Fim do Mundo – Interativa escrita por Sohma


Capítulo 2
Capítulo 01


Notas iniciais do capítulo

A partir de agora, todas as narrações serão narradas em 1ª pessoa pelos respectivos personagens.

Apenas.

Boa leitura!



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Melody – POV

Já havia se passado dois dias desde que resolvi sair de casa e tentar sobreviver ao "fim do mundo". E nesses dois dias, eu não encontrei nenhum "deles". Me mantive dentro do humvee, comendo o meu esgotável estoque de pouca comida e água. O meu maior problema era mesmo a água, eu tenho um problema sério de desidratação, meu corpo se sente esgotado se eu fico mais de 2h sem uma gota de água. As três garrafas que eu trouxe, tive que apenas molhar meu bico para me sentir hidratada até conseguir achar um lugar onde eu pudesse encontrar mais água.

Por alguma força celestial, meu pai havia deixado o tanque do humvee cheio, e consegui chegar até as proximidades do centro de São Paulo. Mas o tanque da humvee já avisava que minha gasolina estava acabando.

Suspirei.

Liguei o rádio, que de alguma forma era minha única fonte de notícias dos acontecimentos. Sincronizei alguma estação e a voz do locutor começou a informar.

— A crise tomou conta dos Estados Unidos e não há expectativas de uma solução. A cúpula do governo deixou a casa branca, e anunciou a mudança do gabinete para um porta-aviões localizado no pacífico. – Era óbvio que o maldito "país da liberdade" iria se afastar da Terra para conseguir se manter longe "deles."

— "Porta Aviões no pacífico..." – Repeti em voz alta por que me lembrei que meu pai está em algum aeroporto flutuante, provavelmente os Estados Unidos já sabiam dessa onda "deles" no mundo, e mandou os melhores atiradores para proteger esses babacas do governo.

Minha garganta estava seca. Preciso de água. Remexi nas bolsas que estavam na parte de trás da humvee e peguei a última garrafa que ainda tinha água, a quantidade era menor do que 200ml. Preciso achar água urgente! Molhei os lábios, virei-me e liguei os motores. Vou procurar algum posto de gasolina antes de escurecer. Do que adianta ter esse tanque de guerra se ele estiver sem gasolina?

~~~

Andei alguns quilômetros até achar um posto de gasolina. Parecia abandonado. Tinha alguns carros quebrados a frente e as paredes de vidro do posto estavam quebradas. Provavelmente foi saqueado, mas deve ter alguma coisa que me ajude a me manter por alguns dias até achar outro lugar.

Remexi nos fundo da humvee e peguei minha mochila para colocar os suprimentos, e também a Springfield M1A1, caso algum "deles" aparecesse – e eles nunca aparecem em unidade –, eu teria pelo menos 20 disparos para poder me esquivar de volta ao carro.

Desci da humvee e olhei ao redor pra confirmar. Nenhum deles. Me aproximei do tanque e coloquei a gasolina, e após alguns minutos e ter certeza de que o tanque estava cheio eu me dirigi a pequena loja de conveniências. Apontei a arma em todas as regiões pra ter certeza que nenhum deles estavam dentro da loja, fui até o caixa e o abri. Nenhum dinheiro... Peguei algumas barras de cereal – que obviamente não saquearam por que tinham coisas melhores para serem roubadas –, e me dirigi a geladeira. A energia havia acabado aqui há alguns dias, e parece que a água estava quente. Peguei algumas garrafas de água e chá gelado (quer dizer, quente). Olhei ao redor mais uma vez. Nada de interessante ou necessário. Abaixei a guarda e andei vagarosamente até o carro.

— Hey você! – uma voz feminina gritou e me fez levantar a arma. Havia uma garota a minha frente, ela parecia ser alguns centímetros mais alta do que eu, e me apontava uma pequena arma, de longe eu podia chutar que era uma pistola .380. Ela era magra, morena escura. Usava uma máscara branca no rosto, uma regata justa ao corpo, uma calça legging e uma blusa amarrada na cintura. Seu cabelo era curto e ondulados e estavam cobertos por um boné. E carregava uma mochila pesada nas costas – Me dê as chaves do carro ou eu atiro.

Ela me ameaçou? Quem essa vaca pensa que é? Levantei a Springfield e ela encostou o dedo no gatilho.

— Se atirar eu também atiro! – ela gritou.

— Sua 380 atira apenas uma bala por vez, se você atirar a essa distância tem 30% de chance de me acertar. Eu estou com uma Springfield, que posso atirar 3 balas por minuto. Eu tenho então 70% de chance de te acertar. – minha voz saiu calma. Como é bom ter um QI avançado.

Ela engoliu em seco. Estava assustada, sua mão tremia, era perceptível que estava com medo. Se ela está pensando que eu vou dar minha única chance de viver pra primeira vadiazinha que me apontar uma arma ela está muito enganada!

Ouvi um barulho vindo atrás de mim, virei meu corpo e encontrei uma coisa que estou evitando a dois dias. Um "deles" estava rastejando próximo a nós duas. Meu corpo gelou. Eu estava até agora fazendo pose pra uma desconhecida e me assustei a encontrar mais uma dessas... dessas coisas!

BANG!

Escutei um tiro e vi que a garota atrás de mim atirou. Ela atirou! Mas "ele" continuava andando em nossa direção. Peguei a springfield e também atirei, só que desta vez na cabeça. Ele caiu pra trás.

Respirei aliviada. Mas comemorei cedo demais. Vi eles se aproximando. Sabia! Eles nunca aparecem apenas em unidade.

BANG!

Escutei outro tiro da garota atrás de mim. Só que "ele" ainda estava de pé. Peguei a springfield e atirei mais uma vez!

— Regra Nº1 dos filmes de zumbis, querida! Sempre atire na cabeça! – gritei pra ela. – Entra no carro!

— Eu não vou te obedecer! – mas que respondona!

— Se você não entrar no carro nós duas vamos morrer aqui! – gritei!

— Abre o porta-malas pra eu colocar minha bicicleta lá! – mas o quê?

— Mas o quê? – gritei.

— Isso que você ouviu bonitinha, é isso ou eu atiro em você! – não sei se ela está blefando, mas ela atirou "neles" sem pensar duas vezes, então é melhor não arriscar.

Rapidamente apertei um botão que estava no chaveiro e destranquei o porta-malas. Ela correu, pegou sua bicicleta e a jogou dentro do carro, deu a volta e entrou pelo banco de passageiros. Dei mais um tiro para afastar um "deles" que estava próximo de mim e entrei na humvee. Joguei a mochila na parte de trás e liguei o carro, pisei outra vez no acelerador e passei por cima deles.

Estamos salvas. Por enquanto...

~~~

Ana Lúcia – POV

Já haviam se passado 30 minutos desde que eu entrei nesse mini tanque de guerra junto com uma garota louca que está armada até os dentes. E não trocamos nenhuma palavra desde então.

— Obrigada! – falei tirando a máscara de meu rosto, e num tom bem alto para eu não ter que repetir.

— Você me aponta uma arma, exige que eu te dê o meu carro e eu salvo sua vida. Acho que "obrigada" era o mínimo que você podia falar. – Mas que filha da puta!

— Quem você pensa que é pra falar assim comigo? Só por que você salvou a minha vida não quer dizer que eu tenha que aceitar seus desaforos não! – eu não sou de levar roupa suja pra casa não, lavo tudo na hora mesmo.

Ela ficou quieta. Não respondeu. Me dei por vencida. Virei minha cabeça e olhei a parte traseira daquele mini tanque de guerra.

— Você tem porte pra ter tudo isso de arma? – perguntei querendo puxar assunto.

— E você tem porte de arma pra poder pra andar com uma 380. – touchê.

Pelo jeito ela também era pavio curto. Pode parecer errado dizer assim, mas gostei dela. Ela era esperta, e por sinal, muito bonita.

— Acho que começamos errado. Prazer sou Ana Lúcia, e você? – resolvi tentar puxar assunto novamente.

— Melody.

— Faz um gritinho pra mim? – eu não podia resistir em fazer essa piada.

— Rá, rá! Nossa você é muito engraçada. Já pensou em fazer carreira no stand-up comedy? – ela estava obviamente sendo irônica.

— Foi mal. Eu não podia perder essa piada. – soltei uma risada divertida. – Aonde você está indo?

— Estou indo ao centro da cidade. Quanto mais perto das capitais, é mais fácil a sobrevivência. Lojas, mercados, suprimentos, coisa e tal.

— Mas você sabe que quanto mais próxima da cidade mais próxima você fica dos zumbis, não é? – acho que ela não pensou nesse pequeno detalhe.

— Não sei se você reparou, fofa. Mas eu tenho armamento o suficiente pra me virar durante um bom tempo. – touchê, outra vez.

Virei meu rosto para a janela, fiquei olhando o cenário urbano passando diante de mim. Pensava em minha mãe, eu não consegui entrar em contato com ela desde três dias atrás. Não sabia se ela estava viva. Balancei a cabeça.

— Ela está viva! – falei com convicção para mim mesma.

— Quem está viva? – merda! Ela me ouviu.

— Minha mãe... – falei no mesmo tom baixo. Eu não ia me abrir com uma total desconhecida. Não vou confiar nessa garota.

— Você sabe que vivendo nesse "fim do mundo" é provável que ela não esteja viva, não é?

— Como ousa falar isso? Ela é minha mãe! Eu sinto que ela está viva! Você não tem esperanças de que seus pais estejam vivos? – gritei! Sentia meu rosto esquentar de raiva. Mas logo o calor foi sumindo quando vi ela parando o carro e ficando quieta.

Oops... Falei algo que eu não devia.

— Olha, foi mal. Eu não queria falar assim com você, eu não gosto que falem assim da minha mãe. – me justifiquei virando o rosto.

Ela continuou quieta. O carro ainda estava parado, a encarei e ela olhava para suas mãos como se pensasse em algo muito doloroso.

Coloquei minha mão sobre as suas, o que chamou a atenção e pude perceber que pequenas lágrimas se formavam em seu rosto, ela limpou com as mãos e disse algo como "esquece".

Sorri.

— Sabe, você é bem legal pra uma louca armada até os dentes! – disse num tom divertido que a fez soltar um riso abafado.

Talvez o fim do mundo possa ter um momento de felicidade.


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Notas finais do capítulo

O capítulo desenrolou mais rápido do que o previsto, e caso tiver mais personagens, espero que ela se denrole tão fácil quanto esse capítulo.