Quando saí com Alicia, já era de noite. Sabia que Gil ficaria brabo de haver tirado ela tão tarde de casa, ainda mais com o bilhete que havia escrito:

“Sequestrei sua filha, devolvo quando quiser. Beijos, Sar”.

Ele com certeza ficaria louco quando lesse aquilo, e eu não estava me importando. Coloquei um casaco em Alicia, e em seguida fomos para o carro, a mocinha ainda ia sentada na cadeirinha no banco de trás enquanto eu dirigia. Colocamos uma música e fomos cantando, ao chegar ao estacionamento do hospital. A desci do carro, depois eu o tranquei, Alicia e eu entramos de mãos dadas no hospital.

— Isso aqui é enorme. – Alicia disse olhando para o alto. – Não tinha reparado isso na outra vez.

— É sim. – Ainda segurando sua mãozinha ela ia ao meu lado a passos curtos.

Entramos no elevador e percebi ela ficar amedrontada.

— Vamos de escada? – Disse antes de a porta fechar.

— Não, vamos Ju. Coragem! Vai ser divertido.

Ela reuniu todas as forças para se encorajar, a porta fechou e o elevador começou a se movimentar. Depois de tudo, quem se arrependeu era eu, ela queria passear de elevador.

— Vamos de novo depois? – Ela perguntou com seu lindo sorriso infantil nos lábios.

— Está certo, depois vamos de novo.

Levei então Alicia até o quarto de Sophia, mas não sem antes falar com Hank, que me assegurou que estava a ponto de me ligar, pois Sophia recém acordara. Alicia entrou no quarto, e viu a minha pequena na cama.

Sophia já conseguia se erguer, as vezes se desequilibrava, mas já tinha força para manter a cabeça erguida sobre o pescoço e já conseguia sentar sem encosto, embora cansasse rápido.

— Mazinha. – Sophia disse quando me viu, com um sorriso no rosto.

Sorri feliz, cada dia Sophia estava melhor. E Alicia se aproximou com cautela, ela percebia que Sophia era diferente, ou pelo menos estava diferente naquele momento. Aos poucos as duas começaram a se comunicar da sua maneira, e logo Alicia já estava sentada na cama hospitalar junto a Sophia e as duas brincavam.

Fiquei observando as duas, comparando Alicia a Sophia, podia ver que Sophia tinha sérios problemas de coordenação motora, a fala atrasada, e ela não entendia muitas palavras que crianças da idade dela tinham que saber.

Quando percebi que Alicia e Sophia começaram a cansar, chamei Hank para que ficasse com Sophia enquanto levava Alicia para casa. Ela já dormia no carro, e quando estacionei o carro na frente de casa, tive de leva-la dormindo para o quarto, coloquei-a na cama e ela nem acordou. Ao contrário do que eu pensei Gil não me recriminou por isto, e estava até feliz de ver que as coisas haviam acalmado.

— Minhas mulheres se divertiram? – Como assim “minhas”, desde quando eu havia virado propriedade deles.

— Suas? – Fitei-o séria. – Desde quando te dei o papel de propriedade sobre mim.

Ele então se aproximou de mim e me cheirou o pescoço me fazendo arrepiar até a alma. E maliciosamente murmurou em meu ouvido:

— Desde quando você me pediu para lhe dar aulas de sexo.

Ruborizei.