Quando chego em casa, a primeira coisa que faço é ligar para Sean. Ele atende logo no segundo toque.
–Grande Alice! E aí, como foi o primeiro dia na melhor academia de ballet em Nova York?
Dou risada. Sean me acalma tanto.
–Foi... Assustador.
– Por que? Alguém tentou te estuprar?
Franzo o cenho.
– O quê? Não! Mas foi tão assutador! Todos ficaram me encarando como se eu fosse de outra espécie.
–Você foi de cabelo preso?
–Sim.
–Então está explicado. Eu já te disse que seu cabelo deixa todo mundo te olhando como se você fosse metida.
–Mas eu não sou, Sean! O que meu cabelo tem a ver com isso?
Sean dá risada do outro lado da linha e eu acabo rindo também.
–Queria que estivesse aqui.
–Eu também. - ele responde. - Mas vou ver se consigo ir te visitar no final de semana, tudo bem?
–Sim, por favor.
–Vou tentar.
–Tá bom.
Passamos uns segundos em silêncio e então Sean pergunta:
–E ai, fez amigos?
–Sim, eles são legais e divetidos. Lucas e Chloé. A Chloé é bem louca. - dou risada. - Ela acha que o nome dela é de vadia.
Sean ri do outro lado da linha.
–Ah meu Deus! Nunca tinha parado pra pensar nisso antes. Mas é verdade.
Franzo o cenho e sorrio.
–Ela me chamou para sair hoje, mas...
–Nada de mas. Alice Carson, se você não sair hoje, juro que vou para Nova York hoje mesmo e te arrasto para um bar qualquer. Saia! Mamãe e papai não estão mais por perto para te prender. Vá viver. Promete que você vai?
Sorriso e faço que sim com a cabeça, como se ele pudesse ver.
–Claro, vou sim. - digo. - Obrigada, Sean. Eu te amo.
–Eu também te amo. Mas, agora eu tenho que ir tenho que estudar para algumas provas.
–Tudo bem. Falo com você amanhã.
Nos despedimos e então eu encaro os prédios enquanto estou sentada no sofá de couro preto. Sorrio com a ideia de sair e me divertir. Finalmente sem interferência dos meus pais, ou, dos sargentos, como Sean os chama.
***
Escolher as roupas que usar sempre é a parte mais difícil para mim, por isso decido importunar Sean e ligo para ele pelo Skype e mostro minhas roupas para ele me ajudar a escolher. Ele me faz vestir uma saia curta preta, um suéter branco de manga comprida e um sapato preto.



–Que tal você deixar o cabelo solto?
Reviro os olhos.
–Olha, não tem nada de errado com o meu cabelo.
Sean ri e diz:
–Você vai ficar linda. Agora preciso ir, tudo bem? Quando chegar em casa, manda uma mensagem.
Sorrio.
–Te amo.
Meu irmão sorri do outro lado. Seus cabelos castanhos estão arrepiados com gel e ele desliga.
***
Após o banho, visto as roupas que Sean propôs e fica lindo. Tento ficar de cabelo solto, mas acabo prendendo antes de sair.
O céu já está escuro quando saio do prédio e o vento está forte e gelado. Dou graças a Deus por ter vestido um suéter já que minhas pernas estão expostas.
Chloé me mandou o endereço e não fica "perto" como ela disse. Fica do outro lado da cidade, no condado do Brooklyn, por este motivo, sou obrigada a pegar um táxi.
Tenho sorte de não esperar muito tempo por um e quando entro, dou o endereço para o taxista. O lado bom é que posso admirar a cidade iluminada durante todo o trajeto. Nova York poderia ser chamada de Cidade Luz, porque nem mesmo em Paris há tanta iluminação quanto naquela cidade.
***
Quando o táxi para em uma rua deserta, ao lado de uma calçada cheia de gente fazendo fila para passar por uma porta de ferro pintada de branco, me pergunto se foi uma boa ideia. Entrego o dinheiro para o taxista e saio do carro amarelo.
–Alice! - ouço a voz de Chloé no meio de tantas outras e viro para meu lado direito. Ela está no final da fila ao lado de Lucas.
Sorrio para eles e ando até o final da fila.
–Nossa como você está linda! Amei seus sapatos!
Sorrio para ela.
Ela está com um vestido preto que bate no meio das coxas e um coturno preto. Sua maquiagem está carregada de delineador preto também.
–Como você é bailarina? - pergunto e ela ri.
–Sei que é esquisito eu não me vestir igual uma boneca, igual você, mas amo ballet!
Dou risada e concordo. Lucas parece distraido olhando umas meninas mais para frente. Está vestindo uma camiseta preta sem estampas e calça jeans.
Continuamos jogando conversa fora enquanto a fila avança e parece que o tempo passa mais rápido.
***
Quando ponho os pés dentro do bar, sou surpreendida com a quantidade de gente que cabe ali. É um local de dois andares. Os corredores em todas as extremidades acima de nós é repleto de mesinhas redondas com pessoas ao redor delas. Ali na parte de baixo há uma pista de dança que é mais um lugar onde as pessoas se aglomeravam e dançavam ou bebiam e riam em pé. Lá no fundo havia o bar.
Chloé foi na frente e eu fui atrás de Lucas que seguia Chloé. Enquanto andava, eu olhava em volta procurando uma saída de emergência. Era algo que eu sempre fora acostumada a fazer e eu fazia em todos os lugares.
Só notei que tínhamos parado em frente ao bar quando ouvi Chloé chamar meu nome.
Olhei para ela e ela riu. Olhei para o bar e meu coração disparou ao ver um menino branco de cabelos tingidos de um vermelho vivo. Ele tinha um piercing preto na sobrancelha e seus olhos eram de um verde incrível. Sua boca era carnuda e bem rosada. Ele estava usando uma regata preta e seus braços razoavelmente musculosos estavam a mostra.
Engoli em seco e olhei para meus pés sentindo meu rosto corar.
–Você gostou do lugar? - ouvi Chloé perguntar.
Olhei para ela e sorri.
–Sim, é legal.
–Tudo bem, vamos logo ao que interessa. Kyle, nos dê uma jarra de cerveja. Tudo bem para você beber cerveja? - Chloé pergunta para mim quando me sento em um dos bancos altos e redondos em frente ao bar.
–Sim. - digo e olho para o ruivo que está enchendo uma jarra de vidro com cerveja. Ele olha para mim e eu desvio o olhar. Ele é muito bonito. É atraente e tem olhos incríveis.
–Ela se veste igual uma boneca, não é?
Olho para Chloé e vejo que ela está falando de mim para Kyle. Ele sorri para ela e depois enche o copo que ele coloca na minha frente.
–É, ela é uma boneca. Por que a trouxe aqui?
Chloé riu.
–Porque por baixo dessa "bonequisse" toda, ela deve ser fatal. Você já reparou o tanto de olhares que ele atraiu desde que colocamos o pé aqui.
Me sinto totalmente constrangida com o assunto e evito olhar para Chloé que é uma tagarela e para Kyle, mas sinto seus olhos em mim.
Pego o copo de cerveja e levo até a boca. Sinto vontade de cuspir. É horrível. Como alguém pode tomar algo tão amargo e achar bom? Mas, engulo alguns goles grandes com dificuldade e depois deixo o copo em cima do balcão.
***
O tempo passa e após uns quarenta minutos dentro do bar, Chloé está rindo de tudo e Lucas está no caminho. Eu olho constantemente ao redor. Há muitas pessoas vestidas de preto, caras grandes com barba...Me sinto uma criança.
–O que você quer beber? - ouço uma voz grave e masculina perto de mim e olho para frente.
Sinto meu rosto corar, Kyle está debruçado sobre o balcão olhando para mim. Ele tem um sorrisinho quase imperceptível no rosto.
–Ah, eu estou bem. - digo e sorrio.
–Você nem bebeu a cerveja. - ele diz e pega meu copo cheio e leva até a boca. - O que você gosta de beber?
Não quero dizer que nunca enfiei uma gota de álcool na boca. Já tomei vinho em ocasiões especiais, mas menos da metade do copo.
–Ah...
–Tudo bem, vou fazer algo que você vai gostar.
Ele se vira de costas para mim e começa a preparar uma bebida que vai pedaços de morango e muito gelo. Parece muito boa, bem, melhor do que cerveja.
Após alguns minutos rápidos ele coloca um copo com gelo e pedaços de morango e um canudo enfiado no meio.
–Por minha conta. - ele fala em meio ao som da música alta.
Sorrio para ele.
–Obrigada.
Levo o canudo até a boca e o líquido gelado e doce preenche minha boca. Arregalo os olhos e olho para ele. Kyle sorri.
–Isso é muito bom! - exclamo e ele ri assentindo.
Não havia notado que estava morrendo de sede e calor ali dentro. Tomo tudo muito rápido.
–Você quer outro? - ele pergunta.
Faço que sim com a cabeça.
–Tudo bem, mas vá com calma. Está na cara que você não tem experiência com bebida.
Dou uma risadinha.
–Não queria parecer uma criança. Sabe como é.
***
Kyle tentou fazer eu parar de beber, mas após três saquês de morango eu estava rindo a toa e olhando muito para ele. Não sabia que horas que era e Lucas tinha sumido e Chloé havia desaparecido após ter ido no banheiro.
–Acho que preciso tomar um ar. - digo, mas acho que Kyle não escuta porque está atendendo um bando de homens que fala muito alto.
Levanto-me do banquinho redondo e sinto minha cabeça girar. Paro e pisco um pouco. Minha visão está duplicada e a música está alta demais penetrando em meus ouvidos.
Com dificuldade chego até a porta do bar depois de ser empurrada por um monte de gente alterada pela bebida e desconfio que algo a mais também.
Do lado de fora, o ar gelado me envolve fazendo meu calor excessivo passar. Ainda estou suando um pouco e me sinto tonta e esquisita. Andar em linha reta parece impossível. Vou andando com a mão na parede e então sinto meu estômago embrulhar. De repente me curvo e vomito com força. Caio de joelhos no próprio vômito e isso faz com que eu vomite novamente com a mão esquerda na barriga.
Me sinto fraca e caio de lado no concreto frio da calçada. Olho para o céu preto e adormeço enquanto o vento bate contra meu corpo no chão.