Não vi mais Kyle. Passaram-se dias após o incidente da bebida. Chloé se desculpou um milhão de vezes comigo e disse que estava igualmente bêbada e foi parar na casa de um cara desconhecido. Tentei entender como isso aliviaria o fato de ela ter me levado para um bar do outro lado da cidade e ter me abandonado lá. Mas, preferi não brigar, estava vendo que ela estava mesmo preocupada e arrependida. Lucas disse que apenas foi embora porque não estava se sentindo bem. Acho que se ele tivesse me avisado, teria ido embora com ele. Mas, não foi o que aconteceu e não dava para mudar os ocorridos.
Chloé no dia seguinte me perguntou como Kyle havia me tratado e eu disse vagamente que bem. Mas ela ficou insistindo com mais perguntas e eu pude perceber que ele havia comentado algo com ela. Mas, eu não queria falar no assunto e nem em Kyle e ela parou de me importunar, contra a vontade dela.
Após a aula da sexta-feira, estávamos do lado de fora da "Escola da Competição" como Lucas havia nomeado a academia e Chloé se virou para mim e sorriu enquanto Lucas se afastava de nós depois de nos dar um tchau.
—E então, qual os seus planos para hoje a noite?
Suspirei e dei de ombros.
—Acho que vou apenas ficar em casa. Acho que meu irmão talvez vai vir pra cá. Mas não tenho certeza.
Chloé assente.
—Se eu te chamar para sair hoje você não vai, não é?
Dou risada.
—Não. Desculpa, mas eu estou cansada mesmo.
—É, eu entendo. Eu te traumatizei e nunca mais você vai querer sair comigo.
Mais ou menos isso.
—Não é isso, Chloé. Estou cansada mesmo. - dou de ombros.
—Ta bom então, até segunda. E se cuide.
Sorrio e ela me dá um abraço rápido.
—Tchau. - ela acena e se afasta de mim sorrindo.
Sorrio e aceno de volta. Começo a andar pela calçada desviando das pessoas que vão na direção contrária que estou indo. O clima naquele finalzinho de manhã de sexta-feira estava ameno. Os céus estavam cobertos de nuvens, mas o calor estava presente, o sol estava escondido por trás da camada de nuvens brancas.
Tinha acontecido algo bastante perturbador na aula. Lucas e eu fomos obrigados a treinar alguns passos juntos, o que foi ótimo, já que já éramos bem próximos e vivíamos rindo. Mas Nora, a professora interessante e elegante me olhava de um jeito esquisito, de cara feia. Até mesmo Chloé reparara.
Queria não pensar muito nisso, então passei na Starbucks mais próxima e entrei. O ar condicionado baforou um ar gelado acima da minha cabeça quando passei pela porta de vidro. O local estava razoavelmente movimentado. As mesinhas estavam quase todas ocupadas e havia pessoas pedindo seus cafés para os três atendentes atrás de uma vitrine de muffins.
Entrei na fila atrás de uma mulher vestindo um terno e dei uma olhada no cardápio pendurado na parede atrás dos funcionários. Eu não estava a fim de tomar café e sim uma coisa mais leve e refrescante.
Decidi pegar o suco de limão feito a base de chá verde e um muffin de chocolate.
Depois de fazer meu pedido e pegá-lo sem muita demora, decidi sentar em uma mesinha do lado de fora da loja. O mormaço quente tomou conta do meu corpo novamente quando me sentei na cadeira baixa e preta. Coloquei minha bolsa em cima da mesinha redonda da mesma cor da cadeira e tomei um gole do meu refrescante suco. Abri o pacote de papelão e tirei de lá o muffin de chocolate.
Enquanto eu mastigava lentamente saboreando meu bolinho saboroso, eu olhava tudo em volta. Sim, o barulho constante da cidade não me incomodava mais. Muito pelo contrário, acho que não conseguiria sobreviver sem aquela agitação toda, não mais.
Tomei mais algumas goladas do meu suco e quando torno a olhar para frente, paraliso. Espero realmente que ele não me reconheça.
Quando vejo o garoto loiro sorrir ao olhar para mim, um olhar satisfeito e um pouco malicioso, vejo que minhas preces não foram atendidas. Ele está vestindo uma regata preta, seus braços magros estão a mostra. Está usando uma calça jeans skinny preta desbotada e um Vans vermelho. Há um óculos de sol pendurado na gola de sua blusa.
—Olha só, que bom te ver boneca.
Olho de cara feia para Matt.
—Acho que não posso dizer o mesmo.
Ele ri e levanta as duas mãos como se tivesse se rendendo.
—Calma, nossa, quem diria que você fosse tão bravinha.
Não digo nada, ao invés disso, levo o canudo verde até a boca e tomo mais umas goladas do suco gelado para me acalmar internamente, ou pelo menos tentar.
—Então você mora por aqui. - não é uma pergunta.
—Sim.
Ele assente ainda sorrindo. Não sei qual o motivo de ele sorrir tanto.
—Kyle meio que quis me matar, sabia? Disse que você ficou brava com ele por minha causa.
Levanto-me da cadeira e pego minha bolsa e coloco-a no ombro.
—Bom, se você me dá licença, preciso ir.
Matt dá uma risadinha cínica.
—Só por que eu cheguei? Que isso... Eu não mordo não. - ele ri e acrescenta se curvando para falar mais perto do meu rosto. -Só se você quiser.
Olho para ele com desprezo e pego o copo com o líquido verde claro já pela metade.
—Você esqueceu o bolinho. - ele aponta sorrindo para a metade do bolinho em cima da mesa.
—Perdi a fome.
Ele sorri e depois morde o lábio inferior. Pega o bolinho da mesa e leva até a boca dando uma grande mordida e quase acabando com o pedaço inteiro. Matt dá de ombros.
—Obrigado pelo bolinho.
Faço menção para atravessar a rua e Matt segura o meu braço.
—Espero te ver novamente, bonequinha.
—Eu não sou uma bonequinha e vê se me deixa em paz, seu... Escroto.
Como se eu tivesse contado a piada mais engraçada do mundo, Matt dá risada jogando a cabeça para trás.
Com os nervos à flor da pele, atravesso a rua rapidamente. Mas que... Escroto!