Flor da meia-noite escrita por Tha
Notas iniciais do capítulo
OOOOPA, TUDO BOM?
— E pra marcar um dos episódios finais mais famosos da Segunda Guerra Mundial, temos a bomba lançada em Hiroshima. O Japão resistia com todas as forças ao avanço norte americano, e então veio a B-29, em uma base de urânio na cidade, matando mais de oitenta mil pessoas. Acontece que o que não foi contado pelo governo americano, é que... – O sinal toca e Peter para sua explicação, que é muito boa por sinal – Ok pessoal, quero os relatórios sobre o efeito da guerra nos dias, os pontos positivos e os negativos, e também uma crítica sobre a gravidade da situação e como reagimos a isso. É pra vocês colocarem essa cabeça pra funcionar e escrever três páginas pra mim, não aceito menos, vocês vão se formar, têm que ter mais pensamento crítico. E Senhorita Hale, pode vir aqui, por favor?
Esperei todo mundo sair e guardei as coisas na bolsa devagar. Jason ficou comigo e Hazel me lançou um último olhar de "grite se acontecer alguma coisa" antes de seguir pra próxima aula com Zack ao seu lado.
— Pensei ter dito apenas a Senhorita Hale.
— Sem chance, Peter, não vou te deixar sozinha com a Adi – Jason cruza os braços e eu sorrio com a pose seria que ele assume, parecendo ainda maior do que já é.
— Alguém quebrou a barreira – Peter desiste e começa a apagar o quadro – Mas é claro que já sabe disso.
— Tivemos o desprazer de encontrar um metamorfo ontem à noite.
— Então me deixa fazer a coisa certa. Allyson vem comigo, posso te dar mais segurança, tenho um grupo treinado, vai ser melhor assim. Lanna e Martim já cumpriram a parte deles do acordo.
— Mas Adam disse que...
— Você vai transformar ela em uma máquina de matar, acha isso justo? Melhor? – Me assusto quando Jason se estressa e bate as duas mãos na mesa, fazendo o porta lápis tremer.
— Ei, espera, eu resolvo isso – Toco seu braço e ele parece relaxar um pouco, então penso no que vou dizer para deixar os dois felizes e depois tentar entender o que tá acontecendo, mesmo que seja mentira – Assim que eu achar necessário eu te procuro, Peter. Mas até lá eu vou ficar com meus pais, com Hazel e Jason, me sinto bem com eles ao meu lado. Quero proteger as pessoas que eu amo, e um dia vou ter que me defender sozinha, quando chegar a hora eu vou com você, juro.
— Ótimo.
— Você tá louca?! - Jason pergunta, ou melhor, explode comigo no meio do corredor vazio – Tem ideia do que ele vai fazer com você? Não ouviu uma palavra do que eu disse?
— Não acho que seja ele quem está fazendo essas coisas.
— Como assim?
— Te explico depois – Sussurro entregando a justificativa de atraso pro professor de matemática e entro na sala. Ele faz o mesmo.
— Você não tem ideia, não é? – Jason se senta na minha frente e se vira completamente pra falar comigo – Eu morreria se te perdesse de novo, não aguento mais isso.
— Vai ficar tudo bem, eu juro.
— Não tem como saber.
— Eu tenho um plano.
— Você sempre parece ter um plano.
— Bom, você tem asas, eu só tenho minha cabeça – Sorrio mas ele permanece com a expressão preocupada – Vai ficar tudo bem.
— Simon, tira esse dedo aí, pelo amor de Deus! – O Senhor Mathew diz.
— Você não é meu pai!
— Eu sou pai de todo mundo aqui por quarenta minutos, três vezes por semana, então me obedeça.
— Odeio matemática, é inútil – Jason diz de mau humor se virando pra frente.
Suspiro alto e me afundo na cadeira, sem saco pra aula, sem saco pra qualquer coisa normal ultimamente. Preciso fazer alguma coisa a respeito da Clove, e rápido.
O barulho das teclas do computador batendo insistentemente me deixava louca, principalmente porque eu só escutava isso. O cheiro de desinfetante barato e alvejante nos banheiros. O barulho irritante do salto da secretária batendo no chão.
— Belas botas – Ouço alguém dizer ao meu lado e me viro. David Barney está sentado de pernas abertas a duas cadeiras de distância da minha, ele tinha um jeito presunçoso e fedia a cigarro.
— Obrigada.
— Então, qual seu tipo de psicose?
— O que? – David aponta pro letreiro da porta a nossa frente e eu suspiro – Não vim pra ver a psicóloga, vim pelo assistente dela, Adam Summers.
— Todo mundo tem uma psicose, não precisa se envergonhar.
— Eu tenho fobia aguda de gente se intrometendo na minha vida, e você, Hermie? – Digo com desprezo o apelido que dei a ele ano passado.
— Compulsivamente atraído por loiras meio narcisistas.
— Ok, tô livre – Adam sai da sala e eu me levanto em um salto, totalmente aliviada.
— Graças a Deus, me tira desse hospício.
— Então, qual é o problema? – Sentamos em uma mesa afastada no BloomBarry, bem mais no canto e pedimos nosso sorvete.
— Tomei uma decisão, talvez eu precise continuar treinando com você.
— Ah é? Sem vingança dessa vez?
— Eu só quero proteger as pessoas que eu amo sem precisar gritar como uma garotinha indefesa.
— Entendi.
Mexo no cordão no pescoço e ainda aflita, decido se vale a pena confiar no Peter, se Jason estava certo, ele transformou minha segunda melhor amiga em uma cobra sem tamanho, e se fizesse isso comigo também? Quer dizer, talvez ele consiga controla-la com algum tipo de sinal que pode estar localizada na íris. Fiquei sabendo que a íris da gente é uma das nossas principais fontes de DNA, é onde basicamente está nossa identidade. Mas porque Peter iria fazer isso com a Clove se o objetivo principal sou eu?
— Pensa, aquelas mortes, todas do mesmo jeito, tem algum tipo de padrão – Coço a cabeça e tomo um gole generoso do milkshake que acaba de chegar – Peter faria isso?
— Não, com certeza não, ele quer que liberte a gente.
— Como?
— Te transformando em uma guerreira.
— Como, Adam?
— Ele tem um tipo de soro que ativa as habilidades cognitivas não expressadas muito bem pelo cérebro – Franzo as sobrancelhas e toda minha teoria se esvai. Ele quer fazer isso comigo – Por que o interesse?
— Jason comentou sobre umas experiências que ele anda fazendo, mexendo com as mentes das pessoas.
— Pelo que eu saiba, ele ainda não testou em ninguém.
— Então como o Jason sabe?
— Ele é um anjo, Ally, ouve coisas e tira conclusões, pode fazer qualquer coisa sem ser visto, pergunte mais sobre isso pra ele.
— Você confia no Peter?
— É claro, com ele seremos finalmente livres, e com a sua ajuda também.
— Então eu também confio.
— Ele é seu pai, acho que tem que dar uma chance.
Naquela noite, eu resolvi dar um tempo pra pensar. A escola estava sufocante e totalmente fora de controle, um inferno. Não, um zoológico. Então coloquei meus fones no volume máximo e coloquei o álbum novo da Rihanna pra tocar, me sentei diante da escrivaninha e encarei a montanha de livros que se erguia na minha frente.
Me concentrei na leitura por pelo menos duas horas inteiras, e só percebi que tinha dormido quando minha testa bateu na mesa de mogno, fazendo um barulho nada agradável. Acordei na hora.
— E aí – Escuto a voz do Jason e giro a cadeira, ainda meio desnorteada, o sol já tinha até se posto.
— Tá aí a quanto tempo? – Tiro os óculos do rosto e passo a mão nos olhos.
— Tempo suficiente pra te ver babar – Arqueio as sobrancelhas como quem diz “Repete e eu arranco suas orelhas” – Uns trinta minutos. Fez algum progresso?
— Só um monte de lendas e nomes.
— Você tem que abrir a cabeça pra entender, esses livros são encantados, leitura difícil pra mundanos, se concentra na sua parte nephilim e tudo vai ficar mais claro.
— É, dica muito útil.
— Tá tudo bem?
— Só tô confusa, tudo que eu tinha descoberto até agora parece ter ido por água abaixo porque sempre aparece um detalhe novo.
— Vem aqui – Jason chama se sentando no chão de pernas cruzadas.
— Eu não.
— Vamos, Allyson – Bufo e resolvo entrar na onda.
Ele pega minha mão e fecha os olhos. Uma energia dourada emana dele e passa pra mim, me causando uma espécie de paz, como se eu estivesse flutuando, como se todos os meus problemas desaparecessem rapidamente.
— Ok, vamos às explicações – Solto sua mão, me sentindo muito melhor – Que elo é esse?
— É o que nos une, e ao mesmo tempo nos separa.
— Não entendi nada.
— Olha, Allyson, tem uma certa razão para que não querermos que vá com o Peter. Eu fiz um acordo quando você nasceu, ele exige que você nasça diferente, seja especial, e livre da maldição. Mas estando livre você pode ser a faísca de uma esperança não muito boa. Se o seu pai conseguir gente suficiente pra se impor às regras da natureza, seria desastroso. As coisas tem que ficar assim, é uma hierarquia social.
— Sei, mas não se muda o destino, né?
— Profecias podem ser interpretadas de vários modos, resta saber qual é o certo.
— E o elo?
— Impede que algo aconteça entre nós, já que sou seu anjo da guarda e isso é meio proibido.
— Nada rolaria entre nós.
— Não é assim que funciona, a cada dezoito anos você morre e viaja até encontrar outro hospedeiro, e eu sempre te acho, é complicado, mas... você acredita em alma gêmea?
— Não.
— Ao menos acredita em alma?
— Não.
— Vai ter que começar a ser menos cética, é isso que tá te atrapalhando – Jason se levanta e passa o dedo indicador pelos meus livros – Tem que acreditar de coração.
— Vou trabalhar mais nisso.
— Para de tanto sarcasmo, Allyson, caramba.
— Foi mal.
— A partir do momento que o elo se quebrar totalmente, será o fim, e os arcanjos não ficaram nada felizes com isso.
— Pode ficar tranquilo.
— Você tem um plano.
— É, eu tenho um plano.
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E aí?