Meu crush é um zumbi escrita por GayEmer


Capítulo 7
Como arrancar um band-aid


Notas iniciais do capítulo

Estado islâmico ameaçando nosso país e eu aqui postando um capítulo.
Aqui é BR.

Boa leitura, mozamores.



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— Ele era gostoso, admita. — Kate diz.
Estou deitado numa cama de hospital. Meu quarto é repleto de um branco imaculado, desde as paredes às janelas. Tudo branco e frio.
Kate está aqui me enchendo o saco; não que ela tenha a intenção, mas eu estou de ressaca, tenho pontos na cabeça e vou sair daqui direto para prisão domiciliar. Então, não estou de bom humor.
Nao quero ser um babaca com ela, por isso empurro meu mal humor para baixo do tapete.
— Eu não saberia dizer.
— Eu nunca te vi tão bêbado antes.
— Isso porque eu nunca estive tão bêbado antes.
Só de pensar que terei de ir para a escola amanhã tenho vontade de saltar pela janela e quebrar alguns ossos. Mas lembro que isso doeria demais; não me dou bem com dor. Não consigo nem tirar a sobrancelha com pinça.
— E você, está bem? — Pergunto.
Seu rosto simétrico e perfeito está abatido, ela disfarça as olheiras com maquiagem, mas eu sei que estão ali. — O meu sábado foi legal. Nós nos divertimos, tudo bem que meu encontro não foi como eu esperava. Devia ter ouvido você. — Ela limpa a garganta e um silêncio, incomum entre nós, preenche o quarto.
Levo minha mão gelada até a sua, seus dedos ossudos se entrelaçam aos meus. Ela evita olhar pra mim, tudo o que ganho é seu perfil pensativo.
Seu cabelo rubro cai dos seus ombros e oculta seu rosto, tenho apenas o vislumbre da ponta do seu nariz. A droga do cabelo fica entre nós como uma muralha, penso em atravessar esse barreira pois sinto que algo não está certo, contudo ela o faz.
Ela se vira pra mim acomodando sua bunda magrela no colchão.
— É culpa minha você estar aqui. Desculpa.
— O mundo não gira ao seu redor. Não tente tirar o holofote de mim, querida. Eu estou aqui porque sou um idiota. Nada mais.
— Você não sabe lidar com a fama. Só estou tentando tirar esse peso das suas costas.
— Eu agradeço a preocupação, mas não vou dividir meus cinco minutos de fama com você.
Ela acaricia meu rosto com sua mão macia, para em seguida bagunçar meu cabelo.
— Faço uma festa incrível pra todos só falarem de você indo pro hospital com a cabeça rachada.
Minha gargalhada é interrompida quando alguém bate na porta.
Pigarreio e digo para que entre.
— Que frio aqui.
Daniel segura um buquê de rosas vermelhas (o que diabos vou fazer com flores?) em uma mão, na outra uma caixa com chocolates; espero.
Kate faz menção de se levantar, mas seguro firme sua mão e ela entende o recado.
Não quero ficar sozinho com ele aqui, estou vulneravel e constrangido. Para o bem da minha sanidade é melhor ela ficar.
— Me passa o chocolate. — Ele mal estende o braço para ela e a caixa já está segura em seu colo.
Esse chocolate é meu, vadia; penso.
— Cara, você tá uma merda. — Diz ele. Aceno com a cabeça concordando com a sua declaração mais que óbvia.
Kate ataca os chocolates comendo um atrás do outro, nesse ritmo não vai sobrar nenhum pra mim.
O olhar de Daniel se divide entre ela e eu, ele me parece perdido querendo conversar, porém a presença de Kate o impede de falar.
Sem saber mais o que dizer continuamos com o papo furado, genérico, neutro, tudo para evitar o constrangimento de relembrar a noite passada na presença do come-come aqui do lado.
— Então, vai pra escola amanhã? — Sua boca diz uma coisa, mas seus olhos me dizem "vou te ver amanhã?".
Olho para Kate que finge estar distraída demais lambendo os dedos, e respondo usando a mesma intensidade no olhar. Espero que ele entenda.
— Vou ser liberado à noite. — "Sim, nos veremos amanhã".
— Que doidera noite passada, hen. — "Você me beijou".
— Muito. Ainda estou meio bêbado. — "Me arrependo disso".
Ele entende o que quero dizer, ele lê as entrelinhas assim como eu.
Há tanta coisa que eu gostaria de falar, mas não falo por orgulho ou por ser covarde demais. As duas alternativas não me agradam nem um pouco, contudo não faço muito pra resolver isso, na verdade eu não faço absolutamente nada.
— Apesar de tudo foi muito legal. Se todas as festas que vou fossem assim... — "Eu não me arrependo e espero que aconteça de novo, pois você é tudo que eu sempre quis. Sua boca tem sabor de mel e seu corpo cheira à um dia de verão. Eu te quero, Roman".
Ok, talvez eu esteja exagerando na minha interpretação, mas a essência continua a mesma.
— Já fui em melhores. Sem ofensas, Kate. — "Isso não vai acontecer".
— Não me ofendi. — Ela responde com o dedo na boca.
Sinto o calor que seus olhos de mel transmitem.
Me esforço para manter meu olhar frio, afim de quebrar essa conexão entre nós, porém o formigamento que sinto pelo corpo não para.
— Você ainda tá nessa? — Dessa vez ele é direto no que quer dizer.
— Claro.
— Essas coisas você não pode simplesmente desligar.
— Posso arrancar da tomada, rápido como se arranca um band-aid velho.
Kate parece perdida, mas interessada. Um bombom para no meio do caminho para sua boca enquanto ela assiste uma discussão, que para ela, não faz o menor sentido.
— Fazer algo assim costuma doer, digo, arrancar o band-aid.
— Não quando a ferida já está curada. — OK, eu acho que já deu por hoje, não é mesmo? — Olho para a caixa vazia que ela deixa sobre a cadeira ao se levantar. Tudo o que resta são papeizinhos coloridos — Roman precisa se arrumar, a mãe dele já deve estar chegando.
Daniel me encara meio que pedindo socorro, mas não me oponho à sua ida.
— Foi bom você ter vindo Dani. No vemos na escola, ok? — Ela abre a porta e espera por ele.
Não aceno, não falo, nem mesmo olho pra ele.
— Roman, não se esqueça que algumas feridas deixam cicatrizes.
É o que escuto antes da porta se fechar e Kate correr como uma gazela até mim. O toc toc dos seus saltos ecoa alto no quarto silencioso.
— Que porra foi essa? O que você não me contou?
Conto tudo. Falo pra ela sobre a cena na sala. Minha promiscuidade reprimida sendo revelada na cara de Daniel, quando me joguei em cima do supergato.
Conto sobre a discussão que tivemos logo após, e quando chego ao evento no jardim, receio que ela desmaie de tanta excitação.
— Isso explica muita coisa. — Ela diz quando eu finalmente posso tomar fôlego depois de contar tudo isso.
— O que eu deveria fazer?
— No mínimo conversar com ele.
— Aham, porque Roman e Kate são ótimos em falar sobre sentimentos.
— Kate e Roman, damas primeiro. Sério, vocês vão ficar nessa putaria até quando? Tem gente com problemas reais aqui, querido.
— Você é a vadia mais egocêntrica que eu conheço. Já disse que você não vai tirar o holofote de mim; não dessa vez.
Ela prende o cabelo num rabo de cavalo. Na sequência me olha como se eu fosse um idiota e como esperado, eu me sinto um idiota.
— Eu preciso que você esteja focado agora, você não pode deixar um pênis confundir suas idéias.
Suspiro instigando-a pra que continue.
— Não tenho pena, não sou galinha. Não tenho ódio nem raiva, não sou cachorra.
— Oi?
— Nunca entendi essa citação...
— Citação? (!)
— Mas atualmente ela descreve a minha situação tão bem.
Me levanto um pouco ajeitando meu travesseiro nas costas que estão suadas, mesmo aqui estando tão frio. — Certo, mon amour. O que foi?
— Você conhece a Clara, né? Ela é minha vizinha. É eu sei, você não sabia. Então, eu não chamei ela pra festa porque ela é uma piranha desgraçada...
— Direto ao ponto, por favor.
— Tá, o negócio é que no meio da festa fiquei sabendo que o pai dela teve que viajar a negócios, e naquela noite ela estava sozinha em casa. Eu fiquei com pena, pois é, eu sei, sou muito otária. Então decidi ir na casa dela que é subindo a rua. Eu nem cheguei até lá, porque no gramado de casa estava ela e o Marcus...
— Marcus?
— O filho da puta que devia estar com a língua na minha boca e não na dela.
Eu não gosto de fofoca, mas há algo em saber sobre fatos, de preferência constrangedores, da vida de outras pessoas que é tão empolgante.
— O que você fez?
— Joguei minha bebida nos dois e voltei pra dentro. — Ela dá de ombros — O que estou querendo dizer é que...
— Você acha que foi ela que ligou pra polícia.
— Provavelmente.
— E o que você vai fazer à respeito?
— Amanhã na escola você vai ver, e eu vou precisar da sua ajuda. Por isso menos piroca e mais ação.


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Notas finais do capítulo

Oh, lá, lá, lá, lá, lá, lá oh
Não tem terror
Não tem caô
Oh lá, lá, lá, lá, lá, lá oh
Não tem terror
Não tem câo

Bjs, mon amour.
A gente se esbarra.



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