Flor da meia-noite escrita por Tha


Capítulo 13
XIII – Anjos do FBI e ops, vamos esclarecer as coisas


Notas iniciais do capítulo

OPA
OPA
OPA
OPA, TUDO BOM?
Me desculpem se o capítulo ficou uma bosta e pequeno, mas a semana de provas da faculdade está sugando todas as minhas forças.



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— Esse foi um péssimo plano! – Jason diz batendo as asas na chuva que acaba de começar, com muita dificuldade já que eu não paro de reclamar de dor em seus braços. 

— Foi um ótimo plano, só aconteceu um imprevisto. 

— Você tem que pensar nos imprevistos quando bola um plano!

— Pra onde tá me levando?

— Pra minha casa.

— Rápido, tem sangue meu chovendo por aí.

Algumas horas antes:

— Não acredito que se atreveram a aparecer na escola – Jason resmunga quando se senta com a gente no almoço.

Ele tem uma expressão preocupada e cruza os braços por cima da mesa olhando algo além de mim. Me viro pra saber o que é e encontro três pessoas estranhas na última mesa perto do canto. São dois homens e uma mulher, e eu nunca os vi por aqui.

— Quem são?

Glanworths — Hazel responde colocando a bandeja na mesa quando eu nem percebi que ela estava chegando.

— Os vampiros diurnos? – Adam parece com fogo nos olhos – Caramba, posso acabar com eles.

— Calado, Adam. Afinal, quem deixou ele se sentar com a gente? – Jason, sempre de mau humor, pergunta deixando de prestar atenção apenas alguns segundos nos vampiros. Meu Deus, nunca pensei que diria isso um dia, ou ao menos pensaria. 

— Ele é meu amigo. 

— E aí gente! – Zack chega na mesa e Hazel logo se anima mais um pouco. Será mesmo que ela gosta dele? Afinal, ela era um anjo e... que horror, não consigo nem imaginar –Sobre o que estão falando?

— Sobre matar vampiros – Jason murmura distraído enquanto parece concentrado no trabalho da vida dele: Comer ou não comer a batata frita do refeitório?

— Que?

— Nada, participamos de um jogo online que combate criaturas míticas – Digo na brincadeira pra amenizar o clima e todos riem, menos o Adam.

— Ei, eu participo de um jogo online que combate criaturas míticas, mais respeito por favor.

Depois de quase duas semanas sem incidentes, estava demorando pra algo acontecer. Jason disse que os lobisomens não conseguem nos atacar a não ser que esteja na lua cheia. Demônios não suportam chegar perto dos anjos porque a luz espiritual chega a quase queimar eles. E bruxas não se envolvem nesse tipo de coisa. Logo, não restou muito o que fazer a não ser esperar pelo pior. 

Eu achava que também não deveria temer tanto com a chegada de uma nova raça em Ellicot, mas aqueles vampiros eram diurnos, não tinham nenhuma fraqueza e bebiam sangue. Como lidar?

Encontro Peter na frente da sala dos professores e ele sorri pra mim, abre a porta e nos encaminha até uma sala menor onde se encontram os arquivos dos alunos, sou a monitora dele agora. 

— Não se meta em encrenca – Ele diz me entregando a única coisa que quero mais que tudo no mundo, esperei dias pra ele conseguir e agora que a tenho em minhas mãos, tenho medo até de tocar. 

A adaga era linda, e o cabo tinha uns desenhos antigos que sugeriam algo perigoso. O brilho da lâmina quase me cegava e eu a enfiei com cuidado dentro da minha meia depois de a envolver com a proteção de novo. 

— Ainda não confio em você, mas obrigada mesmo assim.

— Seu desejo é uma ordem – Peter sorri e eu saio da sala dos professores direto pro meu carro. 

— Ally! – A voz de Clark me para quando ia abrir a porta – Preciso de uma opinião sobre o layout do anuário, meio que a responsabilidade caiu toda pra cima de mim.

— Ah, pergunta pra Clove, eu não tô muito concentrada nas atividades da escola no momento, deixei isso com ela, lembra? 

— A Clove tem as piores opiniões, todo mundo sabe que o posto dela é conveniente.

— Eu juro que tento passar lá depois.

— Ok, valeu. 

Rezo assim que entro no carro pra ninguém matar ela e cravar uma faca nas suas costas. 

Passei pela rodovia vazia, a floresta se estendendo dos meus dois lados, gigante, sem fim, e de repente as palavras de Peter invadiram meus pensamentos. 

"O aço é forjado pelo fogo, e assim como o aço, ficamos mais fortes a cada dia, estamos preparados para o futuro”.

Não parecia fazer sentido no dia que ele falou, mas agora percebo a força daquelas palavras, era uma promessa para aqueles que não se sentiam seguros em um mundo como esse. E como a humanidade parecia cega em relação a tudo o que acontece ao redor dela. É tudo tão frágil. 

Noto duas motos vindo atrás do meu carro e bufo percebendo que se tratava de dois dos vampiros que tínhamos encontrado no refeitório aquela manhã, os dois garotos.

Eles me seguiram até a minha casa e pararam as motos longe o suficiente pra não dar tão na cara, mas perto o suficiente pra deixar claro pra mim que eles estavam me rondando, e queriam que eu soubesse.

Entrei em casa o mais rápido possível e conferi se todas as janelas estavam fechadas por precaução. Eles não poderiam entrar a não ser que fossem convidados, e graças a Deus, não tinha ninguém em casa, apenas eu e meus pensamentos conturbados. Logo tratei de expulsa-los antes que Jason sentisse perigo e viesse até aqui apenas para estragar as coisas.

A adaga estava queimando no meu tornozelo, então eu a tirei de lá e subi o lance de escadas em direção ao meu quarto. Deixei a lâmina em cima da minha escrivaninha e a observei por um longo tempo em meio aos livros velhos. Os desenhos ainda me causavam arrepios e eu ficava na necessidade de desvenda-los a qualquer custo. Aquilo queria dizer alguma coisa pra mim, parecia gritar, mas eu não entendia uma palavra daquele apelo, e tinha que ter algum significado, não é possível.

Respiro fundo e tomo coragem. Abri a porta do guarda roupa e tirei de lá a caixa preta colocando-a em cima da cama. Peguei algumas das kunai que Peter tinha me dado e as joguei em uma bolsa de acampamento. Vesti o casaco, peguei a adaga em cima da mesa e corri pra fora antes que eu mudasse de ideia.

Dirigi até uma parte mais afastada da reserva e andei muito até achar a árvore que estava procurando, a que vim treinar diversas vezes com o Adam, embora seja a primeira vez que eu vinha sozinha. Depois de um tempo acertando o alvo na maioria das tentativas, eles aparecem.

— Não é muito esperto da sua parte vir aqui sozinha – Um deles fala, o que tinha o cabelo mais curto e tatuagem de caveira nos braços.

— Tem razão – Digo pegando as kunai presas na árvore e as que caíram no chão. Giro uma no dedo.

— Onde está o Jason? – O mais alto dos gêmeos pergunta.

— Dando uma de anjo do FBI por aí – Resmungo me preparando pra atirar de novo, tentando manter a minha voz calma e normal, sem demonstrar medo.

— Porque veio sozinha? É algum tipo de  armadilha?

— Vocês querem me pegar, eu quero algumas repostas. Pensei em uma troca justa.

— Que tipo de respostas? – Caveira indaga.

— Vocês me falam quem é o mestre, e eu deixo me levarem. Ficam com o dinheiro e eu faço o que tenho que fazer pra proteger os meus enquanto estiver lá.

— Deixar? – Alto pergunta rindo e dá um passo na minha direção. Eu instintivamente ando pra trás, lutando contra o gesto automático de levar as mãos ao tornozelo – Somos superiores a você. Há um boato de que você é a Nephilim mais poderosa da Terra, não me parece tão intimidadora, afinal.

— Ei Sebastian, você até que tem razão – Caveira cruza os braços, claramente se divertindo com a situação – Faz tempo que não nos divertimos com um nephilim.

— Exato Ray, ainda mais uma tão estimada.

— Sua tola – Ray inclina a cabeça pro lado e eu começo a suar – Acha mesmo que daríamos informação sobre o homem que nos permitiu entrar em Ellicot?

— Quem matou Jake Miller?! – Perco o controle e grito.

— Uma das criações dele, é claro – Ray sibila andando mais um pouco – Cansei de conversar, estou faminto por sangue nephilim.

Ele deu um passo a mais na minha direção e começou a andar em círculos casualmente, como se estivesse tentando ter uma visão melhor de uma estátua em um museu. Seu rosto ainda aberto e amigável enquanto decidia por onde começar.

Mas foi Sebastian quem rastejou pra frente, se arrastando daquele jeito que vemos em filmes, como um animal selvagem, e aí seu sorriso prazeroso cresceu lentamente. Eu não consegui me conter e corri, esquecendo completamente o que tinha planejado. Mas foi tão inútil quanto eu imaginei que seria, meus joelhos ficaram fracos, o pânico tomou conta e eu tropecei no caminho pro meu carro.

Ele estava na minha frente em um piscar de olhos, e eu não vi se ele usou as mãos ou os pés de tão rápido que foi, mas um golpe destruidor atingiu meu peito, me fazendo voar pra trás, e então eu ouvi o barulho de algo se quebrando quando minhas costas bateram contra uma árvore. 

Eu estava atordoada demais pra sentir alguma dor, e ainda não conseguia respirar. Me senti ridícula por todo aquele treinamento ir por água abaixo quando estava claro pra todo mundo, menos pra mim, que eu era uma menininha indefesa afinal.

Ele andou lentamente na minha direção.

— Esse é um efeito muito bom – Ray disse, examinando meu estado no chão, sua voz quase amigável de novo – Acho que dá um toque mais dramático pra morte da grande Allyson Blake. Sabe, pensei em te entregar, mas já somos ricos, levar sua cabeça pra nossa estante é bem melhor, o que acha?

— Quer saber o que eu acho? Vou dizer o que tenho certeza: Meu nome é Hale.

Lutei pra me equilibrar nas mãos e nos joelhos, me levantando encarando seus olhos sem graça e sem vida. Mas ele estava em cima de mim na hora, me jogando de volta na árvore.

Ouvi o estalo antes de sentir a dor. Mas então eu senti, e não pude segurar o meu grito de agonia. Eu me virei pra alcançar minha perna, e ele estava de pé ao meu lado, sorrindo. Então alguma coisa atingiu meu rosto, me jogando no chão.

Além da dor da minhas costelas, eu senti o rasgo da faca na minha cabeça onde ele acertou. Então, uma umidade quente começou a se espalhar no meu cabelo com uma velocidade alarmante. Eu podia sentir ela inundar o ombro da meu casaco, que agora estava rasgado, podia ouvir o sangue pingando no chão. O cheiro dele fez meu estômago revirar na mesma hora.

Apesar da náusea e do enjoo eu vi algo que me deu uma repentina ponta de esperança. Os olhos deles, meramente intencionados antes, agora queimavam com uma necessidade e sede incontrolável. Senti uma onda de poder passar por todo o meu corpo, como eletricidade, e quando seus olhos viajaram pelo sangue, eu chutei um deles pra longe. E depois o outro.

Pensei em Jason e gritei alto logo em seguida. Vamos Hazel, apareça.

Não demorou muitos segundos pra uma grande luz prata descer do céu. Meus olhos encheram de lágrima quando Jason me pegou no colo e começou a voar enquanto Hazel ficou cuidando do assunto lá em baixo.

— O que você tem na cabeça, Allyson? – Jason grita mais uma vez quando aterrissamos na frente de um galpão fora dos limites da cidade.

Eu mal consegui colocar o pé no chão e quase caí, mas ele passou o braço ao redor da minha cintura de novo. Minha cabeça latejava e ardia onde a faca tinha passado, na linha da mandíbula. A dor era causticante e insuportável, estava queimando minha pele.

— Entra – Ele diz depois de abrir a porta e arfo quando percebo que a aparência dentro do galpão não era nada parecida com a de fora, era como se fosse uma camuflagem.

Os móveis eram todos em tons de branco ou preto, era todo sofisticado, arejado e... rico?

— Você mora aqui?

— Não, moro dentro de uma árvore. É claro que moro aqui.

— Grosso – Reviro os olhos e faço uma careta quando sinto dor nas costas, ele me leva pra um quarto. Logo percebo uma folha de papel em cima da cabeceira da cama.

—Preciso ver o que é isso, mas só a Hazel pode ter certeza.

Jason sai do quarto pisando duro e eu me assusto quando ele fecha a porta com força. Ok, o que diabos eu fiz? Tudo bem que não foi o melhor plano do mundo mas caramba, eu tô bem né?

A folha de papel em cima de sua cabeceira, noto, é a parte do livro que dei a ele naqueles primeiros dias, quando tudo ainda estava relativamente bem se comparado à hoje.

— Tudo bem, vem aqui – Escuto sua voz e me viro como se tivesse sido pega no flagra.

Jason tinha uma bacia no colo e um pano branco na mão. Dentro da bacia estava um líquido branco meio aquoso. Quase reclamei, mas percebi que não estava em posição de negar nada que fosse me ajudar agora.

— Qual o problema? - Perguntei - Pelo menos eu fiz alguma coisa.

— Alguma coisa estúpida.

— Eu não consigo ficar parada esperando mais alguém morrer.

— Você não entende, Allyson, são coisas que não podemos controlar. Tem ideia do risco que correu?

— Tenho, mas decidi correr mesmo assim.

Jason molhou o pano e passou no meu pescoço, tirando a sujeira dali, logo passou para o rosto e depois para os ombros.

— Eu não aguentaria... perder você de novo, é demais pra mim.

— Eu tô bem, não vou fazer isso de novo – Seguro sua mão e algo acontece.
Consigo ver aquilo de novo, um círculo fraco de sentimentos ao redor dele. Algumas partes transcendem mais que outras e consigo ver várias versões de mim mesma em um canto escuro.

— Allyson?

— Desculpa, não vou fazer mais.

— O que você viu?

— Sua alma – Não percebi o que tinha falado até as palavras saírem da minha boca – Isso é estranho.

— Começou a se curar – Ele diz aliviado e volta a me limpar, mas com as sobrancelhas franzidas. Nem precisei perguntar quando ele começou a falar – Eu me lembro da primeira vez que te vi. Eu nunca tinha visto nada tão perfeito. Me lembro de pensar que precisava de você ou morreria. E então você sussurrou que me amava, eu me senti tão em paz e seguro, porque eu soube que fosse o que fosse, daquele dia em diante nada poderia ser tão ruim porque eu tinha você, mas...

— Para.

— Allyson, não pode...

— Ok, cheguei – Hazel abre a porta e os dois nos afastamos instintivamente – Como tá, Ally?

— Com dor.

— Meu Deus, isso tá muito feio, é... é veratrum, Jason! Como pode deixar a menina assim? – Ela toca meu rosto e procuro um espelho.

A linha da minha mandíbula cortada pela faca tem um tom bizarro de roxo. As veias ao redor do corte estão escuras e cada vez mais desce pro coração. Noto minha pele ressecando ao redor e grito de dor quando Hazel toca o local.

— O que é veratrum?

— Vem do mito nórdico. Balder, filho de Odin era o mais amado dos outros deuses, tanto que eles queriam protege-lo de todos os perigos do mundo. A mãe dele, Friga, fez o juramento da água, do fogo, metal, pedra e todo ser vivo, que eles jamais fariam mal a Balder. E então eles o testaram em uma reunião. Pedras, flechas e chamas, tudo foi atirado contra ele, e nada funcionava. Mas havia um deus que não era tão apaixonado por Balder: Loki, o deus da travessura. Loki descobriu que Friga tinha esquecido de pedir ao Veratrum, uma flor minúscula, e praticamente inofensiva e completamente ignorada. Loki atirou uma flecha com a essência do Veratrum e matou Balder. Friga ficou desolada, ela decretou que a planta nunca mais seria usada como arma. O problema é que Balder teve um filho antes de morrer, como uma nova era de "semideuses". Esse é o mito dos nephilins naquela cultura.

— Aqueles desgraçados colocaram veratrum na faca? – Jason passa as mãos no cabelo e eu engulo em seco.

— Isso vai me matar?

— Não, por sorte cheguei a tempo – Hazel joga um olhar acusatório ao Jason e me encolho – Além de ser ligada a você, vamos dar um jeito nisso, garota.

Ela pede um monte de coisas pro Jason. Coisas que eu não saberia soletrar nem se minha vida dependesse disso.

Depois de quase uma hora gritando de dor naquele quarto com Hazel passando coisas no ferimento, eu finalmente consegui me acalmar. O sono estava anuviando minha mente, mas a dor já tinha passado, tanto nas minhas costas quanto na cabeça e nas pernas, como se incidente não tivesse existido. Eu dormi e tive outra vez o mesmo sonho.

“Estou à beira de um penhasco branco feito de areia. O solo não é firme. O lugar onde estou começa a desmoronar, desfazer-se e cair, cair, cair milhares de metros abaixo de mim, no oceano, que bate e arrebenta contra o penhasco, tanto que parece um ensopado gigante e espumante, todo ele de ondas e águas violentas. Fico apavorada diante do medo de cair, mas por algum motivo não consigo me mexer ou recuar, mesmo quando sinto o chão se esvair sob mim e milhões de moléculas se reorganizarem no espaço, no vento: a qualquer segundo, vou cair. E, pouco tempo antes de descobrir que não há nada além de ar sob meus pés, que a qualquer segundo sentirei o vento uivando a meu redor enquanto caio na água, as ondas que chicoteiam lá embaixo se abrem por apenas um instante e vejo o rosto de uma mulher flutuando abaixo da superfície, pálido, inchado e com marcas azuis. Seus olhos estão abertos, os lábios separados, como se estivesse gritando, e os braços estendidos para os lados, boiando naquela corrente, como se esperassem me abraçar.”

Acordo com a respiração entrecortada e fecho os olhos sem querer pensar naquilo.

— Essa é a sua mãe – Jason diz, sentado ao meu lado, quando eu nem percebi que ele estava lá.

— Não é não.

— A sua mãe biológica.

— O que houve com ela? Porque o Peter nunca mencionou?

— Marie tinha uns problemas, ela viu no que o Peter estava se transformando. Viu no que o mundo a volta dela estava se transformando, ela não aguentava o peso das consequências de seus atos e... se jogou.

— O que...

— É um caminho sem volta, Allyson, quando você entra nele, não dá mais pra sair.

— Preferia continuar no escuro.

— Eu também - Jason dá um meio sorriso e pega minha mão, mas quando o faz, aquele choque de novo – Acho que devia ir tomar um banho.

— Hazel! Pode me trazer uma toalha? – Grito depois de ligar o chuveiro, molhar o cabelo e perceber que havia me esquecido totalmente. Quando não tenho nenhuma resposta, tento gritar de novo abrindo o box escuro – Hazel! – Mas é Jason quem aparece no meu campo de visão. Pego uma toalha de rosto ao lado do box e tento me cobrir – Você não é a Hazel.

— Ela já foi - Jason tinha um olhar sombrio no rosto, os olhos estavam ainda mais escuros e me escondi em parte atrás do vidro escuro.

— Tá fazendo o que?

— Te procurando.

— Bom, já me encontrou, no banho, levemente nua... se não percebeu.

— Eu já te vi nua, Adina - Ele diz ignorando meu olhar de "dá o fora daqui".

— Tá bem, mas lembra que você que me falou que essa é outra vida? Eu sou outra Adina, então né.

— Ainda podemos ser amigos. Poderíamos ser amigos íntimos, quem sabe até... – Ele não completa a frase, e sua mão viaja até o meu braço, o braço que prende a toalha de rosto sobre meus seios e tenta tirar ela de lá.

— Jason. É sério, o que tá fazendo? – Ele tira a mão e parece desnorteado – Você tá bem?

— Tô, eu tava... ahm... foi mal, eu não me lembro – Então ele sai com as mãos no cabelo e eu junto as sobrancelhas, tentando entender o que acabou de acontecer aqui.

Jason me deixou em casa depois de se certificar que estava tudo bem. Ele não pareceu saber do que aconteceu no banheiro, como se sua memória tivesse sido apagada de algum jeito. Ou isso, ou ele não sabia de jeito nenhum o que estava fazendo, estava desligado ou algo do tipo.

— Ally! Ai meu Deus! – Minha mãe dá um salto no sofá assim que entro em casa - Hazel nos contou o que houve, você está bem?

— Mas que palhaçada é essa, Allyson? Tem ideia do risco que correu?

— Eu tô bem, só estava cansada de ficar parada e observar outra pessoa morrer.

— E foi enfrentar diurnos?! – Minha mãe explode e eu me assusto franzindo as sobrancelhas e engolindo em seco. A minha mãe nunca grita – Sei que disse pra fazer alguma coisa... – Ela parece um pouco mais calma depois da minha reação – Mas isso é perigoso, filha.

— Jason estava comigo.

— Isso mesmo Senhora Hale, está tudo bem. A Hazel geralmente aumenta as coisas – Jason diz atrás de mim com as mãos no bolso e eu relaxo.

— Preciso dormir – Resmungo e dou um beijo em cada um dos meus pais antes de subir as escadas pro meu quarto e procurar um pijama pra me deitar.

— Allyson - Ele diz meio cauteloso – Tá tudo bem?

— Sim, pode ir.

— Você não parece muito bem.

— Preciso fazer alguma coisa, preciso procurar o Peter.

— Não, Adi...

— Para de me chamar disso, tá legal?! Esse não é o meu nome!

— Eu já falei, temos que tirar ela daqui agora – Meu pai grita lá de baixo e não preciso de nenhuma audição aguçada pra ouvir – Não é mais seguro, Lanna.

— E você acha que em qualquer outra cidade vai ser?

— Podemos contatar outra bruxa.

— Não é assim tão fácil, Martim, você sabe.

Me deito na cama e procuro os fones de ouvido, a fim de encerrar aquela discussão na minha cabeça. Jason se sentou na minha poltrona e cruzou os braços.

Tentei pensar em todas as ligações que Sebastian e Ray disseram essa tarde. Quem matou Jake foi mandado pelo mestre, uma das criações dele. Eu só conhecia a Clove, então tentei voltar ao dia do assassinato. Ela não estava lá, eu tinha certeza, mas minha mente estava tão anuviada e perdida que não prestei muita atenção sobre quem estava lá. Vamos Allyson, pensa... Todo o time de lacrosse estava lá, algumas pessoas da equipe de corrida e o resto do pessoal estava do lado de fora do vestiário, não chegaram a passar pela porta. O único que me pareceu estranho lá dentro na hora foi David Barney, ele estava no canto com as mãos no bolso da calça jeans, nunca nem tinha pensado nele, o via nos corredores, mas era só mais uma pessoa insignificante.

Ouço um pigarreio e levanto a cabeça, encontrando Jason ainda no mesmo lugar.

— Vai ficar aí a noite toda?

— Ah, por favor me dê um tiro de misericórdia.

— É uma pena que tiros não matem você.

— Faria isso então? Se pudesse.

— Eu não te odeio, Jason, só o que você representa.

— E o que eu represento?

— Minha total falta de liberdade – Coloco os fones de novo e penso nos olhos da Clove.

Lembro de ter visto os dois conversarem uma vez, no canto do corredor. Perguntei o que ela estava fazendo, ela somente respondeu que queria respostas da prova. Não me toquei na hora, mas David não era de estudar.

— Em que está pensando? – Jason se senta ao meu lado e tira um dos meus fones, colocando no ouvido dele. "Bang Bang" ficou mais baixo.

— Apenas pensando sobre quem tá fazendo isso.

— Tem suspeita?

— David Barney.

— Porque?

— Só acho. A minha intuição é boa.

— É mesmo? – Ele pergunta olhando diretamente nos meus olhos. Por um momento me senti perdida em tanto negro, hipnotizada.

Quando meus pulmões começam a queimar, percebo que estou prendendo a respiração. Inspiro um pouco de ar. Sinto um puxão na camiseta. Olho para baixo e vejo uma parte do tecido enrolada no dedo de Jason. Eu o encaro de novo e percebo a gravidade da situação. Sinto meu corpo derreter e quase não resisto ao impulso de me desfazer no chão.

— Você quer que eu pare com isso e te dê liberdade? – A voz dele sempre foi tão abafada?

Confirmo com a cabeça, e depois a balanço, negando. O que eu tô fazendo? Não importa o que eu sinta, sei que não podemos ser mais do que isso. É complicado demais. Estou mentindo para ele. Ele está mentindo pra mim. Porque estou sentindo essas coisas do nada? O que tá havendo comigo? Por que de repente não tenho controle sobre minha mente? Além disso, somos bons como estamos. Muito, muito b… Ele me abraça pelo quadril e me puxa para perto.

— Não fiquei chateado com você, devo ter parecido um idiota. Mas estar perto de você, da forma que for, é melhor do que nada. Não vou te perder de jeito nenhum.

Balanço a cabeça. As mãos dele em meu quadril me fazem ficar ofegante. Pela primeira vez desde que o conheci, vi uma sombra de preocupação real em seus olhos escuros.

— O que foi? – Ele pergunta.

— Você está me confundindo.

— Sério? Achei que estivesse esclarecendo as coisas – Ele me segura com mais força e um arrepio toma conta de mim.

— Como hoje no banheiro?

Ouço passos no corredor. Jason me solta e chego para trás justamente quando Hazel entra no quarto. Mas quando o faço, uma coisa se rompe dentro de mim. O que acabou de acontecer?

— Fiz umas perguntas e descobri quem é O Mestre – Ela diz fechando a porta – David Barney.

— Eita, que intuição – Jason comenta.

 


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