à realidade quando sentiu os joelhos baterem no chão áspero. Mãos trêmulas a carregaram para a enfermaria. Lágrimas desciam copiosamente de seus olhos conforme via as paredes mudarem de aspecto. Assim como o sangue na neve, a dor de Lea também deixou seu rastro pela Resistência.


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Notas finais do capítulo

LEVIATHAN IS COMING, BITCHES!
Então, o que acharam? Não se preocupem, tudo o que acontecer de agora em diante não será em vão. Tudo se encaixará adiante para se transformar em algo muito maior. Vocês não perdem por esperar ehehehehehe
Beijinhos invernais!



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