Eu não podia desistir do meu sonho que estava ali, há alguns metros à frente, na calçada. Por isso, continuei meu caminho como se nada tivesse acontecido e me dirigi até o prédio razoavelmente grande com uma estrutura bege um pouco descascada.
Quando passo pelo portão preto, vejo uma recepcionista do lado de dentro de um balcão de granito preto. Ela tem o cabelo castanho preso em um rabo de cavalo e uma franja que cobre até suas sobrancelhas. Me aproximo do balcão à medida que ela sorri para mim.
—Olá, seja bem-vinda.
—Obrigada. - respondo e sorrio.
Ela me entrega uma mochila de pano bege.
—Aqui está um kit para seu primeiro dia. Tem muitas coisinhas para comer. Mas nenhum donut gorduroso e gostoso.

Dou uma risadinha e agradeço mesmo assim. Pego a mochila de pano e me dirijo até uma sala repleta de espelhos e barras de ferro. Já tem muitas pessoas ali e quando entro, todas elas olham para mim ao mesmo tempo. Parece que sou uma intrusa porque todos estavam conversando entre si e ao me notarem, pararam.

Um pouco sem graça, digo:

— Bom dia.

Algumas pessoas respondem com o tom baixo e outras voltam a conversar ente si. Tento não me apavorar e espero realmente que aqui seja diferente da escola. Qual é o problema das pessoas comigo? Por que elas não gostam de mim? Sean sempre disse que era meu cabelo que me deixava com um ar de garota metida, mas eu não era metida! Longe disso. Eu abominava pessoas metidas.

Caminhei até um banquinho de madeira vazio e sentei-me nele. Não queria olhar para ninguém, preferia que eles não me notassem se fossem me tratar mal ou algo do tipo. Abri a mochila bege de pano e vi várias coisas saudáveis. Havia um grande copo descartável fechado com uma tampa de plástico com morangos cortados, uma caixa pequena de suco de laranja, uma banana, uma maçã vermelha e duas barrinhas de cereais. Havia também um lanche natural embrulhado em um plástico transparente.

— Bem nutritivo, você não achou?

Olho para cima e vejo uma garota de cabelo loiro e preso num rabo de cavalo me olhando com um sorriso branco e alinhado. Ela tem olhos castanho claro e é bem branca.

— É, eu achei. - sorrio. - Mas acho que se viesse um donut de chocolate ficaria melhor ainda.

Ela ri.

— Foi o que eu falei para o Lucas.

Sigo seu olhar para o outro lado da sala. Um rapaz de olhos verdes e cabelo castanho está nos olhando. Quando vê que estamos olhando para ele, atravessa a sala andando em nossa direção.

—Ah, quase esqueci. Sou a Chloé. - a garota loira e simpática sorri e estende a mão para mim.

Sorrio para ela e aperto sua mão.

— Sou Alice.

— Ah eu amo esse nome! Sempre quis me chamar Alice por causa da Alice No País Das Maravilhas, mas minha mãe preferiu me dar um nome de vadia.

Arregalo os olhos e olho em volta para me certificar de que ninguém ouviu aquela palavra saindo de sua boca e ela ri.

— Relaxa, aqui o pessoal é muito focado. Acho que já deu para perceber, né?

Faço que sim no mesmo instante que Lucas chega até nós e para ao lado de Chloé.

— Oi, eu sou o Lucas. - ele estende a mão.

Posso sentir seu perfume de onde eu estou. É um cheiro muito bom, mas não consigo lembrar o nome do perfume, contudo, já o senti antes.

Sorrio um pouco tímida para ele e aperto sua mão.

— Alice.

— De onde você é? - ele pergunta.

— Los Angeles. - respondo. - E vocês?

— Nascida e criada em Boston. - Chloé diz.

— Sou de Dallas, Texas.

Faço que sim com a cabeça.

— Gosto muito do Texas. - digo. - Meus avós moram lá e sempre que eu vou para lá, ando de cavalo. É tranquilo. Mas, você não tem um sotaque caipira. - digo.

Lucas ri.

— Bom, eu abomino o sotaque caipira então prometi a mim mesmo que não falaria igual eles.

Dou risada junto com Chloé.

Paramos de rir quando uma mulher elegante, vestida toda de preto entra na sala. Ela tem o cabelo preto preso em um coque, é branca e tem olhos verdes penetrantes.

— Bom dia para todos vocês.

Eu me levanto do banco e me aproximo dos outros alunos junto com Lucas e Chloé.

— Bem, sejam muito bem-vindos. Meu nome é Nora Kingsley e sou a mentora de vocês. Quero deixar bem claro que aqui é competição mesmo. Então, sejam fortes e mostrem o potencial de vocês. Não é como uma faculdade comum, a maioria das aulas são práticas, treinos a manhã inteira, então, espero que vocês estejam aqui para dar o máximo de vocês porque bem... Hoje em dia está difícil se destacar. - ela para e sorri como se isso fosse aliviar as suas palavras. Ela olha pela sala e seu olhar para em mim. - Eu estarei avaliando todos vocês, todos seus movimentos, suas apresentações e treinos. Em novembro teremos uma apresentação muito importante e os melhores serão selecionados por mim para fazer o musical do Cisne Negro.

Meu coração salta do peito. Era uma peça muito importante.

— Mas é claro, vocês terão que se dedicar muito para isso acontecer. Bom, chega de conversa séria. Agora quero que vocês formem um círculo e comecem a falar um pouco de vocês, de onde vieram e o nome.

Eu, Chloé e Lucas nos entreolhamos e fomos nos sentar no meio das outras pessoas. Acho que todos nós estávamos muito... Apavorados. Mas, passar por aquele processo de terror era necessário.

Enquanto cada um ia se apresentando, Nora andava de um lado para o outro, com movimentos lentos e suaves dentro do circulo. Ela usava um vestido preto até o pé e era muito elegante. Ela era muito bonita. Eu estava realmente encantada com sua beleza. Acho que todos nós.

***

A manhã se passou com todos nos apresentando e logo depois que terminamos, tivemos que improvisar uma dança em grupos de quatro pessoas. Foi algo bom e divertido, mas eu não via a hora de acabar. Não só as outras pessoas presentes na sala, mas até mesmo Nora me olhavam de um jeito estranho. Ou, eu estava muito paranoica. Mas, o olhar de todos eles me intimidava muito, o que não podia acontecer em nenhuma circunstância, já que como Nora disse, tínhamos que mostrar nosso potencial e estava bem claro que ali, todos tentariam ser melhores do que o outro, custe o que custar.

Quando a aula terminou, Chloé, Lucas e eu saímos juntos e suspiramos em uníssono quando chegamos do lado de fora da academia.

— Nossa, achei que ia morrer lá dentro com tanta gente olhando para mim com cara de caçador. - Chloé comentou e eu ri.

— Achei que só eu tinha sentido isso.

— Bom, mas você foi a que mais foi mal encarada. - Lucas disse. - Talvez porque você seja a mais bonita de lá.

Quando ouço o elogio, me sinto envergonhada e olho para os meus pés. Não sei se estou vermelha, mas tenho leve suspeitas de que sim. Lucas corou um pouco e passou a mão pelo cabelo castanho.

— Ah... Bom, eu... É...

— O que vocês acham de sairmos hoje á noite? - Chloé pergunta nos tirando do momento embaraçoso.

Olhamos para ela e Lucas diz:

— Claro que sim.

Chloé olha para mim.

— Ah... Não sei. Não conheço muita coisa aqui ainda e...

— Não, não! Vai ser ótimo. Eu conheço um ótimo bar aqui. Um amigo meu trabalha nele e é ótimo. Tem muita música e é bem descontraído. Vocês vão gostar. Vamos!

Quero recusar, mas faço que sim com a cabeça e ela bate palmas, claramente animada.

— Ótimo. Eu mando o endereço para vocês, é aqui perto. E aí nós nos encontramos ás oito, pode ser?

— Por mim tudo bem. - Lucas diz.

Faço que sim novamente, mas não digo nada.

— Ótimo! Bom, até mais tarde então. -ela acena sorrindo e se afasta de nós.

Lucas e eu nos entreolhamos e ele olha para seus pés logo após nosso contato visual.

— Desculpa por aquilo, eu... Não quis te envergonhar.

Sorrio e balanço a cabeça.

— Está tudo bem. Eu... Tenho que ir. Te vejo mais tarde. - digo e passo por ele acenando.

Ele assente e eu não olho mais para trás para olhá-lo. Aquilo foi muito esquisito. Eu não estava muito acostumada com pessoas me elogiando e Lucas era bem bonito.