Trakai - Love Is Unpredictable escrita por lotusflower


Capítulo 6
Capítulo 6


Notas iniciais do capítulo

Oi, oi migos!
Esse fim de semana rendeu: consegui escrever e publicar dois capítulos novos pra vocês, UHU!
Aqui vai mais um, espero que gostem. Minhas considerações, avisos e opiniões estarão no fim da página. Boa leitura!
Mas já adianto: esse finalmente é o último capítulo de Emma e Regina crianças. :D



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– O que? Você está insana, Emma! Eu não tenho pontaria nenhuma! Vou acabar machucando alguém.

– Gina, se demonstrar suas habilidades, principalmente as “de guerra”, eles vão ver que você será uma ótima rainha, e se não, terão medo de você.

Regina mordeu o lábio inferior como sempre fazia frente à uma loucura da amiga mais nova. Sentiu Emma colocar em sua mão um arco e flecha pequeno demais perto do tamanho padrão que conhecia de longe, e logo sentiu a amiga abraça-la por trás, segurando seus braços numa posição desconfortável.

– Esse foi o meu primeiro arco. Meu pai quem entalhou pra mim, mas você pode usar. Gina, tem que mirar o alvo com esta flecha. - Ela colocou a arma no arco. - Puxe, mire novamente, coloque um pé à frente do outro. Não respire e... atire! - Emma largou a mão de Regina, que soltou a flecha e acertou no alvo, próximo ao centro. - Sua vez, sozinha.

Regina engoliu em seco e repetiu os processos. Dentro de sua cabeça pensava se era certo ela querer que seu futuro povo pudesse teme-la por suas práticas com guerra ou se queria ser eternamente alvo de zombaria e chacotas. Olhou para os olhos verdes de sua amiga e soube no momento o que queria: Queria ser como Emma. Boa e habilidosa, uma pessoa de quem as pessoas não temem, mesmo com todas as ideias suicidas que a menina às vezes expunha. Prendeu a respiração e viu sua flecha atingir a parede e cair no chão.

– Tudo bem, Gina. Você foi bem melhor do que quando eu atirei pela primeira vez. Tente de novo.

– Emma, eu não consigo. Eu não sei fazer isso.

– Consegue sim. Pensa que aquilo é... uma maçã linda, grande e suculenta no galho mais alto da sua macieira e você quer muito comê-la! - Emma sentenciou como motivação para a princesa.

Regina repetiu tudo de novo e nada. Errou todas as vezes que tentou, porém, sua flechas estavam cada vez mais próximas da placa do alvo.

– Cansei disso.

– Amanhã você treina mais... Logo você estará tão boa quanto eu. - A mais nova olhou pela janela e observou as sombras no chão. - Acho melhor irmos andando, já é quase hora do almoço.

– Ah, não! Viemos até aqui, quero ver o Rocinante. - Regina sorriu, iluminada e correu até o estábulo de seu cavalo. Ficou por alguns momentos fazendo carinho em seu corcel, escovou sua crina enquanto conversava com ele e com Emma, que fechou a sala pequena do estábulo e sentou-se no balcão onde estavam guardados os suprimentos dos animais.

– Estava com tanta saudade dele... Podemos ir cavalgar amanhã, o que acha? Mamãe não vai estar no castelo e Zelena já melhorou. Aliás, onde está seu pai?

– Não sei dizer se Aklas vai aguentar uma caminhada essa semana... Ele andou bastante ontem. Meu pai foi caminhar com o potro novo. Ele está bem rebelde.

– Emma, por favor! Só quero andar um pouco com Rocinante, e você pode pegar uma égua aqui do estábulo... Por favor, lembre-se: meu aniversário está chegando!

– E o que tem isso? - Emma riu, pulando do balcão e fugindo a Regina que corria atrás dela, com implicância de mentira. Alcançaram o portão do castelo e pararam por lá. Despediram-se, e Emma voltou para o estábulo, enquanto Regina iria almoçar e depois partir à sua aula, enfrentar mais zombarias. Em breve, ela poria um fim nisso.

A semana passou muito rápido e todos no Castelo estavam ocupados com o aniversário de Regina, o que resultou em dias de poucas brincadeiras. No fim das contas, conseguiram escapar um dia do castelo e cavalgarem até o lago, Zelena levara Emma como acompanhante no cavalo, já que era mais velha e sabia cavalgar com segurança por ela e para a colega. Divertiram-se como há muito tempo não faziam, inclusive a princesa ruiva. Também Regina treinava arco e flecha na salinha do curral em segredo, ou com Emma ou sozinha, quando sua mãe não estava em cima. Havia melhorado um bocado e até se viu gostando da atividade. No sábado, houve uma cerimônia na catedral só para Regina, onde todo o reino se reuniu, e em seguida uma festa de dois dias e uma noite em comemoração à garota, com convidados dos reinados vizinhos. Snow fora dispensada com a desculpa de que Cora não gostaria de ver uma criada na festa, se não fosse trabalhando, mas a verdade era que a rainha não queria ver a repugnante e pobre filha da ama seca. Só houve um problema: esquecera de avisar Emma e Regina disso. Regina estava contando com a presença da amiga desde sempre, para todas suas festas e comemorações da vida, e Emma prometera que iria estar em tudo. Dessa vez, não seria diferente. Logo cedo no segundo dia, Emma passou correndo pela porta da cozinha com a sua melhor capa e os cabelos loiros trançados num penteado feito por sua mãe. Foi direto ao quarto de Regina com sua bolsa pendurada no ombro. Abriu a porta e pulou na cama, em cima de Regina.

– Acorda, princesa! É seu aniversário! - Emma riu abertamente enquanto uma Regina assustada embaixo de si revirou, tentando entender o que acontecia.

– Emma... não se deve acordar as pessoas assim, muito menos no aniversário delas...

– Tudo bem, mas eu preciso te mostrar uma coisa. - A mais nova pegou na mão da amiga e a puxou pelos enormes corredores até a torre de Dom Quixote e fechou a porta atrás de si.

– Sabe o que acontecerá comigo se minha mãe me vir com essa roupa, Emma?

– Ah, ela não vai te ver.

– Porque me trouxe aqui?

– Porque... - Emma diminuiu o tom da voz. - Bom, eu tenho um presente pra você. Mas eu... fiquei com vergonha de te entregar na frente dos outros.

– Um presente pra mim?

– Sim.

– E porque ficou com vergonha?

– Porque não é nada do tipo que você costuma ganhar, sabe? Seda finas, ouro, aquelas coisas fedidas...

– Incensos? Odeio isso. Ah, Emma. Ande logo com isso. Dê meu presente antes que eu ache que você quer ficar com ele. - Regina riu, dando um tapinha na amiga.

Emma suspirou, tentando forçar em sua cabeça que sua amiga gostasse da surpresa, abriu a bolsa e retirou uma boneca muito parecida com a sua, porém com um vestido mais gracioso, rosa, e com cabelos morenos e olhos castanhos. Regina pegou a boneca nas mãos, sem dizer nada talvez porque sua boca estava aberta numa perfeita máscara de surpresa. As suas pequenas mãos agarram a boneca com força e ela ficou parada, observando cada detalhe na boneca.

– Gina? Não gostou? - Emma perguntou apreensiva. - Bom, era pra ser você, igual a boneca que minha vó fez pra mim, eu vi que você gostou e aí você disse que não tinha bonecas, e então pedi para meu pai me levar até a casa dela e pedi pra ela fazer uma pra você e...- Emma parou de tagarelar no mesmo momento que os braços de Regina a sufocaram num abraço apertado.

– Emma, silêncio. É o melhor presente que eu já ganhei na minha vida toda e duvido que alguma coisa possa superar isso um dia.

– Então você gostou?

– Eu amei. Obrigada, amiga. - Regina abraçou a loira novamente. - Obrigada, mil vezes obrigada! - Ela pulou de alegria com a boneca nos braços.

Saíram da torre e voltaram para o quarto de Regina, onde ela se vestia e se aprontava para sua festa com a boneca em mãos o tempo todo. Durante a festa, Cora trombou com Emma e Regina brincando na festa sozinhas, longe das outras crianças. Na cabeça da rainha, aquilo não se encaixava e ela teve de fazer um enorme esforço para se impedir de ir até ela s e esbofetear a cara da plebeia que invadira uma festa real, porém pensou em todas as pessoas que estavam presentes e lembrou-se de que para eles, ela era a melhor rainha, a mais benevolente e a que entendia a realeza. Então respirou fundo e prometeu fazer algo contra a menina de Snow White assim que o dia amanhecesse. Anoiteceu e as amigas se separaram para descansar. No outro dia, brincariam o tempo todo com as bonecas na torre.

No meio da noite, em aversão à todos os planos das amigas de mundos diferentes, uma figura torta e pequena deixou um recado por debaixo da porta de Snow White. Um recado tão mal-educado que, no momento em que o leu no outro dia de manhã, soube de quem era sem precisar vem de quem era a assinatura. Advertiu David para que não deixasse Emma entrar no castelo em momento algum do dia, mesmo que aquilo fosse difícil de explicar para sua pequena e engenhosa filha. O que houve foi exatamente o contrário do que havia pedido: David não conseguiu segurar a filha o dia todo e esta escapou.

Emma correu pela entrada que sempre utilizava, determinada e foi direto ao salão onde Zelena e Regina faziam qualquer coisa.

– Emma? Você não pode mais entrar aqui! - Zelena arregalou os enormes olhos verdes feito esmeraldas em preocupação.

– Eu achei que você não vinha mais de verdade. - Regina, que estava sentada em uma das cadeiras com a boneca no colo, levantou-se e correu até a amiga num abraço.

– Emma, você deveria ter ficado com seu pai. - Snow pediu, aflita.

– O que eu fiz? Zelena, foi você? - Emma perguntou, sabendo que a princesa mais velha, às vezes fazia qualquer coisa pra salvar sua pele.

– Não. Eu juro. Você gosta de brincar das coisas malucas comigo. - Zelena confessou. Na moça que vinha se transformando com o tempo, Snow sentiu uma pontada de infância na princesa ainda.

– Você não fez nada. Mamãe disse que... não podemos mais brincar juntas e que não quer mais você aqui no castelo. Por favor, você não vai parar de vir, não é?

– Claro que não. Você é a minha única e melhor amiga. Mãe... posso ficar? Por favor?

– Vocês tem que se esconder. - Snow não podia deixar aquilo acontecer, mas isso não mudaria hoje. Ela só deveria tomar cuidado porque seu emprego e a única coisa que sabia fazer estava em jogo. Aliás, o dela e o de David. Zelena correu para a porta e a abriu.

– Eu vou distrair a mamãe. Mas não demorem muito, se você se atrasar pro almoço, mamãe vai desconfiar, Regina.

– Você não vai, Zel? - Regina perguntou e a irmã fez que não.

– Aproveite que eu estou me sentindo boa hoje. E isso não vai acontecer sempre.

As meninas assentiram e olharam pra Snow, que olhou para o outro lado, em sinal de que faria vista grossa para a situação. Seu coração doía só de imaginar o que Cora podia fazer com sua filha e com o emprego que ela precisava e muito.

As meninas correram para a torre o mais rápido possível, antes que alguém as visse.

– Emma, me desculpa.

– Porquê?

– Eu queria muito ir lá e dizer pra minha mãe que você não vai ser proibida de entrar aqui, mas eu não posso.

– Tudo bem, Gina. Acho que vamos ter que nos ver menos, não é? Mesmo assim, vamos continuar amigas, não vamos? - Emma olhou suplicante.

– Claro que vamos. Chega de falar disso, quero brincar com a minha boneca nova. Ela é bem mais bonita que a sua. - Regina riu.

– Não, não. A minha é. Parece comigo... - Emma entrou na brincadeira e gastaram o tempo brincando quietinhas na torre e saíram tão escondidas quanto foram até lá, perto da hora do almoço. Despediram-se e Emma voltou para o estábulo.

Quando os reis viajavam, as meninas brincavam livres pelo castelo o tempo todo, afinal, o responsável pelo local na falta dos reis era um amigo de longa data de Eva White e conhecia toda a linhagem dela. Porém, quando os soberanos estavam lá, elas viam-se apenas escondidas. As visitas de Emma passaram de todos os dias para apenas quatro dias na semana. As meninas eram otimistas e diziam uma à outra que a saudade deixava as brincadeiras melhores, o que não deixava de ser verdade. De repente, em uma semana, Emma não apareceu e nem mandou notícias, o que fez a princesa morena não resistir e perguntar diretamente à fonte.

– Snow, o que houve com Emma? Ela não apareceu mais...

– Ah, Gina, eu achei que ela havia te contado. Emma está com uma gripe muito forte, mal consegue se levantar da cama. Mas ela vai ficar bem e logo volta para brincar com você... -Snow sorriu por fora, entretanto, por dentro só tinha preocupações. Emma estava realmente muito mal, piorou de uma hora para outra, talvez por causa da mudança de clima repentina que fizera. O dia passou se arrastando para Snow e quando a noite caiu, ela correu para sua pequena casa de madeira para cuidar de sua menina. O que não imaginou foi que no meio da noite, literalmente, ouviria alguém à sua porta. Não havia dormido ainda porque Emma tossia demais e não queria deixa-la acordada sozinha. Quando ouviu o primeiro toque, seu coração apertou, imaginando que fosse algum furtador que invadira os muros da propriedade do castelo, ou que fosse alguém à mandato da rainha que descobrira sobre Regina e Emma brincando juntas novamente. No segundo toque, Snow encheu seu pulmão com ar e coragem e abriu a porta. Assim que abriu, junto com uma lufada forte de vento gelado, encontrou uma capa vermelha e dourada à sua frente.

– Regina?! O que está fazendo fora do castelo? Ah, meu Deus! Aconteceu alguma coisa, alguém te viu saindo? - Snow puxou a menina pra dentro rapidamente, evitando que se alguém ainda não tivesse visto a criança, não visse mais.

– Desculpe-me te acordar, Snow. Mas... a senhora disse que a Emma está doente, e eu tinha que vir vê-la. Eu posso? Vai ser rápido. Eu prometo!

A mulher pôs a mão no peito. Nunca imaginou que a amizade de sua filha e a princesa desse certo, mas ela sempre se enganava. Abaixou-se na altura da menina e olhou-a nos olhos.

– Regina, tem que me prometer que nunca mais vai fazer isso de novo. É muito perigoso e se sua mãe descobrir, acho que ela deserda-te. Promete que nunca mais fará isso?

– Mas...

– Regina.

– Tudo bem. Eu prometo.

– Certo. Venha, então. Emma ainda não conseguiu dormir. Mas seja rápida, vou levar você de volta par o castelo antes que alguém note sua ausência. Emma...? - Snow bateu à porta do único cômodo separado do resto da pequena casa.

– Meu bem, você tem uma visita...- Snow sorriu e abriu passagem para Regina.

– Gina! - Emma se animou na cama e quase acordou David quando a amiga aproximou-se dela para um abraço.

– Emma, você tem que e avisar quando estiver começando a se sentir mal! Quase não soube que estava doente e achei que estava brava comigo por causa da mamãe.

– Foi de uma hora pra outra, Gina. Não me culpe. Como chegou aqui?

– Eu fugi.

– Bela técnica. - As duas riram.

– Eu trouxe uma coisa pra você. - Regina tirou da bolsa duas maçãs enormes e brilhantes. - Colhi hoje de manhã, foram as melhores. E tem vitaminas, pode te ajudar a melhorar.

– Obrigada. - Emma colocou-as na pequena mesinha de madeira ao lado da cama. - Eu nem imaginei que pudesse vir me ver.

– Como não? Claro que viria. Nós somos amigas, lembra? Além disso, pra quem eu iria contar que outro dia, após uma aula no jardim, aqueles garotos filhos do conde partiram pra cima de mim, mas eu os assustei com a minha bela pontaria no arco e flecha?

– Jura?

Regina assentiu com um sorriso orgulhoso.

– Muito bem, pupila. - As duas riram. - Estou orgulhosa de você, Gina. Viu? Eu disse que conseguiria.

– Eu fiquei bem assustada na verdade, mas deu certo pelo menos. Agora ninguém implica mais comigo, tirando a Zel.

– Como ela está?

– Bem. Mandou-lhe melhoras e ficou pra me dar cobertura.

– Parece que vocês três têm todo um esquema de fuga perfeito... Podem ir com essa estratégia para uma guerra e saírem ilesas. - Snow adentrou o quarto com duas canecas de barro cheias de chá de gengibre e louro. Entregou uma para Emma e uma para Regina.

– Tome, não faz bem caminhar nesse frio à noite. Não é mesmo, Emma? - Snow viu a menina dar de ombros com a alfinetada verbal que acabara de levar de sua mãe.

Mais alguns minutos e Snow levou Regina de volta para o castelo na surdina, rezando para que ninguém notasse um lampião andando pelo meio do gramado à madrugada. Depois do episódio da visita de Regina à Emma, Snow percebeu que sua filha melhorara de forma exponencial todos os dias até sua total recuperação e não demorou muito para que ela voltasse à aprontar como antes e insistisse para ir ao castelo brincar com Regina. Num dia de manhã em que a rainha e o rei preparavam suas coisas para visitarem o reino mais distante ao norte, Emma adentrou pela porta da cozinha, cumprimentou os outros empregados e foi direto à sala onde Snow e as princesas estavam.

– Bom dia, flores do dia! - A loira anunciou de bom humor. - Vamos brincar do que hoje?

– Eu não vou, Emma. Vou viajar com mamãe.

– Porque?

– Não sei. Ela quer que eu conheça o castelo do norte por algum forte motivo. Eu estou animada, apesar disso. Vou sair do castelo um pouco. - A ruiva deu de ombros e apontou um enorme baú no canto da sala.

– Acho melhor irmos logo então, antes que mamãe venha buscar, Zel. - Regina pegou a sua boneca e correu com Emma até a torre. Arrumaram todo o espaço e brincaram por muito tempo, até se cansarem. Regina abriu a gaveta do armário de madeira de Dom Quixote e pegou o diário.

– Eu consigo ler o que ele escreveu agora, sabia? - A princesa olhou para a amiga sentada na cama e foi à seu lado.

– E o que diz aí?

– Escolhe uma página.

– Aquela com os dragões e a floresta de fogo. - Emma disse sem hesitar.

– “A estrada de pedregulhos abriu-se à minha frente e foi quando percebi que todas as árvores flamejavam de acordo com o vento. O frio da espinha que o medo me proporcionava se esvaiu assim que o bafo quente da floresta que queimava me atingiu. Sancho olhou-me suplicante, mas eu disse à ele que nada temesse. Éramos fortes e bravos cavaleiros em busca de minha querida Dulcineia. Nossos cavalos tiveram as crinas trançadas para evitar que queimassem se encostassem em alguma pequena chama e adentramos a mata. Não foi uma boa escolha. Os dragões, donos das chamas vivas da floresta e protetores de algo valioso que nunca cheguei a descobrir, acordaram e começaram a sobrevoar a área onde nos encontrávamos. Eu e Sancho nos abrigamos rapidamente numa caverna ao leste..”. Acaba aqui. Descobri que tem algumas páginas faltando.

– Uau. É uma ótima história. Será que essa floresta existe mesmo?

– Acho que não. Nem os dragões.

– Mas seria muito bom se existissem, não.

– Sim. EU gostaria de ter um dragão... Diga outra página.

– A última.

– “Minha odisseia chegou ao fim há algum tempo. Desde que retornei com Sancho Pança para o reino de meu pai, fiquei trancafiado neste quarto minúsculo e imundo. Não posso ver a luz do sol, ou melhor, o meu sol. Aquele que saí procurar e nunca percebi que estava o tempo todo à meu lado. Foi por causa de nosso amor que aqui estou, e é por causa de Sancho que me tornei alguém melhor. É por ele, é por não entender porque não podemos ser felizes juntos, apenas mantidos por nosso amor, que não tenho mais forças de manter os meu solhos abertos. Sempre que posso, mantenho-me deitado lembrando de nossa longa viagem, e de repente, me lembro novamente do momento em que nos declaramos e eu fui tido como demente, insano, mentecapto. Essa terra não reconhece mais o amor, não reconhece a natureza humana e sendo assim, me recuso à dividir este plano com eles. Aqui, ponho um fim em minha história. Sancho ficará bem, tenho certeza assim como sei que ele tem total percepção do amor que nutro por ele. Juramos amor eterno ao lado do pé de macieira no jardim e assim será para sempre, homens querendo ou não. Deixo então minha vida escorrer por meus dedos. Quero terminar minha vida com o último suspiro destinado à amar Gemolo Arturo de Fiero, meu Sancho Pança.” - Regina terminou de ler e não disse mais nada. Apenas analisava o papel surpresa.

–A Dulcineia dele era o Sancho... Sempre foi... - Emma concluiu num fio de voz.

– Ele... Morreu por causa do Sancho. Meu tataravô morreu porque achavam que ele era louco só porque le amou seu fiel escudeiro. Ele... se matou por amor, Emma. - Regina limpou uma lágrima em seu rosto.

– Na verdade, ele é o único mais certo ao final. Sabe, eu não entendo como pode ser errado amar alguém, mesmo que esse alguém seja menino, ou menina com menina.

Ficaram um bom tempo em silêncio digerindo a história verdadeira de Dom Quixote. A infância toda ficaram imaginando diversas coisas apenas pelos desenhos, mas agora que Regina podia ler bem, descobriram que a história não era nada parecida com aquilo que sonhavam.

– Vamos voltar. - Emma falou por fim. Arrumaram tudo o que haviam tirado do lugar e saíram do quarto da torre. Fizeram o caminho de volta bem devagar, ainda com a história do passado de Dom Quixote ecoando na cabeça e mal perceberam que Cora estava perambulando pelo castelo, arrumando os últimos detalhes da viagem. Só perceberam quando, prestes à virar um dos corredores, Regina viu a mãe de costas para ela, conversando com um dos criados. Ela empurrou Emma de volta, tampando-lhe a boca.

– Minha mãe está aqui nesse corredor!

– E agora?

As duas meninas cochichavam. Regina passou os olhos pelo corredor que tinham acabado de passar procurando por uma outra saída e não encontrou saída, apenas a porta da biblioteca. Era o único jeito. Entrar e esperar Cora ir embora.

Puxou Emma pela mão e empurrou-a para dentro do cômodo enorme cheio de prateleiras e milhares de livros. Fechou a porta e abriu as cortinas, clareando o lugar. Quando virou-se para Emma novamente, percebeu que a mesma não tinha se movido ainda.

– O que foi?

– O que... é isso?

– É a biblioteca do meu pai.

– Não conhecia aqui ainda.

– Nem eu. Conheci na semana passada quando Zel veio pedir ajuda para pegar alguns livros. Eu nem sabia que esse cômodo existia.

– O que é tudo isso?

– São livros. Tem milhares deles pelas prateleiras, e aqueles baús guardam mais vários.

– Livros como o de Dom Quixote?

– Não. Aquilo é um diário. Esses são livros: de histórias, sobre batalhas, escrituras sagradas, receitas, tudo o que pode imaginar está aqui escrito em alguma página desses livros.

– Uau! - Emma arrancou um de uma prateleira com capa dourada, empoeirado e robusto. - São lindos...

– Quer pegar algum?

– Gina, eu não sei ler. O que eu poderia fazer com um destes? Talvez se tiver figuras, mas mesmo assim...

A princesa parou por um momento.

– Já sei! Emma. Eu não vou mais brincar com você!

– Não? Porque? O que eu fiz agora?

– Não fez nada. Eu não vou mais brincar com você porque vamos usar nosso tempo livre para te ensinar a ler. Eu vou te ensinar! Posso fazer isso.

– De verdade?

– Claro.

– Mas e se eu for azêmola demais para isso?

– Emma, você me ensinou a atirar e me disse que qualquer um é capaz de fazer o que quiser. Pare com isso. Vou te ensinar e você vai aprender tão rápido que nem vai notar. Vamos, escolha um livro, é por ele que vamos começar. E depois escolha mais um para levar para sua casa e treinar enquanto eu estiver em minhas aulas.

– Ok. Quero este para começarmos. - Ela mostrou o livro que tinha nas mãos e entregou-o a Regina que folheou algumas páginas.

– Boa escolha. Esse aqui fala sobre algumas guerras históricas.

– E este aqui quero emprestar.

– “1001 plantas com propriedades medicinais e seus usos”. É um manual.

– Tem desenhos, se eu não conseguir aprender a ler pelo menos.

Ficaram lá por alguns momentos, dando tempo suficiente para que Cora livrasse o corredor e depois voltaram para o salão. Emma correu para o estábulo com seu pai enquanto Regina almoçava com sua família e se despedia deles. O tempo que transcorreu pelo mês em que a Rainha, o Rei e a princesa mais velha estavam viajando foi utilizado pelas amigas que passavam horas e horas na grande sala onde Regina costumava ter aulas. Aulas estas que foram suspensas no período que nenhum dos reis estivesse na propriedade, e afinal, porque Zelena não podia perde-las tanto tempo. Snow achava até estranho e duvidoso que as duas passassem tanto tempo quietas num lugar só, mas não se preocupou. Eram boas meninas e a morena confiava nas crianças. À cada dia, Emma se interessa mais e mais pela prática da leitura e dedicava todo o seu tempo para aprender com Regina, quem ela acreditava saber tanto. Claro, tinham seus momentos de brincadeira, cavalgadas ao pôr do sol, treinos de arco e flecha e tudo mais, porém, gastavam a maior parte do dia lendo e lendo sem fim. E à noite, quando se despediam, Emma voltava para casa e praticava sua leitura com o livro. Num primeiro momento, foi difícil desembaralhar todas as palavras e letras, porém, Emma era uma menina esperta e logo conseguiu se virar. Sem saber, em pouco tempo já lia a maioria das palavras de seu livro e graças aos desenhos, sabia identificar mais de 55 plantas medicinais e seus usos, o que vinha sempre à calhar quando seu pai tinha dores musculares e ela podia preparar uma pasta contra a dor ou quando sua mãe estava ficando rouca e ela podia preparar um chá para remediar. Regina, assim como Emma ficara dela um tempo atrás, ficava orgulhosa da amiga quando via o seu progresso. Talvez com isso, pudesse oferecer um futuro um pouco melhor à amiga. Ela já ouvira Snow dizer à Ruby, uma criada gentil da cozinha que os tempos estavam cada vez mais difíceis e ela não sabia o que fazer em relação ao futuro de Emma.


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Notas finais do capítulo

E aí? Gostaram?
Espero que sim!!
Bom, com certeza vocês notaram que eu mudei a história do Dom Quixote, né? Isso vai ter um peso grande mais pra frente.
Como essa semana tem feriado, talvez eu poste mais um capítulo, porém, não prometo nada. Estou querendo atualizar a minha outra fic aqui (The New Avengers).
Comentem com suas opiniões, elogios, críticas... É legal ver o que vocês pensam! E indiquem pros amigos!
Beijas e utas!



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