Iminente destino escrita por AsgardianSoul


Capítulo 13
Capítulo 12 — Caos


Notas iniciais do capítulo

Não, não fiquei gagá e me esqueci da minha outra fanfic. Foi questão de tempo mesmo. Sabe como é, duas fanfics ao mesmo tempo... Enfim, hoje o negócio é caos mesmo. Vocês queriam Lea? Pois Lea vocês terão! E de uma forma que nunca viram! Já adianto que as coisas nunca mais serão a mesma para ela.
Boa leitura!



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O coração de Lea batia descompassado e os bips do aparelho confirmavam tal fato. Jones havia deixado a sala há pouco, deixando o silêncio quase absoluto como sua companhia. A falta de atividade drenava a última gota do psicológico da garota das visões. A ansiedade corroía suas entranhas como nenhum ácido seria capaz. Levantou o olhar para o observatório acima e reconheceu Jones. Cerrou os dentes, como prestes a ser eletrocutada ou algo do tipo. Não esperava nada menos doloroso.

O coordenador do Alfa-25 se concentrava em ajustar os controles do painel do observatório. Aquele emaranhado de alarmes e medidores traduzia tudo que acontecia na sala abaixo, por isso a preocupação. Apesar de estar por dentro das características do Cubo Cósmico, tudo podia acontecer. O inesperado parecia um fardo pesado demais para sustentar. Amaldiçoou mentalmente Ross por seus experimentos insanos. Também se lembrou de sua última ordem antes de partir: Use exposição total. Encarou a cobaia imobilizada... Só o inesperado poderia salvá-la. Teclou alguns botões e aguardou. Nada mais estava em seu controle.

Dois quadros do piso metalizado se afastaram e um pedestal ergueu-se devagar pouco adiante dos pés de Lea. Ela acompanhou com os olhos o movimento do objeto até ficar da altura de seu corpo. Uma cúpula negra arredondada jazia acima dele. Inicialmente, o novo acréscimo na decoração lhe pareceu inofensivo. Logo mudou de opinião ao ver a cúpula começar a se abrir e uma luz azul potente irradiar de seu interior. No começo, foi como espiar um farol de neon por uma fresta, depois, conforme a cúpula se abria, a luz ficava mais forte e seu alcance também.

A luminosidade excessiva se tornou um espetáculo visual macabro para Lea. A intensidade machucava sua retina, porém, a curiosidade falava mais alto. Foi pela curiosidade que presenciou algo fantástico: o azul celeste claríssimo se espalhando pelo ambiente em forma de bruma, uma névoa densa e irregular, vinda em sua direção. Recostou-se ao máximo na superfície acolchoada, como se isso a afastasse do contato iminente. O mais assustador foi a ausência de som. Ela nunca havia sentido o silêncio absoluto, mas não encontrou outra forma para descrever a sensação.

A bruma chegava sorrateira, semelhante a nebulosas, até que finalmente envolveu seu corpo em um abraço sufocante. Então, penetrou em seus pulmões, coração, cérebro, violando cada centímetro de seu corpo, infectando mente e alma. A irradiação continuou, só que menor depois do avanço da bruma. Ela arregalou os olhos e a luz não incomodava mais. Visualizou a fonte acima do pedestal. Não soube ao certo qual forma aquilo assumiu. Era irregular e se movimentava, como fosse se desprender a qualquer momento e ganhar vida. Tudo se tornou intensamente azul diante de seus olhos, ao ponto de tudo ao seu redor se tornar um borrão celeste.

Pontos se formaram em sua visão. Caíam, levantavam, se misturavam. Náusea. Lea fechou os olhos com força, mas a imagem estava impregnada em sua mente. Logo o estômago se revirou. Mexeu a cabeça de um lado para outro, buscando expulsar aquele pensamento. Os minúsculos pontos abriam fendas em lugares distantes. Delas emergiam mais pontos que gravam em círculos e se fundiam, adquirindo contornos desiguais. O impulso veio e ela precisou arquear o corpo para vomitar. Não se lembrou de ter ingerido nada desde que foi sequestrada. Ou ingeriu. Ou foi obrigada. Consultar a memória doía. Respirar passou a doer.

Os nervos dela se enrijeceram a ponto de senti-los ranger como engrenagens envelhecidas. Gritou antes de pensar em gritar. Pareceu que o ato veio primeiro do que o comando. O som não chegou aos seus ouvidos ou se perdeu em meio ao azul. Gritou mais uma vez. Inúmeras vezes. As amarras foram testadas ao máximo. Podia jurar que a qualquer momento o couro se fundiria à pele. Mesmo assim, não as sentia. Havia dores maiores. Incalculáveis. Havia um caos se formando dentro dela, ameaçando explodir de dentro para fora. Tanto psicológico como fisicamente. E não sabia afirmar qual dos dois doía mais.

No breve momento que sentiu seu raciocínio emergir, vislumbrou o fim. Lágrimas rolaram por seu rosto cansado de lutar para manter o domínio sobre si própria. Nunca quis acabar daquela maneira. Desejou alguém para segurar sua mão e alimentar a ilusão de que tudo ficaria bem. Sabia que ninguém a convenceria disso, quando ela mesma perdeu as esperanças. Ela ia morrer. Não precisou de nenhuma visão para saber.

Eu não aguento mais, Pai. Tenha misericórdia, me leve para um lugar melhor. Me liberte.

Não soube se gritou ou imaginou a prece. Calor foi o que a atingiu em seguida, em ondas contínuas. Aos poucos milagrosamente foi anestesiando a dor. Abriu os olhos, mesmo sentindo vertigem. Desta vez enxergava com nitidez os aparelhos ao seu redor, como antes. Ainda via nuances de azul aqui e ali. Imediatamente olhou na direção do pedestal. A fonte de luz continuava a se remexer, só que parecia menos instável. Algo estava errado. Teve a sensação de que o calor não vinha de lá. Então abaixou o olhar para si mesma e a dor deu lugar ao terror.

Implorou para estar alucinando. Seu corpo estava se distorcendo em ondas regulares, semelhantes às que se formam quando atiramos um objeto na superfície de um lago. Conforme avançava, a onda deixava um rastro distorcido. Foi com horror que Lea observou seu braço se desintegrar em pedaços incontáveis. Então a dor recomeçou. Era real. Cada parte do seu corpo estava sendo mesmo despedaçada. Ela gritou, e desta vez se ouviu. Gritou até que os pulmões se despedaçassem também. Agora era questão de tempo. Estava condenada a se tornar pó. A última parte que sentiu doer foi a cabeça. Depois veio o alívio. Escuridão.

Não soube quanto tempo durou a liberdade. A única coisa que percebeu foi seus sentidos sendo reagrupados. Foi estimulada a abrir os olhos. Para sua surpresa, não estava mais presa na sala, mas flutuando em um enorme salão com paredes feitas de ferragens milimetricamente encaixadas. Diante dela flutuava um ser desproporcional, de cinco metros de altura, corpo esguio e cabeça gigante. Usava uma túnica branca e cobria-se com um manto azul escuro. A cor não desencadeou nenhuma reação nela. Lea demorou alguns segundos para terminar de olhar a criatura de traços humanoides de cima a baixo.

— Você é Deus? — perguntou ela.

— Eu já fui chamado de várias coisas, menos de Deus.

Havia certa amargura na harmonia das palavras dele. Os sentidos de Lea captaram a voz do ser, porém, ele não usou nenhum instrumento físico para exprimi-la. Ela piscou os olhos várias vezes para tentar compreender. Era como se ele estivesse colocando as palavras dentro de sua mente. Franziu o cenho e analisou a expressão imparcial diante de si.

— Eu estou morta?

— Você é uma humana de muitas perguntas, Laura Hunter — observou e virou-se de costas, fazendo o manto acompanhar seu movimento. — E antes que me faça outra, eu sei quem você é porque eu vejo tudo. Eu sou o Vigia.

— Tem certeza de que você não é Deus? — insistiu, com estranheza, depois de um breve silêncio.

O ser não respondeu. O interior do ambiente era abarrotado de ferragens que davam sustentação à gigantesca estrutura, contudo, ainda era muito amplo.

— Venha. Quero que veja algo.

Uma força invisível moveu o corpo de Lea para que o seguisse. Uma entrada arredondada foi ganhando proporções gigantescas conforme ela se aproximava. Lea admirava tudo atônita. Não fazia ideia do que estava acontecendo, no entanto, o cenário extraordinário ludibriava sua racionalidade. Atravessaram a entrada e ela parou do lado oposto ao Vigia. À frente havia centenas de telas mostrando o passado da Terra. Muita informação acontecia ao mesmo tempo. Pela primeira vez desde que chegou ali sentiu a cabeça pesar. Só que sua cabeça não estava de fato ali. Apenas teve um lampejo de sensibilidade.

Focou-se em poucos acontecimentos de cada vez. Numa tela um homem agachado dentro de uma caverna construía uma armadura; à direita, outra tela mostrava um homem despencando de um vagão de carga em movimento; um loiro de capa vermelha se ajoelhava perante um trono; um portal se abriu no céu e alienígenas desceram dele; guerras; catástrofes; morte. Lea desviou o olhar para o Vigia e reparou em lágrimas descendo de seus olhos.

— Você se importa — concluiu ela. Encarou mais uma vez a série de eventos, de coração apertado. — Por que não faz alguma coisa? Porque nunca interferiu?

— Não posso. Aprendi sob duras penas que é perigoso demais interferir. Estou aqui apenas para observar.

Subitamente ela captou algo além de amargura na harmonia de suas palavras. Ela captou sentido. Fechou o semblante e se colocou na defensiva.

— Você não pode me pedir isso!

— Estou te dando uma chance de não se envolver em eventos onde não deveria estar — revelou, assumindo uma fisionomia inóspita.

— Se envolver? Então eu estou viva? — O silêncio dele serviu de resposta. Alívio e pesar se misturaram em seu interior. — Tudo tem uma razão e comigo não é diferente...

Enquanto falava o Vigia deslizou a mão no ar e as telas se modificaram. Agora mostravam eventos envolvendo os pais de Lea, até o acidente, depois tudo se apagou. Fim. Ele repetiu o gesto e tudo voltou ao normal.

— Você não existe para mim — sentenciou ele. Ela o encarou, confusa. — Laura Hunter é uma anomalia no tecido temporal que precisa ser contida a tempo.

— Está dizendo que sou um erro? — Elevou a voz. Algumas imagens tremeram sem que ela percebesse. — Só porque seu Big Brother onipresente não consegue me ver não significa que sou um risco. Ao que parece, todo esse tempo observando os humanos te fez adquirir uma característica primordial nossa: o medo do desconhecido.

— O futuro precisa continuar intacto — reafirmou ele, com mais convicção. Sua voz soou retumbante na mente dela.

Estava cansada daquilo e se sentia ameaçada. Lembrou-se de Steve. O que o Vigia estava pedindo era impossível. Não deixaria o Capitão América machucar inocentes e destruir a si mesmo.

— Quero sair daqui — exigiu.

Cerrou os punhos e lutou contra a força invisível que a mantinha imóvel. Uma aura azul foi se formando ao seu redor e ganhando intensidade, até que conseguiu erguer os braços. O Vigia se inclinou um pouco para trás, perturbado. Ela estava recuperando o controle sobre si.

— Não faça isso. Você não pode interferir. — Desta vez ele realmente falou. A voz não soou nem um pouco diferente de antes.

O Vigia retirou o braço esquerdo debaixo do manto e apontou para ela. Tentava retomar o controle sobre ela. Num instinto de autopreservação, Lea cruzou os braços próximo ao peito, se encolheu, depois os esticou todos os membros do corpo, como se afastasse amarras invisíveis. A aura azul se intensificou, percorreu a distância entre eles e o atingiu. Ela arregalou os olhos ao vê-lo sendo repelido por uma rajada azulada. Disposta a não perder a vantagem, tentou atingi-lo novamente, só que dessa vez esticou o punho cerrado na direção dele. Outra rajada o atingiu, o deixando desorientado.

Agora era hora de escapar. Mas como? Olhou para todos os lados daquela enorme instalação e não enxergou nenhuma possibilidade. Teria de sair da mesma forma que entrou. Como eu entrei? Então seus olhos foram atraídos para as telas. Várias delas piscavam, semelhantes a TVs com defeito. Baixou o olhar para suas mãos e voltou a encará-las. Eu preciso saber!

— Mostre-me o futuro — ordenou, apontando as palmas das mãos envoltas pela aura azul para elas.

Caso pudesse se ver, ela notaria seus orbes naturalmente azuis adquirirem um tom ainda mais intenso. Dentro de milésimos todas as telas se fundiram e formaram uma só, mostrando uma imagem límpida como cristal. Havia heróis misturados a civis. Eles compartilhavam da mesma expressão aturdida. Também notou raiva no rosto daqueles que conhecia, especialmente os mais próximos. Lea não estava entendendo aquela situação, até ter sua atenção atraída para o centro da imagem. Não, isso é terrível!

— Chega de visões — balbuciou, atordoada.

O ambiente ao seu redor obedeceu ao seu suplício. Cada parte daquele cenário extraordinário estremeceu e foi se rompendo ao seu redor.

— O que você fez? Pare, antes que seja tarde! — implorou o Vigia.

Ela virou o rosto na direção dele a tempo de testemunhar seu gigante corpo se desfazer segundos antes de tocá-la. Sua alma ardia em fúria. Sentiu-se traída pelas próprias visões. Por mais negativas que fossem, nada apontava para aquilo. Aquela viveria em seus pesadelos até seu último suspiro. Fechou os olhos e deixou ser tragada pela própria onda de destruição que causou.


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Notas finais do capítulo

REFERÊNCIAS EVERYWHERE! Calma, que nem eu sei por onde começar! kkkkkk
Primeiro, tenho a honra de lhes apresentar O Vigia. Pessoal que acompanha as HQs deve tê-lo reconhecido, ou quem pelo menos folheou Guerra Civil vai saber. Mas, para quem não fisgou: http://www.guiadosquadrinhos.com/personagem/vigia-(uatu-)/279
Segundo, a icônica fala da Wanda em Dinastia M. Até quem não segue os quadrinhos já deve ter lido ela em algum lugar. Neste capítulo, eu a adaptei para dar mais sentido de caos ao que já tava bem caótico.
E agora? Uma nova era começará para Lea e seus amigos. O que acham que vai rolar? Bom ou ruim? E como fica o Cap no meio disso tudo? Ai, mds, já me empolguei toda! XD
Beijinhos invernais!



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