Fim do Mundo – Interativa escrita por Sohma


Capítulo 3
Capítulo 02


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo é de transição, apenas pro desenrolar da história.

Boa leitura!



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Ana Lúcia – POV

Já devia ter passado da meia-noite – me arrependo horrores de não ter pegado meu relógio de pulso, na pressa peguei o que achei essencial –, a Lua cheia brilhava no céu de poucas estrelas. O típico céu de São Paulo... Olhei para o lado e vi Melody encolhida sobre uma pequena blusa de frio tentando em vão se esquentar. Ela tremia levemente e pude ver, mesmo com a pouca luz da noite – não ligamos as luzes de dentro da humvee por que a bateria poderia arriar, e precisávamos chegar mais próximo ao centro –, que seus lábios estavam roxos. Me remexi para alcançar minha mochila, retirei de dentro uma coberta fina e joguei sobre o corpo dela.

Ela se assustou. E eu também. Ela não estava dormindo?

— Não precisa... – ela sussurrou baixo.

— Claro que precisa! Você está tremendo e seus lábios estão roxos! Essa sua blusinha de patricinha não vai te esquentar o suficiente! – meu tom era alto e determinado. Ela resmungou alguma coisa e aceitou.

Peguei meu casaco da cintura e o vesti, ao contrário do que aparentava ele era bem quente e confortável. Foi uma das poucas coisas que me esquentou durante os longos invernos que passei. Tirei o boné e encostei minha cabeça no assento – extremamente confortável – da humvee. Observei mais uma vez o interior daquele mini tanque de guerra. Era enorme! Troquei poucas palavras com Melody desde o incidente de hoje a tarde. Não sei muita coisa sobre ela, o que ainda me incomoda é como uma garota como ela teria todo esse armamento. Ela não tem cara de que trabalha pro exército ou coisa do gênero – ela tem mais cara de que ligaria para o papai pedindo dinheiro pra comprar um novo conversível cor-de-rosa.

— Está acordada? – a voz baixa dela me tirou dos meus pensamentos.

— Estou. – respondi calma.

— Está sem sono? – ela falou mais uma vez tão baixo que eu teria que fazer muito esforço pra conseguir ouvir.

— Estou pensando em muitas coisas...

— Tipo em sua mãe? – senti meu sangue ferver outra vez. Eu estava pensando mais nela e me esqueci de meus outros problemas. Como minha mãe estaria? Estaria bem? Estaria viva? Pare de pensar besteiras Ana, é lógico que ela está viva. Está apenas te esperando... – Desculpa. Não queria ser indelicada. – ela falou num tom mais alto, sentando no banco do motorista.

— Você vai querer conversar agora? Passou o dia todo me evitando e agora quer ser minha "amiguinha"? – zombei.

— Não quero ser sua "amiguinha". – ela imitou meu tom de zombaria. – Estamos vivendo o fim do mundo, e acredito que precisamos pelo menos confiar uma na outra. Aposto que você está curiosa pra saber por que eu tenho todo esse armamento de guerra, não é? – levantei uma sobrancelha, ela tocou no meu ponto fraco, sou muito curiosa.

— Eu moro com a minha mãe no subúrbio, na sexta feira eu estava andando de bicicleta a caminho da faculdade e estava tendo uma manifestação, quer dizer, eu achava que era. – engoli em seco me lembrando daquelas pessoas gritando, correndo, eu não havia percebido, mas algumas já estavam mordidas. – pedalei na direção de casa, mas a caminho encontrei com um dos meus vizinhos, o Théo, ele parecia machucado, então eu me aproximei para ajudá-lo, e ele tentou me morder... – senti um arrepio correr minha espinha lembrando da cena. Senti a mão de Melody no meu ombro e a encarei, ela me soltou um sorriso amarelo de companheirismo. – Eu dei um chute no rosto dele até conseguir me afastar. Quando cheguei em casa vi o noticiário, eles não comentavam nada sobre o que estava acontecendo. Mas onde eu moro, ninguém se importa com pessoas como eu, então bastava olhar pela janela e podia ver o que estava acontecendo.

Melody retirou a mão de meu ombro, se remexeu e foi até os fundos da humvee procurando alguma coisa, vi ela pegando uma das garrafas de chá gelado (que estava quente) e tomou um pequeno gole e me ofereceu. Aceitei e tomei um gole um pouco mais longo.

— Não exagere. Não sabemos por quanto tempo nosso estoque de bebida irá durar. Molhe apenas o bico. – fuzilei ela com os olhos. Ela era extremamente arrogante, o tipo de pessoa que eu odeio conviver. Com tantos sobreviventes por aí eu tinha que me envolver com tipo de gente que mais detesto.

— Voltando... – ignorei o último comentário. – Peguei o que achei necessário em casa.

— E a .380?

— Moro numa periferia. Encontrei aquela arma quando tinha uns 16 anos na rua, levei pra casa e mantive escondida da minha mãe. – conclui minha história.

— Bom, pelo menos é uma pistola comum. Vai ser fácil achar munição pra ela! – Melody falou se enrolando mais no cobertor. – E sua mãe?

— Nada disso, bonitinha. Eu já falei muito sobre mim, agora me conte sobre você, como conhece tanto de armas? Aliás, onde você conseguiu tudo isso de armas? – falei alto apontando para a parte de trás deixando bem claro que aquela quantidade não era comum.

Ela ponderou um pouco antes de me olhar e começar a dizer:

— Meu pai trabalha pra SAT, ele coleciona armas por bel-prazer, quando me deparei com muitos "deles", raciocinei rápido e me lembrei de todos os filmes trash de zumbis que assisti. Peguei as armas de meu pai que tinham maiores munições. – ela narrou tudo num tom esnobe, como se fosse tão óbvio.

— E você sabe usar tudo isso? – falei repetindo o tom esnobe.

— Se eu não soubesse usar do que adiantaria eu trazer tudo isso? – o tom de superioridade de sua voz me dava nos nervos. Eu estava me controlando pra não dar uns socos naquele rosto bonito dela.

— E onde está seu pai agora? – virei meu rosto olhando pela janela. Eu não sabia aonde estávamos, mas era alguma avenida, o cenário urbano se misturava com algumas árvores.

— Em algum aeroporto no pacífico... – ela falou tão baixo que se tivesse um pequeno barulho eu não teria ouvido. Não era precisa olhar pra ela para saber que ela poderia chorar a qualquer momento.

Acho que ela estava apenas posando de forte.

Talvez por dentro.

Ela estivesse tão preocupada.

Quanto eu.

~~~

Melody – POV

Eram 8h da manhã quando eu e Ana decidimos que precisávamos nos mover. Andamos alguns quilômetros até encontrarmos um outro posto de gasolina. Só tinha um pequeno porém, "eles" estavam mais próximos do que no último posto. Estávamos a uma distância segura "deles" e parece que "eles" ainda não haviam nos detectado. Calculei e vi pelo menos 4 "deles". Era provável que dentro da loja de conveniências tenha alguns, mas o lugar era pequeno, no máximo dois ou três.

Virei e observei todas as armas que eu tinha. Precisaria usar alguma delas para despistar "eles" e me aproximar do posto para encher o tanque da humvee.

— Você sabe atirar? – falei alto enquanto ainda remexia nas armas.

— E-Eu...? – Ana Lúcia balbuciou.

— Não? A Paris Hilton! É claro que é com você! – ironizei. Parece que as vezes Ana é muito lerda.

— A primeira vez que eu atirei foi ontem, eu não sei manusear uma arma direito! – bom, pelo menos ela jogou limpo comigo.

Observei todo o meu arsenal e peguei a Ithaca M37. Entreguei nas mãos dela, as mãos da Ana tremiam. Obviamente eu teria que ensiná-la a usar aquela arma.

— Ok, seguinte. Segure a arma mais pra frente, o coice do tiro faz com que o cano levante, você puxa a alavanca pra carregar a arma, mire na altura do peito "deles", para que a bala atinja a cabeça, e atire! Entendeu? – falei alto apontando os comandos exatos da arma para Ana. Não tenho tempo para explicar com mais detalhes. – Entendido?

— Sim! – ela falou afobada. Suas mãos ainda tremiam.

— Eu vou sair e você vai me dar cobertura. – expliquei. Olhei para o volante da humvee. - Você sabe dirigir?

— Bom, eu dirigi apenas carros normais, nunca um mini tanque de guerra, mas eu sei sim. – Ana ironizou. Revirei meus olhos.

— Quando acabarmos com todos eles você dirige próximo ao posto para podermos encher o tanque, entendido? – ela apenas balançou a cabeça numa afirmação.

Me voltei pra trás e peguei minha amada Springfield (desde que meu pai me ensinou a atirar aquela era minha arma favorita), e uma mochila para pegar outros suprimentos, abri a porta e andei na direção "deles".

Mirei.

Atirei.

Os outros começaram a se aproximar de mim.

Mirei.

Atirei.

Ouvi um tiro que não veio da minha arma. Olhei para trás e vi um "deles" caindo, Ana conseguiu atirar. Suspirei aliviada. Pelo menos podia contar com ela pra alguma coisa. Foquei minha atenção nos outros que estavam a minha volta.

Mirei.

Atirei.

Eu estava certa. Uns três "deles" começaram a sair de dentro da pequena loja de conveniência.

Mirei.

Atirei.

Mirei.

Atirei.

Outros tiros. Ana atirou novamente. Honestamente, Ana seria uma ótima ajuda.

Olhei ao redor, parece que não tinha mais nenhum deles. Suspirei aliviada. Virei e levantei o braço chamando Ana. Logo o humvee estava na minha frente e Ana desceu do carro com um sorriso triunfante no rosto.

— Nada mal para uma novata. – elogiei com um sorriso apesar de ganhar uma cara de deboche. – Eu vou entrar pra pegar suprimentos, encha o tanque e qualquer coisa, grite!

— Eu sou forte o bastante pra me virar, bonitinha. – sério, esse bonitinha está me dando nos nervos.

Andei na direção da loja de conveniência, espero que ao contrário da outra tenha mais coisas.

~~~

Ana Lúcia – POV

O tanque já havia avisado cheio. Me espreguicei, fazia um bom tempo que não esticava as pernas. Estou acostumada a fazer exercícios sempre, andando na minha inseparável bicicleta ou caminhando mesmo.

Encostei no capô e olhei para o céu, estava claro sem nuvens. Suspirei. Como a senhora está, mamãe?

Estive distraída demais que não percebi quando uma lâmina foi apontada na minha garganta.


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