Iminente destino escrita por AsgardianSoul


Capítulo 14
Capítulo 13 — Eu sou a Viúva Negra!


Notas iniciais do capítulo

Então, esse capítulo era para ser postado semana passada, aí a net caiu, fiquei full pistola e deixei pra lá. Anyway, aqui está o embate do século.
Quem é a Viúva Negra?
Boa leitura!



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A mente de Yelena Belova funcionava bem, como nos velhos tempos. Como braço direito do seu antigo chefe, renascido na pede de Orion, era sua missão cuidar para que nada saísse dos trilhos em Moscou. Sem mais Peggys, ele avisou. Ela assentiu, porém, suas pálpebras vacilaram. Quando se atualizou do que perdeu durante o tempo na criogenia, soube que a agente faleceu. Uma sensação incomum se manifestou em seu peito. Peggy não era como os outros. Internamente, se mordia um pouco de inveja da americana. Peggy jamais saberia como é dormir algemada. Peggy não aprendeu à duras penas a não criar vínculos. Peggy nunca sujaria suas mãos com o sangue de uma companheira. Peggy, nem ninguém, nunca saberia o que é ser uma Viúva Negra.

A ruiva sabe. Belova contraiu os lábios. Segundo sua investigação, Natasha Romanoff foi uma das cobaias que sobreviveu à explosão da Sala Vermelha. A única, pelo que concluiu. A loira saiu para campo antes. Não soube definir o que sentiu ao saber do fim do lugar e a morte de todos os envolvidos. Não sabia definir muitos sentimentos além de ódio ou vingança. Era sua natureza, sua programação. Homens de jaleco passavam pelo corredor, ocupados demais para nota-la. Melhor assim. Por enquanto, tinha coisas mais urgentes para se preocupar. A voz dele ainda ecoava em seus ouvidos.

— Kuznetsov é um velho da língua solta que sabe demais — afirmou Orion. — Mas ainda pode nos prestar uma última tarefa.

Sem pressa, vestiu o uniforme. Mais moderno, mais leve e mil vezes mais mortal. O colante negro cobria toda sua pele e o cinto da mesma cor guardava utensílios indispensáveis. Amarrou dois coldres na cintura, com armas carregadas. Precisaria deles, pois a noite seria longa e prometia surpresas.

* * *

— Você está dizendo que homens do Leviatã te arrancaram do seu apartamento para tirar essa Yelena Belova da criogenia? — questionou Natasha, dividindo a atenção entre a estrada escorregadia e Kuznetsov, algemado no banco de trás. — Para quê? Qual o sentido de trazê-la de volta?

— Use essa sua cabecinha de palito de fósforo para pensar — retrucou azedamente. — Ela era o contato do Victor Uvarov nos Estados Unidos depois da guerra, quando o Leviatã planejava se erguer. Só que eles não contavam com a eficiência dos agentes da SSR, em especial Peggy Carter. Aquela mulher frustrou todos os nossos planos.

— Eles estão se reagrupando — concluiu Bob, sem tirar os olhos da vidraça opaca ao seu lado.

— A volta da Belova está ligada com o retorno do HOMEM. Eles são unha e carne. Apesar de ter falhado no passado, ela é uma Viúva Negra, valiosa demais para se deixar de lado.

Natasha cerrou o cenho. Não sabia o que pensar sobre a outra Viúva Negra. Por um lado, Belova era uma sobrevivente, por outro, uma arma letal nas mãos do inimigo. Se conhecia muito bem o treinamento que receberam, a outra já devia saber de sua existência e não tardaria a ir atrás dela.

— Isso foi tudo o que eu sabia. Podem me deixar em casa agora? — pediu Kuznetsov.

— Não, você vai nos levar até ela — ordenou Natasha.

— E por que eu faria isso? Eu dei muita sorte em escapar dela da última vez. Não posso abusar da sorte.

— Se eles são unha e carne, chegando até ela, chegamos até Uvarov e, consequentemente, o centro de tudo — esclareceu Bob.

— Querida, o que te faz pensar que eu sei onde ela está?

— Já ouviu sobre aquela regra de que tudo tem uma explicação, mesmo que escondida? E que ela sempre vem à tona? — inquiriu ela, entortando o canto dos lábios.

Bob desenhou com os dedos na janela uma das primeiras palavras que aprendeu em russo, uma que fez o rosto de Kuznetsov queimar.

— Você exagerou no teatro, Kuznetsov — sentenciou ela. — Ceder à cera quente...? Se ao menos eu tivesse arrancado todos os seus dentes, mas cera quente?

— Não estou entendendo — balbuciou, desviando o rosto.

— Não se faça de tonto — crispou Natasha, severa. — Você tem duas opções: continuar fazendo papel de idiota sozinho ou nos levar para a sua armadilha. — Silêncio. — Vamos, Belova já deve ter planejado 56 modos de te executar dolorosamente por cada minuto de espera.

— Vocês acham que estão prontos para enfrenta-la? — O tom dele se modificou, se tornando mais direto. Apontou o queixo para Bob. — Esse seu bichinho de estimação não está preparado sequer para respirar naquele inferno gelado.

O jovem dirigiu-lhe um meio sorriso, depois piscou para ela, que logo entendeu. Antes de Natasha aparecer carregando ele, já havia colocado todos os equipamentos dentro do porta-malas do carro. Ele não era o tipo de pessoa que esperava acontecer para aprender a lição. Antes de se dirigirem à localização cedida pelo russo, eles pararam em uma cabine telefônica e se trocaram. Não era como se alguém fosse aparecer no meio da periferia àquela hora para reparar na situação. Voltaram para o carro e a ruiva deu partida. Segundo Kuznetsov, a nova instalação do Leviatã ficava a pouco mais de dez quilômetros dali. Naquelas condições, seria como trinta, pois a pista escorregadia exigia cuidado e baixa velocidade.

Natasha estacionou o carro metros antes da instalação para não serem notados. Suspirou, aborrecida. Por mais que estivesse acostumada com sua terra natal, os invernos eram sempre a pior estação. E a mais perigosa. Alvos de difícil acesso. Missões de alto risco. Armadilhas naturais. Quem pode imaginar o que se esconde do outro lado da nevasca? Agora ela estava vendo: uma construção cercada por telas, vigiada por homens armados sobre guaritas, contendo um segundo andar e uma área cheia de largos corredores.

— Como vai ser? — perguntou Bob.

— Vamos fingir que caímos na armadilha deles — respondeu ela. Retirou as algemas de Kuznetsov, que se esticou todo ao sair, sem fazer objeções.

— Então, como vai ser, velho? — exigiu Bob, dessa vez se dirigindo a ele.

— Um caminhão vazio passará daqui a pouco. Nós subiremos nele e entraremos.

— Espera, mas isso não nos levará direto à armadilha? Nat, essa parte está estranha — comentou o jovem.

— Nós desceremos antes, ainda nos corredores. — Apontou, abaixando o binóculo. — Kuznetsov segue adiante, para fazer as honras — ironizou.

— Vocês vão se ferrar muito! — jurou ele, de punho cerrado.

Os faróis do caminhão iluminaram a estrada. Eles se esconderam e subiram quando ele passou devagar. Estava vazio, como o ex-soldado contou.

— Eu poderia alertar o motorista para não passar pelos corredores e entrar no primeiro galpão que encontrar — ameaçou Kuznetsov. Natasha ergueu o punho na direção dele, os ferrões azuis reluzindo nos braceletes. Ele levantou as mãos. — Ok, ok, como quiser.

O caminhão desacelerou ao atravessar o largo portão. Bob espiou através de seu visor noturno e confirmou que estavam circulando pelos corredores. A hora chegou. Ele pôs um pé para fora, no aguardo dela, que se movia devagar, sem perder a mira do russo.

— Se você nos denunciar depois de saltar, minhas balas o alcançarão antes que possa ouvir o alarme soar — ameaçou ela, depois saltou, seguindo Bob até a esquina mais próxima.

O vento redirecionado pelos desdobramentos daqueles corredores soprava forte contra a aba de seus casacos. Não podiam permanecer muito tempo à céu aberto, pois congelariam ou seriam descobertos. Bob olhou ao redor com atenção.

— Este salão está vazio. — Apontou três quadras adiante. — Aquele é o mais movimentado, supostamente onde nos esperavam.

— Não sei — vacilou ela. — Por mais que estivessem certos de que nos pegariam, não fariam uma armadinha no salão principal. O Leviatã não corre riscos, por mais remotos que sejam. — Eles se movimentaram, tomando outro corredor. — Precisamos encontrar o centro de comunicação deles, alguma coisa que nos forneça informações.

— Ou talvez nem precisemos entrar lá — sugeriu Bob, sorrindo de lado. — Você sabe muito bem o que consigo fazer com somente um computador? — Esfregou a mão na parede gélida. — Aqui há vários, e poucos guardas. Eles devem ter sido redirecionados para a armadilha.

Passos foram ouvidos no corredor esquerdo. Provavelmente uma varredura. Ela estranhou os alarmes ainda não terem soados. Mais um motivo para agirem rápido. Sacou um bastão cilíndrico de seu cinto, o acionou e uma faísca constante azul se formou em sua ponta. O apetrecho igual a um maçarico, só que muito mais potente. Entregou nas mãos de Bob, estremecia a cada passo de aproximação.

— Eu cuido deles — assegurou ela.

— Está de brincadeira? Isso não deve sequer queimar a parede! — interveio ele.

— Mais respeito. Nick Fury escapou de uma emboscada da Hidra com isso — retrucou, antes de correr até o fim do corredor.

Bob encostou a faísca na superfície e o gelo começou a derreter. Faíscas amarelas saltaram conforme atravessava o concreto. Apesar do som de fricção, conseguia ouvir os golpes aplicados e recebidos por Natasha. Apressou-se em desenhar um círculo na parede. Ao emendar o final com o início do trabalho, chutou o pedaço desprendido. O som do concreto se chocando contra o chão foi seguido por tiros. Ele sacou seus dois revolveres e respirou fundo. Natasha estava finalizando o último homem, logo cobriria sua retaguarda. Espiou o interior. Era realmente uma sala com meia dúzia de computadores. Os funcionários haviam partido, dando lugar aos soldados. Bob saltou para dentro, atirando, em seguida acionou o jetpack. De cima foi mais fácil acertá-los. Como presumido, sua companheira chegou segundos depois, eliminando os alvos com mais eficácia. Bob ainda precisaria de muitas aulas de tiro para alcançar metade daquela precisão.

O alarme não soou, mesmo com a troca de tiros. Àquela altura todos já teriam percebido que algo estava errado em um dos salões. Um arrepio percorreu a espinha da ruiva. Nada estava bem. Em situações assim, o silêncio nunca é sinal de calmaria. Podia sentir o ar ficando mais pesado. O último homem foi derrubado. Gesticulou para Bob agir rápido nos computadores, enquanto ela cuidava da retaguarda.

— Esta é uma sala de triagem, por isso menos vigiada — informou Bob, teclando ferozmente. Riu, conectando o pen drive na entrada USB. — E com acesso ao sistema. Idiotas!

— Isso não é um parque de diversões — ralhou ela. — Extraia o máximo de informações e vamos dar o fora.

A porta foi escancarada e Natasha pôde vislumbrar a escuridão exterior. Alguém apagou todas as luzes, deixando somente o interior dos complexos iluminados. Imediatamente sentiu-se no centro de um palco, no que logo poderia se transformar num show de horrores. Seu dedo coçou o gatilho, aguardando o momento da ação. Algo foi arremessado da penumbra. O corpo de Kuznetsov parou próximo aos pés dela, com uma perfuração no meio da testa.

— É um prazer finalmente conhecer a outra Viúva.

A voz aveludada e com um toque de escárnio capturou seus sentidos antes mesmo de seus olhos cravarem naquela silhueta ardilosa. Os cachos loiros pendiam abaixo do ombro. A curvatura nos lábios de Belova se elevaram ainda mais ao sentir a hesitação no olhar da adversária.

— Isso é quem estou pensando que é? — perguntou Bob, sem tirar os olhos da tela.

— Não olhe para trás, continue seu trabalho — exclamou Natasha. — Está tudo sob controle.

— Olhar para trás? Claro, porque a última imagem que eu quero levar desse mundo é a cara do meu assassino. Não, vou continuar fazendo o que sempre fiz de melhor: ignorar meus problemas — tagarelou, nervoso.

— Quem é você? — inquiriu a ruiva, ignorando o companheiro. Mantinha a outra sob sua mira, mesmo ela estando desarmada.

— Eu sou a Viúva Negra — sentenciou, com certo tom de obviedade.

— Não, eu sou a Viúva Negra — afirmou de volta, resoluta. — Você é só mais um peão do Leviatã, descartável como Kuznetsov. Saia disso enquanto pode. Ainda há tempo para mudar sua trajetória.

O rosto de Belova se inclinou para o lado, desviando o olhar da ruiva para o garoto de costas, depois voltando a encará-la. A perícia de seu olhar gélido causou desconforto em Natasha. Ou algo como nostalgia. A mulher à sua frente representava um túnel no tempo, um espelho maldito refletindo tudo o que queria esquecer.

— Você se importa com ele — pronunciou-se, afinal, um tanto admirada. — Isso é impossível. Não está na nossa programação.

— Mas está na minha natureza — retrucou. A outra maneou a cabeça, em desagrado. — Escuta, eu também sei o peso das algemas. Velhos hábitos demoram de serem esquecidos. Porém, não significa que estamos presos a eles.

— Não acha que está sendo tola usando esse veneno contra mim? Justo eu? — Sorriu e deu alguns passos adiante.

— Não se aproxime, Belova — avisou, o suor escorrendo por entre os dedos enluvados.

— Você não vai atirar. — Aproximou-se mais. — Seria muito covarde de sua parte atirar em um alvo desarmado, além do mais sabendo que compartilhamos da mesma origem.

— Nat... — implorou Bob, de costas.

O som das armas sendo descarregadas fez Bob soltar vários palavrões em sequência. As informações que estava tendo acesso eram muito valiosas. Valiosas o suficiente para saber que não sairiam dali vivos.

— Bob, quando terminar, fuja sem olhar para trás, está me ouvindo? — ordenou ela, atirando para longe as armas e entrando em posição de ataque. Ele respondeu com outro palavrão, só que em russo, o mesmo que escreveu no vidro do carro anteriormente. De qualquer forma, ela entendeu como um sim.

Uma fúria reprimida transbordou em Belova ao partir para cima de Natasha. Ela foi única coisa que restou de seu passado para se vingar. Para isso, não usaria armas, somente o que eles a ensinaram. Viúva contra Viúva. Somente a morte seria capaz de fazer uma das duas parar.

— Eu vou separar todos os seus membros e fazer com que ele assista — jurou Belova, se protegendo dos golpes com a parte exterior dos braços. — Vou proporciona-lo uma vida longa para que reviva cada imagem.

Natasha acertou um pontapé abaixo do umbigo da loira, a jogando contra a parede, em seguida avançou com o punho cerrado. Belova desviou a tempo, fazendo o soco atingir a parede. A ruiva rapidamente girou no próprio eixo e a atingiu com o cotovelo no meio das costas. Belova perdeu a concentração, então ela a abraçou por trás e aplicou uma chave de pescoço. As duas foram ao chão. Com o impacto, Natasha afrouxou o enlaço, um deslize que a outra aproveitou bem. Recuperando-se como pôde, Belova levantou a mão para trás e atingiu os olhos da adversária. O instinto de sobrevivência foi mais forte e a ruiva levou as mãos ao rosto, em seguida foi atingida por um chute no estômago.

Com o inimigo fora de combate, Belova pôde cuidar da outra parte do problema. Correu a passos largos em direção à Bob, já armando os braços para estrangula-lo. Centímetros separaram suas mãos de toca-lo, pois braços agarraram sua cintura e a empurrou para o lado. Percebeu tarde demais que havia sido leviana por se achar vitoriosa tão cedo. Natasha a prendeu entre as pernas enquanto socava seu rosto sem intervalo. Atrás delas, Bob retirou o pen drive, pronto para partir.

— Rápido, vamos embora — gritou, para ser ouvido acima do som dos golpes.

— Vá, eu te alcanço — prometeu, entre dentes, sem se virar.

— Nós dois sabemos que isso é mentira. — Agarrou o braço dela e a arrastou de cima da loira quase inconsciente, mesmo sob protestos.

Bob tomou impulso através de duas longas passadas e saltou, segurando Natasha pelos pulsos. O jetpack se acionou e eles voaram em direção ao buraco na parede. A corrente de ar do lado de fora desestabilizou a subida, atrasando a funga. Os flocos de neve se chocavam contra o rosto nu de Natasha, o que a impedia de abrir os olhos. Ela enlaçou os braços em volta do pescoço de Bob e encostou o rosto no peito dele, na esperança de conseguir enxergar algo. Sua visão ainda estava turva pelo golpe sujo de Belova. Duas hastes se encaixaram em seu rosto, então abriu os olhos. Bob lhe cedeu o visor para que pudesse preservar sua visão.

— Ficou louco? Como você vai enxergar? — berrou ela, em meio ao zumbido do vento.

— Não preciso enxergar para ganhar altitude — argumentou.

Um zunido varou o ar e explodiu próximo aos seus ouvidos. Bob soltou um urro de dor antes que ela pudesse processar o ocorrido. Olhou para baixo e localizou Belova de joelhos na neve, com um visor e rifle em mãos. Uma mão agarrou a sua e a prendeu no cinto ao redor do peito do jovem ferido. O líquido quente fez o material ficar escorregadio.

— O que está fazendo?

— Só um de nós vai conseguir, e tem que ser você — gritou de volta.

— Não!

Antes que pudesse contra argumentar, a outra mão de Bob destravou a trava de segurança e seu corpo despencou. Imediatamente o jetpack ganhou novo impulso e subiu mais rápido. Natasha quis que o vento zumbisse fosse ainda mais forte para impedi-la de ouvir o som do corpo dele se chocando contra o chão.


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Notas finais do capítulo

O mundo não merece o Bob ❤
O próximo capítulo sai em breve, com muito mais emoções -q
Beijinhos invernais!



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