Alguns dias haviam se passado e o noivado já fora anunciado, um jantar seria feito na casa dos Mellark's hoje à noite como comemoração. Quase toda a corte fora convidada, até mesmo a família real, que confirmou sua presença. Estaria lotado de pessoas que presenciaram sua sentença.

Katniss estava cada dia mais desesperada, sentia-se nervosa a cada dia que se passava. Nem mesmo os doces da cozinha a acalmava. Ela não havia visto Peeta desde a manhã retrasada, onde o mesmo havia dito que não tinha conseguido achar uma solução para o problema dos dois. Contou que Gale fez o que pediu e seu pai negou firmemente que não haveria forma de cancelar o casamento, até mesmo o rei estava ciente do casamento e aprovou o mesmo. Essa notícia surpreendeu tanto Katniss quanto Peeta, afinal o rei não tinha costume de se importar com assuntos que não lhe trouxesse vantagem.

Katniss, por mais que se negasse, sabia que não havia mais jeito e querendo ou não se irão se casar. A mãe já mandará uma das melhores estilistas fazer seu vestido, que seguiria o padrão da Inglaterra, adotado pela rainha Vitória em seu casamento a anos atrás. A mãe comentara que o tecido era tão branco quanto as nuvens e que a filha subiria ao altar como uma verdadeira princesa.

Annie comentava que ajudou a mãe a escolher o enxoval de casamento e que as peças eram uma mais bela que a outra, tanto a senhora Everdeen quanto a Mellark não pouparam em fazer o casamento perfeito para os filhos.

Madge lhe fez uma visita naquela semana, contando como quase todos sabiam de seu noivado e como estavam ansiosos. Mesmo animada, a menina mostrou preocupação com o estado da amiga. Katniss apenas desabafou o que sentia sem medo de ser julgada, essa era a vantagem de ter Madge como confidente, a menina nunca julgava o erro dos outros. Às vezes desejava ser como Madge, sempre vendo o lado bom das coisas, até mesmo nas situações mais difíceis. Talvez deste modo estaria menos triste, não se sentiria tão infeliz.

Ela olhava para o vestido de hoje a noite, que repousava sobre a cama. Sabia que aquela noite também ficaria com marcas na barriga, já que a mãe ordenou que ela esteja com uma cintura invejável. O sorriso sempre teria de estar em seu rosto e Mellark poderia corteja-la sempre que quiser. Lhe deixava apavorada a ideia de que em trinta dias teria que subir ao altar e dizer o doloroso sim.

No lado de fora o céu escurecia, o Sol dava lugar a Lua, que surgia do meio das nuvens. O azul celeste era trocado por um azul marinho. Estava próximo do jantar, isso fazia suas mãos tremer. Ela anda de um lado para o outro em seu quarto, era notável seu nervosismo. As borboletas que batiam asas de maneira incansável em seu estômago a fez se sentar. Estaria ela ficando louca?

— Vamos querida, acabei de preparar seu banho – anucia Mags. A mesma acabara de sair do banheiro, onde havia preparado o banho da menina com alguns óleos relaxantes e perfumados. Assim deixaria a menina mais calma.

— Estou com medo, Mags – confessou enquanto apertava ambas as mãos sentada na cama, a mulher compreendia a menina, também desejava que nesse casamento que a garota tanto detestava, a mesma pudesse encontrar o amor.

— Tudo sairá bem, minha menina – afirmou Mags, segurando suas mãos com firmeza, como se pudesse passar toda a confiança necessária que faltava. Katniss apenas lhe devolveu um triste sorriso antes de se levantar.

As duas seguiram até o banheiro, onde Katniss retirou o robe e afundou na água morna. Mags fez uma massagem em seus ombros e a mesma se permitiu relaxar. Parecia que havia retornado a infância, quando as duas brincavam com alguns brinquedos na banheira para depois Mags fazer uma massagem. Katniss sentia-se como um passarinho se refugiando nas asas da mãe.

Quando terminou seu banho, com ajuda de Mags, vestiu suas roupas íntimas e colocou o espartilho. A cada puxada das cordas, ela prendia a respiração o máximo que conseguia, e assim que Mags fez o laço e disse que faltava somente por o vestido e fazer o penteado, a garota suspirou aliviada. Enfim a pequena tortura acabou.

Enquanto Mags fazia as maravilhas em seu cabelo, mais um de seus maravilhosos penteados, com direito a tranças e cachos . Katniss se observava no espelho. O vestido cinza brilhante como prata pura, com flores lilás como as que tinha visto mês passado no jardim da família, preenchiam todo o tecido. As mangas um pouco bufantes, com dois pequenos babados, emoduravam os braços claros e nervosos. O busto justo, deixando visível a fina cintura graças ao espartilho, para completar. Como o vestido era para uma  ocasião especial, os ombros estavam visíveis o que normalmente não era possível no dia a dia. Como a mãe dissera estava linda como uma princesa, mas não feliz como uma.

— Nunca a vi tão linda – comentou Mags emocionada. Katniss também deveria estar, porém se negava a todo custo. Ela não desejava isso.

Calçou as sapatilhas da mesma cor que as flores do vestido e desceu as escadas. A mãe lhe aconselhou a usar um fino e delicado colar, para apenas dizer que usava jóias. O pai a elogio, chamando-a de jóia rara e que estava linda. Os pais estavam felizes, porém a menina não compartilhava de sua felicidade, apenas uma solitária lágrima desceu sobre sua face. Estava entrando em uma prisão sem chance de liberdade.

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Peeta estava  vestido como um verdadeiro duque, os trajes escuros e uma rosa branca no bolso que contratação contra a escuridão. Tinha que estar bem vestido para o grande jantar, que mais parecia um baile, para anuciar o noivado estava acontecendo naquele momento. Ele estava apenas na sacada tomando um pouco de ar e pensando, longe de toda a agitação do salão principal. Pensava na insolente Katniss, que alguns dias mostrava-se confiante quando afirmava que conseguiriam pensar em algo. Porém não conseguiram, e o casamento viria acontecer.

Ele viu quando a carruagem de sua família chegou, quando a mesma desceu junto da mãe. Estava bela como as estrelas da noite, mas sua expressão denunciava desespero. Mesmo que ele não quisesse se casar com a mesma não desejava condenar sua felicidade, deste modo decidiu que se o casamento acontecesse, ele a trataria como irmã e assim faria feliz no máximo que conseguia.

Era uma solução menos dolorosa e mais digna.

Peeta retornou ao salão e cumprimentava alguns nobres educadamente. Seu pai conversava com o rei, que parecia contente com o que ouvia.

— Vossa Majestade, lembra-se de Peeta, meu herdeiro mais velho?– pergunta o duque

— Claro, não me esqueceria de meu sobrinho. Como cresceu rapaz, espero que me sirva tão bem e fielmente como seu pai – fala o rei Snow, mostrando os dentes incrivelmente brancos sobre a barba da mesma cor.

— Será um prazer, Majestade – fala Peeta, mesmo que ele fosse seu tio, sabia que o mesmo gostava das formalidades. Não o chamava de tio desde que tinha dez anos de idade, assim como seu irmão.

— Fiquei sabendo que sua noiva é Lady Everdeen, uma escolha sensata, é uma jovem encantadora e determinada – comentou Snow, que já ouvira falar da filha mais nova do conde Everdeen.

— Sim, é uma jovem encantadora – concordou o duque Mellark.

— Minha neta, que será a futura Rainha de Panem, a admira muito. Viu Lady Everdeen uma vez no concerto de ópera e disse que era uma dama magnífica – afirmou Snow um pouco incomodando, mas nada foi percebido pelos dois homens a sua frente.

— Ela chegou – avisou seu pai. Peeta olhou Katniss ao mesmo momento em que Katniss o olhou.

Azul contra cinza, um calmo mar contra uma tempestade furiosa. Katniss deu um triste sorriso, porém não quebrou a conexão de seus olhares e nem sequer pensou em quebrar. Peeta não conseguia pensar direito, nem sequer conseguiria formular uma palavra em sua mente que pudesse descrever o qual bela ela estava. Podia pintá-la e admirar até seus últimos dias.

— Katniss, venha cumprimentar o duque e o rei – chamou seu pai, fazendo a menina olhar em sua direção, abandonando o azul calmo e perigoso.

— Conde de Key, que prazer revê-lo – falou o rei

— Digo o mesmo vossa Majestade – disse abaixando a cabeça como uma pequena reverência – Está é a minha esposa, Condessa Clara e minha adorável Katniss.

— Lady Everdeen, finalmente a conhece, minha amada neta fala sempre que pode de sua pessoa, não lhe cabe de tanto elogios – comenta Snow

— Vossa Majestade – disse o reverenciando assim como a mãe. Era raras as vezes que Katniss estivera de frente com ao rei.

— São encantadoras, Conde – afirma Snow observando Katniss sobre a taça de vinho, sabia que havia algo na garota que lhe intrigava. Algo que não costuma ver em demais, algo que também via no sobrinho.

— Chegou a hora – sussurra o duque para Peeta, que respira fundo – Gostaria da atenção de todos, nesse momento. Meu filho irá pedir em noivado sua pretendente, uma jovem que muito admiro.

— Lady Everdeen, em todos os momentos que pude estar em seu lado, em todos os anos que nos vimos em visitas de nossas família, apenas me fez acreditar ainda mais no que sinto. Admiração é algo mínimo próximo a isso, eu apenas lhe imploro que me faça um homem completo. Aceita casar-se comigo, Katniss? – pergunta Peeta, de joelhos em frente à  moça, que sentiu os olhos marejarem e logo em seguida lágrimas silenciosas saindo de seus olhos. Não era lágrimas de emoção e sim de tristeza, afinal nunca receberia tal declaração de um amor ainda não encontrado.

Ela tinha certeza que as palavras foram ensaiadas para a grande hora, tinha certeza que os demais pensavam que suas lágrimas simbolizavam alegria, quando as mesmas só queriam dizer o contrário. Então sua mente rapidamente pensou em como seria se isso não existisse, se os nunca tivessem selado o maldito acordo. Seria ela feliz um dia? Será que receberia um pedido tão bonito, embora sincero, como este? Ela não sabia, pois as chances de descobrir foram aniquiladas naquele momento em que seus lábios abriam para dizer a palavra mais dolorosa do dia.

— Sim – disse e mais lágrimas desceram de seus olhos. Sua felicidade e liberdade estava cada dia mais próxima do fim.