O jantar de noivado passou rapidamente para Katniss, que permanecia, sem emoção alguma, quieta encostada em uma bancada. Peeta permanecia no mesmo estado, porém se forçava a ser educado com os que vinham lhe parabenizar pelo futuro casamento. Ele sentia-se sufocado apenas com a palavra casamento, principalmente se este fosse com Katniss. Ele tinha um breve pressentimento que a pequena trégua estava definitivamente quebrada desde o pedido, afinal nenhum dos dois desejam isso, muitos menos ela.

Porém sua mente vagou até a as lembras do beijo que recebeu em sua bochecha depois do maldito "sim". Os lábios de Peeta eram macios, sua boca parecia ser como as das pinturas que a tia fazia. Ela de repente pegou olhando para ele, estava incrivelmente elegante no traje formal que usava, negros como o manto que cobria o céu naquele momento.

Quando retornou para casa, tentava lembrar de como havia ficado tão distraída, com os pensamentos longes e pensando em coisas que não queria. As vezes ela via se imaginando em uma enorme casa, com crianças correndo e Peeta a esperando na porta, como estranho sonho em que eles passeavam de barco sorrindo um para o outro. Aquilo não era real, definitivamente, talvez o espartilho estivesse tão apertado que está a fazendo delirar.

Naquela noite, enquanto Mags a ajudava a retirar suas roupas e colocar a larga camisola branca, Katniss cantarolava baixo. A ama pensava que a menina estava feliz, com o anel esmeralda no dedo. Esmeralda, verde como os campos, pensou Mags, sua menina adorava campos, florestas e quase tudo que vinha da natureza.

— Está feliz querida?– pergunta a observando deitar-se em meio aos grossos lençóis.

— Estou cansada, Mags, não imagine coisas – respondeu

— Boa noite querida – desejou a ama

— Boa noite, dada – falou a menina, lembrando-se do apelido da ama. Quando pequena não conseguia dizer o nome da ama, então a chamava de dada.

Um mês depois

A garota olhava mais uma vez para o vestido em cima dos cobertores. Era lindo, realmente a mãe tivera escolhido um dos melhores modelos digno de uma princesa. Porém ela não se sentia feliz o suficiente para vesti-lo.

Depois de alguns minutos, finalmente aceitou ajuda de Mags para vesti-lo e prender os cabelos, algo que não era tão habilidosa. Os cabelos escuros estavam presos em um penteado feito unicamente por trança, enfeitado com flores brancas e amarelas. O vestido lhe cobria os ombros e os braços, o pequeno decote arredondado permita ver o delicado cordão de safira que ganhará em seu décimo sétimo aniversário. A saia se abria da cintura para baixo, totalmente branco, porém com algumas flores vermelhas e amarelas espalhadas em pontos estratégicos.

Desceu as escadas confiante ou pelo menos tentava se mostrar confiante e forte. O pai e a mãe lhe esperavam no andar inferior, ambos emocionados de ver a filha prestes a se casar, a abraçaram com olhos marejados e depois partiram a caminho da carruagem.

O caminho até a a igreja não era muito distante.  A mesma estava lotada de convidados, dos Mellark's e dos Everdeen's. Todos estavam ansiosos para ver a noiva, todos menos o próprio noivo, quem ao invés de olhar ansioso para a porta a espera de sua futura esposa, olhava para a paisagem visível pela janela.

Assim que desceram da carruagem, Clara ocupou-se de cobrir o rosto da filha com o véu. Pronta, ela apenas colocou o braço de Katniss sobre o braço de seu marido, sorrindo em seguida. Era mais uma filha que vai subir ao altar...

A melodia do coral e violino encheram o ambiente, logo o ranger das portas pesadas de pura madeira chamaram a atenção de todos os convidados. Por mais que Peeta tentasse negar, Katniss parecia um anjo recém caído do céu, que ainda trajava de suas vestes brancas e delicadas. Quando as mãos de ambos se tocaram, ela pode sentir uma pequena e leve corrente elétrica passar por sua mão, caminhando por suas veias, fazendo o coração acelerar seu ritmo.

— É com enorme alegria que celebro está união, sobre a benção do Senhor,  deste dois jovens, belos e puros...

Katniss tentava se esforçar em prestar atenção nas palavras ditas pelo padre, porém sua cabeça negava seus comandos, apenas focando-se em sua mão sobre a de Mellark. Permaneceu toda a cerimônia de cabeça baixa, de mãos dadas com seu mais novo marido. Marido...uma palavra que ela  tanto queria evitar, porém tornou-se inevitável, já que estava casa e não haveria mais voltas. Teria de passar o restante de sua vida ao lado de Peeta, sem ter a chance de conhecer o verdadeiro amor.

— Peeta Mellark, Marquês de Panem, aceita Lady Everdeen como sua legítima esposa, na saúde, na doença e até o fim de seus dias? – pergunta o padre. Peeta apenas olha rapidamente para Katniss antes de falar algo.

— Sim – diz por fim.

— Lady Everdeen, aceita Peeta Mellark, Marquês de Panem, como seu legítimo esposa, na saúde, na doença e até o fim de seus dias?– repete novamente a pergunta.

— Sim – fala Katniss, sentindo o peso sob uma pequena palavra cair em seus ombros.

— Eu vos declaro, marido e mulher.

Ambos se levantam e ficam de frente para o outro, marido e mulher, sem nenhum sentimento de amor. Peeta segurou sua mão direita, enquanto sua outra mão retirava o véu do rosto de Katniss. O mesmo depositou um breve beijo em seus lábios, nada mais que alguns segundos, pele contra pele.

Palmas podiam ser ouvidas dos convidados. Tudo era real...estavam casados.

O salão estava cheio, os convidados dançavam e bebiam, todos muito alegres. A mesa de comida era farta, mas Katniss não ligou muito para esse fato, ela queria apenas acordar deste maluco sonho e ir para a sala de música da casa dos pais, tocar mais alguma peça em seu piano e tentar treinar violino. No fim, a mesma estava apenas tentando se enganar, pois sabia que tudo aquilo era real e logo iriam para uma das propriedades da família Mellark, que fora cedida para os recém casados morarem.

No final da festa, os dois se despediram dos familiares e amigos, antes de subir na carruagem que os levariam imediatamente para a nova casa do casal. Quando Katniss viu a fachada, belíssima em tons bege e uma mediana escadaria de madeira escura, concluiu que tanto seus pais como os de Peeta não economizaram. Na saída o mesmo lhe estendeu a mão, para que se apoiasse e evitasse uma futura queda, está ela negou-se. Juntos entraram dentro da casa, que era mais bela em seu interior do que exterior, com belíssimos quadros emoldurados nas paredes e uma grande lareira na sala de visitas.

Estava tão admirada com a beleza que mal percebeu que estavam no andar superior, onde ficavam os aposentos. De repente, suas mãos começaram a ficar inqueitas e logo estavam apertando o tecido do vestido. Ouvira uma vez as amigas de Annie já casadas, na véspera de seu casamento, comentando sobre a primeira noite de um casal, que ambos finalmente "selavam" o casamento. Seu maior medo no momento fosse que Peeta quisesse fazer como os demais casais...

Peeta abriu a porta porta, revelando depois de si um enorme quarto com uma grande cama de casal. Havia uma penteadeira com vários fracos, desde óleos à perfumes, e duas poltronas acolchoadas. Quando ambos adentraram no local, Peeta se desfez do nó de seu cachecol branco, jogou o mesmo sobre uma das poltronas e se virou para Katniss. Ela estava tremendo, mesmo que não demonstrasse, o nervosismo deixava suas mãos inquietas e seus pensamentos confusos. 

— Este será seu quarto – falou olhando para a esposa, que naquele momento prestava total atenção no que ele falava – Caso precise de algo, o meu fica logo em frente. Também haverá Rue a seu dispor, porém lhe apresentarei a mesma apenas amanhã. Tenha uma boa noite Katniss.

Quando o mesmo estava saindo, ela o chamou, o fazendo voltar para ela com os olhos curiosos. Azul, ela estava começando a se acostumar com essa cor.

— Tenha um boa noite e bons sonhos...Peeta.